sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dificuldades na Prática da Reforma Íntima...

 - Lutar ou não? essa indagação muitos encarnados se fazem a fim de avaliar a utilidade do complexo empreendimento dareforma íntima.

O sofrimento lhes será inevitável,pois os seus conflitos internos estarão em ebulição e não bastará a aparência para concretizar verdadeiramente qualquer modificação substancial.

Um dos primeiros entraves a ser removido é a ausência ou a dormência da autocrítica. As pessoas, de um modo geral, julgam-se isentas de avaliações ou se concedem o benefício da dúvida, o que dificulta ou impede o reconhecimento dos seus erros e dos desvios de toda ordem, muitas vezes a movimentá-las com frequência no cotidiano.

Não que todos os seres humanos considerem-se perfeitos.

expressam aos outros que não o são, por certo: intimamente, porém, acham que são menos errados que o seu vizinho, portanto, mais perfeitos que o próximo. Aí está a chave inicial do insucesso na reforma íntima.

A persistência do indivíduo no descobrimento dos próprios defeitos ampliará consideravelmente o âmbito de possibilidades de êxito. Somente quem sabe os males que possui, pode curá-los. A ignorância é um sério entrave na renovação interior. Forças negativas, produzem reações similares. Cultivar maus pensamentos, portanto, cria um universo contraproducente ao encarnado.

Abrindo o coração para o bem, estará tecendo condições para um envolvimento positivo e, com isso, surgirá a possibilidade de ouvir críticas e estabelecer o diálogo acerca dos problemas que cercam sua personalidade e seu modo de agir.

Após ter assimilado o processo de autocrítica, o segundo passo será agir com sinceridade. De nada adianta enganar-se na reforma íntima, porque se assim o fizer ela não será autêntica. A sinceridade prevê a vontade de ouvir críticas para poder solucionar problemas, não com o sentido de retorsão ou revanche.

Quem crítica pode estar ou não no mesmo processo. Se estiver sua censura será fraterna, com o objetivo de esclarecer e não de ferir, tendo por pressuposto a mansuetude e o amor, príncipe dos sentimentos cristãos. Caso não esteja, ainda assim, será a objeção recebida com naturalidade e incidirá o perdão sobre aquele que não soube expressar-se ou mesmo asacou uma inverdade.

Uma terceira dificuldade a ser enfrentada é a bagagem secular de erros e mazelas que o Espírito traz consigo ao longo do seu processo evolutivo. São fatores determinantes para a sua maior ou menor resistência ao processo de reforma íntima. Não se trata de uma desculpa, nem de uma justificativa excludente, mas somente de mais um entrave na sua luta por um processo interior.

Obstáculo implacável constitui o maior ou menor desapego aos valores cristãos. Sem fé, não há força interna que seja capaz de levar o encarnado ao áspero combate que irá travar consigo mesmo, visando produzir, com eficácia, a sua reforma íntima.


(Texto extraido do Livro "Fundamentos da Reforma Íntima / Abel Glaser / Espirito Cairbar Schutel / Editora O Clarim)

 

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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Material para trabalho com RI

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A REFORMA ÍNTIMA E OS DESENCARNADOS - CEU


Participante: o senhor falou que existem diversos espíritos aqui agora?
Sim, os espíritos estão por toda parte e vocês estão sempre em contato com eles, apesar de não terem percepção disso. Leia o capítulo IX do Segundo Livro de O Livro dos Espíritos e verá como eles intervêm no mundo corporal. Garanto-lhe que acabará esta leitura impressionada com quanta coisa você acha que faz por vontade própria, mas que na verdade é apenas o resultado da indução de um ser desencarnado.
Os espíritos, segundo o Espírito da Verdade, estão sempre se relacionando com os encarnados para dirigi-los, seja induzindo-os a fazer o que precisa acontecer (pergunta 525a), dando a eles os pensamentos (pergunta 459) ou ainda realizando diversas ações. Mas, como ensina Kardec, os seres humanizados na conseguem perceber a interferência e a presença desses seres:
“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles”. (Pergunta 525a)
Então, vocês nunca estão sozinhos. Na verdade nunca estão isolados de outros espíritos. Na verdade, se isolam do mundo espiritual. Que lugar usam para se isolar do mundo espiritual? A razão humana.
Apenas quando a razão diz que há a presença de algo espiritual naquele momento vocês conseguem conviver com este mundo. Quando ela não fala nada, imaginam que o mundo espiritual não está presente. Aí vivem sob a tutela do sistema humano de vida. Portanto, é preciso abandonar o refúgio da razão humana para poder comungar com o mundo espiritual.
Mais uma vez provamos o que estamos dizendo: vocês não conseguem comungar com Deus porque estão vivendo em comunhão com a razão humana. Como esta comunhão não pode deixar de existir, o trabalho da reforma íntima se consiste em mudar os valores desta razão para que ela seja executada com o mundo espiritual e não com os anseios materiais.
Realizando esta mudança, mesmo não vendo os espíritos ao seu lado, você pode saber que eles estão aí e por isso nunca está só. Se isso é real, você não precisa mais viver a solidão que a razão cria quando não há a percepção de ninguém perto de você.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A caridade é a alma do Espiritismo

No dia 1º de novembro de 1868, na reunião da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec utilizou parte do seu discurso de abertura para falar sobre caridade. Suas palavras foram registradas na Revista Espírita de dezembro do mesmo ano. Vejamos:
"A caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes; é porque pode se dizer que não há verdadeiro Espírita sem caridade.
Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, da qual é necessário bem compreender toda a importância; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e de defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto é ainda necessário.
O campo da caridade é muito vasto; ele compreende duas grandes divisões que, por falta de termos especiais, podem designar-se pelas palavras: Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais dos quais se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todo o mundo, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nenhuma outra senão a vontade pode pôr limites à benevolência.
O que é preciso, pois, para praticar a caridade benevolente? Amar seu próximo como a si mesmo: ora, amando-se ao seu próximo quanto a si mesmo, se o amará muito; se agirá para com outrem como se gosta que os outros ajam para conosco, não se desejará nem se fará mal a ninguém, porque não gostaríamos que no-lo fizessem.
Amar seu próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, em uma palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar os seus inimigos e restituir o bem onde haja o mal; é ser indulgente para com as imperfeições de seus semelhantes e não procurar a palha no olho de seu vizinho, então que não se vê a trave que está no seu; é ocultar ou desculpar as faltas de outrem, em lugar de se comprazer em pô-las em relevo pelo espírito de denegrir; é ainda não se fazer valer às custas dos outros; de não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; de não desprezar ninguém por orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é uma palavra vã; é caridade do verdadeiro espírita como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: fora da caridade não há salvação, pronuncia a sua própria condenação, neste mundo tão bem quanto no outro".
 

O Espírita e a Caridade


O Espírita e a Caridade

O espírita estudioso sabe que toda a moral de Jesus está consubstanciada na caridade e na humildade: caridade, que é o contraponto do egoísmo, e humildade, que representa o contraponto do orgulho.
Não há quem não anseie pela felicidade. Entretanto, ela jamais será alcançada sem a presença dessas duas virtudes. Isso porque a felicidade é um estado de espírito e tem a ver com o equilíbrio da mente e do coração, neste mundo e no outro.
Ninguém tem, efetivamente, essa paz de espírito se a consciência lhe cobra ter sido, no relacionamento com o próximo, maquiavélico, falso, dissimulado, insincero, antifraterno.Essa paz interior, entretanto, brota, quando o sentimento de solidariedade, de fraternidade, de amor, é exercitado, de inúmeras maneiras:A paciência com o próximo mais próximo;O amparo à criança e ao idoso;A assistência ao enfermo e ao recluso, e assim por diante.
Cada um tem a sua programação reencarnatória e nela diversas formas de praticar a caridade e a humildade.
Salvar-se, no entendimento espírita, significa bem aproveitar essas oportunidades, saindo-se vencedor nessa programação.Representa caridade e humildade calar-se diante da ofensa e perdoar.
Quem assim age está indo contra o egoísmo e o orgulho.E não é somente com relação ao próximo, mas também em relação a Deus.Quem ama o próximo está amando ao Criador. Quem revolta-se diante do próximo está se revoltando diante do Pai Maior: é como se dissesse, murmurando, “Deus é injusto colocando no meu caminho pessoa ou pessoas que me servem de prova, testando-me continuamente.”
Não se podendo amar verdadeiramente a Deus sem a prática efetiva da caridade em relação ao próximo, a garantia do progresso espiritual e moral reside no seu exercício.
Às vezes ouve-se questionamentos sobre se a filantropia seria caridade ou não.
A filantropia, por definição, significa amor à humildade.Assim sendo, se é caridade o amor ao próximo, é caridade também o amor à humildade (Jesus nos ama, a todos).
Como se sabe sobejamente, pelos ensinamentos espíritas, a caridade pode ser espiritual e/ou material e isso se aplica tanto a uma pessoa em particular como a um grupo maior ou menor de pessoas.
Na programação reencarnatória de todos está presente tanto uma como outra forma de caridade, desde a vida em família como a vida em sociedade.
O que varia de um para outro indivíduo é a particularidade da tarefa, seja em função de prova, de reparação, ou de ambos.No estágio evolutivo em que nos encontramos, ninguém se considerará missionário, no sentido religioso da palavra. Entretanto, quedar indiferente em relação às necessidades do próximo, se se pode de alguma forma ajudar, representa culposa omissão, da qual um dia se haverá de prestar contas.
A Doutrina Espírita, com o seu tríplice e indispensável aspecto, enfatizando a prática da caridade como condição para o desenvolvimento espiritual e moral, mostra o caminho a ser seguido pelos que já a compreendem.
Quanto mais estudo mais é sentida a necessidade da prática da caridade; quanto mais a caridade é praticada mais profundamente é sentido o efeito dessa causa em termos de bem estar espiritual.
Pela análise da essência da mensagem espírita, constata-se que o Espiritismo representa o Consolador, a reviscência do Cristianismo na sua pureza dos primeiros tempos cristãos. Ser espírita verdadeiro e buscar ser verdadeiro cristão.

O VERDADEIRO SENTIDO DA CARIDADE PARA O ESPIRITISMO


Em enquete realizada no site do OSGEFIC, os internautas foram questionados sobre o verdadeiro sentido da caridade. Com 38,3% dos votos, a benevolência foi a afirmativa mais votada, seguida pelo perdão (31,2%) e pela indulgência (30,6%). Este equilíbrio se justifica, pois os três itens representam aspectos diferentes da caridade e, em conjunto, sintetizam o Ensinamento dos Espíritos Superiores sobre o seu verdadeiro sentido: "benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas" (questão 886 de 'O Livro dos Espíritos').
Pela benevolência, dirigimo-nos aos nossos irmãos com bons propósitos, animados pela afeição, afabilidade e doçura, prontos a entender e perdoar; complacentes e indulgentes. A caridade, enquanto ato de benevolência, é sincera, santa e salutar, ensinando-nos a "dar sem ostentação, para que o pobre receba sem baixeza" (item 14 do Capítulo XVI de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
A indulgência para as imperfeições dos outros é a aplicação da máxima do Cristo: "atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado" (Evangelho de João, capítulo 8). É a virtude que nos ensina a julgar com mais severidade nossos próprios atos e, antes de creditarmos a alguém uma falta, recomenda verificarmos se a mesma censura não possa ser feita a nós mesmos. "A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço" (item 16 do Capítulo X de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
Já o perdão das ofensas, para atender aos princípios do amor, deve ser reconhecido mais pelos atos do que pelas palavras. Deus não se satisfaz apenas com aparências, mas busca no íntimo de nosso coração os verdadeiros sentimentos que nos movimentam. Somente o esquecimento completo das faltas caracteriza o perdão. "Perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias" (item 8 do Capítulo X de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
Juntamente com a humildade, a caridade é uma das virtudes que conduz os homens à felicidade eterna. "Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo" (item 3 do Capítulo XV de 'O Evangelho Segundo o Espiritismo').
 

A caridade vem de dentro


A caridade vem de dentro

Jorge Gomes
Revista de Espiritismo nº. 34 - FEP
Caridade. Para o espiritismo é a virtude máxima. É indiscutível que começa em casa, e, em síntese, é o amor em movimento.
Na óptica espírita, o oposto da caridade é o egoísmo. Ela é generosa, ele é mesquinho.
Não está em causa o manicaísmo resultante das concepções que se recusam a ver o ser humano como alguém submetido ao trabalho da sua própria evolução: todo o bem de um lado, do outro o mal. Herculano Pires já dissertou com mestria sobre a função do egoísmo nos horizontes evolutivos de onde vimos, via reencarnação, na sua obra «Curso Dinâmico de Espiritismo». O egoísmo é uma forma de comportamento que estamos a abandonar e que encontra as suas causas profundas no eterno desejo de estar bem, embora siga, é claro, pelo caminho errado. Ser não é possuir. Estar não é ser.
Não justifiquemos por isso o egoísmo, a que estamos a deixar de tender, quando se percebe que já temos condições de melhorar.
Essa tendência no percurso evolutivo de qualquer pessoa é parecida com a corrente de um curso de água na busca do oceano. Os rios, a partir da nascente, são rápidos, de leito abrupto, mas amansam à medida que atingem o mar e que envelhecem. Na evolução é também assim. E estamos no início, não nos iludamos.
Tão inconsciente é essa tendência de sermos egoístas, como se compreende, que agimos com ele, vindo de nós próprios, nas suas diversas roupagens sociais - a veste familiar, o pano comunitário e a farda nacional.

Resultados

Viver por viver não satisfaz. É importante viver bem. Seja neste plano de vida material, seja no Além. O egoísmo resseca, desalenta, infelicita. O amor refaz, desanuvia, alegra, e jamais se desgasta, tanto mais quanto mais depurado é. Isso porque é a meta evolutiva a que tendemos, em estágios mais amadurecidos.
A caridade - nada mais que o amor em movimento - é a grande desconhecida. Passa na história da Humanidade com personagens memoráveis, e assim sonhamos tê-la connosco. O grande problema é o de a conquistar: ela não se compra nem se transfere de uns para outros. Adquire-se, construindo-a no imo. Não é um objecto.
Também não é obra construída de agora para logo ou de hoje para amanhã, como um produto acabado. O psiquismo humano é complexo, como se se compusesse de diversas camadas que se justapõem numa individualidade una e única.
Um mergulho de superfície na caridade não é de desperdiçar. Mas daí a acreditar-se que o problema de a assimilar é imediato e rápido vai um longo caminho que desmente essa ilusão: o da experiência.
É compreensível: evoluir, amadurecer espiritualmente, não é seguir regras de fora para dentro, memorizar, mas sim debater ideias, estudar, aprender, testar, vivenciar para constituir sabedoria. E esta, património irreversível (quando muito apenas ocultado temporariamente via reencarnatória ou outra), segundo as situações concretas, verte atitudes luminosas de dentro para fora, sem esperar ou desejar aplauso, que não seja o da sua consciência feliz.

Ser e parecer

Caridade não é «caridadezinha». Temos uma amiga cuja prática é admirável. Integra uma equipa directora de uma associação de protecção à infância. Há algum tempo houve um jantar beneficente ilustrado com quem dizem ser o herdeiro da extinta coroa portuguesa. Esgotados os lugares, entre os sócios houve uma senhora que ficou ofendida por não lhe reservarem bilhetes ao ponto de entre impropérios dizer que ia deixar de ser sócia.
É um exemplo clássico. A contribuição dessa senhora revoltada feita até à data não perdeu valor. Ela é que rejeita a alegria de continuar a colaborar na satisfação das necessidades dessas crianças em séria dificuldade. Essa mistura do egoísmo e do orgulho com a caridade não é coisa fácil de erradicar. Porquê?
Porque a evolução para ser real, autêntica, tem de ser amadurecida em todas as camadas do nosso psiquismo, das mais superficiais para as mais profundas, e só quando atinge, se sedimenta nestas é que se torna mais frequente.
Vejamos a definição elevada, sucinta, clara e completa de «O Livro dos Espíritos»:
Allan Kardec: - Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entende Jesus?
Resposta: - Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.

Doação imaterial

Caridade é doação afectiva, desinteressada, espontânea. Traz aos destinatários um bem-estar real, não um gozo periférico. O espírito Emmanuel, numa mensagem ensina que ficamos apenas com o que damos.
Caridade é a fraternidade que acompanha o gesto, a atitude interior. Não é o gesto visualizado. Este pode apenas querer parecer, para merecer o aplauso mundano, conforme descreve o Evangelho.
Pensar nos outros, nas suas dificuldades. Ajudar... sem atrapalhar.
Neste cenário, contudo, quando uma mão se estende para auxiliar, torna-se necessário, em geral, que haja uma mão que queira receber. Este é um dos maiores entraves ao processo de aproximação que envolve a caridade. Os espíritos mais sábios sabem «convencer» o necessitado a aceitar a contribuição fraterna, ao cativá-lo, sensibilizando-o.
A caridade vai-se sedimentando no nosso comportamento tanto mais quanto mais o quisermos, sem angústias ou pressas. E começa nas mais pequeninas coisas. Às vezes ajuda reflectir no lado bom das pessoas mais próximas, em casa, no trabalho, na rua, ou das circunstâncias. Pensar na caridade sem ser de cima para baixo, como sendo eu o bom e o outro o desgraçado. Somos seres que caminhamos lado a lado, todos necessitados do amparo recíproco. Temos momentos melhores umas vezes, de outras têm os outros.
O que não resulta, por certo, é fazer cobranças a outrem, porque é melhor convencermo-nos, em benefício próprio, que ninguém - mas mesmo ninguém - tem qualquer obrigação de ser caridoso connosco, mas, de facto, nós próprios temos a maior obrigação de ser caridosos com os demais, entendendo-os, perdoando o que houvesse a perdoar, agradecendo a quota de generosidade com que de uma forma ou de outra nos beneficiam...
E aí, caridade pode ser o silêncio de alguém que nos tolera algum desassossego.

Os amigos

Às vezes, irreflectidamente, acreditamos que os nossos amigos são aqueles que jamais nos apontam os enganos, que nos dizem que somos os maiores do mundo, que nos batem nas costas, mesmo quando estamos quase a caminho de um colapso de consciência.
Caridade não é aplaudir, apoiar a asneira. É manter a fraternidade de, na altura certa, sem violência, dizer o que se pensa, mesmo que não nos seja perguntado directamente.
Dar mais espaço a alguém em caminhada acelerada para estertorosa queda não é ser seu amigo. Aparecer como se lhe desse apoio, isso não é ajudá-lo.
A caridade não exclui a disciplina nem uma conduta coerente, mas sem agressividade.

Caridade social

A nossa tendência a tomar os conteúdos pela forma conduz a confusões como as de considerar que a prática da caridade para ser autêntica obriga a participar necessariamente - e em casos extremos até a criar - em obras de assistência social como orfanatos, hospitais, lares de idosos. Diz-se que o movimento espírita brasileiro passou a ser respeitado pelas obras dessa índole que foi criando com muito altruísmo. Até pode ser. Mas o facto é que o que dignifica mesmo, e passa uma boa impressão para quem não é espírita, é a conduta da pessoa em causa: o seu equilíbrio, a sua brandura, a sua paz, a sua capacidade de perdoar, numa palavra o seu timbre de caridade.
Esta virtude não nasce de fora para dentro, a partir de regulamentos: é manifestação afectiva de dentro para fora. A base da caridade assenta na sensibilidade, no conhecimento, no discernimento.
Depois, a caridade não tem rótulo. Não existe uma caridade espírita, outra budista, etc.. O amor em movimento - a caridade - é universalista, ajuda sem olhar a quem, levantando o ser para a dignificação de si próprio. É louvável matar a fome e a sede a quem a tem, inquestionavelmente. Mas proporcionar-lhe educação para prover a si próprio é o mais desejável. A maior caridade não será a divulgação do espiritismo?

Salvação segundo a Doutrina Espírita


Estudando a Doutrina Espírita, compreendemos que Jesus não morreu por ninguém ou para salvar alguém do Inferno. Sua morte não significa a nossa salvação, e nem o perdão “adiantado” dos erros que cometemos.

Jesus, o Espírito mais evoluído que já esteve na Terra, encarnou e viveu neste Mundo por amor a nós, para exemplificar o amor, o perdão, a caridade, a fé, sendo “o modelo e guia, o tipo de perfeição moral a que se pode aspirar na Terra”, definição essa contida na questão 625 de O Livro dos Espíritos.

“Pelas obras é que se reconhece o cristão”, pois se apenas a fé salvasse o indivíduo, de que valeria a caridade, a reforma íntima, o trabalho no bem? Qualquer um que se arrependesse de seus erros antes de morrer seria salvo e iria para o Céu, mesmo se tivesse sido um ladrão ou assassino? E onde estaria, nesse caso, a justiça de Deus, que oferece tempo para alguns se arrependerem, enquanto que a outros arrebata do corpo físico sem a oportunidade de repensarem suas atitudes?

Quando tomamos consciência do cometimento de uma falta, o arrependimento é importante, porém, ele não necessita de um rótulo religioso, mas sim ser complementado pela expiação e pela reparação do erro cometido.

Expiação são os sofrimentos físicos e morais consequentes do erro; e a reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal, apagando assim os traços da falta e suas consequências.

A Doutrina Espírita elucida que a salvação de cada um – entendida como evolução espiritual, que é destino de todos os Espíritos criados por Deus - depende exclusivamente de si mesmo, e ocorre a partir da transformação moral, pois “fora da caridade não há salvação”. Assim, somente através da reforma íntima é possível salvar-se do comodismo, da indiferença, da omissão, da descrença, transformando a fé e a confiança em Deus em obras de amor e paz.

Sendo o Céu um estado íntimo, construído pela consciência tranquila, e não um lugar de ociosidade e contemplação, o Céu de cada um só pode ser construído por ele mesmo, através de pensamentos, palavras e atitudes que revelem seu estado íntimo de constante aprimoramento espiritual, esforçando-se por tornar-se cada vez mais solidário, mais caridoso, mais parecido com Jesus.

O Conceito de Salvação na Visão de Ubaldi


O Conceito de Salvação na Visão de Ubaldi
 
O conceito de salvação apregoado pelo cristianismo tem sido objeto de muitas controvérsias, sobretudo no âmbito espírita. A exclusiva visão evolucionista, adotada pelo espiritismo como a única forma de se compreender a vida e o universo, entra em formal contradição com a noção de salvação veiculada pelo fundamentalismo cristão. Será possível conciliar esses dois entendimentos aparentemente antagônicos?

Embasada na tradição judaica e especialmente nas lições de Jesus e nas afirmações de seus discípulos diretos, registradas no Novo Testamento, a teologia cristã entendeu a salvação como a recondução do homem, expulso do Paraíso pelo pecado de Adão e Eva, ao Reino de Deus. Tal conceito se responsabiliza inclusive pela própria definição de religião, palavra que na sua origem latina significa re-ligare, ou seja, a restauração de uma pretensa “ligação perdida” com o Criador. Assim o homem é visto como um réprobo, um pecador, que corre o risco de uma condenação eterna, pelo fato de ser herdeiro da desobediência do primeiro casal. Dessa forma justificar-se-ia a sua necessidade de ser socorrido e resgatado desse mundo.

Essa salvação teria sido proporcionada ao homem pela graça e misericórdia divina, como indispensável quesito a ser adotado pela nossa fé. Bastaria então crer firmemente nessa possibilidade para que ela se efetive em nós. Tal conceito está claramente expresso em todo o Novo Testamento, como, por exemplo, nas palavras do apóstolo Paulo: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9).

A doutrina espírita, não obstante, compreende o homem como um ser que segue uma trajetória evolutiva rumo à perfeição relativa, por meio da palingenesia (reencarnação), depois de ter sido criado simples e ignorante. Essa visão, que denominamos evolucionista em contraposição ao tradicional criacionismo, não reconhece a necessidade propriamente de uma salvação para o homem. Ele não precisa ser resgatado de nada, senão evoluir. Assim, salvação passa a ser simplesmente evolução – o progresso do ser rumo a condições superiores de vida. Apenas isso.

Nessa particular visão, como estamos todos inseridos na natural progressão evolutiva, todos seremos inexoravelmente conduzidos aos planos superiores do espírito. Desse modo, salvação seria movimento automático, inerente à lei do progresso e pertinente a todo ser vivo. Empenharmo-nos nessa salvação significa acelerar os passos na trilha do desenvolvimento. Quem não se empenha em “salvar-se”, ou seja, aquele que permanece arraigado aos interesses inferiores da vida, apenas tardará mais tempo em atingir os objetivos finais da evolução. Já o indivíduo que segue preceitos morais, esmerando-se na prática sincera do bem, dispõe-se ao mais rápido aprimoramento evolutivo e mais depressa atingirá a vida superior do espírito. Portanto, ao evadir-se dos mundos de expiação e provas mais prontamente desfrutará de paz, equilíbrio e felicidade. Já os egoístas, arraigados aos interesses inferiorizados do espírito, demorar-se-ão nas dores expiatórias, colhendo os mesmos sofrimentos e privações que semeiam pelos seus ímpios caminhos.

Salvação, então, repitamos, passa a ser a aceleração do inevitável progresso da alma. E assim a visão evolucionista negou enfaticamente os preceitos evangélicos de resgate da alma da condenação eterna. Precisamos apressar os passos, mas não guardamos propriamente estrita necessidade de ser salvos, pois não estamos perdidos. A inferioridade em que nos demoramos é condição natural de vida, faz parte do roteiro de criação progressiva das almas – do mesmo modo que não precisamos socorrer nenhuma criança da escola primária, apenas ajudá-la a percorrer da maneira mais rápida possível as suas indispensáveis lições. Eis por que um articulista e escritor espírita publicou, certa feita, em importante revista de espiritismo, um artigo intitulado Salvação? Não obrigado! Dizia o renomado autor: “Não usamos o termo ‘salvação’, que historicamente está vinculado ao salvacionismo igrejeiro, uma solução que vem de fora. Na realidade aceitamos a evolução, a sabedoria e a felicidade para todas as criaturas”.

Exatamente por isso o espírita aboliu a palavra “salvação” de seu discurso. Moldados por essa nova visão evolucionista, proporcionada pelos preceitos kardecistas, os antigos conceitos teológico-cristãos tomaram significados próprios, apropriados à compreensão da vida como um movimento de crescimento de espíritos, criados simples e ignorantes, rumo à perfeição relativa. Salvação, assim, tornou-se, evolução. Pecado fez-se nada mais que o erro do espírito ignorante que ainda não sabe se comportar como o exige a Lei de Deus. Jesus foi compreendido como um educador de almas que veio ao mundo para impulsionar-nos aos patamares superiores da vida. O titulo de “Salvador”, o “Messias prometido”, que Ele mesmo se deu e a história humana corroborou, é-lhe formalmente negado. Ressurreição converteu-se em reencarnação, sem a qual o espírito não pode alcançar os planos superiores da vida onde se encontra Deus. Inferno é panorama íntimo da alma atormentada pelo necessário processo de corrigenda dos erros cometidos. E céu ou paraíso passa a ser condição própria da alma que atingiu estágio superior de vida.

E assim a doutrina espírita construiu uma nova teologia entretecida na exclusiva interpretação evolucionista da vida, a qual dispensa em absoluto o antigo entendimento que o fundamentalismo cristão adotou sobre a salvação. A evolução do espírito é agora movimento inexorável, promovido pela lei do progresso – inclusive os corolários espíritas não admitem o retrocesso da alma –, então não há do que sermos salvos. Caminhando pelos múltiplos estágios da escola da vida, alternando existências ora no mundo espiritual, ora no mundo carnal, progrediremos sempre até atingir, segundo os preceitos kardequianos, a almejada perfeição relativa. Pelas quedas morais, comuns à nossa ignorância, podemos retardar os passos, repetir lições, mas jamais deixaremos de ir adiante, e evadir-nos-emos indubitavelmente dos palcos inferiores da vida. Portanto, Kardec, ao afirmar que “fora da caridade não há salvação”, pretendia exatamente dizer que sem o esforço em realizar obras no bem não há possibilidade de o homem adiantar os seus passos na jornada do progresso. Estacionado nos interesses ególatras inferiores, retardar-se-á, multiplicando assim as suas dores evolutivas e expiatórias – outras consequências não advirão, pois o permanente avanço é inexorável.

Não estamos negando esses preceitos. Eles atendem à nossa lógica e estão perfeitamente aderidos aos nossos conceitos de evolução espiritual. Contudo, podemos, com a ajuda de Ubaldi, lançar um olhar mais abrangente sobre o conceito de salvação, compreendendo outros de seus aspectos, ampliando assim um pouco mais o nosso entendimento.

O estudioso de Pietro Ubaldi percebe que o tema é mais vasto do que imaginávamos. Com a ajuda do iluminado mensageiro da Úmbria, compreenderemos que ele extrapola a moderna compreensão evolucionista e, curiosamente, abarca ao mesmo tempo a clássica visão fundamentalista cristã. Como pode ser isso?

Para compreender, faz-se imprescindível abandonar nossas arraigadas posições dogmáticas. Assim, o cristão fundamentalista deve deixar seu cômodo apego à letra dos Textos Sagrados; e o espírita carece evoluir a sua moderna proficiência intelectualizada. Essa é exatamente a dificuldade, pois o primeiro radicaliza-se em seus preceitos fideístas, e o segundo não dispensa sua contumaz racionalidade. Então ambos não logram percorrer o pequeno trecho que os separa de uma verdadeira síntese de conceitos, que nada nega, favorecendo-nos com uma forma mais avançada e unitária de se divisar a realidade.

Quem não está disposto a abdicar de seu entendimento, e sente-se confortável em seu patamar de compreensão, não está pronto para ir adiante. Ninguém poderá convencê-lo do que quer que seja. A revelação que nos trouxe Ubaldi é conhecimento de síntese que requer peculiar predisposição íntima para ser devidamente apreendido. É o tipo de assunto para o qual devemos estar preparados. E não se presta para quem não está pronto. Portanto não serve para todos. Sabemos disso. Por isso não tratamos aqui de impor verdades a ninguém. Além disso, as verdades são como os frutos, precisam estar maduros para se fazer palatáveis ao espírito. Do contrário, tornam-se amargos e imprestáveis.

Se as lições de Ubaldi parecem, a princípio, ferir nossas mais sagradas crenças, é preciso ainda admitir que o cabedal de verdades disponíveis ao homem atual evidentemente não corresponde à última realidade do Todo. Faz-se impositivo aceitar que estamos todos, absolutamente todos, ainda muito distantes da Verdade plena, pertinente apenas aos altiplanos da evolução do espírito.  Por isso, uma postura de humildade é essencial a nossa permanente ascensão espiritual. Importa admitir que cada qual está habilitado a perceber um limitado aspecto da verdade, o qual tomará sempre pelo todo. Exatamente por isso nossas verdades devem ser periodicamente desestabilizadas, a fim de sermos preparados para novas e mais dilatadas compreensões. É assim que evoluímos. Desse modo, derruir antigas verdades e predispor-nos a novas semeaduras de sabedoria é genuína obra do tempo, em ação em nossa intimidade, visando impulsionar-nos para adiante. Essa é exatamente a tarefa dos grandes missionários que periodicamente vêm à Terra e por isso eles nos incomodam. Exatamente porque desestabilizam nossas cômodas posições de entendimento. Fixados em nosso habitual misoneísmo e sem suspeitar que estacionamos em corolários provisórios, apressamo-nos a combatê-los, iludidos de que nossas verdades são eternas e jamais serão demovidas.

Por isso sabemos que sequer com Ubaldi atingimos o ápice da verdade. Em absoluto. Não guardamos tal pretensão. Todos os nossos conhecimentos acham-se incompletos, pois, como seres em crescimento, estamos ainda muito distantes da verdade absoluta. Em razão disso não queremos passar a impressão de que nosso conceito é superior aos demais. Ressaltamos apenas que a revelação que nos trouxe o missionário do Cristo acalma-nos sobremodo o entendimento, apazigua nossos atritos ideológicos e ajuda-nos a melhor aceitar nossos aparentes antagonismos. E, sobretudo, funde-nos perfeitamente com as lições do Evangelho. Eis por que o julgamos essencial para os nossos atribulados dias.

Debulhemos, todavia, sem demora o assunto, para que o leitor compreenda tudo isso que estamos afirmando. Como podemos compreender a salvação tomando por base os ensinos de Pietro Ubaldi?

O filósofo da Nova Era ensina-nos que o universo relativista em que vivemos, entretecido em tempo e espaço, energia e matéria, é uma criação deteriorada, produto de uma contração espiritual que se denominou queda do espírito. E essa criação deteriorada em que vivemos, Ubaldi chamou de Anti-Sistema (AS), por achar-se nos antípodas do universo original, o divino, por ele denominado Sistema (S). Essa queda foi motivada, resumidamente e até onde nossa razão pode alcançar, pela inadequada opção do espírito em vivenciar intensamente o egoísmo.

Uma vez que o espírito arremeteu-se ao AS, detendo-se em sua trama de caos e destruição, somente uma força íntima, em ação na sua própria substância, poderia soerguê-lo da hecatombe do egocentrismo. Eis o novo conceito de salvação, que agora compreendemos como ação de resgate do espírito que caiu nas malhas do relativismo, imiscuindo-se em malogrados envoltórios físicos. De outra forma, não se entende por que Deus criaria seres necessitados de percorrer uma evolução, caracterizada, segundo predisposição natural, por expiações e purgações, dores e atritos, em permanente regime de purificação, como a própria doutrina espírita a define.

Segundo a proposição de Ubaldi, e como aferido pela antiga tradição cristã, a evolução somente se justifica para seres que optaram pela revolta contra o amor. E evolução então, como um movimento de expansão do ser, seria nada mais que a reação a uma anterior avulsão de contração de potencialidades.

Os detalhes dessa queda nos escapam na atualidade, pois ela extrapola o nosso concebível por haver ocorrido fora do tempo e do espaço, muito além do que pode a nossa parca razão atual alcançar. Apenas sabemos que ela se tornou possível na criação original por havermos sido gerados com o princípio de autonomia. O tema, contudo, não pode aqui ser abordado, pela extensão e a vastidão de suas implicações. Recomendamos ao interessado que leia Deus e Universo e O Sistema, obras nas quais Ubaldi detalha essas questões. Para quem deseja uma versão resumida e romanceada do assunto, recomendamos o livro Tabernáculo Eterno, um trabalho de inspiração mediúnica no qual tivemos participação especial, publicada pela Editora Inede.

Mediante o conhecimento da queda do espírito, compreendemos agora que, antes de iniciar a evolução, o espírito sofreu um processo de condensação involutiva que o arremeteu à inconsciência, condição que o espiritismo designa como “simples e ignorante”. Nesse ponto, ele inicia a alçada evolutiva, agora vista como uma reação ao precedente movimento de involução. A evolução passa assim a ser entendida, de fato, como a salvação, ou seja, o movimento de recuperação do ser caído na matéria. Movimento operado por forças poderosas, restauradoras da ordem e da perfeição perdidas, veiculadas pela ação amorosa de Deus. Forças que lutam contra a imposição de desordem e destruição que passaram a imperar ao nosso derredor, as quais se originaram da queda e não propriamente do desejo do Criador. Essa é a maneira mais lógica de se explicar a presença desses processos negativos na criação divina, e aceitarmos o fato de que nosso universo é um palco de batalhas de interesses antagônicos – as forças adversas do AS, contra as potências regeneradoras e reconstrutoras do S. Ora, uma criação homogênea, advinda de uma expressão unitária que é Deus, não poderia admitir essa franca oposição de valores em seu bojo.

Com a queda, patenteia-se que gravitamos entre os impulsos de destruição e do mal (forças AS) e as energias do bem e da ordem (forças S), em um universo dualizado, submetido a uma permanente oposição de valores. E justifica-se porque nosso cosmo se inicia em meio a uma fenomenal hecatombe, o Big bang, ao qual a inteligência divina trata de impor uma progressiva ordem e uma crescente complexidade. De outra forma, como aceitar que Deus, se nada existia, tenha gerado antes o caos para então organizá-lo na paciente esteira do tempo? Ora, o caos somente pode advir de forças desordenadas que se investem contra a ordem, jamais da inteligência suprema que creditamos à infinita Sabedoria do Criador.

Uma vez que se formou, empreendido pelas forças rebeldes, esse reconhecido e ciclópico tumulto do universo físico primordial, de que todos participamos, as potências divinas, reconstrutoras da ordem e do equilíbrio, passaram a agir na sua intimidade fenomênica, a fim de soerguê-lo do caos. É assim que Ubaldi nos afirma que “nosso universo é uma doença no seio da eternidade” que será curada pelo paciente trabalho da evolução, sob orientação divina. A antiga revelação do Gênese mosaico engrandece agora surpreendentemente aos nossos olhos, ao recordarmos sua poética e singela linguagem a nos mostrar a ação divina operando a paulatina ordenação da desordenada massa cósmica na sucessão do tempo, os “dias” da criação.

Evidentemente sempre vitorioso, esse dinamismo reconstrutor do universo desmoronado representa então a salvação de Deus, que, por amor, caiu junto com a criatura para resgatá-la do báratro de desordens em que se precipitou. É exatamente essa, a salvação pela graça divina, que foi definida nos Textos Sagrados, sobretudo no Novo Testamento, e concebida por elevada inspiração mediúnica de seus autores, como sabemos. Em luta contra a dor, a morte e o mal em todas as suas expressões, consequências diretas da queda, esse impetuoso impulso salvacionista, criador e organizador, soergue com êxito o espírito das cinzas de si mesmo, ajudando-o a refazer a organicidade perdida. E o faz por meio da longa e paciente elaboração evolutiva, no grande oceano do tempo, em seus quase intermináveis ciclos de vidas e renascimentos.

Portanto a evolução é o movimento de retorno ao seio divino que deixamos, representando a reconstrução da ordem perdida. Por isso, com efeito, como se deduz com ao auxílio do conhecimento espírita, evolução significa salvação. Movimento que agora imputamos à graça divina, que por amor permaneceu junto à criatura para socorrê-la. Aceitar que o dinamismo evolutivo seja um trabalho de “re-construção” e não de “construção” da ordem, deslinda-nos o tremendo paradoxo de admitir que Deus teria gerado primeiro a desordem no Universo, para somente depois ordená-lo, através da lenta ação do tempo. Isso implicaria que Deus necessita da dimensão tempo-espaço para criar – sabemos que não deve ser assim, pelo fato de o Criador encontrar-se fora do tempo e do espaço. E, afinal, teríamos que negar o critério de perfeição que imputamos a Deus, pois o que é perfeito somente pode gerar perfeição – jamais algo imperfeito. Ainda que admitamos que a criação se aperfeiçoe mediante a impreterível ação da evolução, Deus continuaria eternamente criando sob a chancela da imperfeição.

Assim, entende-se ainda exatamente por que a evolução é laboriosa, cansativa, e se faz um permanente movimento de atritos de interesses divergentes – exatamente porque intimamente resistimos à salvação divina, interessados que nos mantemos em prosseguir nossa multimilenar rebeldia contra a Sua ordem. Entendemos por que Deus está aparentemente ausente da realidade exterior em que respiramos, podendo inclusive ser negada a Sua existência. Elucida-se por que quanto mais primária é a vida, maior é o predomínio de imperfeições e a presença de atrocidades e selvagerias entre os seres. Ora, Deus, que é o amor absoluto, não poderia predispor seus filhos a essa luta de egoísmos ferozes, e sequer entregaria rebentos imaculados, recém-saídos de Suas mãos, a essa inadequada pedagogia embasada preponderantemente no desamor.

Assim aceitamos melhor a razão da existência do cansaço e da dor no grande labor evolutivo. E compreendemos por que este se fez e se faz de constantes atritos, fixando valores positivos, mas também negativos que inclusive preponderam na longa jornada pelo reino animal, a nos exigir depois, uma vez conquistada a razão, o operoso exercício da renúncia para libertarmo-nos de suas descabidas lições. Ninguém pode negar, por exemplo, que o hábito de ludibriar, roubar e matar sejam frutos de nossa exaustiva luta pela sobrevivência no mundo selvagem, onde tais atos são perfeitamente lícitos.

Aclara-se, desse modo, por que a criação progressiva parte de uma apriorística existência de egoísmos inatos que necessitam obrigatoriamente ser lapidados pela dor e pela dilaceração do ego inferior. E esclarece-se por que a elaboração evolutiva trabalha essencialmente a dificultosa transformação de verdadeiras feras, aparentemente assim geradas pelo nosso amoroso Pai, em legítimos anjos. Elucida-se por que a vida exige, através de imenso e incompreensível esforço, que seres arraigados no egoísmo pela experiência dos milênios, modifiquem-se, por esforço próprio, em criaturas capazes de doar sua vida aos semelhantes e não as roubar em benefício próprio, como a vida tão bem lhes ensinou. E assim deslinda-se, enfim, por que somente o amor salva, sendo a única força capaz de retirar o ser do inferno em que verdadeiramente vive e reconduzi-lo à felicidade celestial.

Sem a crença na queda do espírito e a certeza de que habitamos um universo às avessas, impróprio para a nossa vida e nossa ventura, não temos como compreender a salvação. Não saberemos por que Deus nos matricula na escola de lutas da carne, educando-nos, quando ainda tenros, na selvageria de todos os hábitos, para depois, somente depois, quando já nos habituamos às barbáries e experimentamos as carnes dos nossos irmãos, pedir-nos o verdadeiro amor. Torna-se algo incompreensível a um Pai que criou seus filhos unicamente para viver a completude do amor e da felicidade.

Com a falência do ser, compreendemos muito bem agora que a escola da vida que frequentamos não é bem um educandário de seres inocentes, que saíram puros das mãos divinas, mas, sim, um reformatório de rebeldes, destinado a corrigir ignóbeis hábitos livremente escolhidos. E assim torna-se compreensível o fato de que a vida se faz de métodos prioritariamente coercivos para seres aprioristicamente rebeldes. E entendemos por que o espírito cobre-se, no trânsito da vida, com carnes frágeis e degradáveis, as quais objetivam nitidamente abafar-lhe as potências originais do espírito – fato incompreensível se não aceitarmos o pressuposto de que a vida trabalha seres que se fizeram prioritariamente rebeldes, tornando-se inconvenientes para utilizar de forma adequada as plenipotências herdadas do Pai.

Portanto somente aceitando que fizemos uma anterior opção pelo mal conseguiremos compreender as forças em jogo na evolução, as quais não podem ser divinas. A bondade do Senhor permite-nos expressar esse mal, pelo qual optamos, na impropriedade da matéria, até o esgotamento de nossas originais intenções. Porém através do labor evolutivo, que utiliza sobretudo a dor como instrumento de persuasão,  leva-nos a agastar nossos hábitos impróprios, educando-nos, pacientemente, na imprescindível arte do amor. E assim deslinda-se por que a vida, quanto mais primitiva, mais se faz um entrechoque de rebeldes, um jogo de violências e mortes – coisa incompreensível diante de um Pai que nos exige a prática do amor acima de todos os outros interesses. Logo, se aceitamos que a vida na matéria se compõe de seres que precisam antes de tudo aprender a coibir iníquos impulsos de revolta contra a ordem, entenderemos a necessidade da limitação de forças que a carne impõe. Fato incompreensível se admitirmos que a experiência da vida parte de seres inocentes, saídos das mãos do Criador em estado de simplicidade e ignorância.

De modo geral, os adeptos da Terceira Revelação não concordam sequer em discutir essas questões, simplesmente por julgar que elas contrariam preceitos registrados nas obras básicas. Tomados por dogmas, não percebemos que esses ensinamentos, considerados ao pé da letra, contrariam o fundamental princípio de amor que deve nortear a obra de Deus. E assim, ao colocar a letra acima da leitura da realidade, passamos a repetir o erro de todas as religiões, fixadas em seus inamovíveis dogmas. Ora, assim como julgamos a doutrina do inferno eterno, apregoada pelo fundamentalismo cristão, absolutamente inconciliável com a bondade infinita de Deus, também acreditamos descabida uma crença que toma a selvageria dos mundos inferiores, a lei de destruição e o mecanismo da dor como processos naturais impostos por Deus, como únicos meios para fazer avançar os Seus filhos. Embora justificados pelos fins, tais meios contrariariam o princípio fundamental e máximo da Criação: a Lei do amor. Além de retirar emblematicamente a perfeição da criação, e consequentemente de Deus.

A queda original é uma bela proposta capaz de elucidar essas questões e solver outros graves embaraços das grandes religiões ocidentais. Deveríamos encará-la com seriedade, destituindo-nos de nossos seculares preconceitos. Ela esclarece de forma brilhante outros empecilhos da doutrina kardequiana, como por exemplo, a informação de que a reencarnação tem como finalidade principal a purificação, como nos informa O Livro dos Espíritos (questões 166 a 170). E a de que vivemos em um mundo de expiações e provas, que faz da dor a sua tônica principal. Sem a queda não entendemos por que Deus criaria seres que necessariamente requerem regime de provações, dores e limitações, coisa somente possível para aquele que erra e se habitua ao erro. E entendemos, finalmente, por que, como nos revela a doutrina espírita, a escala de progressão dos orbes se inicia nos mundos primitivos, bárbaros e selvagens, passa pelos expiatórios, depois os de regeneração, para então chegar aos felizes e divinos. Não nos parece uma ordem adequada a seres inocentes, porém unicamente àqueles que escolheram a rebeldia como forma de viver. Basta examinarmos as nossas escolas infantis – iniciar nossos infantes na barbárie e selvageria de todos os hábitos seria algo inadmissível para nós. E ainda mais: exigir-lhes depois, através da dor, que abandonem os costumes que lhes incitamos inicialmente, seria uma completa injustiça, senão mesmo uma loucura. Admitir que assim atua a inteligência divina é imputar indevida irracionalidade e contra-senso ao Criador. E pior ainda, seria assentir que nosso Pai não se importa com a existência do mal na criação.

Se aceitamos, entretanto, que nossa existência na matéria partiu da rebeldia e da contração de nossas potencialidades originais tudo se esclarece. A evolução foi então precedida por grave contração da perfeição com a qual fomos criados. Resgata-se a perfeição e o amor de Deus. Restará ao estudioso sincero, concordamos, a pergunta: como foi possível a seres criados perfeitos caírem na imperfeição e no mal? Mais uma vez Ubaldi nos socorre explicando-nos que a criação original gerou seres tão perfeitos que lhes era imputada a autonomia, uma vez que Deus não quis criar autômatos, mas deuses-filhos que aderissem a Sua vontade por livre escolha. Aí residia a possibilidade de queda (o fruto proibido). Contudo a perfeição da criação se manteve na plena capacidade de reconstrução do ser, de modo que, ao final da evolução, o universo original estará recomposto em seus impecáveis fundamentos, tais como pretendido pelo nosso Pai.

Mediante o pressuposto básico da queda, a evolução torna-se agora muito mais que simplesmente o nosso progresso rumo aos planos superiores do espírito. É de fato evolução a salvação, o nosso resgate das algemas físicas em que nos prendemos. Representa o esforço que nos compete na reconquista do universo divino que deixamos por livre escolha. Exatamente por isso, André Luiz, o famoso mentor espiritual, define a evolução como “a nossa lenta caminhada de retorno para Deus” (A Vida Continua, FEB, 6ª edição, capítulo 21, página 179). Portanto não estamos em uma trajetória de “ida”, mas de “volta” ao Pai.

Logo, evolução passa a ser efetivamente a nossa libertação dos redemoinhos atômicos onde, através da queda, aprisionamo-nos de modo inconveniente. Verdadeiramente, uma vez gerados no seio imaculado de Deus, como puros pensamentos, não poderíamos nos vestir de “pedra” sem uma razão que o justificasse. E não nos seria possível ter sido criados com diferente natureza, uma vez que somos filhos do Altíssimo – e filho de Deus somente pode ser “deus” também. A opção pelo egoísmo foi o que nos selou esse ominoso destino, por termos sidos gerados, como dissemos, mediante o princípio de autonomia. Então foi através da negação do amor, por livre escolha, que “o anjo se prendeu no átomo” (questão 540 de O Livro dos Espíritos). Após esse movimento de contração dimensional e fuga do seio de origem, somente uma força divina, atuante nas profundezas do ser caído poderia auxiliá-lo a reorganizar-se e a refazer a sua perfeição perdida.

Essa força salvadora soergueu-nos do lodo da matéria bruta para a vida orgânica. Orientou-nos, pelos caminhos dos evos, na laboriosa luta pela sobrevivência. Conferiu-nos todas as oportunidades possíveis para evoluir e fazer desabrochar a consciência que em nós dormitava, desde que “morremos” nos abismos infecundos da matéria bruta. Ela nos resgatou do caos que geramos após a hecatombe da queda.

Pura imanência divina, essa força então é a potência salvadora do universo caído – um novo conceito de salvação que o espírita ainda não absorveu. Sem essa “salvação”, proporcionada por esse extraordinário impulso reorganizador, estaríamos para sempre detidos na inconsciência, pela perda absoluta da organicidade. Sem organicidade não há vida, e sem vida não há consciência. Portanto, conferindo inteira validade aos Textos Sagrados, facilmente aceitamos agora que “a salvação é dom gratuito de Deus, que o Pai nos confere por amor e graça” (Efésios 2:8-9, já citado), a fim de reconduzir-nos ao Seu aprisco de amor.

Enquanto nos detínhamos nos conceitos unilaterais do evolucionismo espiritual, esse conceito se perdera. O fundamentalismo cristão o reteve em sua essência, mas o diluiu igualmente na fatuidade de sua interpretação literal, rejeitada pela razão moderna. Por isso Ubaldi nos faz bem, favorecendo-nos a compreensão das verdades eternas tal como registradas nas Sagradas Escrituras. E apazigua-nos sobremodo o intelecto amadurecido ao aplacar-nos o conflito fideísta em que ainda nos debatemos. Além disso, suas lições despejam inigualável luz sobre os ensinos do Cristo, atualizando-os sob o beneplácito de nossa hodierna dialética evolucionista, que não precisamos abandonar.

Para melhor elucidar o tema, esclareçamos, todavia, que identificamos a existência de dois tipos distintos de ação redentora atuantes na intimidade do espírito em evolução: a salvação pela graça e a salvação pela livre escolha.

Na fase em que o ser é ignorante de si mesmo e de suas necessidades, ele é pacientemente guiado pela inteligência divina que lhe faculta todas as oportunidades para conquistar valores e evoluir. Esta é a salvação pela graça. Por meio dela, o Criador o nutre com uma sabedoria, que ele não detém, necessária à confecção de organismos preparados para a vida e para a luta. Sem essa ínsita inteligência orgânica, orientadora da vida, a evolução do espírito não seria possível.

Ainda que em meio à selvagem luta pela sobrevivência, favorecida pela desapiedada seleção natural própria dos mundos inferiores e selvagens, essa ingênita inteligência guia o ser ao constante aperfeiçoamento e à aquisição de genuínos valores evolutivos. Compreendamos, todavia, ainda que repetindo conceitos: esse bárbaro regime inferior de vida não é uma oferta espontânea do Criador para o simples exercício de crescimento do ser. Não podemos admitir a barbárie dos reinos primários como uma legítima proposta pedagógica de nosso amoroso Pai. Resta-nos então aceitá-la como um inadequado sistema de vida desejado pelo espírito que optou pela revolta e pelo desamor. E Deus o permitiu viver, porém distante de Seu Reino, onde somente o amor é possível. Justo assim que seres que escolheram viver intensamente o egoísmo tenham sido atirados às arenas de luta, dor e morte que preponderam nos mundos primitivos. Deus aproveita esse impróprio modo de viver para educar o espírito e fazê-lo desistir do egoísmo - jamais poderíamos imputá-lo ao amor infinito e à inteligência excelsa de nosso Pai.

Uma vez, porém, que as operosas forças salvadoras de Deus impulsionam o espírito à reconquista da razão perdida, a evolução passa a se tornar um movimento consciente, sujeito então a interferência de sua vontade. Por isso, na fase de evolução consciente em que nos encontramos, nossas escolhas e nosso empenho na reforma íntima passam a influir preponderantemente em nosso avanço evolutivo. Aí sim, a evolução passa a se valer de nossa operante vontade de realizações no bem. Antes disso, era puro e gratuito dom da graça divina. Agora depende de nós e de nossas obras: esta é a salvação pela livre escolha.

Ainda assim, a salvação pela graça divina prossegue atuando em nós nos pontos em que continuamos ignorantes e não sabemos guiar-nos como convém. Ela permanece em ação em nossa intimidade como força reconstrutora e mantenedora do equilíbrio orgânico, permitindo-nos atuar na dura escola da carne, regenerando-nos no trânsito da vida. Essa operante força continua fundida à substância de nosso ser, gerando-nos inteligência molecular, funcional e anatômica, sem a qual não nos fixaríamos na matéria bruta. Então ela age onde nossa inteligência é ainda insuficiente para edificar e resguardar nossos corpos. Essa preponderante ação divina é momentânea e periodicamente suplantada pelos impulsos tidos naturais, de caráter destrutivo, que nos levam inevitavelmente à degeneração orgânica e à morte. Não obstante, é aparente essa vitória das forças do AS, pois a vida, através do sustento divino, refaz-se sempre através do milagre do renascimento, sendo a morte nada mais que condição de uma nova existência, como todos sabemos.

“Salvação pela graça divina” e através de “nossa própria vontade” compõem assim o cortejo das potências redentoras que soerguem o espírito das cinzas da matéria, onde ele encontrou a morte da consciência. Por isso, está certa a doutrina espírita que nos ensina que “a fé sem obras é morta” e “somente a caridade pode nos salvar”. O espiritismo nos fala aqui da redenção consciente que requer o adequado emprego da nossa vontade e nosso empenho em boas obras. Mas o fundamentalismo cristão não se enganou ao afirmar-nos a existência de uma força salvadora inerente à substância da vida, na qual devemos confiar e que inexoravelmente nos socorrerá. Seus mecanismos utilizam a dor e a aspiração pela perfeição perdida como principais impulsores do ser caído, mecanismos infalíveis para reconduzi-lo às suas origens. Essa salvação é obra da nossa mais pura fé. Acreditarmos nela pressupõe entregarmo-nos com extrema fidúcia à sua ação sempre benéfica, amorosa e restauradora, dinamizando-a em nosso benefício.

Essa extraordinária compreensão funde a visão espírita evolucionista com o fundamentalismo cristão. Ela autoriza as lições evolucionistas, mas valida também o criacionismo bíblico, por incrível que nos pareça. A criação divina, como sabemos, permeia a evolução, enriquecendo-a de soluções prontas e inteligentes para os seus desafios. Confecciona corpos e predispõe uma sábia anatomia e uma engenhosa fisiologia adequadas às necessidades evolutivas do ser. Então, de fato, “a salvação é dom de Deus, não de nossas obras, para que ninguém se vanglorie” – estava certo Paulo de Tarso ao exarar a sua famosa frase. Mas está correta também a doutrina dos Espíritos que afirma que somente evoluímos pelo esforço próprio, mediante o nosso empenho em boas obras – fato igualmente registrado na Palavra Sagrada (Mt 7:1 e Ti 2:26).

Impossível negar que forças divinas operem constantemente a nosso favor. Elas nos favorecem, por exemplo, edificando-nos corpos cada vez mais aperfeiçoados, e trabalhando ativa e permanentemente em favor de nossa recomposição. Elas nos conduzem através da sábia linguagem dos instintos, quando ainda não detemos a inteligência suficiente para efetuar nossas escolhas. Isso basta para compreendermos que a salvação vai muito além de nossa mera vontade em progredir e realizar obras de caridade. É evidente que à medida que o espírito progride rumo à aquisição de sabedoria, essa salvação pela graça torna-se cada vez menos operosa, entregando-nos ao nosso próprio trabalho de reconstrução de nós mesmos. Por isso a dor se reduz à proporção que nos tornamos mais conscientes de nosso trabalho evolutivo. Não há dúvida de que inteirarmo-nos de nossas necessidades de reforma íntima e predispormo-nos à realização de boas obras apressará sobremodo o nosso resgate definitivo do universo às avessas em que vivemos, contudo essa ação consciente não seria suficiente para nos socorrer quando ainda ignorávamos essa necessidade.

A salvação pelo esforço próprio, que denominamos autorredenção, está então na alçada de nossas escolhas: dependerá do abandono dos incuriais valores que arquivamos do passado, o homem velho; da renúncia ao ego inferior que ainda portamos; da superação dos hábitos animalizados que automatizamos por imposição da própria da egolatria; de um grande esforço no aprendizado do amor ao semelhante e, enfim, da nossa entrega à vontade maior de Deus.

Autorredenção pressupõe ainda, efetivamente, fazer morrer o personalismo doentio que permanece nos vestindo. Exige o abandono das armas de defesa que confeccionamos na estrada dos séculos, e nas quais ainda nos comprazemos, por serem completamente inadequadas aos fundamentos do amor. E, tomando sobre nossos ombros as nossas dores, significa alçar com bom ânimo o calvário da redenção. Não foi exatamente isso que nos ensinou Jesus em Suas imorredouras lições e seu contundente exemplo? Agora, entendemos por que deve ser assim. Então, é verdade que “fora da dor não há salvação”. E sem a queda, mais uma vez, não compreenderemos por que Deus nos impõe tamanha necessidade para atingirmos o desiderato maior da evolução.

Entender que sofremos uma obra evolutiva de resgate facilitar-nos-á aceitar por que a Lei de Deus, depois de nos educar na luta pela sobrevivência e dotar-nos de terríveis artifícios de ataque e defesa, pede-nos, na fase consciente de evolução que ora percorremos, critérios completamente opostos aos que a escola da vida ensinou-nos na esteira dos milênios. Ao contrário do que a evolução até aqui nos ensinou, devemos agora aprender a doar nossa vida ao semelhante e não roubá-la em benefício próprio. E aclara-se exatamente por que o Evangelho de Jesus é antibiológico, ou seja, ele nos alerta que o fundamental para nossa sobrevida é nosso total empenho no amor a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Este é o máximo recurso de vida que nos permitirá viver a integral fusão com o Pai que nos criou unicamente para amar e ser feliz. Os fundamentos da vida biológica tão bem aprendidos na escola dos séculos devem ser definitivamente esquecidos.

Como vemos, o conceito da queda do espírito, tão rejeitado pelos estudiosos da doutrina espírita, é a mais extraordinária luz capaz de iluminar sobremodo a nossa compreensão dos mecanismos da vida a que estamos submetidos e suas intrigantes contradições. Quando, contudo, remetemo-nos ao Evangelho de Jesus, então constatamos como esse conceito se faz indispensável para melhor entendê-lo. Se não nos vemos como seres degredados e presos nas algemas da matéria, como entender que Cristo veio ao nosso mundo para nos salvar? Qual seria o significado de Seu sacrifício? Exatamente por que Ele se deixou imolar na cruz por todos nós?

Para a doutrina espírita, nos moldes como é interpretada pela maioria de seus seguidores, representa um peso enorme a negação desses conceitos tão fundamentais que caracterizam o cristianismo em sua essencial original. Como repudiar essas inferências se elas estão embasadas nas próprias palavras de Jesus, as quais a história humana deu tanta ênfase? Nossa visão unilateral da revelação espírita nos autoriza a negar as próprias afirmações do meigo Rabi? As informações que nos chegaram pelas vias mediúnicas e analisadas pela inteligência de Kardec selaram a verdade, superando os ensinos do divino Mestre? Não estiveram elas sujeitas aos psiquismos dos médiuns e suas particulares interpretações? Será a mediunidade um processo infalível?

E ainda mais: não foram os mesmos espíritos que afirmaram que não nos disseram tudo? Que muito ainda tinham a nos revelar, porém nossa acanhada compreensão não lhes permitia avançar? Teríamos, com as obras básicas da codificação atingido em definitivo o conhecimento da verdade? Evidentemente que não. Aqueles que se apegam ao dogmatismo doutrinário, deveriam lembrar-se do que exarou Kardec, em A Gênese: “O Espiritismo assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia (...). Caminhando de par com o progresso, o espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”. Nessa mesma obra, o Espírito Galileu afirma: “Há questões que nós mesmos, espíritos amantes da ciência, não podemos aprofundar e sobre as quais não podemos emitir senão opiniões pessoais, mais ou menos hipotéticas”. E na questão 182 de O Livro dos Espíritos, encontramos: “Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais”. Não obstante tomamos suas palavras como a última e inamovível verdade. Ora, estamos muito distantes da verdade absoluta para nos deter em informações que nos chegaram no século XIX, quando ainda muito pouco sabíamos da realidade que nos envolve. Quanto a ciência cresceu desde então! Nosso inato anseio por verdades absolutas fez-nos estagnar em dogmas, repetindo o erro das religiões convencionais do mundo.

Seguramente, o maior benefício da teoria da queda que nos trouxe Ubaldi é a perfeita fusão das revelações religiosas com o conhecimento que nos propiciou a ciência do século XX. A cosmologia moderna encontra aí sua mais perfeita unificação com a cosmologia cristã. Remetemos o leitor interessado em aprofundar a questão ao nosso despretensioso trabalho Arquitetura Cósmica, publicado pela Editora Inede, no qual efetuamos um detalhado estudo sobre as visões de mundo ao longo da história, para demonstrar que a queda do espírito é a única tese capaz de explicar e unificar todos os conhecimentos humanos.

Do ponto da cristologia, com a queda original, passamos a compreender perfeitamente a missão do Cristo entre nós. O divino Amigo veio trazer-nos a notícia da existência de um outro mundo além do nosso, onde se encontra nosso Pai, o Reino de Deus. Ele nos pediu enfaticamente abdicarmos do mundo às avessas em que vivemos (o AS) para a conquista desse Reino (o S). Fato intrigante para nós sem o conhecimento da queda, pois se Deus nos gerou em Seu seio, por que nos mantém fora de nosso natural habitat? E não entendemos por que Ele nos colocou em um mundo infesto de desazados valores aos quais com tanto esforço devemos abdicar, a fim de atingirmos à vida verdadeira para a qual fomos criados.

Cristo mostrou-nos ainda, em Seu sacrifício, de forma nítida, como realizarmos o nosso resgate do mundo às avessas em que vivemos, o AS, e conquistarmos mais rapidamente o Reino de Deus. Esse foi o desiderato maior de sua vida, a que Ele dedicou a sua existência – e recomendou-nos enfaticamente fazer o mesmo. Portanto, Ele nos deixou o roteiro da autorredenção, realizando-a aos nossos olhos. Assim acreditamos que, ao deixar-se imolar na cruz, Ele penetrou definitivamente o Mundo Celeste, o S. No instante do Calvário, Ele abandonava o Relativo para assumir a sua posição definitiva no Absoluto, realizando a sua integral fusão com o Pai. Consubstanciava-se a dissolução de seus envoltórios dinâmicos e seu retorno decisivo ao seio paterno como espírito purificado. Eis a realidade maior da ressurreição de Jesus que Ubaldi descreve-nos em seu último livro, Cristo – o divino Amigo realmente “subiu aos céus” e voltou ao Pai como um espírito ressurreto.

O meigo Rabi entregou seu corpo ao sacrifício demonstrando-nos que Ele não se interessava por salvar a matéria perecível. Ele não queria igualmente firmar-se mais como um vitorioso no mundo às avessas em que vivemos. E deixou-nos patente que seu interesse maior era fazer morrer o que Lhe restava de personalismo inferior, doando-se, por amor, incólume, à vontade de Deus. E de fato, sem a completa extinção do nosso ego inferior, sem a entrega confiante de nossa alma ­ao desejo do Pai, sem a não resistência ao mal, sem o perdão verdadeiro àqueles que nos maltratam e nos tiram a vida, sem a renúncia aos valores da animalidade, sem a oferta de nossa vida em prol do semelhante – ou seja, sem a vivência de um verdadeiro e supremo amor não nos libertaremos das malhas do relativismo onde nos demoramos. Portanto, sem dor, sem renúncia, sem sacrifício, sem perdão, sem doação ao outro e sem amor não há salvação. Por isso é imperativo subirmos todos pelo calvário da evolução, com nosso sacrifício e todo o empenho na superação do homem velho, que deve morrer na cruz para a libertação de nosso ser real na verdadeira vida eterna – a gloriosa ressurreição, no dizer de Emmanuel.

Portanto, a autorredenção faz-se imprescindível para a nossa salvação. Destarte vale insistir que ela não bastaria, como nos afirmaram as Sagradas Escrituras, para o resgate da matéria. Se Deus não agisse permanentemente em nosso imo, repitamos, como a força máxima de reconstrução, não nos salvaríamos. Entregues a nós mesmos, estaríamos detidos na inconsciência da matéria bruta, “mortos nos túmulos de pedra”, até os dias de hoje.

E entendemos ainda que Cristo, após o seu definitivo retorno ao Reino de Deus, fez-se essência imaculada. Unificado com Deus e fundido na substância da Lei, Ele então consubstancia a Terceira Pessoa da Divina Trindade, como pressupôs a velha Teologia cristã. Estando fora do tempo e do espaço, Ele agora participa da onisciência e da onipresença divina. Por amor a nós, contudo, permanece ao nosso lado, agindo no imo da alma humana como força reconstrutora e salvadora (Mt 18:20). Portanto, como fazem nossos sinceros amigos cristãos em todo o mundo, podemos enfim bater no peito e com a mais pura e intensa emoção proferir: Jesus é meu salvador!

Com todos esses novos conceitos podemos doravante melhor aceitar e colocar em prática todas as lições do Evangelho. As palavras do Cristo tomam novo e vigoroso significado. Entendemos afinal que o Messias veio à Terra efetivamente para nos salvar. Ele veio “resgatar o que estava perdido”, como afirmou (Mt 18:11). Ou seja, para reconduzir-nos, ovelhas perdidas, ao aprisco celeste (Mt 15:24, Lc 15:4). Compreendemos exatamente por que estamos distantes do Reino de Deus, que o divino Amigo, na oração dominical, suplicou para “vir até nós” (Mt 6:10). E recomendou-nos a reconquista desse Reino que perdemos, como o máximo objetivo de nossas vidas (Mt 6:36). Todo o empenho de nossa alma deve ser dirigido a esse esforço, como alguém que acha um tesouro de inestimável valor e tudo vende para adquiri-lo (Mt 13:44). Ora, se estivéssemos seguindo os passos normais de uma evolução natural em um mundo adequado e pretendido por Deus, não haveria por que Jesus recomendar-nos, com tanta ênfase, apartarmo-nos dos caminhos da carne e buscar afanosamente a verdadeira vida espiritual (Mt 6:33). Sem a interpretação da queda, Suas conjecturas, em sua maioria, tornam-se evasiva e não podem ser levadas a sério. Jamais compreenderíamos, por exemplo, por que Sua imensa compaixão por nossas dores levou-O a nos consolar, dizendo: “Não temas, ó pequeno rebanho, porquanto a Deus agrada dar-nos o reino” (Lc 12:32). Essas e todas as palavras eternas que o Messias nos deixou careceriam de sentido próprio. Portanto, não podemos mais negar que necessitamos, sim, de salvação. E sem a salvação pela graça, juntamente com o empenho na autorredenção, jamais retornaremos ao Pai.

Para grande consolo nosso, de posse desses novos conceitos chegamos à clara constatação de que nossa exaustiva caminhada evolutiva pelas veredas do relativismo, e o próprio universo relativo terão um fim. Nossa jornada terminará com o nosso definitivo retorno ao absoluto. O espaço sucumbirá com a extinção da matéria, o tempo expirará com a morte da energia, e o espírito sobreviverá para viver a eternidade no seio divino. Herdaremos então a perfeição absoluta e não a relativa, como havia pressuposto Kardec, pois somos genuínos filhos de Deus, e como tais, feitos de sua mesma e impecável natureza. Validamos assim a escatologia cristã e todas as suas previsões, pois “o céu e a terra passarão” e apenas os valores imponderáveis do espírito restarão da realidade que nos alberga (Mt 5:18 ). Esclarece-se agora o “fim dos tempos” a que se referiu Jesus, a morte da dimensão espaço-tempo, que um dia nasceu e, como tudo que nasce, deverá igualmente morrer. O conceito de ressurreição restitui o seu significado original.

Os estudiosos da doutrina espírita poderão negar essas afirmativas, uma vez que Kardec pressupôs a nossa evolução infinita e a existência ad aeternum de nosso universo. Todavia vale recordar que os próprios Espíritos, na questão 169 de O Livro dos Espíritos, exararam que “o progresso é quase infinito” – portanto não caminharemos eternamente pela aparentemente infinda estrada da evolução, mas nos fixaremos, enfim, no “fim dos tempos, como colunas inamovíveis no Templo de Deus”, como nos promete a palavra sagrada (Ap 3:12).

A cosmologia moderna, confirmando a escatologia cristã, já fixou o trágico fim do nosso universo na sua vertiginosa expansão rumo à exaustão absoluta de todas as suas energias, e até mesmo no decaimento do próton. Não existiremos, aqui, para todo o sempre e, como disse Ubaldi, sequer as paisagens do relativo sobreviverão para a eternidade, mas todo o nosso cosmo será espiritualizado, restituindo-se completas as potências do absoluto que o originaram, quando todos os registros da grande queda forem integralmente reabsorvidos pela evolução.

Compreendemos que Jesus deixou-nos, na maneira como se conduziu na Terra, o exemplo claro de como efetuarmos a nossa própria redenção. Como aceitar, porém, a peremptória afirmação do fundamentalismo cristão de que, com a Sua morte, Ele promoveu a redenção de nossos pecados? Podemos legitimar essa afirmativa que já se consagrou como um dos principais dogmas do cristianismo? O Evangelho não diz que “o Cordeiro de Deus tomou sobre si as nossas dores e morreu em nosso lugar na cruz”(Jo 1:29)? Poderia a morte de um justo pagar pelas faltas de outros? Como pode ser isso, se a própria justiça humana jamais concordaria em penalizar alguém por erros alheios? Seria um mistério pertinente a Deus e, portanto, algo que não podemos questionar, diz-nos a velha teologia cristã. Não obstante, insistimos: nossa razão considera um disparate conceber que a perfeita justiça divina possa funcionar de forma tão incoerente. Necessitamos de melhores explicações para tal afirmativa. Se na Idade Média esse pressuposto parecia conformar o coração humano, nos dias atuais, vê-se claramente que mais se serve como um obstáculo à plena aceitação do Evangelho. Com o auxílio de Ubaldi, aproximemo-nos da delicada questão, tentando esclarecê-la um pouco melhor.

Sabemos que o inconsciente humano traz em seus arcanos o registro arquetípico da queda do espírito. Isso o fez postar-se, desde os primórdios da razão, como um ser pecaminoso, sobretudo diante da Divindade. Exatamente por isso, ele cuidava de fazer oferendas aos seus deuses, a fim de aplacar suas pretensas iras. Interessado então em reduzir as suas penas, partindo do pressuposto de que ele era culpado de alguma coisa e havia ofendido a Divindade, ele depositava nos altares de seus templos o melhor de sua colheita.

Em muitas culturas antigas, entretanto, ele intentava ludibriar os deuses, sacrificando seres que considerava inocentes, para que o sangue derramado por estes, no lugar do seu, pudesse simular a pena que se julgava inconscientemente merecedor. Desse modo, ovelhas, pombos e até mesmo jovens virgens eram imolados, em macabros rituais, para que o homem se sentisse liberto de sua inevitável condenação.

Evidentemente, tais bárbaros costumes baseavam-se na mais precária concepção de Deus, compreendendo-O como um déspota, a quem a simples visão de sangue bastaria para dissuadir a impor ao homem os castigos que ele sempre se sentiu merecedor.

Assim, o psicologismo doentio do homem encontrou na morte de Cristo o perfeito sacrifício a Deus para a remissão de suas culpas. O sangue do mais puro dos homens, ou mesmo de um verdadeiro deus, seria então mais do que o bastante para que o Senhor desistisse de cobrar pelos nossos muitos pecados. Fizemos então de Jesus o “Cordeiro de Deus que tirar o pecado do mundo”, aplicando à Sua execrável morte nada mais do que mais um dos nossos sangrentos rituais aos pés do Criador. Atendia-se, desse modo, mesmo sem a clara noção do fato, aos apelos do inconsciente coletivo humano, onde o homem guarda a sua culpa de origem, oriunda da queda do espírito.

Ao analisar o fato, chegamos mesmo a suspeitar de que esse teria sido “o cálice” que Jesus pediu ao Pai lhe fosse afastado, no momento da crucificação. Ele já havia demonstrado a Sua clara disposição de se deixar imolar para nos dar o exemplo de como se deve agir diante do mal. Mas Ele não queria fazer-se o “Cordeiro da humanidade”, cuja morte seria erroneamente interpretada como a condenação de um justo que derrama o seu próprio sangue no lugar do nosso para se aplacar a condenação divina a que nos fazem jus. Naturalmente que o Mestre, profundo conhecedor do nosso infantil psicologismo, sabia que esse estranho e inadequado papel lhe seria imputado pela nossa história, iludindo-nos de que assim estaríamos isentos do próprio sacrifício em prol da nossa salvação.

Em suma, chegamos à conclusão de que não podemos aceitar que a morte de Jesus tenha redimido os nossos erros perante a Lei divina. Isso fere o que entendemos da justiça divina e do conceito que na atualidade detemos de Deus. Nossa consciência ferida somente será recomposta se seguirmos os exemplos do Cristo. Jamais pelo simples fato de um inocente ter sido condenado em nosso lugar.

Resta-nos, todavia, a pergunta: a salvação será infalível? Todos se salvarão? Será que Deus não respeitará a vontade do filho rebelde que não queira jamais retornar ao Seu aprisco? Ubaldi abordou a delicada questão e afere-nos que os mecanismos divinos de salvação são infalíveis. Utilizando-se da dor, da nostalgia pelos bens perdidos e do anseio pela perfeição, sentimentos que impregnam toda criatura caída por estigma de origem, a Lei conduzirá todas elas aos planos superiores do espírito. Fugindo do inferno da matéria e suas dores que inevitavelmente colorem as paisagens dos mundos inferiores, movido pelo natural instinto de felicidade, o ser não tem outro caminho que evoluir. Desse modo, diz Ubaldi, todos se salvarão. Nosso universo físico será completamente extinto, e não restará aqui um único átomo, afirma-nos o inspirado da Úmbria. Cristo já havia nos dado essa certeza ao proferir que “de suas ovelhas, nenhuma se perderá” (Jo 10:27-28). Entretanto, permanece como possibilidade teórica a dissolução definitiva do ser, caso ele não se predisponha ao sacrifício do ego inferior e almeje perpetuar eternamente a sua revolta contra a ordem divina e a negação do amor. Nesse caso, diz-nos Ubaldi, a substância divina que o individua poderá terminará por desfazer-se, pela intensa contração involutiva a que se exporá, fazendo-a retornar íntegra a sua fonte original, o seio de Deus. Uma vez que tal substância é indissolúvel, somente a sua individuação será desfeita. Imaginamos algo como o desfazimento da forma de uma estátua, porém não o desaparecimento da matéria que a compõe. Essa seria a real morte do ser, que Deus não quis, como nos informou o Cristo (Mt 16:28). Por isso, certamente, aferiu-nos o nosso Salvador que “se alguém guardar as Suas palavras jamais verá a morte” (Jo 8:51), e Paulo nos afirmou que “Deus nos ressuscitará pelo seu poder (I Coríntios 6:14).

Concluindo, vemos então que, retomando o conceito de salvação no mais elevado que nos favorece Ubaldi, chegamos à perfeita fusão de duas conceituações que conhecemos, a espírita e a cristã, conferindo-lhes inteira validade. Está certa a salvação consciente, apregoada pela doutrina de Kardec, a qual representa a nossa escolha pelo autoaprimoramento evolutivo; e corretíssima a salvação gratuita, aquela que opera na intimidade de nosso ser, orientando devidamente os nossos passos rumo ao Amor paterno que malbaratamos, conforme defendido pelos Textos bíblicos. A primeira traduz o nosso necessário empenho no bem e na realização de boas obras, a segunda aguarda nossa total confiança no socorro divino. O antagonismo entre o fundamentalismo cristão e a razão espírita desfaz-se ante a luz dessa nova concepção. Ambos acham-se fixados em verdades complementares. Agora, não obstante, podem dar-se as mãos na grande obra de redenção da humanidade.

Então são genuínos o fundamentalismo cristão, iluminado pelo fideísmo sentimentalista, e o racionalismo espírita, abrilhantado pela fé raciocinada. Deixemo-los em suas genuínas, porém parciais trilhas da verdade, até que a evolução os entrelace no abraço da verdade única, solvendo nossos atritos conceituais e reconduzindo-nos, juntos, ao Absoluto. Até lá, eximamo-nos de improfícuos atritos, pois nossas crenças são nitidamente complementares, jamais antagônicas, como as aparências de nossas relativas posições nos induzem a crer.

Sem a pretensão de nos fazermos porta-vozes da verdade absoluta, da qual nos achamos muito distantes, deixamos aqui o nosso esforço de conciliação entre a essência sagrada do Cristianismo primitivo e as modernas revelações assinaladas pela Codificação Espírita. A nenhum negamos o seu real valor, apenas não desejamos mais vê-los atirados em acirrados e improfícuos entrechoques de ideias. Estacionados na parcialidade, é possível compreender que eles não se acham em aparente contradição.

A ninguém queremos convencer, apenas anunciar que existe uma melhor maneira de se conciliar as verdades parciais que adotamos por sagradas. E o que atesta que uma verdade é parcial é o simples fato de ela admitir a sua exata contradição. Ora, toda premissa que suporta um antagonismo, não se acha completa, pois a verdade realmente absoluta somente pode ser aquela que engloba também a sua oposição. Esse é um interessante axioma deduzido por Niels Bohr, a partir das observações da fenomenologia quântica. Assim, a síntese genuína deve unir tese e antítese para se fazer lídima expressão da realidade. Logo, estejamos atentos, se nos encontramos imersos em uma arena de disputas ideológicas, é preciso humildemente considerar que nos achamos distantes do conhecimento absoluto e unitário – aquele que realmente não admite rivalidades, por englobar os seus opostos.

Sigamos adiante, na certeza de que somos seres em desenvolvimento e nossa ignorância é ainda imensa ante a extensão da complexidade fenomênica que habitamos. Se desejamos crescer rumo à verdade que liberta, como disse Jesus (Jo 8:32), urge abrirmo-nos à germinação dos novos conhecimentos que periodicamente são semeados em nosso campo íntimo, como a revelação que nos trouxe Ubaldi e outras que certamente continuarão chegando-nos do Plano Maior. Para isso, na lavoura do crescimento espiritual, por vezes é preciso deixar que nossos parciais entendimentos morram para dar lugar a novas e mais avançadas compreensões. Se a semeadura nos compete, lembremo-nos de que a germinação é da alçada do Senhor, que, zeloso, oferta sempre a cada um as florações de verdades que é capaz de suportar em seu particular momento evolutivo. Portanto, não nos apoquentemos com quem não pode ou não quer compreender. O tempo, em sua sabedoria, fará amadurecer os frutos de verdades que realmente nos convenha à necessária redenção.

Belo Horizonte, 4 de maio de 2009

Gilson Freire

Bibliografia

A BÍBLIA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1997.
KARDEC, Allan. A Gênese. 17a ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1975.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 10a ed. São Paulo: Lake, 1975.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 79a ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1997.
UBALDI, Pietro. A Grande Síntese. 21a ed. Campos dos Goytacazes: Ed. Instituto Pietro Ubaldi, 2001.
UBALDI, Pietro. Cristo. 2a ed. Campos dos Goytacazes: FUNDÁPU, 1985.
UBALDI, Pietro. Deus e Universo. 3a ed. Campos dos Goytacazes: FUNDÁPU, 1987.
UBALDI, Pietro. O Sistema. 2a ed. Campos dos Goytacazes: FUNDÁPU, 1984.
UBALDI, Pietro. Queda e Salvação. 2a ed. Campos dos Goytacazes: FUNDÁPU, 1984.

O que efetivamente nos salva?


O que efetivamente nos salva?

Paulo da Silva Neto Sobrinho
Apreensivo, chega o fervoroso crente, junto ao seu líder religioso, e pergunta: Pastor, o que acontecerá agora com meu pai, que acaba de morrer: ele irá para o céu ou para o inferno? Você sabe, era um criminoso de mão cheia, tendo, em sua vida, cometido vários crimes. Gostaria de saber qual é o destino dele, pois, apesar de tudo o que fez, acreditava em Jesus, tinha uma fé inabalável e nem mesmo o dízimo se omitiu de pagar.
O Pastor pensou um pouco, procurando encontrar, em seus conhecimentos bíblicos, uma explicação plausível. Passados alguns minutos, respondeu: Meu caríssimo irmão, na Bíblia existe uma passagem que diz: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie. (Ef 2, 8-9), portanto, pela palavra de Deus, ele irá para o céu, pois tinha fé e a fé é o que nos basta para salvar-nos.
Amém Pastor! Respondeu o consulente mais tranqüilo e certo que seu pai estaria no céu.
Lembramo-nos, imediatamente, do que disse o profeta Isaías: Quando vossos juízos se exercem sobre a terra, os habitantes do mundo aprendem a justiça. Porém, se se perdoar o ímpio, ele não aprenderá a justiça, na terra da retidão ele se entregará ao mal e não verá a majestade do Senhor. (Is 26, 9-10 – Bíblia Sagrada Ed. Ave Maria). O pensamento de que se deve repreender um criminoso, é tão claro que ficamos querendo saber porquê algumas pessoas não o entendem.
Procuramos esta passagem em outra Bíblia, foi por aí que começamos a entender, o porquê das divergentes interpretações. Vejamo-la na versão da SBTB, cuja tradução é a normalmente adotada pelas correntes protestantes: “Porque, havendo os teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça. Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça; até na terra da retidão ele pratica a iniqüidade, e não atenta para a majestade do SENHOR”. Aqui ter o entendimento igual ao que encontramos na anterior é realmente mais difícil, pois o pensamento está subentendido. Mas, embora varie na forma, o pensamento no fundo é o mesmo.
Se Deus deixasse de “castigar” um criminoso estaria pervertendo o juízo, isso não poderá acontecer: Porque, segundo a obra do homem, ele lhe paga; e faz a cada um segundo o seu caminho. Também, na verdade, Deus não procede impiamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo(Jó 34, 11-12).
Ainda não conseguimos entender porque as pessoas divergem tanto em relação à nossa salvação. Para uns basta ter fé, para outros é necessário praticar as boas obras, o que deixa muitas pessoas em dúvida, sem saber qual é mesmo a base da nossa salvação.
Um dos autores bíblicos mais utilizado para sustentar a questão da fé, como maneira de se salvar, é Paulo. Sabemos que este apóstolo não foi discípulo de Jesus, inclusive, no início do cristianismo, perseguia os cristãos, até que um dia teve um encontro com o espírito de Jesus na estrada de Damasco. A partir deste episódio, passa a se dedicar de corpo e alma à doutrina daquele que o questionara: Saulo, Saulo porque me persegues? (Atos 9, 4).
Assume a missão de divulgar o Evangelho entre os pagãos, daí o chamarem de Apóstolo dos gentios. Faz diversas viagens para divulgar a Boa Nova. São dele as principais cartas contidas no Novo Testamento, nas quais iremos buscar o seu pensamento a respeito desse assunto.
Depois iremos ver o que outras pessoas pensavam, principalmente Tiago, Pedro, João e, decisivamente, aquele a quem nenhum ensino poderá contradizer: JESUS.

Pensamento de Paulo

Devemos confessar que não é nada fácil entender Paulo, pois às vezes parece contraditório, já que em algumas oportunidades leva-nos a crer que a fé é que salva, ao passo que em outras dá-nos a idéia que são as obras, enfim, as coisas ficam realmente muito confusas. Até Pedro reclamava isso de Paulo, veja: É o que, aliás, ele ensina em todas as suas cartas. Nelas existem passagens de difícil compreensão; e existem pessoas ignorantes e inconstantes que lhes deformam o sentido, como aliás o fazem com outras partes das Escrituras, para a sua própria ruína”. Pedro está absolutamente correto em seupensamento, inclusive, o poderemos aplicar tranqüilamente aos dias de hoje, já que vemos pessoas “deformando o sentido das Escrituras. (2 Pedro 3, 26).
De início é bom colocarmos, a seguinte explicação:
O próprio Paulo não conheceu pessoalmente Jesus. O que ele fez foi a experiência do Cristo ressuscitado. Portanto, ao anunciar o Evangelho aos pagãos, foi preciso adaptá-lo à mentalidade dos ouvintes, respondendo às preocupações que eles tinham, conservado o que era essencial e deixando de lado o que não era importante”.[1] Isso é importante ter em mente, já que o apóstolo dos gentios usava linguagem adequada aos ouvintes, o que, em algumas situações, leva à aparente contradição no que fala.
Vejamos alguns trechos de Paulo, que colocaremos na ordem cronológica aceita pelos exegetas:
1 Tessalonicenses 1, 2-3: Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai,
Nesta primeira passagem que analisamos, observamos Paulo dar graças a Deus porque todos praticavam “obra da fé”, “trabalho do amor”, já deixando-nos mais seguros quanto ao seu pensamento a respeito do que irá nos salvar.
1 Coríntios 13, 1-13: Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
Fica claro que Paulo prega o amor acima de tudo. Explicam: À diferença do amor passional e egoísta, a caridade (agape) é um amor de dileção, que quer o bem do próximo (Bíblia de Jerusalém). Ainda encontramos: Amor. A palavra grega é agape. Agape é mais que afeição mútua; expressa a valorização altruísta no objeto amado (Bíblia Anotada).
Nessa passagem está óbvio que o amor (caridade) é maior que a fé, embora não quer dizer que não necessitamos da fé, pelo contrário é por termos fé que praticamos a caridade.
2 Coríntios 5, 10: Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.
O Apóstolo Paulo volta a falar novamente sobre o “a cada um segundo suas obras”, reafirmando o seu pensamento.
Gálatas 2, 16: Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela  em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela  em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.
Vejamos o que Paulo diz a respeito de não ser justificado pelas obras. Afinal, de que obras ele fala? Trata-se das obras da Lei, ou seja, Lei de Moisés. Ela, depois do advento de Jesus, não poderá servir como base de salvação para os que se dizem cristãos. Devemos, pelos nossos atos, ser justificados, ou seja, tornaremos justos, pela fé em Cristo. Mas voltamos a dizer, não fé estática, só pela fé operante. Também João percebeu isso: Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. (João 1, 17).
Esta passagem merece ser completada pelo estudo que L. Palhano Jr faz em seu livro “Aos Gálatas – A Carta da Redenção”. Diz Palhano:
Para compreendermos melhor o texto acima, é preciso meditar e entrar no verdadeiro significado das expressões: ‘justificado’, ‘obras da lei’, ‘fé’ e ‘carne’. É o que pretendemos fazer a seguir. O verbo empregado na epístola para justificado é dikaicó, característico de Paulo e tãoempregado por ele, que é preciso entendê-lo de modo correto. Na margem da Revised Standard Version of Bible, o termo é traduzido como “tido por justo”, isto é, considerado justo ou aprovado aos olhos de Deus; e o ponto a ser decidido era a maneira pela qual o indivíduo alcançaria uma posição aceitável diante de Deus (Guthrie, D. Gálatas, introdução e comentários, São Paulo, Vida Nova, 1984, p. 107)”.
“Vamos agora à expressão ‘obras da lei’. Talvez devêssemos fazer aqui um parêntese para um estudo pormenorizado sobre essa expressão, mas não o faremos; acrescentá-lo-emos mais tarde ou em um apêndice. Por ora, vamos apenas destacar, sem mais delongas, o seu significado correto. A expressão grega ex ergon nomou tem sido traduzida para o português como “pelas obras da lei”, contudo pela proposta de Tenney (Tenney, M. C. Galatian: the charter of christiam liberty. Michigan, Eerdmans Publishing, 1950, p. 194), uma tradução mais exata seria “por obra legais”, issoporque a palavra ‘lei’ foi usada sem o artigo definido, principalmente em certas frases escolhidas que transmitem significações especializadas. A ausência do artigo usualmente significa que a qualidade do conceito escolhido é salientado, em lugar da sua identidade, embora em Gálatas e em outras epístolas, Paulo se refira à “lei mosaica” como a principal concretização do conceito. Em Roberton (Robertons, A. T. A grammar of the greek new Testament in the light of historical research, 3ª edição. New York, George H. Doran Co. 1919, p. 796) podemos ler claramente que, “emgeral, quando nomos é indefinido em Paulo, refere-se à lei mosaica”, por conseqüente, ‘lei’, nessas instâncias, é um termo que se refere ao sistema de pensamento ou ao código de ação envolvido, em lugar de qualquer documento particular. É evidente então que Paulo estava se referindo não a que o indivíduo ‘não seria justificado por suas obras, mas sim, não seria justificado pelas obras da legalidade religiosa’, isto é, pelo cumprimento das formalidades preconizadas por códigos religiosos como ‘rituais’, ‘festas’, ‘cerimoniais’, ‘dogmas’, ou quaisquer exigências tais como ‘dízimos’, guardar os ‘sábados’, coisas deste tipo, mais que seria justificado ‘pela  em Jesus Cristo’”.
“Para um conceito mais científico de fé, podemos dizer que ela é a capacidade de sintonizar-se com Deus (Jesus Cristo, no caso, o representa) e, para isso, é preciso reconhecer a sua paternidade divina, amando-o sobre todas as coisas (Mt 22, 37) e realizar a sua vontade, amando o próximocomo a si mesmo (Mt 22, 39). Como ensinou Jesus, aí estão toda a lei e os profetas. É óbvio que essa fé tem que vir acompanhada de obras que a testifiquem; ter   por ter de nada adianta. Dizer que crê em Cristo não salva ninguém, mesmo batendo no peito, porquanto”:
... a quem pensar que a fé por si só é suficiente, sou levado a dizer: Acreditais na existência de Deus? No inferno, os demônios também acreditam e, no entanto, estremecem. Porventura ainda não vê, ó homem sem percepção, que a fé sem obras é inútil e morta? (Tg 2, 19 e 20)”.
(...).
“Quanto à expressão ‘carne’ (grego sarx), ela quer dizer “ninguém, nenhuma pessoa viva”, será justificado “pelas obras da lei”. Trata-se de uma sinédoque, uma figura de linguagem comum da vida diária, como ‘cérebros’ em lugar de eruditos, ‘cabeças’ em lugar de gado e ‘vapor’ em lugar de navio. Temos assim as chaves da interpretação do versículo 2, 16. Ele é muito importante para o entendimento da proposta de Paulo, não entendida ou distorcida pelos ditos ‘doutos das igrejas’. Vamos concluir o estudo desse versículo, traduzindo-o para uma linguagem mais atual, que nosmostra como ele deve ser entendido”:
“Sabemos que o homem não é considerado justo nem aprovado por Deus pelo seu desempenho nas formalidades prescritas na lei, mas pela  operante em Jesus Cristo. Nós próprios somos reconhecidos justos pela nossa fé e não pela obediência ao estipulado como lei, por reconhecermos que ninguém pode salvar-se apenas por praticar liturgias (obras da lei)”. (grifos do original).
Gálatas 5, 4-6: Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído, Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça. Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.
A expressão “a fé que opera pelo amor”, dá-nos a verdadeira idéia de Paulo a respeito do amor. Conforme dissemos anteriormente, é o amor que faz a fé ser operante, não é, portanto, uma fé no sentido de somente se crer.
Gálatas 5, 14: Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
Não foi isso exatamente que Jesus disse, acrescentado que toda a Lei e os profetas se achavam contidos nesse mandamento.
Gálatas 6, 2: Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.
Levar a carga uns dos outros não é a ação na caridade por amor ao próximo? Não é assim, que conforme Paulo, estaremos cumprindo a lei do Cristo? Não são, portanto, das obras que fala? Com isso, fica difícil querer argumentar que é a fé que salva, não é mesmo?
Gálatas 6, 7-9: Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.
É o que chamamos de Lei de Ação e Reação, vulgarmente denominada Carma. Não há como se iludir, tudo o que fizermos voltará contra nós ou a nosso favor. Se semearmos ódio, colheremos exatamente o ódio, se ao contrário, plantarmos amor; ceifaremos amor. Por isso, Paulo adverte para não nos cansarmos de fazer o bem, pois na colheita é isso que iremos colher.
Romanos 2, 5-8: Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; o qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade;
Nessa passagem não existe dúvida alguma no que diz Paulo sobre o juízo de Deus, que: “recompensará cada um segundo as suas obras”. Aqui não contradiz o que Jesus colocou, conforme iremos verificar posteriormente.
Romanos 2, 9-11: Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.
A recompensa é tribulação e angústia para quem faz o mal; glória, honra e paz para quem pratica o bem. Ora, isso só pode ocorrer pela ação do homem, ou seja, por suas próprias obras, o que podemos confirmar pela passagem imediatamente anterior. E para os que dizem serem os únicos salvos, ou os que se julgam a “religião eleita”, podemos acrescentar: “Deus não faz acepção de pessoas”. Assim, perguntamos de onde tiraram essa idéia absurda de que Deus estabelece qualquer tipo de privilégio?
Romanos 2, 13: Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
Novamente estamos diante de um pensamento que não deixa margem a qualquer tipo de dúvida. Os que praticam a lei é que hão de ser justificados, não os que somente a ouvem. A prática é mais importante que a fé. Como se pratica a lei? Fazendo o bem ao próximo.
Romanos 3, 21-28: Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; isto é, a justiça de Deus pela  em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que homem é justificado pela  sem as obras da lei.
Paulo combatia veementemente os judeus judaizantes, que queriam de qualquer forma fazer com que os novos convertidos ao Evangelho, que ele chama de fé em Jesus Cristo, praticassem as exigências da Lei, ou seja, obras da Lei. A circuncisão, por exemplo, foi motivo de grandes controvérsias no cristianismo primitivo. Alguns queriam que os neófitos fossem circuncidados, conforme determina a Lei de Moisés, entretanto, outros como Paulo, achavam que não havia a mínima necessidade, já que a “graça” de Deus por meio de Jesus era superior às leis mosaicas. Assim, ao dizer que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei, está querendo dizer que o homem se torna justo ao aderir ao Evangelho de Jesus, não sendo mais necessário cumprir as “obras da Lei”, ou seja, a legislação mosaica. Deixando bem claro, que não está pregando a fé inoperante como supõem alguns, mas a fé demonstrada pelas ações a favor do próximo. Visto dessa forma não contraria nada do que disse e que já analisamos em itens anteriores.
Romanos 8, 28-30: E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.
Encontramos a seguinte explicação: “O projeto eterno de Deus é predestinar, chamar, tornar justo e glorificar a cada um e a todos os homens, fazendo com que todos se tornem imagem do seu Filho e reúnam como a grande família de Deus. O projeto não exclui ninguém. Mas o homem é livre: pode aceitar ou recusar tal projeto, pode escolher a vida ou a morte, salvar-se ou condenar-se” (Bíblia Sagrada, Ed. Pastoral, em nota de rodapé).
Veja bem, a questão da predestinação para sermos à imagem de Jesus. O que poderíamos dizer em outras palavras: Pela vontade de Deus todos nós estaremos um dia na mesma evolução que Jesus. Seremos justificados em Jesus, quando aplicarmos, no dia-a-dia, os seus ensinamentos sintetizados no amor incondicional.
Romanos 10, 4- Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Ora Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas. Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.) Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo.
Se perdermos de vista o que Paulo disse anteriormente, poderemos concluir que agora ele prega a fé. Mas, ainda aqui, ele trata da questão de Deus não fazer acepção das pessoas, que todo aquele que invocar o nome de Jesus será salvo. Quem crê realmente em Jesus deve praticar o que ele ensinou, caso contrário a crença é completamente inútil. Talvez pelo público alvo, Paulo não quis dizer mais a fim de completar o que realmente pensa. Para eles o fato extraordinário de Jesus ter ressuscitado dos mortos, era mais uma certeza que Deus não estava abandonando o seu povo. Jesus iria continuar orientando, como ainda faz, a todas as criaturas para que, na prática do Evangelho, todos possam se salvar. Iremos ver posteriormente a salvação segundo Jesus, para não termos mais dúvidas sobre o que nos salva.
Romanos 13, 8-11: A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor. E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.
Veja que agora Paulo está completamente de acordo com os ensinamentos de Jesus. E observe a afirmativa de que o cumprimento da lei é o amor. Amor a todos e de tal forma que não conseguiremos ficar inertes ao vermos um irmão necessitado, imediatamente entraremos em ação e o ajudaremos naquilo que precisa. E se Paulo pregasse que somente a fé é que salva, não teria dito: a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. Aceitar a fé é pouco, necessário praticar, pois só assim demonstraremos que amamos o próximo como a nós mesmos.
Efésios 1, 3-4: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor.
Tornar santo e irrepreensível diante de Cristo em amor é, segundo a máxima que nos deixou, que devemos “amar ao próximo como a nós mesmos”. Ora, quem ama ao próximo lhe presta auxílio todas as vezes que for necessário. Esse ato de caridade é realizado porque se tem muito amor.
Efésios 2, 8-9: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.
Chegamos na passagem citada no início, colocada em nossa história. É comum vermos essa citação somente até o versículo nove, sem que coloquem o complemento (v. 10) que é importante para o entendimento da passagem: Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quaisDeus preparou para que andássemos nelas.
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé”, ou seja, o amor de Deus faz com que sejamos salvos. Na visão Espírita isso é mais claro, pois o amor de Deus nos arrasta a Ele, vamos assim dizer, de tal sorte que a nossa única escolha é se iremos devagar ou se iremos depressa. “Salvos por meio da fé”, é fazermos o que determina Jesus em seu Evangelho de Jesus, principalmente o “amar ao próximo como a nós mesmos”. Isso é um dom de Deus, porque por sua exclusiva vontade Ele quer que sigamos os exemplos de Jesus, que nos enviou para servir de modelo e guia.
Se somos criados em Jesus Cristo é porque é o desejo de Deus que andemos nas boas obras, já que nos predestinou exatamente para isso. Não foram as boas obras que praticou o tempo todo que esteve aqui na Terra encarnado?
Colossenses 3, 12-14: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.
Paulo entendeu muito bem, o ensinamento de Jesus, deixando-o mais claro ainda, aquele em que diz: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”. (Mateus 5, 48). Amor operante. Nada de só crer e achar que com isso está tudo bem.
Colossenses 3, 15-17: E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.
Colocamos essa passagem para completar o pensamento de Paulo na anterior.
A expressão “para a qual também fostes chamados em um corpo”, estaria implícita a preexistência do espírito? Particularmente pensamos que sim, pois se fomos chamados em um corpo é porque vivemos sem ele. Seria o mesmo que dizer que fomos chamados a viver num corpo.
Deseja Paulo que a palavra de Cristo habite em nós abundantemente, em toda a sabedoria, ou seja, que possamos entender tudo o que ele nos ensinou mostrando isso na prática do dia-a-dia. A plenitude do amor em nós seria a completa aplicação dos ensinamentos de Jesus, seria então o “vínculo da perfeição”.
1 Timóteo 2, 1-4: Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
Paulo exorta a Timóteo a praticar boas obras a favor de todos: amor altruísta! Perguntamos: Se Deus quer que todos os homens se salvem, quem poderá ser contra a vontade de Deus?

Pensamento de Tiago (irmão do Senhor)

Foi Tiago que dirigiu a Igreja de Jerusalém. Sua decisão prevaleceu na primeira divergência entre os cristãos, no chamado Concílio de Jerusalém, ano 49 d.C, sobre a questão da circuncisão. Exercia uma forte liderança, muito maior que a de Pedro tido como o primeiro Papa. As correntes religiosas se divergem quanto ao grau de parentesco de Tiago com Jesus. Os católicos colocam-no como primo, já que o termo irmão, segundo eles, servia para designar também primo. Os protestantes já o têm como meio irmão de Jesus. Entretanto ao usarem desse mesmo termo para designar alguns dos discípulos que eram irmãos, não dizem que eram primos.
Mateus (13, 44-56), narra: Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto? Não temos dúvida que eram mesmo irmãos de Jesus, até mesmo porque a cultura da época exigia da mulher muitos filhos, caso contrário não era uma boa esposa. Se isso estiver correto, é mais uma forte razão, para vermos que o pensamento de Tiago condiz com o de Jesus.
Tiago 1, 22-27: E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seucoração, a religião desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.
Prática das obras ou fé? Não deixa margem para alguma dúvida: “cumpridores da palavra”. Essa colocação de Tiago é muito interessante: “A religião pura e imaculada para com Deus é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”, ou seja, prática do amor ao próximo pela realização dos atos de caridade.
Tiago 2, 8: Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis.
Este pensamento é igual ao de Paulo, e corresponde ao que Jesus ensinou. Onde está dito alguma coisa sobre fé?
Tiago 2, 14-17: Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Ao terminar dizendo que mostrarei a minha fé pelas minhas obras, Tiago traz o conceito que falamos anteriormente, quando falávamos do pensamento de Paulo de ser uma fé operante. Quem tem fé deve mostrá-la com as obras que realiza. Que adianta ter fé se o irmão ao seu lado passa fome? É o questionamento incontestável de Tiago para os que dizem que apenas a fé é que salva.
Tiago 2, 21-23: Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
Para provar que são as obras é a base para a justificação, Tiago nos dá o exemplo de Abraão. Mostra que a fé é aperfeiçoada pelas obras.
Tiago 2, 26: Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.
Não há o que contestar a clareza desse pensamento. É tão claro e objetivo, que não entendemos porque as pessoas ainda têm a coragem de dizer que é a fé que salva.

Pensamento de Pedro

Como discípulo de Jesus, inclusive, aceito por alguns como sendo o primeiro Papa, devia conhecer mais profundamente os ensinamentos do Mestre.
1 Pedro 1, 17: E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação.
Encontramos novamente a expressão que o julgamento será “segundo a obra de cada um”, reafirmando o pensamento de todos no cristianismo primitivo. Os homens, infelizmente, deturparam os ensinamentos de Jesus, para sua própria perdição. Também confirma que Deus não faz acepção de pessoas, ou seja, não há privilégios junto a justiça divina.
1 Pedro 3, 8-12: E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que porherança alcanceis a bênção. Porque Quem quer amar a vida, E ver os dias bons, Refreie a sua língua do mal, E os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; Busque a paz, e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, E os seus ouvidos atentos às suas orações; Mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.
Recomendações que já ouvimos, só que com outras palavras, de Paulo e Tiago. Tudo isso também condiz com os ensinamentos de Jesus.
1 Pedro 4, 7-11: Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém.
Agora fica mais clara a questão do amor corresponder ao sentimento de caridade para com o próximo. Fechando: “A caridade cobre uma multidão de pecados”, é por isso que o lema do Espiritismo é: “Fora da caridade não há salvação”.
2 Pedro 1, 2-10: Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor; visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo. E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quemnão há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis.
Acompanhando o raciocínio de Pedro veremos que ele coloca a caridade entre as coisas importantes que devemos acrescentar à nossa fé. Dizendo, ao final, que quem não possui essas coisas é cego, ou seja, não entendeu nada do ensinamento de Cristo, são, portanto: “ociosos e estéreis no conhecimento de Cristo”. Fechando magistralmente seu pensamento.

Pensamento de João

João o discípulo que Jesus mais amava, conhecia, portanto seus ensinamentos.
1 João 3, 17-18: Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.
Nem precisamos dizer mais nada, tão óbvio que fica a questão do amor expresso em obras.

Pensamento de Jesus

Devemos ter sempre em mente que o discípulo não pode ser superior ao mestre, conforme nos alerta Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. (João 13, 16).
Mateus 7, 21-29: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda. E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas.
Muitos religiosos ainda dizem que as pessoas estão salvas por pertencerem a determinada Igreja ou por ter fé, ou por crer em Jesus como salvador, etc., entretanto, parecem que fazem vistas grossas à essa passagem da Bíblia. Quem não praticar os ensinos de Jesus, não receberá recompensa alguma.
Mateus 16, 27: Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.
Como já prevíamos anteriormente a salvação para Jesus está nas obras, já que cada um será julgado pelas suas obras. E ainda existem pessoas querendo contradizer Jesus, dizendo que é a fé que salva, embora muitos deles, na prática diária, fazem do dízimo o instrumento da salvação.
Mateus 19, 16-23: E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.
Nessa passagem fica nítida a questão da prática da caridade. O jovem rico tinha fé e cumpria todas as outras determinações religiosas, entretanto não se preocupava com os necessitados. Daí Jesus recomendar-lhe vender tudo e doar aos pobres para ter um tesouro no céu. Apegado demais aos bens terrenos o jovem foi-se embora triste.
Mateus 25, 31-46: E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quandote vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vidaeterna.
Essa passagem que simboliza o dia do juízo, dia que devemos prestar contas a Deus de tudo o que fizemos. Quem foi para a direita de Deus (bom lugar) foram os de fé ou os que fizeram obras? As obras exemplificadas são: dar de comer aos famintos, vestir os nus, dar água a quem tem sede, hospedar os viajantes, visitar os doentes e os prisioneiros, tudo isso são atos de amor ao próximo.
No simbolismo, a separação dos bons dos maus é pela fé de cada um? Pela religião? Ou pelas obras praticadas a favor do próximo? Repetimos: “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO”.
Lucas 10, 25-37: E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; e, partindo no outro dia, tirou doisdinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.
Essa parábola do Bom Samaritano é por demais conhecida de todos. Somente por ela já poderíamos saber o que nos salva. O sacerdote representa todos os líderes religiosos preocupados consigo mesmo sem nenhum sentimento de amor ao próximo. No levita poderemos identificar todas as pessoas ligadas a uma determinada religião, que apesar de possuírem alguém que os ensine o que fazer, não fazem absolutamente nada a favor do próximo. São ambos, sacerdote e levita, egoístas como muitos crentes nos dias de hoje.
O samaritano era considerado herege, pelos religiosos que passaram a passos largos diante do homem caído à beira da estrada, entretanto é o exemplo dele que Jesus recomenda seguir. Foi justamente este bondoso samaritano que, com obras, provou que tinha mais fé que os outros dois. Ele deveria ser um ponto de referência para determinadas pessoas que vivem a criticar a crença dos outros. Fiquem certos, de uma vez por todas, que para Deus somente será justificado quem praticar a lei de amor, lembre-se “A Deus ninguém engana”.

Conclusão

Muitas pessoas insistem em pegar frases soltas da Bíblia para tentarem justificar seus pensamentos. Ora, não há como afastar a frase do seu contexto imediato, e de todo o conjunto da Bíblia.
Aos que querem isolar passagens, em Deuteronômio 28, 30, temos uma para exemplo:
Desposar-te-ás com uma mulher, porém outro homem dormirá com ela; edificarás uma casa, porém não morarás nela; plantarás uma vinha, porém não aproveitarás o seu fruto.
Veja que ela fora do contexto é uma coisa absurda que Deus se propõe a fazer. Entretanto, dentro do contexto é apenas uma ameaça que Deus está fazendo, vejamos no versículo 15 o início da narrativa:
Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:
O que vemos então? É pura e simplesmente “Deus” dizendo ao povo hebreu que se não guardasse os seus mandamentos Ele iria aplicar várias maldições, entre elas a do versículo 30 que escolhemos para exemplo.
Essa narrativa, diga-se de passagem, está confirmando que não existe inferno, pois se ele fosse real como querem alguns, “Deus” teria dito: “se não cumprirem meus mandamentos irão para o fogo do inferno”. Até mesmo porque: Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca. (Mateus 18, 14). Se é vontade de Deus que ninguém se perca, ninguém se perderá e pronto.
E, finalizando, colocaremos essa frase de Jesus: Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. (João 14, 10-12).
Veja bem, as obras que Jesus faz não vem dele, mas do Pai, e ele afirma que podemos fazer essas mesmas obras e até maiores, nos dá a certeza que as obras que fazemos serão para cumprir a vontade de Deus. Mas quais são as obras de Jesus? No tempo que passou junto de nós, curou enfermos, deu vista a cegos, curou paralíticos, libertou pessoas de espíritos maus, enfim somente obras de amor, o amor operante de que já falamos por várias vezes.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Fev/2003.

Bibliografia:

Bíblia em Bytes - Shammah - O texto usado na versão Shammah possui autorização e é de "Almeida, Corrigida e Fiel - ACF", de propriedade da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil – SBTB; Aos Gálatas – a carta da redenção, L. Palhano Jr., Publicações Lachâtre, Niterói, RJ, 1ª edição, 1999; BíbliaSagrada, Editora Ave Maria, São Paulo, SP, 68ª edição, 1989 e Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, SP, 43ª edição, 2001.

[1] Bíblia Pastoral, pág. 1438.