quinta-feira, 28 de agosto de 2014

MUDAR PARA EVOLUIR

MUDAR PARA EVOLUIR

A psicóloga e escritora Lourdes Possatto afirma que nós estamos em constante movimento, assim como o universo. Isso significa que mudanças ocorrem e são necessárias a cada instante. Mas por que somos tão resistentes a elas?

Camilla Salmazi
Na Doutrina Espírita, a evolução espiritual é uma lei e isso implica que a evolução não acontece por si própria, mas deve ser promovida conscientementente. “Mudar é desadaptar-se, é atualizar-se, é evoluir” explica a psicóloga e espiritualista Lourdes Possa em seu livro É Tempo de Mudança.

O aperfeiçoamento do espírito é fruto de seu próprio trabalho e, em uma única existência no mundo material, não é possível que todas as qualidades morais e intelectuais sejam adquiridas e que, portanto, ele não necessite de mais mudanças.

Mas a tarefa de evoluir espiritualmente não é tão fácil. Como disse Jesus há mais de dois mil anos: “Estreita é a porta que conduz à verdadeira vida”. O Espiritismo prega que as coisas não estão prontas; o caminho a seguir nem sempre está indicado. Assim, é necessário esforço, trabalho e crescimento através do aprendizado e das mudanças; caso contrário, o espírito terá de aprender e evoluir de maneira dolorosa, pelas doenças, pelas desgraças; enfim, pela dor.

Em entrevista exclusiva a Espiritismo e Ciência, Lourdes Possatto fala sobre a importância das mudanças no processo de evolução espiritual e a dificuldade dos espíritos encamados em aceitá-las, mostrando que reconhecer a necessidade de mudar é o primeiro passo para sua realização.



A mudança é imprescindível para se progredir? Ou seja, se a pessoa está bem consigo mesma ela precisa, necessariamente, sofrer mudanças para que esteja em processo de evolução?

Sim. A mudança acontece constantemente, em nosso corpo e no universo. É sempre um dia após o outro. E a cada dia, a cada momento, estamos mudando sem que tomemos consciência disso. Se a pessoa está bem consigo mesma, a vida não tem necessidade de dar-lhe sinais ou toques de sofrimento, porque se ela está bem, significa que está agindo de acordo com seu melhor, seguindo de acordo com sua natureza.



A mudança é natural do homem? É possível que algo seja realmente mudado na vida de um ser humano em um curto período de tempo? Como?

Com certeza, e isso eu tenho visto nos meus muitos anos como psicoterapeuta. Tudo que atraímos tem a ver com o padrão de energia em que estamos vibrando. Esta energia está relacionada às nossas atitudes para com nós mesmos. Ao mudá-las, tomando consciência de nossas crenças, por exemplo, mudaremos a nossa vibração, e tudo ao redor de nós muda também.



A dificuldade em mudar de algumas pessoas pode estar ligada com vidas passadas, com carmas?

Sim. A pessoa pode trazer suas crenças desde vidas passadas. Certa vez, trabalhando o perfeccionismo e rigidez em uma paciente, numa sessão de regressão, ela se lembrou de duas vidas em que sua maneira de ser também era rígida e perfeccionista, tanto quanto nesta vida. Até acessar uma vida anterior a estas, quando um episódio que gerou muita culpa nela explicou as crenças e decretos de sobrevivência através das suas cobranças de perfeccionismo e conseqüente rigidez. Ao tomar consciência desse padrão, ela teve condições de reverter essas atitudes, através da maior autocompreensão, aceitação e amor. Afinal, interna e emocionalmente, sempre se abandonou e tratou-se muito mal, para manter o padrão de perfeição. A aceitação, o amor e a flexibilidade consigo mesma, no sentido de compreender e respeitar sua natureza interna, foram as molas propulsoras para a sua mudança. Quanto ao carma, para mim significa a presença de um determinado índice de sofrimento, que tem a ver com a quantidade de desarmonia que a pessoa criou em sua própria natureza. O resgate é necessário mediante a tomada de consciência de que o sofrimento mostra o caminho errado em que a pessoa se encontra. Compreender como gera seu próprio sofrimento significa assumir a responsabilidade pelo seu próprio carma, a fim de cumprir o darma, que é o seu propósito de vida.


A necessidade de mudanças procurando a perfeição é normal ou prejudicial?

Depende do referencial. O espírito, a natureza em si mesma é perfeita. Cada um é perfeito com relação à sua natureza, que é perfeita. O que não é perfeito é a ego-personalidade. A busca da perfeição, se realizada pelo ego, é extremamente prejudicial, uma vez que causa um estrago imenso dentro da pessoa, gerando resultados nada agradáveis, como por exemplo, desânimo, preguiça e, em longo prazo, depressão, pelo excesso de desrespeito à sua essência ou natureza interna. Imagine a vibração dessa pessoa, o que a fará atrair problemas, encrencas e doenças, tudo isto como “recados essenciais” para mostrar-lhe que o caminho correto não é esse. Quanto a buscar a perfeição do espírito, seria mais interessante acessar esta perfeição e não buscá-la, uma vez que ela já está lá e sempre esteve dentro da pessoa. Aliás, o nosso amadurecimento e a nossa evolução estão ligados justamente a essa constatação.


Como é possível facilitar mudanças?

No meu livro É Tempo de Mudança, há um capítulo “Facilitando a Mudança”. Basicamente, a pessoa precisa aprimorar a percepção de si mesma no aqui-e-agora, percebendo e respeitando o que sente; há também a necessidade de vigiar e reorganizar os pensamentos, uma vez que tudo que pensamos passa para o corpo, e o que sentimos está relacionado com o que pensamos e não necessariamente com o que ocorre ao nosso redor.

A pessoa precisa também se responsabilizar pelo que causa a si mesma. Como sou Gestalt-terapeuta, costumo dizer que somos nós mesmos que causamos os nossos sintomas. Por exemplo, uma pessoa se queixa de estar estressada. Pergunto-lhe: “como é que você está se estressando?” Justamente para que ela tome consciência do que é que está se exigindo, impondo, cobrando. Se não tomar a consciência do que faz consigo mesma e não assumir responsabilidade, como é que essa pessoa vai querer amadurecer, melhorar e mudar?

Para facilitar a mudança, é também muito importante perceber seu livre-arbítrio e rever as escolhas que tem feito, se boas ou más, positivas ou negativas; afinal, ninguém escolhe por você, e se você permite isso, está sendo irresponsável. Se sua vida está ruim demais, por que não usar sua frustração no ousar tentar, mudando o “como” você tem agido?

E, sobretudo, é de vital importância estar de posse do seu melhor, ou seja, é quando se percebe que um caminho é melhor do que o que se tem trilhado. Se não prestarmos atenção no nosso sentir e nas verdades interiores e essenciais, o resultado é sempre sofrimento. Assim, descobrir quais são as mensagens que a vida está lhe dando através das situações que acontecem em sua vida é a forma de crescer, amadurecer, e, é claro, ser mais feliz.



Em seu livro, É Tempo de Mudança, você fala sobre a transformação de um sentimento em seu sentimento oposto. Como isso é possível?

É possível através da percepção de como geramos um determinado resultado em nossa vida. Por exemplo, você faz um bolo de um determinado jeito e sempre sai ruim e feio. Enquanto não observar o “como” está fazendo, você não mudará o resultado, ou seja, o bolo sairá melhor se você revir o procedimento.

No livro, falo como transformar quadros emocionais específicos, explicando as raízes de cada um deles. À medida que uma pessoa compreende as raízes emocionais de sua depressão ou obesidade, por exemplo, ela tem condições de transformar suas atitudes e, com isso, mudar o quadro emocional. E como sempre digo: a mudança só ocorre quando você toma consciência de como procede, de onde isso tem origem e muda suas atitudes. Se só houver uma tomada de consciência, a mudança será facilitada. Porém, somente quando o indivíduo tiver para consigo mesmo atitudes diferentes que preencham as suas carências emocionais, é que haverá a modificação de seu padrão de vibração, e aí sim a mudança ocorrerá plenamente.

(Extraído da revista Espiritismo e Ciência 13, páginas 22-25)

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