quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Conduta Espírita ante as tribulações

C- Leda Maria Flaborea

Espiritismo
ledaflaborea@uol.com.br

A Doutrina Espírita esclarece-nos aspectos importantes de nossa trajetória nesse mundo, qual seja:

- tudo o que plantamos, colhemos. Portanto, somos responsáveis pelos nossos pensamentos, palavras e ações, e por todas as mentes externas que atraímos em razão dos nossos sentimentos, ainda, tão desarmonizados ante as Leis de Deus. É a aplicação prática da Lei de Sintonia, das afinidades entre os que se atraem.

- que com isso, criamos um quadro de resgates que necessitamos liquidar a fim de nos harmonizarmos com nossa própria consciência.

- que, se não podemos fugir da Lei de Ação e Reação ou Lei de Causa e Efeito, podemos, todavia, escolher de que forma iremos vencer todas as dificuldades que nos cercam a existência.

Apresentam-se, assim, dois caminhos: Um, de otimismo, de fé na Providência Divina e na assistência dos bons Espíritos, de esperança e de confiança em nós mesmos, pois sabemos ser filhos de Deus com infinitas capacidades para vencer – em cada fase da nossa evolução – as dificuldades inerentes a ela. O outro, é o caminho da revolta ante os problemas que nos afligem, pela não aceitação de que somos os únicos agentes desses tropeços pelos quais passamos nesta encarnação; de desesperança; de atitudes que remetem aos outros as responsabilidades que são só nossas pelas próprias desventuras.

O primeiro, é o bem sofrer, já que é inevitável essa condição frente o que determina a Lei. O outro, é o mal sofrer cujas atitudes levam a um aumento das aflições que já possuímos, acrescentando ao sofrimento já existente um quadro de desequilíbrios forjado por nós mesmos, frutos das nossas escolhas equivocadas pela destemperança, caprichos e desejos de todas as ordens. Dois caminhos, uma escolha.

Jesus nos ensina que quando começamos a entender o valor educativo das aflições, nossa mente se eleva aos planos mais altos da vida. No início, essas corrigendas doem e as experiências pelas quais necessitamos passar, como alunos reprovados que necessitam refazer o ano, machucam-nos a alma. Mas, se conseguimos vencer as primeiras provas, as lutas que se seguirão serão consideradas, por nós, como alimento espiritual, porque entendemos que só através do trabalho diário contra as imperfeições é que se dará a melhora como criaturas de Deus que somos. Todo Espírito consciente esforça-se e luta, adverte o Evangelho, num trabalho individual, intransferível e absolutamente solitário.

Então, o que Jesus pretendeu ensinar quando disse: “Bem-Aventurados os aflitos porque deles é o Reino dos Céus?” Não estava se referindo, certamente, àqueles que desanimam diante das dificuldades como forma constante de conduta. Deus que é justo não poderia oferecer, através de Jesus, o Seu Reino de Paz, o mundo de felicidade plena àqueles que não têm coragem, que não perseveram e que se revoltam diante dos Seus desígnios. Se Ele recompensa quem luta para vencer as dificuldades, não poderia premiar a quem foge dela. Ele não tem dois pesos e duas medidas.

E se não temos essa coragem, onde buscá-la? O próprio Jesus nos convida quando diz: “Vinde a mim vós todos que estais atribulados e eu vos aliviarei”. Assim, buscando Jesus na prece, acreditando que não há órfãos na Criação e que somos capazes de vencer essas dificuldades, - certamente com muito esforço - torrentes de bênçãos cairão sobre nós, encorajando-nos, sustentando-nos a prosseguir na jornada sem esmorecimento, sem fraquejar.

Temos ouvido, frequentemente, que Deus não dá a carga maior do que aquela que podemos carregar, e parece que não acreditamos muito nisso, pois estamos sempre nos queixando de que nossos problemas são maiores que os dos outros, ou que são insolúveis, ou que somos abandonados por Ele.



A Doutrina Espírita ensina que só trazemos débitos que podemos resgatar, mesmo que queiramos mais para apressar nossa evolução. Isto porque, quando retornamos ao corpo material, nos esquecemos, temporariamente, dos compromissos assumidos e, bombardeados pelas tentações da matéria, quase nunca conseguimos cumprir todo nosso programa reencarnatório. Assim, se a nossa carga é proporcional às nossas forças, a recompensa pelo nosso esforço também será proporcional aos resultados que obtivermos nas nossas lutas.

Refletindo sobre isso, podemos entender porque a vida é cheia de tribulações. É que a recompensa pelos esforços deve ser merecida. Se não há tribulações, não há luta. Se não há esforços, não há recompensa. E se assim não fosse, como poderia Deus avaliar nossa conduta? Travamos verdadeiros combates contra nós próprios, buscando nos tornar melhores a cada dia, combates esses muito maiores do que aqueles vividos em um campo de batalha, conforme nos esclarece o Evangelho. Convida-nos a pensarmos sobre isso, alertando para o seguinte: O homem que vence a si próprio e aprende a dominar sua cólera, seus impulsos de impaciência, seu desespero não recebe nenhuma medalha por isso, mas Deus lhe reserva um lugar glorioso, pois é recebido como um grande soldado, que pode dizer: “Fui mais forte, pois venci a mim mesmo”.

E Emmanuel, amado Instrutor Espiritual, adverte-nos, ainda, com a seguinte frase: “Não te perturbes, pois, diante da luta, e observa. O que te parece derrota, muita vez é vitória. E o que te afigura em favor de tua morte é contribuição para o teu engrandecimento na vida eterna”.³ Não basta, assim, sofrer, simplesmente, para ascender à glória espiritual ¹, pois no cadinho das experiências, todos sofrem. Como nada existe de inútil no Universo, perguntemo-nos: “O que Deus quer que eu aprenda com isso?”, e busquemos a resposta no fundo de nossas próprias consciências.

Bibliografia

1 - Emmanuel (Espírito) – Vinha de Luz – [psicografado por] F.C.Xavier, 14. ed., Rio de Janeiro/RJ: Federação Espírita Brasileira, 1996 - lição 80.

2 – Idem – lição 118

3 – Emmanuel (Espírito) – Fonte Viva – [psicografado por] F.C.Xavier, 16. ed., Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 1988- lição 16.

4 – KARDEC, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap 5 – item 18.

TRIBULAÇÕES

TRIBULAÇÕES

"Também nos gloriamos nas tribulações.
" - Paulo. (ROMANOS, 5:3.)
Comentando Paulo de Tarso os favores recebidos do Plano Superior, com muita propriedade não se esquecia de acrescentar o seu júbilo nas tribulações.

O Cristianismo está repleto de ensinamentos sublimes para todos os tempos.

Muitos aprendizes não lembram o apóstolo da gentilidade senão em seu encontro divino com o Messias, às portas de Damasco, fixando-lhe a transformação sob o hálito renovador de Jesus, e muitos companheiros se lhe dirigem ao coração, mentalizando-lhe a coroa de espírito redimido e de trabalhador glorificado na casa do Pai Celestial.

A palavra do grande operário do Cristo, entretanto, não deixa margem a qualquer dúvida, quanto ao preço que lhe custou a redenção.

Muita vez, reporta-se às dilacerações do caminho, salientando as estações educativas e restauradoras, entre o primeiro clarão da fé e o supremo testemunho. Depois da bênção consoladora que lhe reforma a vida, ei-lo entre açoites, desesperanças e pedradas. Entre a graça de Jesus que lhe fora ao encontro e o esforço que lhe competia efetuar, por reencontrá-lo, são indispensáveis anos pesados de serviço áspero e contínua renunciação.

Reparemos em nós mesmos, à frente da luz evangélica.

Nem todos renascem na Terra, com tarefas definidas na autoridade, na eminência social ou no governo do mundo, mas podemos asseverar que todos os discípulos, em qualquer situação ou circunstância, podem dispor de força, posição e controle de si próprios.

Recordemos que a tribulação produz fortaleza e paciência e, em verdade, ninguém encontra o tesouro da experiência, no pântano da ociosidade. É necessário acordar com o dia, seguindo-lhe o curso brilhante de serviço, nas oportunidades de trabalho que ele nos descortina.

A existência terrestre é passagem para a luz eterna. E prosseguir com o Cristo é acompanhar-lhe as pegadas, evitando o desvio insidioso.

No exame, pois, das considerações paulinas, não olvidemos que se Jesus veio até nós, cabe-nos marchar desassombradamente ao encontro dEle, compreendendo que, para isso, o grande serviço de preparação há de ser começado na maravilhosa e desconhecida "terra de nós mesmos".

XAVIER, F. C. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1971, capítulo, 142.

As Provas e Expiações como mecanismos evolutivos

As Provas e Expiações como mecanismos evolutivos

Um dos princípios da Doutrina Espírita é a reencarnação, entendida pelos orientadores espirituais como  necessária à evolução humana, pois  “uma só existência corpórea é claramente insuficiente para que o Espírito possa adquirir todo o bem que lhe falta e de desfazer de todo o mal que traz em si.”[1]

Para nos auxiliar no processo ascensional, Deus nos concede o livre arbítrio, uma vez que,  se o homem  “(…) tem liberdade de pensar, tem também a de agir. (…).”[2] Podemos, então, afirmar que o ser humano é o árbitro do seu destino e que cada escolha, independentemente das suas motivações ou justificativas, acionam a lei de causa e efeito em qualquer plano de vida que se situe: o físico ou o espiritual.

 O uso do livre arbítrio são ações que provocam reações, no tempo e no espaço. As boas escolhas produzem progresso evolutivo, enquanto as escolhas infelizes geram provações  ou  expiações que se configuram como mecanismos evolutivos, moduladores da lei de causa e efeito,  claramente consubstanciada no planejamento reencarnatório de cada indivíduo. Daí Emmanuel afirmar: “A lei das provas é uma das maiores instituições universais para a distribuição dos benefícios divinos.”[3]

Para melhor compreensão do assunto, Emmanuel especifica também a diferença que há entre  prova (ou provação)  e  expiação: “A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é pena imposta ao malfeitor que comete um crime.”[4]

Percebe-se, portanto, que a prova assemelha-se a uma corrida de obstáculos que tem o poder de impulsionar o progresso humano. As provas sempre existirão, mesmo para Espíritos superiores,  por se tratarem de desafios evolutivos.   A expiação, contudo, representa uma contenção  temporária da liberdade individual, necessária à reeducação do Espírito que, melhor utilizando o livre arbítrio, reajusta-se  às determinações das leis divinas.

As provações podem ser difíceis, não resta dúvida,  mas,  por seu intermédio, o Espírito é colocado em situações que o afasta do estado de inércia em que ora permanece ou se compraz, proporcionando-lhe, ao mesmo tempo,  oportunidades para  que ele possa trabalhar a melhoria das suas atuais condições de vida.

Nas expiações, o Espírito vê-se colocado  prisioneiro das más ações cometidas, pelo uso indevido do livre arbítrio.  Para que não se prejudique mais, renasce sob processos de contenção que, obviamente, produzem sofrimentos, sobretudo se o ser espiritual ainda não consegue apreender o valor da dor como instrumento de educação e  cura espirituais.

Em O Céu e o Inferno, Allan Kardec lança outras luzes a respeito do tema, quando explica que o arrependimento das faltas cometidas é o elemento chave para liberar o Espírito das provações dolorosas e das expiações. O Codificador, assim se expressa:

 Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza as dores da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa.(Grifos no original)[1]

 Nesses termos, a libertação do Espírito, ou reparação, indica ser a etapa final da expiação porque, perante os códigos divinos, não nos é suficiente expiar uma falta, é preciso anulá-la, definitivamente, da vida do Espírito imortal, pela prática do bem:

 A reparação consiste em fazer o bem a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros nesta vida por fraqueza ou má vontade, achar-se-á  numa existência posterior em contato com as mesmas pessoas a quem prejudicou, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes o seu devotamento, e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito.[2]

Referências

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2009.
__________. O Livro dos Espíritos. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed. 1ª reimp. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2011.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28ª ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2008
[1] Allan Kardec. O Céu e o Inferno. Pt. 1, cap. III, it. 9, pág. 49.

[2] Idem. O Livro dos Espíritos. Q. 843, pág. 507.

[3] Francisco Cândido Xavier. O Consolador. Q. 245, pág. 201.

[4] Ibid., q. 24, pág. 201.

[5] Allan Kardec. O Céu e o Inferno. Pt. 1, cap. VII – Código penal da vida futura -, q.16ª, pág. 126.

[6] Ibid., q. 17ª, p. 12.

PURIFICAÇÃO ÍNTIMA

PURIFICAÇÃO ÍNTIMA
“Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.”

(TIAGO, 4: 8.)

Cada homem tem a vida exterior, conhecida e analisada pelos que o rodeiam, e a vida íntima da qual somente ele próprio poderá fornecer o testemunho.
O mundo interior é a fonte de todos os princípios bons ou maus e todas as expressões exteriores guardam aí os seus fundamentos.
Em regra geral, todos somos portadores de graves deficiências íntimas, necessitadas de retificação.
Mas o trabalho de purificar não é tão simples quanto parece.
Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas, operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a obra da elevação de si mesmo, valendo-se da auto-disciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício.
O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do assunto e aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos, isto é, retificassem as atividades do plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para que se efetuasse, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da consciência, apenas conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de seus pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de afirmar que isso é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação jamais se fará tão-somente à custa de palavras brilhantes.

MINHA REFLEXÃO
Os habitantes da Terra somos a parcela da humanidade munida de notável progresso intelectual como também de grave imperfeição moral. Não somos Espíritos de primeira viagem. A nossa afeição às más paixões tem retardado o refazimento. O gozo da felicidade prometida por Jesus exige de nós a vontade de “lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e contra a inclemência da natureza, duplo trabalho penoso que desenvolve, a uma só vez, as qualidades do coração e as da inteligência.”, esclarece Santo Agostinho (O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE), cap. 3, Item 15).
No manejo dos fatos referentes a Jesus e ao Cristianismo nos colocamos com certa desenvoltura, mas devemos compreender que não é nesse tipo de desempenho que reside a nossa aceitação ao Cristo. Jesus espera que possamos lançar mãos de nossa inteligência a serviço da bondade. Tudo que fizermos seja no sentido da submissão do orgulho que nos afasta dos irmãos, porque impõe a personalidade egoística em sacrifício do bem comum, produzindo imensas” misérias sociais”.
As sarças que, em encarnações várias, temos plantado, testemunham a dureza de coração, cuja purificação, sentencia Emmanuel, exigirá “autodisciplina, compreensão fraternal e espírito de sacrifício.”
Conforme Lázaro (ESE, cap. 11, item 8), “O Espírito deve ser cultivado como um campo: toda a riqueza futura depende do labor presente, e mais do que bens terrestres, vos levará à gloriosa elevação;”
Sigamos, fortalecidos no amor de Jesus, para realizarmos, em nós e na Terra, a vontade do Divino pai.
 Luz e Paz!
Lourença

A pureza do coração

A pureza do coração
 
“Mas o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (Samuel 16:7).


Entre os antigos egípcios, o coração simbolizava a dimensão moral e espiritual que, aliás, se complementam, sendo identificado como órgão único da vida material e também como centro da vida espiritual. É do coração que jorra a fonte cristalina da vida, segundo um texto gravado em uma pirâmide do Alto Império. Por isso que no ritual de mumificação dos mortos era o único órgão preservado e, depois, recolocado no corpo. Como centro da vida moral, as ações humanas nascem do coração e lá também se depositam para o bem, ou para o mal. Tanto que o nosso coração necessita ser purificado através das boas emoções pautadas no amor e na caridade cristã, como vemos nos Salmos: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável” (51:10).

Os egípcios diziam que a mente/alma (BA) era uma entidade invisível e imortal que seria julgada após a morte do corpo pelos seus atos durante a vida. O coração, órgão que servia de sede para a alma, era capaz de recordar tudo o que foi feito enquanto vivo. Na morte, o coração seria pesado contra uma pluma e conforme seu peso a pessoa seria julgada culpada ou inocente. Durante a cerimônia da pesagem do coração era decidido se o sujeito seria mandado para o paraíso ou serviria de alimento para a figura mitológica parecida com um crocodilo chamado de Devorador.

Para os antigos semitas, o coração não é somente o órgão indispensável para a vida do corpo: ele é o centro de toda vida psicológica e moral, da vida interior.

Sendo o foco das faculdades espirituais e da vida moral, o coração é sede da sabedoria, da memória, da vontade, das disposições da alma, das paixões e sentimentos, dos desejos, da consciência. No sentido transcendental e religioso, é pelo coração que o homem forma e constitui o reino celestial, ligando-se ao Criador e com todo o universo, fazendo morada dos nobres sentimentos. Toda a mensagem do Cristo se resume no amor e o coração é o símbolo máximo do Cristianismo. Os nossos corações podem encontrar paz em saber que tudo está sob o controle do Criador, diz o apostolo amado João Evangelista: “Nisto conheceremos que somos da verdade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração; porque se o coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas” (3:19-20).

Já os gregos antigos, por meio de textos como os de Homero, Hesíodo e Ésquilo, observando o cardiocêntrica, em que o termo kardia coloca o universo expressando o movimento e ação em constante transformação e evolução, identificam o indivíduo na sua integralidade.

Aristóteles (384-322 a.C.) afirmava que o coração era o órgão do pensamento, das percepções e do sentimento, enquanto o cérebro seria importante para a manutenção da temperatura corporal, agindo como um agente refrigerador. Segundo ele, os nutrientes subiriam pelos vasos sanguíneos e, uma parte deles, uma espécie de refugo, seria resfriada no cérebro, transformando-se em líquido, de uma forma semelhante à que ocorre com a água na natureza, quando se forma a chuva. Ao contrário, o filósofo Platão dizia que a alma se encontrava no cérebro.

Platão colocava que é pelo cérebro que se experimenta de maneira sensível a ação de pensar, atividade superior por excelência e definidora da essência humana, enquanto ser racional. Já o coração, Platão dizia que é a “alma sensitiva” ou “emocional”, o princípio dos sentimentos e paixões como a cólera ou a coragem.  Tal noção significou um divisor de águas na história das concepções sobre o coração humano.
 
Allan Kardec, na obra “O Livro dos Espíritos”, na questão 146, pergunta: A alma tem, no corpo, uma sede determinada e circunscrita?

Resposta: Não. Mas ela se situa mais particularmente na cabeça, entre os grandes gênios e todos aqueles que usam bastante o pensamento, e no coração dos que sentem bastante, dedicando todas as suas ações à humanidade.

Tanto Platão como Aristóteles tinham razão, a alma se encontra mais particularmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais, contribuindo assim para o progresso da humanidade, repartindo seus talentos para o bem-estar do próximo.

A verdade é que a evolução só ocorre com a dedicação da caridade de todo nosso coração. O apóstolo Paulo diz: “Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (Romanos 6:17). Ainda acrescenta: “Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (Coríntios, 2:9).

Santo Agostinho, em suas reflexões filosóficas e teológicas, diz que o coração tende a ser compreendido em um sentido metafórico enquanto imagem de alma ou espírito, na esfera mais existencial e mística de sua obra, particularmente em suas Confissões, o termo coração aparece com insistente frequência, significando a intimidade mais profunda da pessoa, a palavra “pela qual se define a individualidade de nosso ser”. Tanto que ele diz: “Com o coração se pede. Com o coração se procura. Com o coração se bate e é com o coração que a porta se abre”.
O coração renovado é um ser reformado, regenerado e transformado; não nos referimos ao órgão do corpo humano, mas sim à alma, sede das emoções, dos sentimentos, pensamentos e vontade. Um coração sem culpa, trauma, dor, ressentimento, mágoa e tristeza. Os Upanishades, escrituras hindus, dizem que: “Quando o uso dos sentimentos é purificado, o coração se purifica. Quando o coração é purificado, existe uma constante lembrança do Eu superior. Quando existe uma constante lembrança do Eu superior, todos os vínculos são desfeitos e a liberdade espiritual é alcançada”. O hinduísmo ainda diz que: “Dentro da cidade de Brahman, que é o corpo, existe o coração, e dentro do coração existe uma pequena casa. Essa casa é como um lótus. Dentro dela mora aquilo que deve ser procurado, investigado e percebido”.

Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no capítulo VIII, item 7, temos que: “a pureza de coração e a pureza de pensamentos caminham juntas. Só é puro de coração quem é puro de pensamentos. Se o pensamento é torpe, o coração não pode ser puro. Significa dizer que a pureza, reflexo de um sentimento acrisolado, teve seu nascedouro no pensamento puro”.

Por isso diz Jesus em seu Evangelho: “Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mateus 5:8); a palavra “puro” na língua grega tem a mesma raiz da palavra “catarse”. Quando entramos num processo de catarse, passamos por uma experiência bela e profunda, num mecanismo de autoanálise, como se fizéssemos uma faxina, limpando e removendo qualquer impureza e toda sujeira mental impregnada nas entranhas da alma.

Para termos um coração puro, um coração purificado pela reforma que regenera nosso modo de vida, mais do que um corpo puro, Jesus exige um coração puro, uma mente pura, liberta das escravidões. Por isso ele dizia: “Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele... Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mateus 15,10: 19). Os puros de coração agem por amor, pelas virtudes nobres, verão a Deus porque reconheceram suas leis, ou seja, receberão o dom da Inteligência, ou melhor, da sabedoria divina.

O coração para muitas correntes espiritualistas é tido como o centro da personalidade, sendo a sede dos afetos, das emoções e da boa vontade, criando o homem na sua totalidade. Jesus dizia que a pureza através da mansidão deveria fazer parte da rota que guia nossas vidas, começando em cada pequena atitude, como em nossos pensamentos, emoções, motivações, desejos e vontade.

Do coração também procedem todas as nossas dificuldades; o Mestre dizia: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15:19). O meio ambiente pode nos influenciar, quando a nossa alma é tendenciosa.

Procedem também do coração todas as belezas, a justiça, a misericórdia, o amor e a caridade; o coração é fonte da nobreza altruísta, é luz que ilumina o desânimo, a descrença, a discórdia, a revolta e a frustração. O homem deve guardar em seu coração a pureza, a mansidão, a humildade, cultivando a prece e vigiando seu comportamento perante o próximo. O rei Davi orou: “Que as palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença”.

Às vezes vemos a prática de alguns comportamentos que parecem ser puros, mas no fundo esta pureza exterior pode ser apenas aparente, mascarando nossas verdadeiras intenções, mas Deus não vê a aparência, e sim o coração. Jesus condenou a hipocrisia dos fariseus que mantinham uma santidade exterior, mas eram impuros por dentro. Limpavam o exterior do copo, mas havia sujeira dentro. Eram como sepulcros caiados (Mateus 23:25, 27). Os fariseus eram bons apenas na aparência. Por isso Jesus disse: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no Reino dos céus” (Mateus 5:20).

O coração é morada do Criador, dele procede o maior espetáculo da vida, chamado amor. O corpo é o templo do espírito, o coração é o palco sagrado da caridade. “Deus habita com o abatido e contrito de coração” (Isaías 57:15). “O coração puro é o paraíso de Deus, onde ele se deleita em habitar” (Efésios 3:17).

O codificador Allan Kardec, na obra “O Livro dos Espíritos”, na questão 108, pergunta: Qual é a sede da alma?

– A alma não está, como geralmente se crê, localizada num particular do corpo; ela forma com o perispírito um conjunto fluídico, penetrável, assimilando-se ao corpo inteiro, com o qual ela constitui um ser complexo, do qual a morte não é, de alguma sorte, mais que um desdobramento. Podemos figuradamente supor dois corpos semelhantes na forma, um encaixado no outro, confundidos durante a vida e separados depois da morte. Nessa ocasião um deles é destruído, ao passo que o outro subsiste. Durante a vida a alma age mais especialmente sobre os órgãos do pensamento e do sentimento. Ela é, ao mesmo tempo, interna e externa, isto é, irradia exteriormente, podendo mesmo isolar-se do corpo, transportar-se ao longe e aí manifestar sua presença, como o provam a observação e os fenômenos sonambúlicos.

EDUARDO AUGUSTO LOURENÇO
eduardoalourenco@hotmail.com
Americana, São Paulo (Brasil)

Limpar a Mente

Limpar a Mente

Autor: Miramez (espírito)

Os bons costumes tornam a mente límpida e clareiam o verbo, enriquecendo-o, para que os ouvintes sejam estimulados ao exercício do bem eterno. A poluição mental turva a consciência e conturba o raciocínio, deixando a alma trôpega no vaso da carne. O homem civilizado não tem o costume diário de higienizar o corpo? Pois a mente, na verdade, tem grande necessidade de limpeza, tanto quanto o corpo, por ser o centro da vida que comanda todo a massa somática.

E esse trabalho começa como a chuva: divide-se em bilhões de gotículas, mas farta a humanidade e a natureza, limpa a atmosfera e destampa as minúsculas aberturas das árvores, de onde promana o oxigênio puro, no vigor da própria existência. Assim, a chuva, para a mente, há de surgir nessas mesmas proporções: bilhões ou trilhões de pequenos esforços, somando uma torrente de energias vivas, conduzindo todo o entulho da consciência por canais apropriados. E a pureza do raciocínio faz nascer um clima enriquecido para as belezas imortais do amor, da alegria e da fraternidade. Sugestiona o ser à procura de Deus e a obedecer às leis.

A castidade mental é obra de grande importância para a nossa supremacia espiritual, sem as sutilezas da arrogância e as manobras do orgulho. Devemos nos esforçar todos os dias, a partir do momento em que nos alistamos no exército do Cristo. Como espíritos, mesmo no mundo, mas à procura da luz, compreendamos, na urgência das nossas necessidades, que renovação é tema central da alma - ovelha que reconhece o pastor, atendendo os seus magnânimos convites, pela inteligência e pelo coração.

A elegância dos pensamentos ajusta o meio ambiente em que viveis, para chamados fraternos e para uma conversação sadia, desamarrando do núcleo da vida, a expressão do amor, de modo a participar, na mesma freqüência, a razão. Para que tudo isso se faça, o esforço próprio é imprescindível, dia a dia. A auto-educação haverá de se processar passo a passo, e a vigilância deve arregimentar todas as forças possíveis nessa imensurável batalha que somente termina na pureza espiritual, para começar outros labores, em escalas que escapam ao raciocínio humano.

A vida é um turbilhão de vidas sucessivas, que se associam por lei de esforços e de obediências correlatas. No homem, o começo do sofrimento é princípio de maturidade. É, pois, a força do progresso atingindo a sua farda física, para que o corpo espiritual se atualize nas necessidades maiores. Os grandes golpes na alma clareiam seu caminho para certas mudanças na arte de viver melhor.

Escrevemos para todos, é certo. No entanto, endereçamos nossas mensagens, com mais intimidade, aos despertos, aos companheiros conscientes dos seus deveres ante a escalada do Mestre. Se começais hoje a vos renovar na vida que levais, amanhã sereis torturados impiedosamente pelas forças contrárias, donde resulta a desistência de muitos estudantes da verdade, por ignorarem que o ataque, a maledicência, a injúria, o desprezo são outras tantas forças do bem, revestidas aparentemente de inimigos. Todavia, o que Jesus disse nos conforta sobre maneira: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”.

Associemos nossos esforços aos regimes das leis de Deus, respeitando-as em todas as suas nuances. Se algo faltar de nossa parte, nunca haverá de ser a persistência, como onda de luz a transformar as nossa boas intenções em realidades.

Higienizemos a nossa mente, sem afrontá-la agressivamente. A experiência nos aconselha que o trabalho paciente e constante vencerá obstáculos que se nos afiguram em posição irremovível. Na verdade, a mente plasma o que os olhos vêem, como máquina fotográfica pronta para disparar tendo em mira o objetivo visado. Não obstante, poderemos fechar o diafragma. Assim sucede com os ouvidos, assim se processa na formação das idéias. Orar e vigiar é atitude certa para que a mente não se suje mais. E o trabalho de limpeza deve ser eficiente, diminuindo a carga corrosiva acumulada em muitos séculos. Um pouco de boa vontade vos colocará, com habilidade, nesse saneamento, e o conceitos que propomos nesse livro são, um tanto um quanto, companheiros da limpeza espiritual, convidando a todos para a libertação.

Livro: Horizontes da Mente, psicografado pelo médium João Nunes Maia.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

NO MAR DA VIDA

NO MAR DA VIDA

Ah, que bom seria se nunca fraquejássemos, mas se não fraquejássemos, não saberíamos como é bom o abraço reconfortante de um amigo, a compreensão de um irmão, a benção sempre posta em nossas cabeças de um superior.
Nas adversidades da vida um sempre nos empurra e o outro nos estende a mão. Mas ambos fazem parte da nossa caminhada, da nossa evolução.
E chamamos por Jesus que há muito dormia em nossos corações.
Quando o barco da nossa vida veleja suave, desliza por águas tranquilas, quando só a brisa do mar atinge o nosso rosto e alguns pingos de água molham o nosso cabelo, quando o nosso olhar é claro e límpido, contemplando a imensidão do mar, seu azul infinito, quando sentimos só o frescor da água  ao mergulhar, a percorrer nosso corpo e nos acalmar. Saímos mais leves, a caminhar por aquela areia branca e fofa. Tudo é lindo e fascinante e nós nem agradecemos a Deus por tanta beleza.
Então Jesus dorme em nossas vidas, como se nessa hora de paz e harmonia sua presença fosse dispensável do nosso paraíso.
Ah, mas como a natureza é imprevisível e esse mesmo mar agora está revolto, ondas agitadas, raios, trovões, chuva forte e o nosso barco está à deriva, aí a primeira lembrança que temos é de Deus, de Jesus, dos Anjos, Santos, dos Bons Espíritos…
Ah, socorro; valei-me,ajude-me Jesus. Chamamos, gritamos por Ele.
Jesus desperta e nos diz:
"Ah, homens de pouca fé, vós sóis deuses, podereis fazer o que eu faço e muito mais".
E Jesus acalma o mar, dissipa os nossos problemas e nós nos envergonhamos por recorrermos a Ele somente nos momentos turbulentos de nossas vidas.
Ah, mas Jesus é compreensivo, amável, irmão e amigo.
E nós? Teimosos, orgulhosos, difíceis, mas também carentes.
Somos ainda persistentes, não desistimos com facilidade e, por mais que o deixemos dormir em nossos corações, nós o amamos, o admiramos o respeitamos. Sabemos da sua grandeza, da sua luz, do seu amor infinito para conosco. E é por confiar tanto neste amor que muitas vezes nos acomodamos.
Porém, aprendemos tudo com Ele, somos tão gratos a Ele e sempre que conseguimos o imitamos.
Somos seus irmãos, menores sim, estamos muito longe da sua evolução, mas Ele nos aceita exatamente como cada um de nós é. Nunca nos julga, nunca nos condena e sempre nos perdoa.
Jesus sabe da nossa luta para aprender,para melhorar,para evoluir,crescer, para perdoar e amar.
Sabemos que Ele é parte fundamental na nossa vida — na nossa alegria, na nossa festa, no nosso momento também de paz e harmonia. Sempre sentiremos o seu olhar carinhoso sobre nós, a sua compreensão ao nosso deslize e o seu sorriso suave com o nosso triunfo.
Ah, Senhor, nós o amamos, com todos nossos defeitos, nossas inseguranças e imperfeições. E assim como perguntaste a Pedro por três vezes se ele o amava e sua resposta por três vezes foi: "Sim senhor: eu te amo, eu te amo, eu te amo, senhor".

 Ofélia Maria

O Mar e a Vida

O Mar e a Vida



O Mar é uma farmacopéia exuberante; é a mais alta concentração energética de vida, que nos fala dos seus segredos no repassar das ondas, no rugir do seu peso descumunal e nas extensões de luzes que se intercruzam nas profundezas.

Esse colosso da natureza cura as enfermidades e tem o condão de harmonizar todos os corpos, deixando o espírito respirar na atmosfera da alegria. Nós também, os desencarnados, usamos estes recursos para o equilíbrio das nossas emoções.

Verdadeiramente, Deus paira sobre as águas; buscai-o na inspiração que verte do vosso amor e sede feliz.



Texto do Livro SAÚDE, pelo espírito Miramez.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Orgulho e Humildade

Orgulho e Humildade

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Orgulho: 4.1. Condição do Espírito Reencarnante; 4.2. Ter Vale Mais que Ser; 4.3. Apego aos Bens Materiais. 5. Humildade: 5.1. Os Pobres não Necessariamente são Humildes; 5.2. Uma só Coisa é Necessária; 5.3. O Verdadeiro Humilde. 6. As Orientações do Evangelho: 6.1. A Humildade como Virtude Esquecida; 6.2. Os Ricos Desconhecem as Necessidades dos Pobres; 6.3. O Evangelho Fundamenta-se numa Lei Científica. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que a humildade é o fundamento de todas as virtudes. Para isso iremos tratar do orgulho, da humildade e das orientações evangélicas a respeito do tema.

2. CONCEITO

Orgulho – Sentimento de dignidade pessoal; brio, altivez. Conceito elevado ou exagerado de si próprio; amor-próprio demasiado; soberba. É o sentimento da própria grandeza real, existente no íntimo de cada ser, mas transbordado ou desviado do seu verdadeiro curso.

Humildade. Do latim humilitas, de humilis = pequeno. Virtude que conduz o indivíduo à consciência das suas limitações. O humilde não se deixa lisonjear pelos elogios ou pela situação de destaque em que se encontre. Todo sábio é humilde, porque sabe que só sabe pouco do muito que deveria saber. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)

Rel. virtude cristã, oposta à soberba, muito recomendada por Jesus.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1) No Antigo Testamento fala-se muitas vezes em humilhar no sentido de oprimir, derrotar, abusar: assim, o faraó humilha os hebreus, o homem, a sua mulher e seus filhos.

2) No Novo Testamento Jesus dá-nos diversas recomendações sobre a humildade, virtude que se opõe ao orgulho.

3) Extraído do capítulo VII – Bem-Aventurados os Pobres de Espírito – de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Refere-se às instruções dos Espíritos.

4) O par de termo orgulho-humildade revela a polaridade do nosso pensamento. Precisamos partir do negativo para chegar ao positivo. Nesse mister, convém lembrar que todo o progresso nasce do que lhe é contrário. Com efeito, toda a formação é o produto de uma reação, assim como todo efeito é gerado por uma causa. Todos os fenômenos morais, todas as formações inteligentes são devidos a uma momentânea perturbação da inteligência. Nela há dois princípios subjacentes: um imutável, essencialmente bom, eterno; outro, temporário, momentâneo, simples agente empregado para produzir a reação de onde sai cada vez a progressão dos homens.

5) Há uma lei universal dos rendimentos decrescentes em que todo o excesso conduz ao seu contrário. No caso específico, o excesso de orgulho transforma-se em humildade e o excesso de humildade em orgulho.

4. ORGULHO

4.1. CONDIÇÃO DO ESPÍRITO REENCARNANTE

De acordo com os pressupostos espíritas, o Espírito, ao longo de suas inúmeras reencarnações, acaba escolhendo as situações que enveredam mais para o orgulho do que para a humildade. A razão é simples: há mais facilidade de se entrar pela porta da perdição, pelos prazeres da matéria. Em termos bíblicos, a opção pelo prazer começou com Adão e Eva. Naquela ocasião Eva, tentada pela serpente, comeu o fruto proibido e foi, juntamente com Adão, expulsa do Paraíso.

4.2. TER VALE MAIS QUE SER

O homem precisa possuir alguma coisa; o nada lhe amargura a vida. Por isso, a sigla de “doutor”, mesmo no meio espírita. Quantas não são as pessoas que se vangloriam de assim serem chamadas. Não é uma espécie de orgulho, de vaidade? Sempre que alguém quer saber algo a nosso respeito, não nos perguntam o que somos, mas o que temos, ou seja, profissão, bens, propriedades, religião etc. Em virtude disso, apropriamo-nos de alguma coisa, mesmo que essa coisa não nos satisfaça interiormente, pois isso nos dá uma certa segurança. Contudo, observe a mudança de comportamento daquelas pessoas que repentinamente ficam ricas, ou são escolhidas para ocupar uma posição de destaque. Geralmente o orgulho e a soberba assomam-lhe à cabeça. Já não tratam mais os seus como antigamente.

4.3. APEGO AOS BENS MATERIAIS

Conforme vamos adquirindo mais bens, mais ainda vamos desejando. De modo que a insaciabilidade dos desejos humanos induz-nos a procurar sempre mais, à semelhança daquele que consome droga. Este começa com pequenas quantidades; depois, tem que aumentá-las, pois o pouco já não satisfaz as suas necessidades. Quanto mais tem, mais necessidade fabrica. A necessidade acaba torturando a maioria dos seres viventes. Aliado à posse de bens materiais, há o medo: de que seremos roubados, de que não teremos o que comer etc.

5. HUMILDADE

5.1. OS POBRES NÃO NECESSARIAMENTE SÃO HUMILDES

Ao vermos uma pessoa mal vestida, de semblante sofrido e modo simples de se vestir, emprestamos-lhe as características de uma pessoa humilde. Contudo, o exterior nem sempre revela com segurança o interior de um indivíduo. É preciso verificar a essência de sua alma. Quando Jesus falava dos pobres de espírito, Ele se referia à humildade, pois há muitos pobres que invejam os ricos, de modo que eles são mais orgulhosos do que aqueles que possuem recursos financeiros em abundância.

5.2. UMA SÓ COISA É NECESSÁRIA

O Espírito Emmanuel, comentando o texto evangélico, diz-nos que uma única coisa é necessária para a evolução da alma: atender aos ensinamentos de Jesus. Quando o homem se compenetra dessa condição de servo do senhor, tudo o que está à sua volta toma outra feição.  Ele fala, ouve, age, discute, sofre, chora e ri como outro ser humano qualquer, mas o faz de forma civilizada, de forma ponderada, de forma equilibrada. Está é a grande lição que os Espíritos benfeitores nos trazem.

5.3. O VERDADEIRO HUMILDE

O verdadeiro humilde geralmente não sabe que o é. São as pessoas ao seu derredor que acabam por descobri-lo. Para ele essa condição é tão natural que nem o percebe. Não é o que coloca um verniz por fora para esconder os defeitos interiores. O humilde coloca-se objetivamente dentro de sua capacidade, observando criteriosamente as suas limitações. Ele não importa saber quem é contra ou a favor, mas simplesmente atende a um chamado de ordem superior e segue o seu caminho com uma fé inquebrantável.

6. AS ORIENTAÇÕES DO EVANGELHO

6.1. A HUMILDADE COMO VIRTUDE ESQUECIDA

Jesus Cristo, quando esteve encarnado, deu-nos o exemplo da virtude, chegando a ponto de ordenar que amássemos os próprios inimigos. Dentre os seus vários ensinamentos, aquele que compara o Reino de Deus a uma criança, vem bem a calhar, pois evoca com firmeza o símbolo da humildade e da simplicidade. Não adianta conhecer profundamente a teologia e as mais altas concepções filosóficas. Se não nos fizermos humildes como as crianças – que são ingênuas e sem preconceitos – não entraremos no reino da verdade.

6.2. OS RICOS DESCONHECEM AS NECESSIDADES DOS POBRES

Há uma advertência dos Espíritos: “Oh, rico! Enquanto dormes sob teus tetos dourados, ao abrigo do frio, não sabes que milhares de teus irmãos, iguais a ti, estão estirados sobre a palha? A essas palavras teu orgulho se revolta, bem o sei; consentiras em dar-lhe uma esmola, mas a apertar-lhe a mão fraternalmente, jamais! ‘Que! Dizes, eu, descendente de um sangue nobre, grande na Terra, seria igual a esse miserável esfarrapado? Vã utopia de supostos filósofos! Se fôssemos iguais, por que Deus o teria colocado tão baixo e eu tão alto?’ É verdade que vosso vestuário não se assemelha quase nada; mas dele despojados ambos, que diferença haveria entre vós? A nobreza de sangue, dirás; mas a química não encontrou diferença entre o sangue do nobre e o do plebeu, entre o do senhor e o do escravo. Quem  te diz que, tu também, não foste miserável e infeliz como ele? Que não pediste esmola? Que não a pedirás àquele que desprezas hoje? As riquezas são eternas? Elas não se acabam com esse corpo, envoltório perecível do teu Espírito? Oh! Volta-te humildemente sobre ti mesmo! Lança enfim os olhos sobre a realidade das coisas desse mundo, sobre o que faz a grandeza e a inferioridade no outro; lembra que a morte não te poupará mais que a um outro; que os títulos não te preservarão dela; que ela pode te atingir amanhã, hoje, numa hora; e se tu te escondes no teu orgulho, oh! Então eu te lastimo, porque serás digno de piedade” (Kardec, 1984, p. 107)

6.3. O EVANGELHO FUNDAMENTA-SE NUMA LEI CIENTÍFICA

Jesus deixou claro o alcance de sua Doutrina. O Evangelho é fundamentado numa lei científica: desprendimento dos bens materiais. Aquele que construir o seu destino, seguindo os exemplos de Cristo, terá como recompensa as bem-aventuranças do reino de deus. Não que devamos fazer isso ou aquilo esperando uma recompensa, mas pelo simples prazer de cumprir fielmente as determinações de nossa consciência. Há muitos exemplos de benfeitores anônimos, que auxiliam simplesmente pelo prazer de auxiliar. E por que fazem isso? Porque estão compenetrados dessa lei maior que une todos os seres humanos numa só entidade, a entidade humana. Para essas pessoas não há separação entre americano e chinês, budista e católico, branco e preto. Trata todos como irmãos como o Cristo nos ensinou.

7. CONCLUSÃO

Não nos iludamos com a subida inesperada do orgulhoso e as vantagens aparentes da riqueza. Estejamos firmes em nosso posto de trabalho, atendendo resignadamente às determinações da vontade de Deus a nosso respeito.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

São Paulo, fevereiro de 2000

Ler entrevista sobre a humildade (08/03/2009) publicada em:

http://www.diarioweb.com.br/noticias/corpo_noticia.asp?IdCategoria=195&IdNoticia=119404



Humildade é o Esteio da Evolução Espiritual

Entrevista
Humildade é o esteio da evolução espiritual
São José do Rio Preto, 8 de março de 2009

Rita Fernandjes

A verdadeira humildade é aquela que faz as pessoas enxergarem as próprias potencialidades e limitações, dando a medida exata de ambos. De acordo com o presidente da Casa Espírita Ismael, de São Paulo, e coordenador dos cursos de Expositor e Aprofundamento Doutrinário, Sérgio Biagi Gregório, a verdadeira humildade auxilia as pessoas a tomarem consciência das suas limitações, alertando-as a tomar sempre o caminho do meio, da ponderação e do justo procedimento. Embora muitas pessoas confundam humildade com poucos recursos financeiros, Biagi explica que humildade significa simplicidade espiritual e, portanto, independe de classe social ou grau de inteligência. “O humilde não se deixa lisonjear pelos elogios ou pela situação de destaque em que se encontre. Todo sábio é humilde, porque sabe que sabe pouco do muito que deveria saber”, diz. Leia abaixo a entrevista de Biagi à Revista Bem-Estar.

Bem-Estar - Por que a humildade é o fundamento de todas as virtudes?
Sérgio Biagi Gregório - Virtude é uma disposição adquirida voluntária, que consiste na conduta racional de um ser humano ponderado. De acordo com Aristóteles, a virtude é a média entre duas extremidades, uma por excesso, a outra por falta. Ela se situa no ponto mais elevado no que se refere ao bem e à perfeição. É o justo meio. A humildade auxilia-nos a encontrar esse ponto médio, esse justo meio.

Bem-Estar - O que é a verdadeira humildade?
Biagi - A verdadeira humildade é aquela que nos faz ver as nossas potencialidades e as nossas limitações, dando-nos a medida exata de ambos. Ela nos auxilia a tomar consciência de nossas limitações, alertando-nos a tomar sempre o caminho do meio, da ponderação, do justo procedimento. Os nossos desejos são infinitos; atendendo-os, podemos nos tornar prepotentes. A humildade ensina-nos a administrá-los de acordo com os nossos recursos pessoais, para não darmos o passo maior do que a perna.

Bem-Estar - Como podemos nos tornar verdadeiramente humildes?
Biagi - Jesus Cristo nos deixou a boa-nova, os ensinamentos evangélicos, as bem-aventuranças. Se seguirmos os seus exemplos, as suas diretrizes, com certeza nos tornaremos verdadeiros humildes. A sua vida, desde o nascimento numa estrebaria até a morte na cruz, foi uma vida dedicada a atender a vontade do Pai e não a sua. Observe que toda a moral do Cristo se resumiu na caridade e na humildade, mostrando-nos que essas virtudes são os verdadeiros caminhos para a felicidade eterna.

Bem-Estar - Por que o verdadeiro humilde geralmente não sabe que o é?
Biagi - A humildade faz parte do indivíduo, sem que ele a perceba. É uma espécie de reflexo congênito. O verdadeiro humilde pratica o bem sem outro móvel que o próprio bem. Não está preocupado sobre o que os outros pensam dele. Em contrapartida, tão logo nos dizemos humildes, já não o somos mais, porque este pensamento fez-nos despertar o seu oposto, que é o orgulho, o orgulho de ser humilde.

Bem-Estar - A humildade é fundamental para a nossa evolução?
Biagi - Evolução é a atualização das virtualidades inscritas em nossa consciência. Se não formos humildes, como vamos detectar com clareza essas virtualidades? Observe o orgulhoso: ele geralmente se acha mais merecedor de elogios, de cuidados, do que os outros. Com isso, dificulta o verdadeiro conhecimento de si mesmo. Falta-lhe a autenticidade, ou seja, ver as coisas como realmente elas são.

Bem-Estar - A humildade faz com que reconheçamos os nossos próprios erros? Por quê?
Biagi - Sim, porque a pessoa humilde aceita pacientemente as críticas e as observações que lhe são dirigidas. Ela não tem receio de uma reprimenda, de um vexame público, pois sabe tirar proveito das coisas contrárias. Tem plena consciência de que aprendizado vem pelo erro e aplica a frase latina errando “corrigitur error” (errando, corrige-se o erro), com maestria.

Bem-Estar - É verdade que nosso objetivo de vida na Terra só será atingido com humildade? Por quê?
Biagi - A humildade é um dos esteios de nossa evolução espiritual. Há, porém, outros fatores a serem considerados, como, por exemplo, a caridade. Tanto é verdade que os Espíritos de Luz costumam dizer que a caridade e a humildade são as virtudes por excelência, por serem os opostos do egoísmo e do orgulho.

Bem-Estar - A vida nos dá oportunidades para alcançarmos a humildade? Como podemos reconhecê-las?
Biagi - Toda situação contrária aos nossos desejos é uma ótima oportunidade para exercitarmos a humildade. Quantas vezes não somos incompreendidos? Por um mal-entendido, recebemos repreensão deste, admoestação do outro. Qual a nossa reação? Nos rebelarmos ou assumirmos uma atitude de humildade? Se optarmos pela humildade, poderemos nos silenciar, fazer uma prece pelo ocorrido e esperar pela atuação dos bons Espíritos de Luz.

Bem-Estar - Como o senhor define um falso humilde?
Biagi - O falso humilde é aquele que não conhece a si mesmo. Ele está sempre pronto a mudar de ideia frente a uma observação contrária. Se alguém faz um elogio ao seu trabalho, ele diz que foi o outro que fez aquele trabalho; se alguém elogia a sua roupa, a sua pessoa, acha sempre uma desculpa para não assumir aquilo que é. Nós não precisamos cultuar o egocentrismo, mas quando a observação mostra aquilo que realmente somos, devemos aceitá-la naturalmente, sem subterfúgios.

Bem-Estar - Ser humilde não significa ser pobre?
Biagi - É um dos principais equívocos acerca da humildade. Confundimos simplicidade, humildade com pobreza, com parcos recursos materiais. Ouvimos dizer: “Ela é um pessoa simples, ela é uma pessoa humilde”, referindo-se ao ser humano de poucos recursos materiais. A humildade, porém, é algo inerente ao Espírito encarnado, independe de ser pobre ou rico, inteligente ou não.

Bem-Estar - É somente o orgulho que nos impede de sermos humildes?
Biagi - O orgulho, que é o seu oposto, é um dos principais empecilhos. Contudo, podemos acrescentar também o egoísmo que, segundo Allan Kardec, é o maior cancro da sociedade. Se cada um de nós aplicasse a “lei áurea” (fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem), com certeza teríamos uma sociedade mais justa e mais igualitária.

Bem-Estar - Qual é a relação entre humildade e fé?
Biagi - A fé é um sentimento inato do ser humano. Este sentimento pode ter um desfecho dogmático ou racional. Segundo Allan Kardec, deveríamos praticar a fé raciocinada. Para que possamos raciocinar a fé, há necessidade da humildade, porque a humildade estimula a pureza de nossa alma, desviando-nos de tudo aquilo que pudesse atrapalhar a busca do sumo bem.

Bem-Estar - Qual é a relação entre humildade e amor?
Biagi - O amor pode ser analisado na mesma linha da fé. O amor é uma palavra que basta a si mesma. Ela não precisa dos complementos que normalmente usamos, ou seja, “amor é renúncia”, “amor é perdão.” A pessoa que realmente ama não precisa perdoar, não precisa renunciar. A sua vida é uma vida de doação. Nesse sentido, quanto mais humilde alguém for, mais condição terá de alcançar esse amor maior, que é o amor incondicional, ensinado pelo mestre Jesus.

Bem-Estar - Qual é a grande lição que os Espíritos Benfeitores nos trazem?
Biagi - O capítulo VII – “Bem-Aventurados os Pobres pelo Espírito”, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, traz-nos diversas lições para a compreensão pormenorizada deste tema. De início, esclarece-nos que os pobres pelo Espírito não são as pessoas pobres, mas as pessoas humildes, que também podem ser os pobres. A grande lição é o combate ao orgulho, alertando-nos para os diversos tentáculos desse sentimento, que corrói todo o nosso ser, dificultando-nos a prática da humildade.

Bem-Estar - O “Reino dos Céus” é um estado de espírito? Podemos alcançá-lo nesta existência? Como?
Biagi - O Reino dos Céus não é um lugar circunscrito, nem governo ou Estado; é o governo de cada um pela obediência às leis naturais, inscritas por Deus em nossa consciência. Todas as vezes que obedecemos à Lei Natural estamos construindo esse reino de Deus. É uma construção ininterrupta, tal qual o conhecimento, cujo horizonte nos foge sempre, a ponto de Sócrates dizer que ele foi considerado o mais sábio, porque ele era o único que sabia que não sabia nada.

Bem-Estar - Outras informações que considerar importante.
Biagi - O termo humildade vem de húmus, palavra de origem latina que quer dizer terra fértil, rica em nutrientes e preparada para receber a semente. Nesse sentido, uma pessoa humilde está sempre disposta a aprender e a deixar brotar em sua alma, a boa semente. Na Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, é a virtude que conduz o indivíduo à consciência das suas limitações. O humilde não se deixa lisonjear pelos elogios ou pela situação de destaque em que se encontre. Todo sábio é humilde, porque sabe que só sabe pouco do muito que deveria saber.

O fariseu e o publicano

Bíblia do Caminho — Estudos Espíritas

EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I

Módulo III — Ensinos por parábolas

Roteiro 6

O fariseu e o publicano

Objetivo: Interpretar a parábola do fariseu e do publicano à luz do entendimento espírita.


 IDEIAS PRINCIPAIS

Os fariseus (do hebreu parush, divisão, separação) formavam uma das mais influentes seitas judaicas à época de Jesus. Tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas. Servis cumpridores das práticas exteriores do culto e das cerimônias; cheios de um zelo ardente de proselitismo, inimigos dos inovadores, afetavam grande severidade de princípios […]. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Introdução, p. 38.
Os publicanos eram, à mesma época, cobradores de impostos. Os […] riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Introdução, p. 40.
A parábola do fariseu e do publicano destaca os malefícios do orgulho e os benefícios da humildade. Esclarece também a respeito das qualidades da prece.


SUBSÍDIOS

1. Texto evangélico
E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, a orar, um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado. Lucas, 18:9-14.

A parábola do fariseu e do publicano coloca em evidência os malefícios do orgulho e os benefícios da humildade. Ilustra também a maneira correta de orar.
A parábola nos faz refletir que o processo evolutivo existente em nosso planeta segue um mecanismo básico de autovalorização e autopreservação das experiências humanas que, em síntese, se caracterizam por uma marcha horizontal de aquisição de conhecimento e uma caminhada na verticalidade, necessária à apreensão de valores morais. Por meio das inúmeras experiências reencarnatórias, o ser humano desenvolve os valores da inteligência e o seu aperfeiçoamento moral. Este último passa a ser buscado como processo evolutivo natural a partir do momento que o Espírito começa a valorizar os bons sentimentos, a conduta reta, o respeito ao semelhante e às suas necessidades. Nesse cenário a humildade, reconhecida como um componente essencial à felicidade faz oposição ao orgulho e à vaidade.
O processo da espiritualização humana é marco evolutivo de grande significância. O Espírito, nestas condições, volta-se para Deus buscando vivenciar a religião no sentido pleno e verdadeiro, que é a ligação da criatura com o Criador, assim conceituada por Emmanuel:

Religião é o sentimento Divino, cujas exteriorizações são sempre o Amor, nas expressões mais sublimes. Enquanto a Ciência e a Filosofia operam o trabalho da experimentação e do raciocínio [características da caminhada horizontal], a Religião edifica e ilumina os sentimentos [caminhada vertical]. As primeiras se irmanam na Sabedoria, a segunda personifica o Amor, as duas asas divinas com que a alma humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da espiritualidade. (10)

A maneira correta de orar. Outro aspecto relevante no estudo da parábola, indica que uma prece deve estar sempre revestida de humildade, tal como agiu “[…] o publicano, e não com orgulho, como o fariseu.” (3)
A prece é recurso divino em nosso benefício. Não basta, porém, orar é preciso saber como nos dirigir ao Senhor da Vida, sintonizando com a falange de. Espíritos Superiores que, agindo em seu nome, nos concedem o necessário conforto moral para enfrentar as dificuldades e desafios inerentes ao processo ascensional.

A prece deve ser cultivada, não para que sejam revogadas as disposições da lei divina, mas a fim de que a coragem e a paciência inundem o coração de fortaleza nas lutas ásperas, porém necessárias. A alma, em se voltando para Deus, não deve ter em mente senão a humildade sincera na aceitação de sua vontade superior. (11)

2. Interpretação do texto evangélico
E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros. (Lc 18:9)

Confiar em si mesmo não representa algo condenável. Ao contrário, demonstra confiança no que se sabe e na fé que se abraça. A ponderação de Jesus registrada nesse versículo nos fala, entretanto, do excesso de confiança que conduz a pessoa a julgar-se como sendo referência de justiça. Este tipo de comportamento, em geral alimentado pelo orgulho e pela vaidade, nos transformam em pessoas presunçosas e arrogantes, a ponto de desprezar os outros, o que pensam e o que fazem.

Do orgulho procedem todas as megalomanias, das mais grotescas às mais perigosas, como aquela que tem por escopo o domínio do mundo. São incontáveis os malefícios que o orgulho engendra no coração humano, ocultando-se e disfarçando-se de todas as formas. É assim que vemos pessoas cujas palavras, escritas ou faladas, são amenas e cheias de doçura; ao sentirem-se, porém, melindradas no seu excessivo amor-próprio, ei-las transformadas em verdadeiras feras, insultando e agredindo, na defesa do que chamam — dignidade. (9)
Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano. (Lc 18:10)

Jesus montou um cenário que nos auxilia o entendimento da sua parábola, selecionando o local e personagens bastante conhecidos, para ilustrar os malefícios do orgulho e os benefícios da humildade.
O templo, lugar onde ocorreu o encontro do fariseu e do publicano, é usualmente entendido como um espaço sagrado, destinado às práticas religiosas; ao louvor, agradecimento e súplicas dirigidas a Deus. É sempre visto como um local de oração. Quando alguém, religioso ou não, adentra um templo assume, de forma espontânea, uma postura contrita e respeitosa. Posição esta que foi rejeitada pelo fariseu e assumida pelo publicano.
Templo, porém, tem outro significado, mais subjetivo: indica o centro ou a essência das nossas cogitações íntimas e autênticas, onde trazemos gravados nossos sonhos e ideais. O Espiritismo ensina que à medida que evoluímos santificamos também este templo íntimo, aperfeiçoando sentimentos, pensamentos, palavras e ações.
Os personagens, da parábola, o fariseu e o publicano, eram elementos de destaque na sociedade judaica, à época de Jesus. Identificamos na figura do fariseu as pessoas que não se misturam com as demais, por escrúpulo ou por temor de serem por elas influenciadas. Em geral, são detalhistas, personalistas, isoladas em ideias e posições, inclusive na prática da lei de Deus. Por trazerem a visão focada, passam pela vida quase sempre indiferentes às necessidades dos semelhantes. Costumam ser, também, indivíduos cultos, mas vaidosos do saber que possuem. Mostram-se autoritários e exigentes em relação às pessoas que lhes estão subordinadas. O fariseu ou o espírito do farisaísmo retrata, infelizmente, muitos de nós, estudantes empenhados na luta do crescimento, mas ainda distanciados da capacidade operacional do amor.
Em termos históricos, porém, sabemos que existiram fariseus notáveis, homens piedosos e de grande influência, que souberam superar os limites do farisaísmo, como é o caso de Nicodemos (João 3:1), do homem que acolheu Simão (Lc 7:36), de Gamaliel (At 5:34,35) e do próprio Paulo de Tarso (At 3:5).
Os fariseus (do hebreu parush, divisão, separação) formavam uma das mais influentes seitas judaicas à época de Jesus.

Entre essas seitas, a mais influente era a dos fariseus, que teve por chefe Hillel, doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, onde se ensinava que só se devia depositar fé nas Escrituras. Sua origem remonta a 180 ou 200 anos antes de Jesus-Cristo […]. Tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas. Servis cumpridores das práticas exteriores do culto e das cerimônias; cheios de um zelo ardente de proselitismo, inimigos dos inovadores, afetavam grande severidade de princípios; mas, sob as aparências de meticulosa devoção, ocultavam costumes dissolutos, muito orgulho e, acima de tudo, excessiva ânsia de dominação. Tinham a religião mais como meio de chegarem a seus fins, do que como objeto de fé sincera. Da virtude nada possuíam, além das exterioridades e da ostentação; entretanto, por umas e outras, exerciam grande influência sobre o povo, a cujos olhos passavam por santas criaturas. Daí o serem muito poderosos em Jerusalém. (1)

Os publicanos, por outro lado, não representavam uma casta sacerdotal, mas, sim, cobradores de impostos ou de tributos definidos pelo domínio romano na Palestina.

Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se por vezes: “Ávido como um publicano, rico como um publicano”, com referência a riquezas de mau quilate. […] Os judeus de destaque consideravam um comprometimento ter com eles intimidade. (2)

A opção de Jesus de ilustrar a parábola com esses dois personagens sugere ser proposital, nos permitindo refletir se, face o programa de melhoria que estamos empenhados, estamos colocando em prática as lições edificantes que nos chegam continuamente do plano maior. O nosso desejo, obviamente, é seguir o comportamento do publicano, devemos, porém, ficar atentos de que ainda trazemos muitas características da postura do fariseu nos meandros do nosso psiquismo.
O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. (Lc 18:11,12).

A oração do fariseu tem expressões infelizes que refletem, sobretudo, orgulho religioso, considerado como vaidade perniciosa, já que pode conduzir à falsa crença de que, sendo religioso ou praticante de uma religião, é uma criatura melhor, superior, iluminada ou escolhida por Deus. A vaidade de alguns religiosos pode ser entendida como uma exacerbação do amor-próprio, confiantes de que Deus se sente honrado em tê-los como adeptos.
A posição de pé indica a forma de demonstrar respeito, comum entre os religiosos da Antiguidade. Nos dias atuais, encontramos essa prática nos templos religiosos quando se faz, por exemplo, a leitura de um texto considerado sagrado para os cristãos e para os não-cristãos. Na verdade, sabemos que a posição do corpo não confere maior ou menor respeito ao ato de orar, mas, sim, a postura íntima de quem ora.

O […] objetivo da prece consiste em elevar a nossa alma a Deus; a diversidade das fórmulas nenhuma diferença deve criar entre os que nele creem, nem, ainda menos, entre os adeptos do Espiritismo, porquanto Deus as aceita todas quando sinceras. […] O espiritismo reconhece boas as preces de todos os cultos, quando ditas de coração e não de lábios somente. Nenhuma impõe, nem reprova nenhuma. Deus, segundo ele, é sumamente grande para repelir a voz que lhe suplica ou lhe entoa louvores, porque o faz de um modo e não de outro. […] A qualidade principal da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos, que são meros adornos de lentejoulas. Cada prece deve ter um alcance próprio, despertar uma ideia, pôr em vibração uma fibra da alma. Numa palavra: deve fazer refletir. Somente sob essa condição pode a prece alcançar o seu objetivo; de outro modo não passa de ruído. (4)

O fariseu não proferiu uma prece, propriamente dita, mas uma vaidosa autolouvação, identificada nas seguintes frases do texto evangélico: “Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano”. A propósito, esclarece Allan Kardec como devemos orar:

Jesus definiu claramente as qualidades da prece. Quando orardes, diz ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras que sereis escutados, mas pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai os vossos defeitos, não as vossas qualidades e, se vos comparardes aos outros, procurai o que há em vós de mau. (3)

O que vale, dentro das técnicas preconizadas, é o sentimento vigorante. Ironizar, fazer comparações infelizes é fugir aos padrões de que se deve revestir. Orando, devemos nos colocar em estado de humildade e receptividade.
A personalidade orgulhosa e vaidosa do fariseu revela também preconceito e discriminação quando se compara ao publicano. Trata-se de um religioso distanciado do seu papel de orientador espiritual. Este trecho nos faz lembrar o apóstolo Paulo que dizia: “Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes” (Romanos 1:14).

De todos os males o orgulho é o mais temível, pois deixa em sua passagem o germe de quase todos os vícios. […] Desde que penetra as almas, como se fossem praças conquistadas, ele tudo se assenhoreia, instala-se à vontade e fortifica-se até se tornar inexpugnável. Ai de quem se deixou apanhar pelo orgulho! […] Não poderá libertar-se desse tirano senão a preço de terríveis lutas, depois de dolorosas provações e de muitas existências obscuras, depois de bastantes insultos e humilhações, porque nisso somente é que está o remédio eficaz para os males que o orgulho engendra. (6)

A postura do fariseu transmite significativa lição. Devemos ter cuidado para não nos julgarmos melhores, apenas porque ocupamos posição de destaque no meio social ou profissional que estamos inseridos. O que diferencia uma pessoa da outra são as qualidades do seu Espírito.

Sim, porque aos olhos de Deus não basta que nos abstenhamos do mal e nos mostremos rigorosos no cumprimento de determinadas regrazinhas do bom comportamento social; acima disso, é-nos necessário reconhecer que todos somos irmãos, não nos julgamos superiores a nossos semelhantes, por mais culpados e miseráveis que pareçam, nem tão-pouco desprezá-los, porque isso constitui, sempre, falta de caridade. (5)

A afirmativa do fariseu: “não sou como os demais homens […] nem ainda como este publicano”, além de ser improcedente, indica o desprezo que ele tinha pelos cobradores de impostos. Revela imaturidade espiritual não aprovar alguém em razão da profissão, até porque, no caso, existiram publicanos que se destacaram no bem, como foi o caso do evangelista Mateus (Lc 5:27-29) ou de Zaqueu, o publicano (Lc 19:1 a 10).
No seu monólogo com o Senhor, o fariseu se vê também como pessoa justa quando afirma: “Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo.” Percebe-se que o seu foco de interesse não era difusão e vivência da palavra de Deus, mas as manifestações de culto externo.
As práticas religiosas da lei moisaica determinavam o jejum e o pagamento do dízimo como regras de condutas dos fiéis. O jejum, definido como uma abstinência de alimentos por prescrição religiosa ou por espírito de mortificação, ainda é utilizado nos tempos modernos. As igrejas cristãs incorporaram essa prática ancestral em sua ortodoxia como forma de exercitar a disciplina quanto a privação de algo que produz prazer ou alegria, procurando domar os impulsos fisiológicos relativos à alimentação e ao sexo. Figuradamente, o jejum pode ser entendido como qualquer abstinência ou privação física, moral ou intelectual estabelecida por livre iniciativa. Isto é, jejum de maus pensamentos, de palavras e ações contrárias ao bem. É certo que para realizarmos a nossa transformação moral é necessário definirmos um “regime de jejum” contra as imperfeições que ainda possuímos.
Jesus, entretanto, não prescreveu jejum de alimentos aos seus discípulos, como está claramente identificado nesta citação Mateus: “Por que jejuamos nós, e os fariseus, muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?” (Mt 9:14).
O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado (Lc 18: 13,14).

Percebe-se que o publicano mantinha-se numa posição de humilde respeito (“de longe”) ao se dirigir, em prece, a Deus.

É certo que todo trabalho sincero de adoração espiritual nos levanta a alma, elevando-nos os sentimentos. […] A oração refrigera, alivia, exalta, esclarece, eleva, mas, sobretudo, afeiçoa o coração ao serviço divino. Não olvidemos, porém, de que os atos íntimos e profundos da fé são necessários e úteis a nós próprios. Na essência não é o Senhor quem necessita de nossas manifestações votivas, mas somos nós mesmos que devemos aproveitar a sublime possibilidade da repetição, aprendendo com a sabedoria da vida. (13)

Jesus aprova o comportamento do publicano e diz que este retornou justificado para casa. Além da atitude humilde, o publicano demonstra que conhece os seus defeitos, sabe que é pecador, daí nem ousar levantar os olhos para o céu.

Em […] seu sentido estritamente etimológico, humilde provém de húmus — rente com a terra. Entretanto, muitos interpretam o vocábulo como sinônimo de baixeza, servilismo, falta de brio, ausência de dignidade pessoal, etc. Ora, é claro que Jesus jamais desejaria que um cristão se tornasse sem dignidade e fosse capaz de rebaixar a condição humana, tornando-se servil. É preciso, portanto, que se entenda humildade e humilde como condição de pessoa modesta, sóbria, recatada, discreta, moderada nas atitudes e nas palavras. Nunca, porém, como baixo de caráter, sem dignidade moralmente rasteiro. Humilde é antônimo de arrogante, presunçoso, parlapatão, agressivo, intrometido, insolente, orgulhoso e atrevido. Humilde é aquele que sabe calar, quando poderia gritar; que sabe tolerar e suportar com grandeza de ânimo o excesso alheio, para depois, serenamente, restabelecer a normalidade de uma situação. É aquele que compreende a superioridade da calma sobre a irritação, a ascendência da tolerância sobre a intolerância, o valor da modéstia sobre a insolência, a coragem da paciência sobre a irritação, a ascendência da tolerância sobre a intolerância, o valor da modéstia sobre a insolência, a coragem da paciência sobre a irritação, a elevação do comportamento ponderado sobre a atuação agressiva. (8)

A humildade é, possivelmente, a mais difícil das virtudes a ser conquistada no mundo atual que, governado pelo materialismo, enfatiza o orgulho e a vaidade.

A humildade se opõe ao orgulho, à vaidade, à presunção, à autosuficiência, causa de tanta ruína, de tanto desespero, de tanta desilusão. Acreditamos que a humildade possa ser conquistada pelo esforço cotidiano pela melhoria do caráter. […] Para que sejamos fundamentalmente humildes […] temos que educar a nossa alma, de modo que a ação de cada dia nos favoreça um exame rigoroso do comportamento adotado e, de confronto em confronto, possamos eliminar os pontos fracos e revigorar aqueles que nos mostramos coerentes com Doutrina. Humildade dirigida nem sempre adquire autenticidade. Ela tem de ser espontânea, exercendo-se naturalmente, sem que nos apercebamos que ela se desenvolve à revelia do controle da vontade. A humildade controlada, mas não livre, pode facilitar benefícios, mas não tem a força, o poder de expansão da humildade autêntica, como a que foi revelada por Jesus e praticada por numerosos Espíritos que, na Terra, seguiram de perto, ou tanto quanto possível, o exemplo do Mestre de Nazaré. (7)

O último versículo do texto de Lucas (“porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado”) nos faz refletir que a humildade deve e pode ser exercitada por meio de serviço ao semelhante, em nome de Jesus, como bem nos esclarece o Espírito Irmão X (Humberto de Campos):

Onde está a humildade, há disposição para servir fielmente a Jesus. O verdadeiro humilde, embora conheça a insuficiência própria, declara-se escravo da vontade do Senhor, para atender-lhe aos sublimes desígnios, seja onde for. (12)


ANEXO

Citação de Mateus 6:9-13





ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Realizar uma exposição dialogada a respeito das ideias desenvolvidas nos Subsídios, tendo como base o texto de Lucas, promovendo amplo debate sobre o assunto. Ao final, pedir aos participantes que indiquem como as pessoas podem desenvolver a humildade no mundo atual, governado pelo materialismo.

Referências:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Introdução, item: Fariseus, p. 38-39.
2. Idem, ibidem - Item: Publicanos, p. 40.
3. Idem - Cap. 27, item 4, p. 370.
4. Idem - Cap. 28, item 1, p. 385-386.
5. CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo: Parábola do fariseu e do publicano, p. 122.
6. DENIS, Léon. Depois da morte. Tradução de João Lourenço de Souza. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Parte quinta (O caminho reto), cap. 45 (Orgulho, riqueza e pobreza), p. 262.
7. MENDES, Indalício. Rumos doutrinários. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Capítulo: Humildade sempre, p. 84.
8. Idem - Capítulo: Somente os fortes são humildes, p. 91-92.
9. VINICIUS (Pedro Camargo). Na seara do mestre. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000. Capítulo: (Bem-aventurados os humildes de coração), p. 65-66.
10. XAVIER. Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, questão 260, p. 157.
11. Idem - Pérolas do além. Pelo Espírito Emmanuel. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Verbete “prece”, p. 194. [Extraído do livro Emmanuel, cap. 1, item 4: A prece].
12. Idem - Pontos e contos. Pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos). 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. cap. 41 (Atarefa recusada), p. 220.
13. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 21 (Oração e renovação), p. 61-62.

Orgulho Disfarçado


De acordo com o Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IX, item 9, a espiritualidade superior afirma: “O orgulho leva a vos crer mais do que sois; a não poder sofrer uma comparação que possa vos rebaixar; a vos considerar, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, seja como espírito, seja como posição social, seja mesmo como superioridade pessoal, que o menor paralelo vos irrita e vos fere.”
Percebemos que todo aquele que é orgulhoso tentará sempre enganar sobre o estado do seu mundo íntimo. Está mentira é sustentada basicamente pelo sentimento de superioridade em ralação aos outros.
Tal sentimento é externalizado, astutamente, de formas a enganarem as outras criaturas. E por que fazem isso? – Para se passarem por criaturas boas ou seja, no fundo, elas acreditam que são pessoas melhores, seja moralmente ou seja intelectualmente, que as outras.
Claramente quando outras criaturas apontam os seus comportamentos, irritam-se e, para não serem desmascarados, adotam a hipocrisia como característica primária do seu comportamento.
Jesus amplamente combateu este tipo de comportamento, como neste trecho: Hipócritas! bem profetizou Isaias a vosso respeito, dizendo:  Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim.  Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem.  Mateus 15: 7 a 9. Em outro momento indica Kardec no Evangelho segundo o Espiritismo: "Não basta que dos lábios manem leite e mel. Se o coração de modo algum lhes está associado, só há hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas nunca se desmente: é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse, ao demais, sabe que se, pelas aparências, se consegue enganar os homens, a Deus ninguém engana. –Lázaro. (Paris, 1861.)".
Bem, os hipócritas da atualidade nada mais são do que os fariseus de antigamente. Eles são os comparsas de entidades desencarnadas que transitam na mesma faixa de pensamentos e ideias e estão ao nosso redor, inclusive dentro de todos os movimentos religiosos.
Muitas vezes é difícil identificá-los, porque não são transparentes, utilizando de processos psicológicos para enganarem os outros e não mostrarem as falha morais que carregam.
O orgulho disfarçado é fundamentado em processos de culpa recorrente. Explico: a criatura erra, seu erro é percebido e então ela é alertada e consolada por outras pessoas. Mas como em seu mundo interior ela não muda ou se esforça muito pouco na transformação íntima, constantemente cai nos mesmos desvios morais. Como ela quer passar uma imagem de boa, que está se esforçando, age com postura de vítima, de coitada, com choros recorrentes, para que os outros se compadeçam dela.
No fundo, não passam de mentirosos, porque fazem isso para não lidarem com as causas dos seus problemas. Para fazer isso, teriam que dizer que possuem falhas, que têm dificuldades... Mas como são orgulhosas, tentam disfarçar.
Também o farsante orgulhoso engana por meio de ações materiais. Assumem trabalhos diversos, mas ao invés de os abraçarem por amor, caridade legítima, sem desinteresse, fazem isso para exaltarem a vaidade, o sentimento de superioridade e o egoísmo. Na época de Jesus, os fariseus dominavam os outros por meio de atos exteriores, como orações em público, lavagem das mãos antes das refeições, uso de roupas alvas, porque era mais fácil agir assim que viver o amor em seus corações.
Daí que temos que estar muito vigilantes e constantemente refletir sobre nós mesmos, sobre as nossas escolhas e sentimentos. Se não fizermos isso, facilmente podemos estar agindo no erro ou sermos enganados pelos mentirosos do mundo visível e invisível.
Muita paz
Autor: Wagner R. Ferreira Júnior

Melindre, filho dileto do orgulho

 J.Garcelan

Espiritismo
jgarcelan@uol.com.br

Sabemos que o ORGULHO é um dos maiores males da humanidade. Desde eras remotas, o homem se deixou levar por essa terrível praga moral. Nem mesmo as mais angustiantes e dolorosas doenças, epidemias ou pragas que passaram pela Terra desde a existência do ser humano, mataram tantas pessoas do que as conseqüências que advierem do orgulho de muitos indivíduos que aniquilaram milhões e milhões ou bilhões de pessoas nas guerras e tramas armadas. Tudo pela ânsia do poder, da ganância ou pelo simples ato de ter. O homem da Caverna, já lutava pela fêmea e se sentia ferido em seu orgulho quando se via privado daquilo que queria, seja o que fosse. A luta pela liderança de um grupo ou tribo era uma questão de honra e de orgulho.

No Dicionário Houaiss – Língua Portuguesa, encontramos uma definição bastante extensa para o Orgulho. Há um item denominado Uso Pejorativo que diz: sentimento egoísta, admiração pelo próprio mérito, excesso de amor-próprio; arrogância, soberba, imodéstia. Acrescenta ainda: atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros; vaidade, insolência. O antônimo para essa palavra é HUMILDADE.

Já a palavra MELINDRE, que consideramos filho dileto do Orgulho, o mesmo dicionário expressa esta definição: disposição para se RESSENTIR DE COISA INSIGNIFICANTE; SUSCETIBILIDADE.

Desta forma, em minha opinião, o Orgulho na verdade é o Cancro da humanidade e enquanto não nos livrarmos dele ou o erradicarmos, não conseguirá ser promovida de um Mundo de Expiação e Provas para o Mundo em Regeneração.

Os dramas familiares são ocasionados pelo orgulho excessivo. Quando da programação da Reencarnação promessas de força de vontade e de se regenerarem através do amor são esquecidas, pois basta uma “picada” de orgulho para que as pessoas se percam e se desvariam no mar do desentendimento.

Assim, o MELINDRE, filho dileto do ORGULHO, tem ocasionado muitas e muitas desavenças por esse nosso mundo tão sofrido. Basta que o indivíduo fique ressentido ou magoado por uma palavra insignificante e a vingança e a inveja se fazem presentes em seu âmago.

Nos Centros Espíritas, infelizmente essa terrível praga está presente. Os Espíritos que nos assistem não conseguem erradicar esse mal, pois são obrigados a respeitarem o livre-arbítrio de cada um. A falta de estudo, o esforço para uma reforma íntima prometida quando no interior do Centro, principalmente quando estão compenetrados ou concentrados para receber o passe, são esquecidos logo em seguida, quando os apelos do consumismo dos vícios se fazem mais fortes do que os ensinamentos de JESUS.

Mas, o pior é quanto aos trabalhadores da Seara Espírita. A História do Espiritismo no Brasil registra vários fatos de dissidências dentro do movimento. Essas dissidências não serão comentadas aqui nessas linhas, mas idéias diferentes e maneiras de ver a Doutrina e principalmente o MELINDRE ocasionaram esses problemas. Nada disso aconteceria se a leitura de KARDEC estivesse presente em seus mínimos detalhes. O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, cuja primeira edição se deu em 1862, em seu Capítulo VII – BEM AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO, item 11, O Orgulho e a Humildade, traz o seguinte trecho “A humildade é uma virtude bem esquecida entre vós; os grandes exemplos que vos foram dados são bem pouco seguidos e, todavia, sem a humildade, podeis ser caridosos com vosso próximo? Oh! Não, porque esse sentimento nivela os homens; diz-lhes que são irmãos, que devem se entre ajudar e os conduz ao bem.

Sem a humildade vos adornais de virtudes que não tendes, como se trouxésseis um vestuário para esconder as deformidades de vosso corpo. Recordai “Aquele que vos salva; recordai sua humildade que o fez tão grande, e o colocou acima de todos os profetas”.

“Herculano Pires em seu livro “O Centro Espírita”, editado pela Livraria Allan Kardec em sua terceira edição, maio de 1990, traz o seguinte trecho “Sem a humildade que gera e sustenta o amor ao próximo, nem o estudo pode dar frutos”. Por outro lado, sem estudo da humildade não produzem amor, mas fingimento, hipocrisia de maneiras e fala melosa, de voz impostada para imitar anjos”.

Verificamos então, que o Melindre, é um inimigo poderoso da Raça Humana e particularmente, dos trabalhadores dos Centros Espíritas. Basta que, alguém se sobressaia com um pouco mais de sabedoria ou se destaque em trabalhos sociais, ou ainda em trabalhos mediúnicos, para que um irmãozinho menos preparado sinta a tal de suscetibilidade, mencionado no Dicionário Houaiss. Se porventura, o dirigente ou outro trabalhador da Seara responsável por qualquer setor da casa chamar a atenção de alguém por algum motivo, é bem possível que o tal de melindre se faça presente, salvo raras exceções, mesmo que o tom de voz e a maneira de falar do dirigente sejam cheia de amor e compreensão.


O que seria preciso fazer então, para ajudar os Guias Espirituais a manterem a Casa Espírita livre, ou quase livre desse terrível mal? Palestras, palestras, palestras, estudos, e correção de posturas. Para isso, basta nos espelhar-mos em Jesus e num infindável número de Espíritas e não espíritas que passaram por este mundo, nos dando magníficas lições de humildade, coragem e amor. Desde a chegada do Espiritismo no Brasil, que se deu se não me falha a memória por volta do ano de 1868 nunca a Doutrina esteve só. Sempre houve alguém se sobressaindo para incentivar e empurrar o Espiritismo para frente e para o alto. Silveira Sampaio, Bezerra de Menezes, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier e tantos outros. Irmã Dulce, Tereza de Calcutá, etc. E há ainda os antigos filósofos gregos, chineses, que nos deixaram lições de humildade e razão. Se nos dedicarmos a revê-los de quando em vez, fatalmente muito faremos para diminuirmos esse terrível mal chamado MELINDRE.

Publicado na Revista Internacional de Espiritismo número 11 – ANO LXXX – Dezembro, 2005. Páginas 602-603.

Melindre: A Síndrome Do Orgulho Ferido

Melindre: A Síndrome Do Orgulho Ferido

por Francisco Aranda Gabilan
Melindre - Originariamente, um simples e comum substantivo masculino, com o sutil significado de ser a delicadeza no trato, cuidado extremo em não magoar ou ofender por palavras ou obras.

É o que dizem os dicionários...

Mas, curiosamente, no dia a dia de relação entre as pessoas, há mais significados, dependendo da ótica de quem o analisa. Se a visão é de quem provocou o melindre em alguém, fala mais alto seu sentido menor: suscetibilidade exagerada, escrúpulo, com profunda significação como agente das crises da sociedade humana. Se a visão é de quem se melindrou, o "paciente" liga tal sentimento a uma "justa" in­dignação, à injustiça e à ingratidão alheias, com uma acentuada pitada de sentimento melodramático de auto-piedade, de vítima.

Entretanto, sem rebuscamentos, sem volteios, sem rodeios e sem metáforas, melindre quer dizer mesmo orgulho ferido, egoísmo contrariado, vez que não há um autor sequer consultado e que se propõe analisar a questão - fora os dicionários - que não afirme peremptoriamente que o melindre não seja um sentimento filho direto do orgulho, usando da síntese de um ilustre espírito-espírita.1

Tenhamos presente que uma célula da sociedade humana das mais representativas é a Casa Espírita, onde, lastimavelmente, também grassam interesses pessoais, desejos de destaque, arroubos de sabedoria, vaidades e tantos outros sentimentos iguais. Daí porque, quando menos se espera, surge o melindre...

É o médium que não se conforma com a análise direta feita por companheiros estudiosos, quando ele, ao receber os Espíritos, bate os pés, as mãos, fala alto demais, repetitivamente, com linguagem às vezes inadequada, etc. Melindra-se e não aceita as observações e conselhos, retirando-se do trabalho ou isolando-se na crítica à Casa e seus dirigentes. É o expositor que não cumpre os horários, nem o programa, que desvia sempre do assunto da palestra ou da aula, descambando para análises outras, não raro pessoais ou sem importância doutrinária, e que não aceita as recomendações da direção de manter-se fiel ao programa ou à conduta em classe ou na tribuna, melindrando-se com facilidade, afirmando que "nessa etapa da vida" não está mais para ouvir críticas "especialmente de quem sabe menos e é muito mais moço..." É o dirigente de área na Casa que se julga auto-suficiente em tudo e não aceita conselhos e recomendações para melhoria do setor, ameaçando retirar-se, entregar o cargo, exigindo se promova reunião de Diretoria para ouvir suas reclamações. É o diretor que tem sua proposição refugada e se sente desprestigiado, desaparecendo das reuniões e das assembleias. É até mesmo o doador de donativos, cujo nome foi omitido nos agradecimentos, magoando-se e fugindo a novas colaborações.

E assim por diante...

O que se ouve, em todos os exemplos citados, é mais ou menos o seguinte: "Não entendo o porquê de tanta injustiça comigo, tanta ingratidão..., logo eu, que tanto fiz, que tanto dei de mim, que tanto ajudei...", seguido de lamentações e, não raro, até de choro, entremeado de rasgos de vítima do mundo e de todos.

O erro está, neste caso, em o me­lindrado esperar (e até exigir) gratidão de todos pelo trabalho que ele desenvolveu na Casa, confundindo obrigações com favores. Ora, obrigações não implicam de modo algum em gratidão, muito especialmente se levando em conta que quem as assume, o faz livremente. Daí, quando contrariado, ferido em seu orgulho pessoal, julga-se vítima de ingratidão, de in­justiça... e ameaça retirar-se, quando não se esquiva definitivamente.

Um lembrete rápido para reflexão: Jesus houvera curado dez leprosos numa única tarde; mas, quantos deles se detiveram para agradecer-lhe? Apenas um! Quando o Cristo voltou-se para seus discípulos e perguntou-lhes onde estariam os outros nove curados, todos já tinham desaparecido, sem sequer um agradecimento. E daí: Jesus se melindrou, desistiu da tarefa, julgou-os ingratos?2 Para pensar!

Há mais uma agravante no fato que envolve o trabalhador descuidado: o melindre "propele a criatura a situar-se acima do bem de todos. É a vaidade que se contrapõe ao interesse geral. Assim, quando o espírita se melindra, julga-se mais importante que o Espiritismo e pretende-se melhor que a própria tarefa libertadora em que se consola e esclarece." (...) "Ninguém vai a um templo doutrinário para dar, primeiramente. Todos nós aí comparecemos para receber, antes de mais nada, sejam quais forem as circunstâncias."3

Assiste razão integral ao preclaro Irmão X4 , a afirmar que "os melindres pessoais são parasitos destruidores das melhores organizações do espírito.

Quando o disse-me-disse invade uma instituição, o demônio da intriga se incumbe de toldar a água viva do entendimento e da harmonia, aniquilando todas as sementes divinas do trabalho digno e do aperfeiçoamento espiritual."

Ouçamos, afinal, todos nós, trabalhadores da seara espírita, os simplíssimos - mas altamente judiciosos e adequadíssimos - conselhos de André Luiz, na cartilha de boa condução moral chamada Sinal Verde5, assim vazados:

"Não permita que suscetibilidades lhe conturbem o coração.

Dê aos outros a liberdade de pensar, tanto quanto você é livre para pensar como deseja.

Cada pessoa vê os problemas da vida em ângulo diferente.

Muita vez, uma opinião diversa da sua pode ser de grande auxílio em sua experiência ou negócio, se você se dispuser a estudá-la.

Melindres arrasam as melhores plantações de amizades.

Quem reclama, agrava as dificuldades.

Não cultive ressentimentos. Melindrar-se, é um modo de perder as melhores situações.

Não se aborreça, coopere.

Quem vive de se ferir, acaba na condição de espinheiro".

Contra os vermes corrosivos do egoísmo, da vaidade e do orgulho (ferido ou não!), recomenda-se o uso do anti-séptico da Boa Nova, distribuído altruisticamente por Jesus, quando nos exorta: “Se alguém quiser alcançar comigo a luz divina da ressurreição, negue a si mesmo, tome a cruz dos próprios deveres, cada dia, e siga os meus passos.”6



BIBLIOGRAFIA

1 - Cairbar Schutel, in O Espírito de Verdade, cap. 36, psic. F. C. Xavier.

2 – Lucas, 17:12-19.

3 – Cairbar, idem.

4 – Cartas e Crônicas, cap. 29, psic. F. C. Xavier.

5 – Sinal Verde, André Luiz, cap. 23- Melindres, psic. F. C. Xavier.

6 – Mateus, 16:24; Marcos, 8:34; Lucas, 9:23.



Fonte: Revista Internacional de Espiritismo, de Jun 2006

Por que primeiro a humildade


Jesus Cristo nunca se cansou de combater o orgulho e de enaltecer a humildade, virtude da qual Ele, o Mestre, deu vários exemplos, consoante evangelhos.

A humildade, um dos valores essenciais da Alma, estimula-nos a examinar as fraquezas enquanto o orgulho, ou sentimento de amor-próprio exagerado, o grande estorvo da elevação espiritual do homem e a razão de suas desventuras, evita observá-las. “Pobreza de espírito”, ou “humildade de espírito”, ou “humildade de coração”, quer dizer: modéstia, simplicidade, pureza, daí, Jesus ter priorizado esse dispositivo.

O Evangelho segundo Mateus corrobora nossa afirmativa: “Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus”... (Mateus, 5:3.) Não foi à toa que o Mestre falou assim logo de início no sermão do monte. Os Espíritos têm frequentemente se assentado, em suas mensagens escritas ou faladas, via mediúnica, nesse primeiro item das promessas de Cristo. Essa redundância está na razão direta da primazia de se ser humilde antes de tudo, mas de coração; não se pode, pois, ser realmente caridoso sem “pobreza”, ou “humildade”, de espírito.

O sentimento exagerado de alguns chega ao absurdo de pensar que Deus discrimina o pobre do rico. Para o nosso Pai Eterno, somos todos iguais: não há diferença entre o sangue que corre nas veias de uma rainha e o que corre nas veias de uma simples dona de casa; o organismo físico dos Sumos Pontífices não difere do organismo de ninguém!

E por falar em vigários, uma vez, um  deles que costumava desmerecer o Espiritismo, os fenômenos espíritas e até criticar Chico Xavier, sempre que oportuno, ao tentar dar uma opinião, durante um programa de grande audiência de uma emissora de TV, falou deste jeito: “Bem, de acordo com a humildade que me caracteriza...” Não preciso dizer que isso motivou ditos chistosos, gracejos, comentários. É tolice a pessoa considerar-se superior por pertencer à alta hierarquia social, achar-se melhor que outras só porque é branca ou negra, ou de outra cor; só porque nasceu nesse ou naquele país, é adepta ou representa essa ou aquela religião, uma seita. Ora, se hoje possuímos alta posição, se pertencemos a essa ou àquela nacionalidade, se a nossa pele é dessa ou daquela cor, se cremos assim ou assado, amanhã poderemos ser completamente diferentes de acordo com as medidas impositivas da Lei de Causa e Efeito.

As leis divinas encerram muita sabedoria, Deus nada faz de inútil, daí as reencarnações regeneradoras. Ele, em Sua absoluta sapiência e equidade, planejou o reencontro das mesmas pessoas para que estas adquirissem nova chance de reparos e não alegassem depois, com a troca das anteriores condições, ignorância de tais e tais fatos.

A humildade e caridade, segundo o Espírito Lacordaire, é uma virtude muito desprezada entre os homens. Em sua opinião, apresentar-se com uma, e sem a outra, é o mesmo que vestir belo traje de talhe perfeito para ocultar uma deformidade física. Disse: “Sem humildade, apenas vos adornais de virtudes que não possuís”. *

Pois é. O significado dessa palavra varia. Existem homens e mulheres que, à primeira vista, nos encantam pela simplicidade: a aparência, a profissão, o cargo que ocupam, enfim, a posição social, econômica. Nas mais das vezes, porém, nada têm a ver com humildes de coração. Outros parecem a doçura em pessoa, humildes no falar; no entanto, se contrariados, mal podem esconder a extremada arrogância, a prepotência. A humildade não possui duas caras, é afável, fraterna.

Também podemos incluir como contrastes da verdadeira humildade outros exemplos. Refiro-me a pobres ou miseráveis que mendigam pelas ruas e a alguns ignorantes do saber, mas que são orgulhosos. Todavia, há homens de grandes posses e pessoas que ocupam cargos importantes, alguns dos quais sábios mesmos; a modéstia e o altruísmo que lhes caracterizam envergonhariam a ignorância assoberbada em andrajos ou em vestes limpas, requintadas, se esta os enxergasse pelo altruísmo que praticam sem vanglória, pela simplicidade.

Sócrates, filósofo grego, há quinhentos anos antes de Cristo, declarou não saber absolutamente de tudo. Ele, o modelo dos sábios, disse: “Sei que nada sei”. Jesus, símbolo da humildade e bondade, sequer insinuou ser Deus: nunca exigiu mesuras de pretensos sacerdotes Seus em altares floridos, recamados de ouro, ou nos palcos espetaculosos dos megacultos televisivos, tampouco alimentou a vaidade de Se considerar chefe de uma religião ou do que quer que seja. No pretório, questionado por Pilatos — “és rei?” —, respondeu-lhe tranquilamente sem nenhuma insolência: “tu dizes que sou”... (João, 19:37.)

Portanto, gente, humildade, força moral por excelência, nivela todos os homens como irmãos e os estimula à prática mútua do bem; orgulho, ao contrário, uma fraqueza: dispersa, odeia, revida e faz o homem sucumbir ante a menor das contrariedades, sentindo-se permanentemente infeliz. Ser humilde é ser corajoso durante os reveses da vida, é perseverar no combate às próprias más tendências, é, portanto, vencer os obstáculos naturais, mas sem revolta, sem violência, perdoando a quem nos ofenda, trabalhando, servindo abnegada e incessantemente — isso é ser humilde conforme Jesus.


* Jean-Baptiste-Henri Lacordaire (1802/1861) foi um sacerdote e católico dominicano, membro da Academia Francesa. Veja mensagem sua, ditada em 1863, em Constantina, Argélia, inserida em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII, item 11, O orgulho e a humildade.