domingo, 30 de dezembro de 2012

EVOLUÇÃO E REFORMA ÍNTIMA


Em biologia, evolução é a mudança das características hereditárias de uma população, de uma geração para outra. Este processo faz com que os organismos mudem ao longo do tempo. A seleção natural é um processo pelo qual características hereditárias que contribuem para a sobrevivência e reprodução se tornam mais comuns numa população, enquanto que características prejudiciais tornam-se mais raras.

O termo evolução vem do latim evolutio, que significa “desabrochamento”. Segundo o dicionário Aurélio, evoluir significa “evolver, passar por transformações”.
Sob a ótica espírita, quando falamos que o espírito evolui desde os primórdios de suas ligações com a matéria, não significa que cada átomo, cada planta ou cada micróbio seja um espírito, mas, que esses reinos primitivos são o molde, a base por onde o princípio inteligente se manifesta a fim de desenvolver-se. É como o casulo da borboleta. Antes, ela só existia como lagarta! Ou seja, tudo na natureza se encadeia para que o espírito realize voos mais altos, rumo ao infinito. Sem o reino animal, o princípio inteligente não teria desenvolvido o instinto, essa força da natureza que é a base da nossa manifestação como seres humanos. É “cuidando do ninho” que são desenvolvidas as primeiras noções de família, para, posteriormente, as transformarmos em sentimento de amor para conosco (autoestima) e com a família universal.

Evolução significa desenvolver algo que já existe em potencial. Ou seja, evoluir espiritualmente significa manifestar, de forma gradativa, todo o potencial que existe em nós. Somos centelhas divinas. Somos a própria manifestação de Deus. Quando amamos, é o amor divino que está em ação. Portanto, trazemos em nossa essência o “código genético do Pai”. Apenas precisamos nos iluminar, nos conhecermos em profundidade para que a grande reforma espiritual se realize e o brilho interno da nossa consciência se manifeste.

Resumindo: sem autoconhecimento não é possível a reforma íntima. “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. A Verdade está além dos livros, além da razão, da mente. A verdade é nossa realidade maior, é Deus em toda sua Plenitude. Este caminho é eterno, infinito, e a cada passo um novo horizonte se abre diante de nós.

Boa jornada a todos!

Fonte: http://www.rcespiritismo.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=281:evolucao-e-reforma-intima&catid=34:artigos&Itemid=54

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Todo erro traz fraqueza


Morel Felipe Wilkon

Todo erro traz fraqueza
Você se esforça pra fazer a coisa certa? Você procura sempre agir corretamente? Se dependesse da sua vontade de agora, você deixaria de errar para sempre? O fato é que nós cometemos erros todos os dias. Fazemos tanta coisa errada que nem vale a pena comentar sobre eles. Até porque devemos valorizar os nossos acertos, devemos nos alegrar com as coisas boas que conseguimos fazer.

Há uma frase atribuída ao Chico Xavier que diz que não devemos cobrar dos outros virtudes que não temos. Não tenho a pretensão de cobrar virtude alguma de você. As minhas virtudes são poucas e acanhadas. Mas isso não me tira a vontade de querer melhorar a mim mesmo e de fazer refletir quem esteja disposto a isso.

Dei essa explicação toda pra dizer que todo erro traz fraqueza. Cada vez que cometemos um erro nos sujeitamos à fraqueza. Esse erro pode ser de propósito ou não. Desde que você perceba que o erro existe, desde que você note que o que você fez foi um erro, você dá abertura para que a fraqueza se instale em você.

As pessoas mal humoradas sofrem muito com seu mau humor, inclusive fisicamente. Elas são mal humoradas porque pensam mal dos outros, ou falam pelas costas, ou são ingratas, não valorizam a vida. Esses erros fazem delas pessoas ranzinzas, e isso é fraqueza.

As pessoas que trabalham de má vontade sentem-se sempre visadas, como se houvesse uma perseguição sobre elas. Elas trabalham de má vontade por não gostarem do que fazem, ou por não gostarem de trabalhar, ou por não valorizarem sua função, ou por simples desleixo. Por causa do seu descuido e relaxamento, esperam por alguma crítica, ou cobrança, ou reclamação, e com o tempo acham que o ambiente de trabalho é um complô para as derrubar. Isso é fraqueza.

Cada vez que desejamos mal a alguém, ou que mentalizamos brigas com alguém, ou que travamos discussões em pensamento, estamos nos predispondo a agir com fraqueza com essas pessoas ou outras pessoas em situações semelhantes. Ao nos depararmos com essas pessoas, agimos como se a discussão ou briga imaginária tivesse acontecido de verdade. É que nossa mente subconsciente não distingue realidade e imaginação…

Sempre que cometemos um erro enfraquecemos nossa confiança em nós mesmos. A cada pequeno deslize, a cada mentira pra nós mesmos, a cada história mal contada, a cada desonestidade ou deslealdade desperdiçamos um pouco da nossa força de caráter. É por isso que pessoas boas, evoluídas, são tão seguras de si, tão tranquilas e destemidas. Nada as assusta, pois nada devem a si mesmas.

Em nosso íntimo nós percebemos que não temos moral pra exigir, pra cobrar, pra esperar consideração, respeito. Quem erra muito sabe, mesmo que seja lá no fundo, que não é merecedora de dádivas da Vida, que não deve esperar muito das pessoas, pois não oferece nada de bom a elas.

É assim também com os vícios. A cada tentativa frustrada de parar de fumar, ou de beber, ou de comer doces, ou de fazer regime, a cada recaída que se comete, mais difícil fica, porque o erro traz consigo a fraqueza.

Você tem uma verdadeira fortaleza de caráter no seu íntimo. Tudo o que há de mais admirável e respeitável está dentro de você, esperando que você desenvolva a sua Vontade. Vontade é o rumo que você determina para os seus pensamentos, palavras e ações. Você está no comando. Você pode mudar quando quiser.

Sei que não é coisa simples deixar de errar. Todos os dias cometo erros, assim como você e todo mundo. Mas não podemos nos conformar com os erros como se fosse normal errar. Quanto menos erros, mais força interior; quanto menos erros, mais lucidez, mais coragem de olhar pra dentro de si mesmo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SEDE PERFEITOS


O Espiritismo nos ensina que  a causa primária de todas as coisas, Deus, é a perfeição absoluta. Perfeição essa que é incompreensível pelo homem no seu atual estágio de evolução, por que  falta-lhe o sentido,o que leva  o Ser que ainda demora-se na sombra, perguntar: “ Se Deus é perfeito,por que nos criou imperfeitos?
Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, mas não fisicamente, e sim, pelo Seu amor, que  está ínsito em nós.
Podemos fazer analogia ao diamante  que se forma em grandes profundidades, a mais de 150 quilômetros abaixo da superfície terrestre e numa temperatura superior a 1500 graus centígrados, cuja gema, não dispensa o buril do artesão, que a pouco e pouco vai desgastando as jaças para  o transformar no mineral de maior dureza que se conhece e na jóia mais cobiçada deste Planeta.
Nos primórdios, tivemos o acompanhamento fraterno  de Entidades Superioras até adquirirmos  o Livre Arbítrio, e  porque nos distanciamos das Leis Divinas  o nosso buril, por efeito educativo, foi a dor e o sofrimento.
Sendo artífice de nossa própria sorte, somos convidados  a burilar as jaças, as imperfeições, combatendo  em nós o egoísmo,o orgulho, a vaidade....
Fomos criados simples e ignorantes mas, com potencial para a perfeição. A sede insaciável de perfeição que o espírito experimenta, constitui a prova de sua origem divina. Deus está no homem. A mediocridade jamais o contentará, quando consciente de sua própria natureza.
Assim sendo, as palavras de Jesus, “sede vós logo perfeitos, como também vosso pai celestial é perfeito” precisam ser entendidas em seu sentido relativo pois sendo o criador perfeito, ele jamais será igualado a não ser que se abandone um de seus atributos, o de ser único, o que o descaracterizaria.
 O mestre, entretanto, ao pronunciar aquelas palavras, e consciente de que a tarefa de aperfeiçoamento é individual e intransferível, evidenciava a essência da sua revelação aos homens; o meio pelo qual o ser evolui e que a  vida se rege por amor.
Exortava aos seus discípulos e a todos nós a necessidade de adotar o comportamento que mais o aproxima da natureza divina, o amor.
“Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos tem ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam”, ou seja, busquem, sintonizem-se com o bem, com o bom, o belo e coloquem-se assim em condições de exercitar as virtudes que sublimam a emotividade e institui a paz, a fraternidade entre os homens, consubstanciando assim o amor ao próximo, a realidade das leis divinas, sendo, portanto, perfeitos como o pai o é.
A perfeição, portanto, é possível ao homem; perfeição relativa ao seu cabedal, ao seu momento na escala evolutiva, toda vez que o homem age imbuído do sentimento de amor, de caridade, que é o amor em ação.
Mas se agirmos assim, somente com aqueles que amamos ou nos amam, qual a vantagem, se os homens de má vida também o fazem? Então Jesus orientou: “Amai os vossos inimigos......”
E por que devemos amar os inimigos?
 Por que são filhos de Deus e portanto nossos irmãos , dignos  de respeito e consideração a que não devemos negar.
Amar os inimigos é uma das maiores conquistas sobre o egoísmo e o orgulho, é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em  se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar.
A essência da perfeição é a caridade, pois implica a prática de todas as virtudes, e o grau de perfeição está  na razão direta da extensão do amor ao próximo.
O esforço pela perfeição, portanto, é válido, porque se antepõe à sombra, elimina projeções negativas, contribuindo para o bem-estar do indivíduo em qualquer situação que lhe surja.
Pelo seu significado profundo, é um amor diferenciado daquele que deve ser oferecido ao inimigo, a quem se fez ofensor, projetando sua imagem controvertida e detestada por si mesmo, naquele que se lhe torna vítima. Amar a esse antagonista é não retribuir a ofensa, não o detestar, não o conduzir no pensamento, conseguir libertar-se de  seu ódio e  agressividade.
O que não ocorre quando o ressentimento, o desejo de revide, a amargura se instalam, porque, de alguma forma, a pessoa passa a depender das vibrações maléficas do seu perseguidor.
O amor libera aquele que o cultiva, por essa razão, o mal dos maus não ata a vítima ao algoz, deixando-a em tranquilidade.
O mestre ensinando que o aperfeiçoamento da criatura é infinito não coloca a si mesmo como modelo, embora todos nós, encarnados e desencarnados o tenhamos como o ser mais perfeito que teve contato conosco.
Ele ensina a todos os povos , a todas as raças e a todas as religiões, mas em particular aos Espíritas, pois, “ Àqueles a que mais será dado, mais será pedido”
Jesus, disse:”Amai-vos como Eu vos amo”  e  Allan Kardec:”Amai-vos uns aos outros, porém instrui-vos e assevera: Conhece-se o espírita pela sua transformação moral e esforço que emprega a combater suas más inclinações.”
A essência da perfeição é a caridade, pois implica a prática de todas as virtudes, e o grau de perfeição está  na razão direta da extensão do amor ao próximo. o esforço pela perfeição, portanto, é válido, porque se antepõe à sombra, elimina projeções negativas, contribuindo para o bem-estar do indivíduo em qualquer situação que lhe surja.
 Como a caridade é o amor em atividade, para se saber o tamanho do amor que já sentimos, basta medir a caridade que já fazemos. Muita paz!........

Sede Perfeitos - Gregório


Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Progresso Material e Progresso Moral. 4. Do Ato Puro
à Potência do Ser: 4.1. Deus como Ato Puro; 4.2. Fomos Criados Potencialmente Perfeitos;
4.3. Causalidade. 5. O Imperativo da Perfeição: 5.1. Sede Perfeitos como Vosso Pai Celestial é
Perfeito; 5.2. A Caridade como Amor ao Próximo; 5.3. A Participação na Sociedade. 6.
Anotações de Obras Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

Jesus disse: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito". Como
analisar o imperativo da perfeição, contido nesta frase? Devemos estar sempre
nos aperfeiçoando? Não seria melhor fazer corpo mole, deixando o encargo
para outra encarnação? Trataremos, neste estudo, do progresso material e do
progresso moral, da potência e do ato e da correta ordenação da nossa
perfectibilidade.

2. CONCEITO

Perfeição – de perfectio designa o estado de um ser cujas virtualidades se
encontram plenamente atualizadas ou realizadas. Em teologia, plena
realização, sob o ponto de vista moral, consumação no bem que compete a
cada um possuir e atuar. Assim: "Todo o homem é chamado à perfeição ou
santidade".
Perfeccionismo – Psicologia. Excessiva exigência de perfeição para consigo
mesmo ou de outrem. O perfeccionismo manifesta-se numa sintomatologia
neurótica de colorido obsessivo.
Sede – Imperativo do verbo ser. Implica a idéia de ordem, de comando.

3. PROGRESSO MATERIAL E PROGRESSO MORAL

A humanidade tem sido influenciada, ao longo do tempo, por pensadores de
todos os matizes. Vejamos como isso se deu para nos desviar dos
ensinamentos de Jesus.
No início da era cristã, o progresso material era ainda rudimentar. Com avanço
da ciência, novas tecnologias se desenvolveram rapidamente. Isso não
deveria deturpar a boa convivência entre progresso material e progresso moral
evangélico. Contudo, a história mostra o contrário.
O racionalismo de Descartes (1596-1650), em que a razão sobrepuja todos os
outros tipos de conhecimento, foi a mola propulsora de todo o progresso
material subseqüente. A idéia central era a de que o progresso técnico,
propiciando maior produção e produtividade, traria maior bem-estar para
humanidade. Esta tese coloca o esforço de consciência (característico do
Cristianismo) em segundo plano. Um dos maiores defensores da influência do econômico sobre a religião e as artes foi Marx. Isso não quer dizer que outros
também não o defenderam. Observe o Contrato Social de Rousseau. Para
Rousseau, o homem é fundamentalmente bom (no que aproxima do
Cristianismo) mas é a sociedade que o faz mau. Portanto, se melhorarmos a
sociedade, melhoraremos o homem. E como a sociedade é passível de ser
mudada por leis e decretos, o progresso seria a conseqüência inevitável
dessas mudanças assim orientadas. Um exemplo típico é a Revolução
Francesa, que se fundamentou em Leis para justificar as "violências
necessárias". Hobbes, por seu turno, afirma que "o homem é lobo do próprio
homem". A seleção natural das espécies, de Charles Darwin, em que as
espécies mais fortes resistem ao tempo, é passada para a sociedade como
uma corrida desenfreada e violenta na busca do melhor, de estar sempre
suplantando o outro, numa mostra clara da exclusão dos mais fracos. Tudo
isso nos fez esquecer dos ensinamentos de Cristo. (Enciclopédia Polis)

4. DO ATO PURO À POTÊNCIA DO SER

4.1. DEUS COMO ATO PURO

A Filosofia proporciona-nos um raciocínio lógico, que pode nos auxiliar a
entender o processo de evolução do Espírito. Ela nos informa que todas as
coisas estão tanto em ato (que é) como em potência (que poderá vir a ser).
Quando Aristóteles definiu Deus como ato puro, fê-lo porque tinha certeza que
não havia nenhum ato anterior a Deus, o Criador. A palavra Je-ho-vá (Jeová,
Deus dos Judeus), por exemplo, é um ato puro, pois, em hebraico, quer dizer é,
foi, será. Do exposto, depreende-se que   o Espírito não pode ser ato puro,
mas um ato criado por um Ser Supremo. O Espiritismo nos ensina que de Deus
vertem-se dois princípios: o princípio espiritual e o princípio material, que
individualizados formam, respectivamente, o Espírito e a Matéria. Em seu
processo evolutivo, o Espírito vai sempre precisar da matéria, pois dela se
serve para a sua manifestação.

4.2. FOMOS CRIADOS POTENCIALMENTE PERFEITOS

Deus, quando nos criou, criou-nos simples e ignorantes, ou seja,
potencialmente perfeitos. Os Espíritos superiores, no início de nossa
caminhada espiritual, guiaram os nossos passos como um pai segura as mãos
de seu filho. Com o passar do tempo, eles nos deixaram entregues ao nosso
livre-arbítrio, com a responsabilidade pelas ações realizadas. Assim sendo, em
cada encarnação nós vamos atualizando a potência de perfeição que existe
em cada um de nós.
Nota: se Deus é o Criador, e o Criador é todo bondade e misericórdia, como
poderia ter criado um ser defeituoso, monstruoso?. Não faz sentido assim
pensar.

4.3. CAUSALIDADE

Há, na natureza, uma lei de causalidade, que nos mostra uma relação de
causa e efeito. A causa é ato anterior que tinha uma possibilidade de se atualizar. Para que a causa se atualize, ela precisa de fatores emergentes e de
fatores predisponentes. Os fatores emergentes dizem respeito à ordem interna
da causa; os fatores predisponentes, à ordem externa. Explicando melhor:
fatores emergentes – para que tenhamos uma pereira, precisamos lançar ao
solo uma semente de pereira, pois se lançarmos uma semente de abacate não
nascerá nenhuma pereira; fatores predisponentes – a semente de pereira,
apesar de ter potência de tornar-se pereira, precisa de terra, de ar, de sol, de
água. Sem estes, a pereira não surgirá. (Santos, s. d. p.)
Tomemos um indivíduo qualquer. Ao reencarnar ele traz em seu bojo os fatores
emergentes (prova pela qual deverá passar). Para passar por essa provação
precisa também dos fatores predisponentes (parentes, amigos, pessoa que
fabrica o alimento etc.)

5. O IMPERATIVO DA PERFEIÇÃO

"Amai os vossos inimigos; fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por
aqueles que vos perseguem e que vos caluniam; porque se não amais senão
aqueles que vos amam, que recompensa com isso tereis? Os publicanos não o
fazem o também? E se vós não saudardes senão vossos irmãos, que fazeis
nisso ais que os outros? Os Pagãos não o fazem também? Sede pois, vós
outros, perfeitos, como vosso pai celestial é perfeito". (Mateus, 5, 44, 46 a 48)

5.1. SEDE PERFEITOS COMO VOSSO PAI CELESTIAL É PERFEITO

A frase "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito" mostra uma ordem,
uma ordenação dada por Jesus a todos os habitantes do Planeta Terra,
independente da seita ou da religião que professe. Pergunta-se: não sabia
Jesus que somos fracos e imperfeitos? Como pode Ele dar essa ordem
peremptória? Lógico que Ele sabia e sabe ainda, mas o problema é que fomos
criados à imagem e semelhança de Deus. Diante desta verdade, devemos
prestar contas ao Pai dentro do melhor nível de evolução que pudermos
alcançar. O modelo para chegarmos ao Pai é Jesus, porque, dentre os
encarnados, ele foi o Espírito mais evoluído que desceu neste Planeta. A sua
missão foi a de nos mostrar o caminho da salvação. Qual o exemplo que nos
deu? Sofreu perseguições, sarcasmos, blasfêmias e morreu na cruz. Tudo isso
para nos ensinar que o reino de Deus está dentro de nós e que só o
alcançaremos se seguirmos as suas pegadas.

5.2. A CARIDADE COMO AMOR AO PRÓXIMO

A perfeição de que Jesus nos ordena está centrada na caridade que fizermos
ao nosso próximo. Esta caridade deve ser exaltada para que culmine até no
amor ao inimigo. Quando ele nos conta a Parábola do Bom Samaritano, por
exemplo, faz-nos uma apologia do amor ao próximo, isento de preconceitos, de
segundas intenções. Evoca, também, a idéia de que a humanidade é mais
importante do que as crenças particulares.

5.3. A PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE

Ninguém é uma ilha. Cada um de nós tem responsabilidade para com próximo
em termos dos pensamentos emitidos, tanto verbais como mentais. Nesse
mister, a aura do Planeta Terra nada mais é do que a soma de todas as
vibrações que emanam de seus habitantes. Assim, um único pensamento de
melhoria, lançado ao globo, pode ser fator desencadeante de perfeição do
planeta e do universo. Contudo, para que possamos emitir bons fluidos, é
necessário que saibamos ouvir com clareza a palavra de Deus; para isso,
devemos estar constantemente purificando o nosso vaso interior, pois o
conhecimento, que é sempre lançado puro, precisa de condições propícias
para o seu crescimento.

6. ANOTAÇÕES DE OBRAS ESPÍRITAS

1) O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, capítulo XVII
"Uma vez que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta
máxima: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito", tomada ao pé da
letra, pressuporia a possibilidade de se atingir a perfeição absoluta. Se fosse
dado à criatura ser tão perfeita quanto o Criador, ele tornar-se-lhe-ia igual, o
que é inadmissível. Mas os homens aos quais Jesus se dirigia não teriam
compreendido essa nuança; ele se limitou a lhes apresentar um modelo e lhes
disse para se esforçarem por alcançá-lo."

2) O Mestre na Educação, de Pedro Camargo (Vinícius), páginas 37/47.
O Espírito do homem foi criado à imagem e semelhança de Deus: almeja
sempre o melhor. O Espírito não se acomoda com o menos: quer,
invariavelmente, mais.
Não se trata de uma modificação parcial ou relativa, porém contínua e
progressiva demandando a perfeição suprema.
"Os verdadeiros sacerdotes do Cristianismo de Jesus, não são, portanto, os
que se dedicam às cerimônias e aos ritualismos do culto exterior, mas sim os
educadores, cônscios do seu papel, que procuram pela palavra e pelo
exemplo, despertar os poderes internos, as forças espirituais latentes dos seus
educandos".

3) O Sermão da Montanha, de Rodolfo Calligaris, página 101.
"Em seu desvario, cada qual cuida apenas de salvar as aparências, de evitar
escândalo, procurando ocultar ou disfarçar habilmente seus erros e defeitos,
para ser tido por pessoa de bem, para que a sociedade forme dele um bom
conceito, e, satisfeito com isso, assim atravessa toda a existência, mascarado,
aparentando o que não é".

4) Contos Desta e de Outra Vida, de Irmão X, capítulo 40 (Grupo Perfeito).Dona Clara, dama inteligente e distinta, faz diversas inquirições ao Espírito
Júlio Marques, incorporado na médium Maria Paula, a respeito de se criar um
grupo perfeito. Depois de muito diálogo, disse:
"— Posso contar com o senhor?
— Ah! Filha, não me vejo habilitado...
— Ora essa! Porquê?
— Sou um Espírito demasiadamente imperfeito... Ainda estou muito ligado à
Terra.
— Mas, recebemos tantos ensinamentos de sua boca!
— Esses ensinamentos não me pertencem, chegam dos mentores que se
compadecem de minha insuficiência... brotam em minha frase como a flor que
desponta de um vaso rachado. Não confunda a semente, que é divina, com a
terra que, às vezes, não passa de lama...
— Então, o irmão Júlio ainda tem lutas por vencer?
— Não queira saber, minha filha... Tenho a esposa, que prossegue viúva em
dolorosa velhice, possuo um filho no manicômio, um genro obsedado, dois
netos em casa de correção... Minha nora, ontem, fez duas tentativas de
suicídio, tamanhas as privações e provocações em que se encontra. Preciso
atender aos que o Senhor me concedeu... Minhas dívidas do passado
confundem-se com as deles. Por isso, há momentos em que me sinto fatigado,
triste... Vejo-me diariamente necessitado de orar e trabalhar para restabelecer
o próprio ânimo... Como verifica, embora desencarnado, sofro abatimentos e
desencantos que nem sempre fazem de mim o companheiro desejável."
Continuando a sua conversa, pergunta se o irmão Júlio não sabe de algum
grupo sem defeito. Ele responde que algum grupo como esse solicitado só
pode ser o grupo de Nosso Senhor Jesus-Cristo".

7. CONCLUSÃO

O progresso material, pelas suas facilidades, tem nos distanciado de nós
mesmos, de nossa interioridade. Convém, para o nosso próprio bem, que
saibamos nos isolar do corre-corre e do diz-que-diz, a fim de acharmos tempo
para o cultivo de nossa alma imortal.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CALLIGARIS, Rodolfo. O Sermão da Montanha. 3. ed., Rio de Janeiro: FEB,
1974.
CAMARGO, Pedro (Vinícius). O Mestre na Educação. Rio de Janeiro: FEB,
1976.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São
Paulo: Verbo, 1986.
XAVIER, F. C. Contos Desta e Doutra Vida, pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio
de Janeiro: FEB, 1978.
São Paulo, setembro de 2003

SEDE PERFEITOS


Fonte: O Mestre na Educação - FEB - 6ª Edição

“Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”.

Senhor! Quão forte é esse teu imperativo! Pois, então, ser-nos-á dado almejar semelhante perfeição? Não indagas se podemos ou não podemos, se queremos ou não queremos, se a achamos viável ou inviável... Ordenas: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.
Dar-se-á, acaso, que desconheças nossa fraqueza e nossas condições de inferioridade? Tu, que és o guia e o pastor deste rebanho; que és Mestre dos ignaros pecadores; que deste provas inequívocas de conhecer o homem em todas as suas mais íntimas particularidades, certamente não te poderias enganar ao proferires aquela sentença, dando-lhe o relevo com que costumas assinalar os teus mais transcendentes ensinamentos.
Tu, que és a luz do mundo, que disseste com a força de uma convicção e de um valor que te são intrínsecos – eu sou o caminho, a verdade e a vida – frase que, no dizer de Wagner, significa – eu sou o caminho da verdadeira vida – tu não podes errar, teu verbo não tem lacuna, tua palavra não tropeça.
Não obstante, Senhor, não posso conceber que a meu Espírito seja dado conquistar a perfeição suprema; e, contudo, tu disseste: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito!
***
O espírito do homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Por isso, sempre que lhe sondamos os arcanos profundos, vamos encontrá-lo almejando o melhor. O espírito não se acomoda com o menos: quer, invariavelmente, o mais. O sofrível, o regular e o bom não lhe satisfazem às aspirações: ele deseja a perfeição. Essa sede do melhor é o incentivo que o concita à luta sem tréguas pela aquisição do bem e do belo, infinitos.
A sede insaciável de perfeição, que o espírito experimenta, constitui a prova de sua origem divina. Deus está no homem. A mediocridade jamais o contentará, quando consciente de sua própria natureza. Ele anseia pela perfeição. E, na esfera em que se agita, sente e goza os prenúncios dessa perfeição, desse ideal que o atraí como ímã irresistível, norteando-lhe o rumo majestoso da vida.
O espírito, em sua íntima natureza, é incompatível com o mal. Daí a luta com a consciência, o que vale dizer a luta consigo mesmo, luta que pôs na boca do grande Paulo de Tarso estas memoráveis palavras: “Que infeliz homem que eu sou! Aquilo que não quero, faço; aquilo que quero, isso não faço”.
A felicidade que o espírito anela só lhe pode advir da harmonia entre os seus sentimentos, vontade e ações. Sentir, querer, agir – em perfeita afinação, tal o segredo da felicidade.
Sempre que se verifica desacordo entre aquelas manifestações do Espírito, ele se sente angustiado. E donde provém a desafinação? Provém, precisamente, de ele sentir em si mesmo o reflexo da suprema bondade e da infinita beleza que ainda não possui.
A vida do Espírito transcorre através dessa porfia. Viver é lutar; vencer é gozar. A última vitória marca o inicio de uma campanha na conquista de outro ideal, algo mais nobre que o já conquistado.
E assim, sempre em novidades de vida, o Espírito marcha, impávido e radiante, de etapa em etapa, de estágio em estágio, ascendendo continuamente pela senda intérmina da perfectibilidade, em obediência ao sublime imperativo do maior expoente da verdade neste mundo: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.

***
“Tendes ouvido o que fora dito aos antigos: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se só amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem os gentios também o mesmo? Sede, pois, perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”.
Corresponder às simpatias que nos votam, retribuir o bem que nos é feito, amar os que nos dedicam amor, é humano. Mas, Jesus jamais se conformou com o humano. De todos os seus ensinos e exemplos se conclui que ele quer o divino. E o divino manda que se ame o inimigo, que se ore pelos perseguidores, que se retribua com o bem todo o mal recebido. Procedendo assim, tornar-nos-emos filhos de nosso Pai que está nos céus, o qual derrama suas chuvas para fertilizar os campos dos justos e dos injustos e envia os raios benfazejos do seu sol para aquecer, iluminar e vitalizar os bons e os maus.
Tal o vínculo da perfeição: amor incondicional, amor como estado imperturbável do Espírito. Somos filhos de Deus. Do nosso Pai celestial temos que haver uma herança, temos que apresentar certo traço de caráter que ateste nossa filiação. Esse cunho é o amor sem intermitências e sem restrições.
“Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito” – eis o senso máximo da vida!

Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.


Comentários do GEET

Jesus apresenta o sentido da sua ética. A finalidade da existência, inclusive da vida terrena é a perfeição. O ser humano não é perfeito, mas é perfectível. Porém não é possível alcançar a perfeição em apenas uma vida, daí a necessidade de retornar quantas vezes forem necessárias.
Não devemos entender a perfeição em termos absolutos, pois a perfeição absoluta é um atributo apenas de Deus. Jesus se refere à lei de Evolução, a lei que nos impulsiona da simplicidade para a complexidade, da ignorância a sabedoria. A perfeição absoluta, que Jesus é exemplo, é o objetivo que devemos buscar, cotidianamente.
O que é ser perfeito como entendia e exemplificava Jesus?
Jesus se referia sempre à essência e não a forma, a perfeição espiritual ligada às virtudes espirituais que ele ensinava. Para ele, o egoísmo e orgulho são as chagas que impedem a evolução do homem. As virtudes da humildade e o amor-caridade, são as que levam o homem a perfeição.
Veja o que Lázaro, citado por Kardec fala sobre o amor-caridade: “O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência... não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento! ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra -amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo” (Lázaro, citado por Kardec, ESSE, cap. XI- item 8)

Mensagem Espiritual
Que a paz do Mestre Jesus possa, neste momento, potencializar todas as virtudes e talentos que encontram-se enterrados dentro do nosso íntimo e que potencializados, estes talentos e virtudes possam crescer, florescer e frutificar com efeitos salutares, balsamizantes e confortadores da ação no bem.

Gostaríamos de lembrar complementado o fundamental estudo realizado na noite de hoje, da doutrina metafísica de Aristóteles sobre o ato e a potência, lembrando que cada ser tem dentro de si mesmo a potência, que em última análise foi definida na própria lei de Deus.

Podemos entender de uma forma mais simples, pensando que cada pequena semente contém em si mesma, em potência, a árvore que está ali contida. Desta forma está na semente da laranja ser laranjeira e na semente da palmeira ser palmeira. Poderemos dizer que a potência está escrita no próprio código genético armazenado na semente.

O que dizer do ser humano em sua completude? A onde está escrito a sua potência? Digo-vos: a potência do ser humano está inscrita na sua própria consciência e o homem se realiza potencializando-se conforme o inscrito na sua consciência.

O homem é feliz quando realiza o objetivo da sua existência. Daí a realização do ser mãe, do ser pai, do ser, quando esta potencialidade estava já definida antes do momento do nascimento.

“Sedes perfeito como vosso Pai” é seguir o sentido na trajetória infinita do progresso espiritual.

Sejamos fortes, ousados e perseverantes para conquistarmos em nós mesmos o potencial do bem, que desde o início das nossas existências, já estão planejados.

Que Jesus nos direcione sempre ao futuro que é, sem dúvida, a construção de cada um.

Um espírito amigo.

Singularidade


Rose Mary Grebe

Adenáuer Novaes inicia o capítulo com este pensamento:

“A busca de um significado para a Vida sempre foi a meta do ser humano. Um sentido que lhe dê motivação e que lhe explique o porquê e para quê vive, constitui-se em sua maior aspiração.” (Psicologia do Evangelho, p. 99)

Desde o início de sua racionalidade, homem se pergunta acerca do significado da vida, embora não tenha consciência, ainda, de sua individualidade ou de sua singularidade. Porque singularidade é isto, nos reconhecermos únicos neste imenso e incontável mundo de Espíritos.

A partir do pensamento contínuo e o raciocínio lógico, as questões surgem:

Por que uns vivem mais?
Por que uns adoecem mais?
Por que uns podem gerar seus filhos e outros não?
Por que é preciso morrer?
Como alcançar a felicidade?
Surgem as mais diversas teorias e tratados, os livros de auto-ajuda, surgem as religiões dando os seus modelos buscando responder a estes questionamentos. Na maioria das vezes as respostas milagrosas estão até prontas, em alguns versículos da Bíblia, com receitinhas, como se fosse um bolo.

E nosso autor, em outro livro, Mito Pessoal e Destino Humano, diz que a maioria de nós deseja uma resposta que seja confortável a respeito do sentido da vida. Preferem levar suas vidas como se os caminhos fossem definitivos, quando se sabe que nossas rotas são perfeitamente mutáveis, eis a beleza da vida. (p.113)

Está claro para nós Espíritas que acreditamos num projeto de reencarnação, que muitas situações podem ser ajustadas, com enormes possibilidades de mudança de rota. Quando nos posicionamos como se tudo fosse definitivo, não percebemos que a vida, o Universo muda e segundo Adenáuer, se AUTO-CONSTRÓI. Neste processo de auto-construção somos o agente e o objeto. Isto quer dizer que somos todos parte integrante desta engrenagem universal.

O sentido da vida está diretamente ligado à evolução de cada um, uma vez que dependendo do estágio em que se encontra, este sentido muda.

Para alguns o sentido da vida está em satisfazer suas necessidades físicas mais imediatas.

Outros entendem que as necessidades físicas satisfeitas já não são a prioridade. Algo, além disto importa, são as necessidades éticas, morais. São a busca de valores perenes, aqueles que comumente dizemos que podemos levar junto quando desencarnamos.

Quando descobrimos nossa singularidade, um avanço importante se fez, pois neste momento entendemos que bem e mal não existem, mas a escolha do que convém ou não. Muitas coisas que se nos parecem terríveis nos dias de hoje, já praticamos como algo aceitável.

Ex: canibalismo, torturas, invasões para tomar a terra, caçadas, escravidão, etc. Inconcebível para o nosso estágio evolutivo. Mas até que isto acontecesse, quantos equívocos cometemos.

Vamos pensar um pouco sobre o sentido da vida para: Criança, Adolescente, Adulto, Idoso. O que tem significado para cada faixa etária? Mas além da classificação etária ainda poderíamos colocar em cada uma: classe social, cultura, clima, região, sexo, etc.

Como buscarmos este amadurecimento, este entendimento das melhores rotas a seguir?

Há dois mil anos Jesus nos disse:

“Portanto, sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celeste.” Mateus 5:48.

Mas isto ainda nos dias de hoje é de difícil entendimento. O que sabemos de Deus e de sua perfeição? Geralmente atribuímos a Ele qualidades que julgamos que ainda precisamos adquirir, e as colocamos ao infinito. Esta é a perfeição que imaginamos que seja do Pai, está muito distante ainda de nós.

Muitas vezes acreditamos que esta perfeição deva ser alcançada em pouco tempo, uma encarnação. Isto é impossível. Quem sabe com algumas práticas religiosas, algumas barganhas com Deus. A Doutrina dos Espíritos ensina que é construção interior, solitária. As práticas, obras no bem, são conseqüência, e não precisam ser mostradas ou alardeadas.

Mas Jesus deixou outra rota:

“Tratais todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem”. Lucas 6:31

Esta recomendação é a chave de tudo. Quando seguirmos este caminho, não necessitaremos mais de leis humanas, de juízes, promotores, advogados, conciliadores, PROCON, SERASA, SPC, etc.

Quando conseguirmos pensar um pouquinho que seja em tratarmos como gostaríamos de ser tratados, começaremos a ser felizes.



Bibliografia

1.NOVAES, Adenáuer Ferraz de. Psicologia do Evangelho. 2ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2001.

2.NOVAES, Adenáuer Ferraz de. Mito Pessoal e Destino Humano. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2005.

Sede perfeitos - ESE Cap. 17


CAPÍTULO XVII

Sede perfeitos

Caracteres da perfeição - O homem de bem - Os bons espíritas - Parábola do semeador - Instruções dos espíritos - O dever - A virtude - Os superiores e os inferiores - O homem no mundo - Cuidai do corpo e do espírito

Caracteres da perfeição

1. Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. - Porque, se somente amardes os que vos amam que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? -Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial. (S. MATEUS, cap. V, vv. 44, 46 a 48.)

2. Pois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: "Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial", tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa nuança, pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar.

Aquelas palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a Humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: "Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem." Mostra ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes.

Com efeito, se se observam os resultados de todos os vícios e, mesmo, dos simples defeitos, reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou menos o sentimento da caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, que lhes são a negação; e isso porque tudo o que sobreexcita o sentimento da personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento. Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre, portanto, indício de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi por isso que Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que tem de mais sublime, lhes disse: "Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial."

O homem de bem

3. O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.

Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.

Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a demência do Senhor.

Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: "Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado."

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal..

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.

O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº 9.)

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz.

Os bons espíritas

4. Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.

Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as conseqüências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza e da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.

Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encamado.

Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações. Atêm-se mais aos fenômenos do que a moral, que se lhes afigura cediça e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar Os arcanos do Criador. Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.

Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a vontade.

Parábola do semeador

5. Naquele mesmo dia, tendo saído de casa, Jesus sentou-se à borda do mar; - em torno dele logo reuniu-se grande multidão de gente; pelo que entrou numa barca, onde sentou-se, permanecendo na margem todo o povo. - Disse então muitas coisas por parábolas, falando-lhes assim:

Aquele que semeia saiu a semear; - e, semeando, uma parte da semente caiu ao longo do caminho e os pássaros do céu vieram e a comeram. - Outra parte caiu em lugares pedregosos onde não havia muita terra; as sementes logo brotaram, porque carecia de profundidade a terra onde haviam caído. - Mas, levantando-se, o sol as queimou e, como não tinham raízes, secaram. - Outra parte caiu entre espinheiros e estes, crescendo, as abafaram. Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por um, outras sessenta e outras trinta. - Ouça quem tem ouvidos de ouvir. (S. MATEUS, cap. XIII, vv. 1 a 9.)

Escutai, pois, vós outros a parábola do semeador. - Quem quer que escuta a palavra do reino e não lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que lhe fora semeado no coração. Esse é o que recebeu a semente ao longo do caminho. - Aquele que recebe a semente em meio das pedras é o que escuta a palavra e que a recebe com alegria no primeiro momento. - Mas, não tendo nele raízes, dura apenas algum tempo. Em sobrevindo reveses e perseguições por causa da palavra, tira ele daí motivo de escândalo e de queda. -

Aquele que recebe a semente entre espinheiros é o que ouve a palavra; mas, em quem, logo, os cuidados deste século e a ilusão das riquezas abafam aquela palavra e a tornam infrutífera. - Aquele, porém, que recebe a semente em boa terra é o que escuta a palavra, que lhe presta atenção e em quem ela produz frutos, dando cem ou sessenta, ou trinta por um. (S. MATEUS, cap. XIII. vv. 18 a 23.)

6. A parábola do semeador exprime perfeitamente os matizes existentes na maneira de serem utilizados os ensinos do Evangelho. Quantas pessoas há, com efeito, para as quais não passa ele de letra morta e que, como a semente caída sobre pedregulhos, nenhum fruto dá!

Não menos justa aplicação encontra ela nas diferentes categorias espíritas. Não se acham simbolizados nela os que apenas atentam nos fenômenos materiais e nenhuma conseqüência tiram deles, porque neles mais não vêem do que fatos curiosos? Os que apenas se preocupam com o lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se interessam quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem ouvido, se conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem muito bons os conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não a si próprios? Aqueles, finalmente, para os quais essas instruções são como a semente que cai em terra boa e dá frutos?

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

O dever

7. O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.

Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? onde termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.

Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.

O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações. O homem que cumpre o seudever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. E a um tempo juiz e escravo em causa própria.

O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.

O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos. - Lázaro. (Paris, 1863.)

A virtude

8. A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. Infelizmente, quase sempre as acompanham pequenas enfermidades morais que as desornam e atenuam. Não é virtuoso aquele que faz ostentação da sua virtude, pois que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e tem o vício que mais se lhe opõe: o orgulho. A virtude, verdadeiramente digna desse nome, não gosta de estadear-se. Adivinham-na; ela, porém, se oculta na obscuridade e foge à admiração das massas. S. Vicente de Paulo era virtuoso; eram virtuosos o digno cura d'Ars e muitos outros quase desconhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus. Todos esses homens de bem ignoravam que fossem virtuosos; deixavam-se ir ao sabor de suas santas inspirações e praticavam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos.

À virtude assim compreendida e praticada é que vos convido, meus filhos; a essa virtude verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita é que vos concito a consagrar-vos. Afastai, porém, de vossos corações tudo o que seja orgulho, vaidade, amor-próprio, que sempre desadornam as mais belas qualidades. Não imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia, ele próprio, suas qualidades a todos os ouvidos complacentes. A virtude que assim se ostenta esconde muitas vezes uma imensidade de pequenas torpezas e de odiosas covardias.

Em princípio, o homem que se exalça, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por esse simples fato, todo mérito real que possa ter. Entretanto, que direi daquele cujo único valor consiste em parecer o que não é? Admito de boamente que o homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas, desde que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em amor-próprio.

O vós todos a quem a fé espírita aqueceu com seus raios, e que sabeis quão longe da perfeição está o homem, jamais esbarreis em semelhante escolho. A virtude é uma graça que desejo a todos os espíritas sinceros. Contudo, dir-lhes-ei: Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita com orgulho. Pelo orgulho é que as humanidades sucessivamente se hão perdido; pela humildade é que um dia elas se hão de redimir. François-Nicolas-Madeleine. (Paris, 1863.)

Os superiores e os inferiores

9. A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente.

Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em conseqüência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem. Todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.

Assim como pergunta ao rico: "Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor", também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: "Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio."

O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.

Mas, se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem. Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos, reconhecerá que sem dúvida os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que fizera sofressem os outros. Se se vê forçado a suportar essa posição, por não encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a proceder como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar. - François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)

O homem no mundo

10. Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça.

Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar.

Sois chamados a estar em contacto com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos, mas seja a vossa jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a vossa ventura a do herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.

Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem. Basta reporteis todos os atos da vossa vida ao Criador que vo-la deu; basta que, quando começardes ou acabardes uma obra, eleveis o pensamento a esse Criador e lhe peçais, num arroubo d'alma, ou a sua proteção para que obtenhais êxito, ou a sua bênção para ela, se a concluístes. Em tudo o que fizerdes, remontai à Fonte de todas as coisas, para que nenhuma de vossas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de Deus.

A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas, os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contacto com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta. (Capítulo V, nº 26.)

Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas, que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente ele os abençoa. Um Espírito Protetor. (Bordéus, 1863.)

Cuidar do corpo e do espírito

11. Consistirá na maceração do corpo a perfeição moral? Para resolver essa questão, apoiar-me-ei em princípios elementares e começarei por demonstrar a necessidade de cuidar-se do corpo que, segundo as alternativas de saúde e de enfermidade, influi de maneira muito importante sobre a alma, que cumpre se considere cativa da carne. Para que essa prisioneira viva, se expanda e chegue mesmo a conceber as ilusões da liberdade, tem o corpo de estar são, disposto, forte. Façamos uma comparação: Eis se acham ambos em perfeito estado; que devem fazer para manter o equilíbrio entre as suas aptidões e as suas necessidades tão diferentes? Inevitável parece a luta entre os dois e difícil achar-se o segredo de como chegarem a equilíbrio. (1)

(1) O último período desse parágrafo - "inevitável parece a luta entre os dois e difícil achar-se o segredo de como chegarem a equilíbrio" não aparece nas novas edições francesas desde a 3ª, mas se acha na 1ª edição e, por isso, a repomos no texto, corrigindo um evidente erro de impressão. - A Editora.

Dois sistemas se defrontam: o dos ascetas, que tem por base o aniquilamento do corpo, e o dos materialistas, que se baseia no rebaixamento da alma. Duas violências quase tão insensatas uma quanto a outra. Ao lado desses dois grandes partidos, formiga a numerosa tribo dos indiferentes que, sem convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar. Onde, então, a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver? Em parte alguma; e o grande problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendo-lhes que, por se acharem em dependência mútua, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre-arbítrio o induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo mal dirigido, pelos acidentes que causa. Sereis, porventura, mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, nem menos orgulhosos e mais caritativos para com o vosso próximo? Não, a perfeição não está nisso: está toda nas reformas por que fizerdes passar o vosso Espírito. Dobrai-o, submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: esse o meio de o tornardes dócil à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição. Jorge, Espírito Protetor. (Paris, 1863.).

Perfeição versus perfeccionismo

É-nos possível ser tão perfeitos quanto Deus? O que é a perfeição? A perfeição é perfeccionista?


No Evangelho de Mateus (5:17-42), Jesus ensina sobre o homicídio, a ira contra o próximo – e a consequente necessidade de reconciliação com ele; o adultério – frisando que este também ocorre por meio do pensamento;  o falso juramento e a inutilidade da vingança. Mas quando fala do amor ao próximo (vv. 43-48), ressalta: “Ouviste o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelo que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste (ou seja, para que vos torneis semelhantes a Deus), porque ele faz nascer o seu sol sobre os maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos (aqui, Jesus enfatiza que Deus não faz distinção entre as pessoas. Sejam elas merecedoras ou não, todas recebem Dele os mesmos recursos e oportunidades para que conquistem o próprio bem estar. Todas recebem o Seu amor incondicional). (...) Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é vosso Pai celeste.” [1]

Nesse trecho do Evangelho, depois de enfocar determinados aspectos conflitantes das relações interpessoais, o Cristo nos apresenta Deus como um modelo, um parâmetro a ser seguido em nossa busca de seu aprimoramento íntimo, de modo a conseguirmos ser tão justos, sábios e superiores em nossos relacionamentos, assim como Ele é na sua relação para conosco.

E no que consiste tal perfeição?

Em O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, capítulo XVII, intitulado ‘Sede Perfeitos’, Kardec deixa registrado que “a essência da perfeição é a caridade em sua mais larga acepção, porque ela implica a prática de todas as outras virtudes.” [2]

Mas, se consultarmos as definições da palavra perfeição, além de “pureza, exatidão, correção”, também encontraremos: “O máximo de virtude ou bondade: perfeição de caráter”! [3]

Sendo assim, podemos concluir que Jesus, ao fazer uma associação da perfeição com o amor – inclusive aos inimigos –, desejava caracterizá-la como sendo a benevolência extremada e, por isso mesmo, incondicional. E esse conceito de incondicionalidade é essencial no entendimento do que seja o perfeccionismo.

Ainda do mesmo capítulo de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, temos as seguintes características do homem de bem:



O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade em sua maior pureza. Se interroga a consciência sobre os seus próprios atos, pergunta a si mesmo se não violou essa lei; se não fez o mal e se fez  todo o bem que podia; se negligenciou voluntariamente uma ocasião de ser útil; se ninguém tem o que reclamar dele; enfim, se fez a outrem tudo o que quereria que se fizesse para com ele.

Tem fé em Deus, em sua bondade, em sua justiça e em sua sabedoria; sabe que nada ocorre sem Sua permissão e se submete, em todas as coisas, à Sua vontade.

Tem fé no futuro; por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

(...) O homem, possuído de sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperança de recompensa, retribui o mal com o bem (...).

E encontra satisfação nos benefícios que derrama, nos serviços que presta, nos felizes que faz, nas lágrimas que seca, nas consolações que dá aos aflitos. Seu primeiro movimento é de penar nos outros antes de pensar em si, de procurar o interesse dos outros antes do seu próprio

(...) Em todas as circunstâncias, a caridade é seu guia.

(...) Não tem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança.

(...) É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência.

(...) Não se compraz em procurar os defeitos alheios, nem em colocá-los em evidência. Se a necessidade a isso o obriga, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.

Estuda as próprias imperfeições e trabalha, sem cessar, em combatê-las.

(...) Não se envaidece nem com a fortuna, nem com as vantagens pessoais, porque sabe que tudo o que lhe foi dado, pode lhe ser retirado.

(...) O homem de bem, enfim, respeita em seus semelhantes todos os direitos dados pelas leis da Natureza, como gostaria que os seus fossem respeitados.

Essa não é uma enumeração de todas as qualidades que distinguem o homem de bem, mas todo aquele que se esforce por possuí-las, está no caminho que conduz a todas as outras. [2]



Todavia, essas considerações – que trazem a idéia da perfeição como sendo algo decorrente da harmonia de todos os sentimentos, do saber absoluto, da vontade firme, do amor em sua mais ampla abrangência –, podem gerar, em nós, desconcertantes pensamentos e/ou sensações de dificuldade, de impossibilidade: “é muito difícil, senão impossível, ser tudo isso!”

E o porquê dessa reação? Porque ainda carregamos diversas imperfeições de caráter, vivenciando, em nosso dia a dia, situações em que:

·        somos individualistas, impulsivos e agressivos;

·        julgamos sem tolerância as pessoas que mais amamos ou rejeitamos aquelas outras que nos contrariam;

·        não conseguimos compreender ou aceitar a opinião alheia;

·        desejamos que, primeiramente, o “mundo” atenda as nossas necessidades, para somente depois pensarmos nas necessidades daqueles com os quais convivemos;

·        somos rápidos para reclamar e lentos para agradecer; além de

·        produzirmos uma infinidade de pensamentos pessimistas, que acabam por prejudicar a própria qualidade de vida.

Constatando tal realidade, o Espírito Hammed assim se expressa: “Nós achamos que deveríamos ser perfeitos, no entanto, somos apenas seres em desenvolvimento espiritual. Nós achamos que somos anormais, no entanto somos apenas criaturas vivenciando a normalidade da imperfeição humana.”  [4]

É característica da natureza humana cometer falhas com relativa frequência. Todos somos assim: mais erramos do que acertamos! No entanto, reconhecer a própria fragilidade e falibilidade não é sinal de fraqueza, de incompetência ou de impotência.

Conforme ensinamento constante da questão 776, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, fomos concebidos por Deus como seres potencialmente perfeitos. Somos, então, criaturas perfectíveis.

Assim sendo, dificuldades e aflições, conflitos e sofrimentos, dúvidas e incertezas não são situações imutáveis ou irreversíveis, porque nosso destino é a perfeição. Mas para alcançá-la, necessitamos aprender com as próprias imperfeições e efetuar importantes descobertas no silêncio de nós mesmos, através de um consciente trabalho de perseverança e constância.

O escritor espírita Martins Peralva registra:



A perfeição é o grande objetivo do Espírito e se processa, naturalmente, com a subida de vários degraus evolutivos.

Quem evolui, renova-se para o bem, transforma-se para melhor.  [5]



A perfeição consiste, básica e essencialmente, nas boas disposições de nosso coração.  “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é vosso Pai celeste”.

****

Em decorrência de uma errônea concepção do que seja a perfeição, muitos a confundem com o perfeccionismo  que é a  tendência obsessivamente exagerada para atingir a perfeição na realização de alguma coisa.

E quais são as características comportamentais de um indivíduo perfeccionista? Seu retrato reúne e combina determinados traços psicológicos e sinais particulares, tais como:

·        compulsão de fazer as coisas com perfeição, não aceitando a normalidade de algumas limitações humanas. Assim, impõe-se realizar tarefas impecáveis, quando poderia fazê-las apenas com esmero;

·        obstinação pela ordem e pela limpeza. Ao invés de viver cada dia de forma mais leve, torna a vida cansativa em razão de suas metas inatingíveis. Ele é o maior inimigo da própria paz interior;

·        ansiedade de fazer ou resolver coisas de forma imediata. O que poderia executar em um dia, quer fazer em instantes. Faz várias coisas ao mesmo tempo, usando o perfeccionismo como uma forma de compensar a insegurança e a inquietação que o dominam perante diversos aspectos de sua realidade;

·        tendência a classificar tudo o que existe em extremos opostos: certo e errado, moral e imoral, tudo ou nada. Não carrega apenas o rótulo de “meticuloso”, mas também o de “disciplinador intransigente” ou de “reformador inflexível”. Entretanto, quanto mais alguém se aproxima da perfeição, menos rigoroso se torna para com os outros!;

·        considerar-se a única pessoa capaz de realizar bem as coisas;

·        estar sempre com a razão;

·        acreditar que seja um “herói” ou uma “super criatura”, não percebendo que também que pertence à raça humana. Naturalmente, possui dificuldades e pontos fracos, e, por isso mesmo, vivencia situações apropriadas às próprias forças;

·        trabalhar sem interrupção. O trabalho é o seu “lazer” preferido. O “obrigar-se” a realizar algo é o constrangimento a que frequentemente se impõe. Sendo assim, por apresentar enormes dificuldades em relaxar, está sempre preso às obrigações;

·        pavor de cometer erros. Às culpas é algo a que constantemente se entrega. Sua conduta é quase toda alicerçada em rígidas regras e normas sociais. Ninguém o repreende tão cruelmente quanto ele mesmo;

·        possuir enorme necessidade de considerações, elogios e manifestações da estima alheia. Encontra-se, constantemente, num enorme “esforço de ser o melhor”, para confirmar sua boa opinião sobre si mesmo. Com isso, vive competindo e comparando-se com os outros. Utiliza-se também das circunstâncias, não como um método de crescimento a ser cultivado na própria intimidade, mas para provar sua “perfeição”. No entanto, a necessidade de se sentir superior lhe traz um elevado dispêndio de energia emocional;

·        julgar-se superior, muito embora uma circunstancial inferioridade em relação a algumas pessoas. Com isso, nutre um desdém arrogante sobre os outros, em virtude de seus padrões morais e intelectuais, que considera os melhores;

·        desculpar-se ou justificar-se insistentemente pelos seus erros, somente quando os reconhece;

·        dramatizar problemas e conflitos; bem como

·        resistir a ideias e conceitos novos.

Com essa caracterização da criatura perfeccionista, podemos afirmar que esperar de nós mesmos e das outras pessoas a perfeição absoluta no modo de pensar, de sentir e de agir, trata-se de uma expectativa contraproducente.

Não foi isso o que Jesus ensinou, quando falou sobre a perfeição! Enfatizou que Deus não impõe condições para nos amar, pois Sua perfeição “faz nascer o seu sol sobre os maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”. Assim, a perfeição não é perfeccionista, porque ela representa a bondade no seu mais alto grau!

O perfeccionismo, sim, trata-se de uma imperfeição, pois nos coloca num estado tão grande de ansiedade, de inquietação e de cobranças internas, que fazem com que os erros se tornem muito mais frequentes. Quando não aceitamos a possibilidade da existência de falhas e limitações naturais de cada qual, o amor incondicional por nós mesmos e pelos outros – tão preconizado por Jesus – obviamente que não encontra terreno para se desenvolver.

O escritor espírita Joamar Zanolini Nazareth, com muita propriedade, afirma:

O Espiritismo é uma doutrina que nos coloca no dever de sempre caminhar. Não nos pede santidade para abraçar a tarefa educativa. Pede-nos apenas caminhar, e, a cada passo dado no rumo do progresso, surge o convite do trabalho dentro do que já conquistamos, abrindo oportunidades de adquirir as virtudes que ainda não trazemos na alma. O erro não está em ter imperfeições, mas em algemar-se à preguiça e não buscar melhorar-se.

(...) Conforme uma das mais belas asserções de Kardec: ‘Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações’ (EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, cap XVII, item 4). [6]


Perfeição versus Perfeccionismo

As tendências ao perfeccionismo têm raízes profundas e escondidas revelando, às vezes, um grande medo indefinido e oculto. A diferença principal entre um indivíduo saudável e o perfeccionista é que o primeiro controla sua própria vida, enquanto que o segundo é controlado sistematicamente por sua compulsão pertinaz.
Trazemos como somatória de múltiplas existências, crenças negativas de que nosso valor é medido por nossos desempenhos bem sucedidos, e que os erros nos rebaixariam o merecimento como pessoa. Daí as emoções desconexas de medo, de desagrado e de punição. (...) O transtorno dos perfeccionistas é não se aceitarem como espíritos falíveis, não aceitando os outros também nessa mesma condição, tentando assim agradar e corresponder às expectativas de todos.
Às vezes os perfeccionistas podem até pensar, mas não admitem – “se eu fracassar, vão me criticar” –; em outras ocasiões, insistem em dizer que ‘não o são’ demonstrando, porém, o contrário, pois ficam profundamente descontrolados quando cometem algum erro.
Certas fixações pelo desempenho perfeito são necessidades de aprovação e carinho que nasceram durante a infância. “Se você não fizer tudo certinho, a mamãe e o papai não vão gostar mais de você”: são vozes do passado que ressoam até hoje na mente dos perfeccionista.
Esses distúrbios de comportamento levam, às vezes, os indivíduos a uma lentidão superlativa para fazerem as coisas e, por quererem fazer tudo com tantos detalhes e precisão, acabam sempre fazendo nada. Outros são conhecidos pelo nome de proteladores, ou seja, adiam sistematicamente a ação, por temerem o não desempenho perfeito ou, por exemplo, se começam a apontar o lápis levam objeto à destruição em alguns minutos, pela busca milimétrica da perfeição. Outros sintomas ou sinais mais comuns são aqueles que levam certas pessoas a colocarem as coisas simetricamente, não podendo ficar um centímetro fora do lugar e quanto mais verificam, mais querem checar e mais têm dúvidas.
Os perfeccionistas necessitam ser impecáveis, respondem a todas as perguntas, mesmo aquelas que não sabem corretamente e, por possuírem desordens psíquicas, buscam incessantemente controlar a ordem exterior, vigiando os comportamentos alheios como verdadeiros juízes da moral e dos costumes do próximo.
Por não admitirmos o erro, e por percebermos que o único fracasso legítimo é aquele com o qual nada aprendemos, é que os conceitos de perfeição doentia perturbam constantemente nossa zona mental. Portanto, o erro não deve ser considerado como perda definitiva, mas apenas uma experiência de aprendizagem.
“Sede pois, vós outros, perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito” – disse-nos Jesus Cristo. Entretanto, não nos conclama com essa assertiva a que tomemos ‘ares’ de perfeição presunçosa, e sim a que nos esforcemos para um crescimento gradual, com o qual o processo da vida vai nos dando habilidades cada vez maiores e melhores.
Somos todos convocados pelo Mestre ao exercício do aperfeiçoamento, mas contemos com o tempo e a prática como fatores essenciais, e nunca com a perfeição como sendo ‘uma determinação martirizante e desgastante’, que faz a criatura dispender uma enorme carga energética para manter uma aparência irrepreensível.
Repensemos o texto cristão, refletindo se estamos buscando o crescimento rumo à perfeição, ou se representamos possuir uma santidade oca, que não suporta sequer o toque da menor contrariedade. [7]



Silvia Helena Visnadi Pessenda



REFERÊNCIAS


[1] BÍBLIA. PortuguêsBíblia de estudo AlmeidaBarueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

[2] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa195. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Cap. XIII: Sede perfeitos.

[3] MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.

[4] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Um modo de entenderuma nova forma de viver. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2004. Cap. 5.

[5] PERALVA, Martins. O pensamento de Emmanuel5. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1994. Cap. 8.

[6] NAZARETH, Joamar Zanolini. Um desafio chamado família: abordagem temática em linguagem simples segundo o pensamento espírita. 1. ed. Araguari, MG: Minas Editora, 1999. Cap. 29.

[7] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Renovando Atitudes2. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 1997. Cap. “Perfeição versus Perfeccionismo”.


CAMARGO, Jason de. Educação dos sentimentos5. ed. Porto Alegre: Letras de Luz, 2003.

HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). A imensidão dos sentidos. 3. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2000.

HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Os prazeres da alma. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2003.