terça-feira, 22 de maio de 2012

Os Complexos, a Psicologia e o Espiritismo


Os Complexos, a Psicologia e o Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório
O termo complexo foi cunhado por Jung para designar estados afetivos recalcados. Freud, por exemplo, louva de tal modo o complexo de Édipo, que o coloca como o complexo dos complexos. Depois de Freud, os psicólogos inventaram um sem-número de complexos, desfigurando o seu sentido específico. Na linguagem corrente, toma o significado de qualquer coisa negativa: "ter complexos", quando alguém está frustrado ou traumatizado. Fala-se, também, em "estar sem complexos", quando uma pessoa atua desembaraçadamente.
Na amplitude do termo, os psicólogos enquadraram os complexos sob a rubrica grandes complexos. Eles são: complexo de abandono, de rivalidade fraterna, de insegurança, de castração, de culpa e deinferioridade. Os psicólogos detalharam cada um desses complexos; basta consultar os livros de psicologia. Eles têm, contudo, um elemento norteador, ou seja, os automatismos do inconsciente.
Ao lado dos grandes complexos, há os da vida cotidiana, que se expressam na relação entre marido e mulher, chefes e subordinados, pai e filho. À dificuldade encontrada, criamos um tipo de complexo. Tomemos a frase: "você está muito gordo". Dela podem surgir os seguintes pensamentos: "minha namorada não vai mais gostar de mim", "o meu chefe pode me despedir", "vou ter problemas cardíacos", e, assim por diante.
Podemos nos desvencilhar dos nossos complexos? A possibilidade existe, mas só o faremos se tomarmos consciência de que temos complexos. Como, na maioria das vezes, agimos de conformidade com os nossos hábitos, não os percebemos de imediato. A tentativa de eliminar um determinado complexo ocorre geralmente depois de uma insatisfação interior, um mal-estar com o referido complexo. É algo que não víamos e, se não fosse a insatisfação, poderíamos morrer com ele.
Mesmo detectado, o complexo permanece por longo tempo. Nesse caso, há uma inutilidade do esforço direto da vontade. Os conselheiros dizem: "reaja", "não se deixe dominar", "faça um esforço hercúleo" "nunca desista". Estas frases podem ser vãs, pois a pessoa complexada pode pensar: "é mais forte do que eu". Além do mais, deve-se ter em mente que um reflexo condicionado, repetidos por anos e anos, não nos deixa com facilidade.
Segundo a Doutrina Espírita, o Espírito, criado simples e ignorante, foi, ao longo do tempo, automatizando os seus hábitos e atitudes. É por isso que os mentores espirituais estão sempre repetindo frases, pensamentos, admoestações sobre a mudança de comportamento, pois conhecem a dificuldade de uma transformação brusca, em que se passa de homem a anjo. O enfrentamento do problema, contudo, pode ser auxiliado pelas preces, pela leitura evangélica e pelo estudo dos livros da codificação.
O Espiritismo é o consolador prometido por Jesus. Saibamos captar essas consolações, venham de onde vierem.
Fonte de Consulta
MUCCHIELLI, Roger. Os Complexos. Tradução de J. Kosinski de Cavalcanti. Rio de Janeiro: Difel, 1977
São Paulo, maio de 2010

Os Complexos

"O senso comum utiliza-se bastante do termo “complexo” para se referir a complexo de inferioridade, de superioridade e outros mais que se referem de forma equivocada a este termo introduzido por Jung. Os complexos foram descobertos por ele durante seus experimentos com associações. Jung começou a perceber que algumas palavras indutoras provocavam reações perturbadoras que revelavam o contato com conteúdos emocionais ocultos e são estes conteúdos que Jung denominou “complexos”. Os complexos são agrupamentos de conteúdos psíquicos carregados de afetividade que estabelecem associações com outros elementos, formando unidades vivas que possuem existência autônoma e que atraem todos os fenômenos psíquicos que ocorram ao alcance de seu campo de ação. O complexo interfere na vida consciente, envolvendo-nos em situações contraditórias, provocando lapsos e gafes, perturbando a memória, arquitetando sonhos e sintomas neuróticos.

A causa mais freqüente da origem dos complexos são os conflitos, mas choques e traumas emocionais também são suficientes para sua formação. O bem-estar ou mal-estar da vida de cada pessoa depende dos complexos, que têm maior ou menor autonomia, dependendo da conexão maior ou menor com a totalidade da organização psíquica. Apesar do mal-estar que os complexos podem causar, a psicologia junguiana não os consideram como elementos patológicos, mas como sinal de conteúdos conflitivos que não foram assimilados. Os complexos podem ainda significar uma nova possibilidade de atuação, podem funcionar como um estímulo para que o indivíduo se esforce mais para sua própria realização. A patologia só aparece quando os complexos exigem uma quantidade muito grande de energia psíquica para si. Para que um complexo seja assimilado é necessário que o indivíduo compreenda os conflitos em termos intelectuais, mas que também exteriorize os afetos envolvidos, através de descargas emocionais que eram realizadas pelos antigos através de danças e cantos repetidos. Mesmo em bibliografias do próprio Jung, o conceito de complexo pode aparecer de forma diferenciada, porque, afinal, é mais uma complexidade da psique humana que está sendo estudada incessantemente. "


Autoria: Narumi Pereira Venturi
http://www.coladaweb.com/psicologia/os-complexos

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Individuação, um desafio para o Ego




:: Elisabeth Cavalcante :: 
Carl Gustav Jung definiu como individuação o processo pelo qual o ser humano chega ao autoconhecimento, e é levado a estabelecer contato com o seu inconsciente, não só com o inconsciente pessoal (integrando as sombras), mas também como o seu inconsciente coletivo.

Nessa integração, o que se faz é sempre a separação do que é consciente daquilo que é não consciente. Para integração dos arquétipos torna-se necessário fazer essa distinção, caso contrário os conflitos continuam ou se intensificam.
O objetivo desse processo ou sua etapa final é a chegada ao self, ao centro da personalidade. Quando chega a esse centro, o ser humano realiza-se como individualidade, como personalidade.

O self, que se apresenta como um projeto desde o início de nossa vida, é o modelo do ser humano completo, a matriz de todo progresso do ser, o padrão segundo o qual se desenvolvem as características de individualidade de cada um. Sua apresentação desde o início da vida se realiza através dos sonhos de crianças, sonhos em que aparecem imagens arquetípicas desse centro, ou seja, os símbolos do self.

A chegada ao self é, muitas vezes, precedida por angústia, ou por muita ansiedade, uma ansiedade à qual todo terapeuta deve estar atento. Essa ansiedade está associada à aquisição de uma maior consciência de si próprio, que o indivíduo está atingindo.
Aquele que ouve e dá atenção à grande tensão interior que precede o processo do autoconhecimento, terá a chance de alcançar as profundezas do seu ser, e integrar a vivência dos arquétipos de forma consciente.

A individuação geralmente é desenvolvida dentro de um processo terapêutico, mas também pode acontecer de forma natural. Não é impossível que alguns cheguem a realizá-la sozinhos. São Nicolau, na Idade Média, teve as visões do deus e da deusa, elaborou uma mandala (símbolo iconográfico do self) e trabalhou com o inconsciente coletivo sem auxílio.

Do mesmo modo, muitos outros homens altamente significativos para seu tempo chegaram a uma personalidade que nos parece completa, sozinhos, para o que é necessária uma ampla e intensa vivência interior.
Jung também chegou a se individualizar sozinho, mas através da psicoterapia junguiana, que ele mesmo descobriu, um método que foi experimentando consigo mesmo de forma totalmente intuitiva, sem que ninguém lhe tivesse ensinado.

A chave nesse processo é jamais ignorar os sentimentos, enfrentar as angústias, os medos e as dificuldades com coragem, buscando a raiz, a fonte de onde se originam tais problemas. Este processo de investigação interior pode se feito através de vários instrumentos como a terapia psicológica, que pode incluir a regressão psicológica à infância, (ou até mesmo à fase uterina), a consulta aos oráculos como forma de trazer à tona os conteúdos inconscientes, a meditação, processo pelo qual se realiza a conexão com o Eu Superior, aquela dimensão do ser que transcende o ego, que tudo sabe e compreende, pois é onde reside a sabedoria divina em nós.

Apesar de doloroso, o processo de individuação, é o que nos libertará de uma vida massificada, totalmente dominada pelo ego, em que seguimos o pensamento da maioria sem qualquer escolha pessoal. A tomada de consciência é essencial, mas não é tudo, ela nos torna mais responsáveis por nós mesmos e por nossos atos, e a partir daí cabe a cada um decidir se vai ou não aceitar essa responsabilidade.

Atingir o self, não significa chegar à perfeição, mas sim ter uma visão realista de si mesmo, e o entendimento de que o progresso interior é algo a ser trabalhado durante toda a vida, pois novos desafios surgirão o tempo todo durante nossa existência.
Porém, uma personalidade integrada enfrentará esses desafios com muito mais coragem, discernimento, equilíbrio e serenidade.

Entrevista com Djalma Argollo



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Djalma ArgolloDjalma tem 53 anos de trabalho no movimento Espírita; fundador e presidente do Amar- Sociedade de Estudos Espíritas – AMAR-SE,.Publicou 21 livros em prol do movimento Espírita, palestrante Internacional, bacharel em Ciências e Estatísticas e Analista de Sistemas de Dados, terapeuta Junguiano com sua clínica em Salvador/ Bahia. Promove cursos e workshops em todo o país. Djalma participa e acompanha o crecimento dos trabalhos do KSSF desde seu início, dando palestras e fazendo parte de várias atividades da casa em suas visitas a Florida, Estados Unidos.
Leia a biografia completa de Djalma. Click aqui.
Leia a seguir entrevista com Djalma Argollo falando sobre seu mais recente livro "Desenvolvimento Pessoal - Uma Proposta de Individuação":
1-No seus anos de experiência com o trabalho terapêutico, como você faz a ligação entre a Psicologia e o Espiritismo?
R. Se nós observarmos bem Espiritismo e a Psicoterapia, eles tem uma ligação muito forte. A Psicoterapia ajuda a alma das pessoas e o Espiritismo não so estuda como também auxilia a alma. Kardec deu como sub-título da Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos. Na minha visão a Psicoterapia e o Espiritismo se completam por que o Espiritismo dá um embasamento teórico e profundo do ser, e a psicoterapia as ferramentas necessárias para auxiliar os indivíduos a realizarem a metanóia, ou seja,  uma reforma íntima.
2- O que o motivou a escrever sobre o tema Desenvolvimento Pessoal?
R. A minha experiência como terapeuta, por que eu percebi que as pessoas não tinham uma idéia exata do que significa transformação mental, e auto-conhecimento. Assim, inspirado pela questão 919 do O Livro dos Espíritos e a prática terapêutica eu quis estabelecer um esquema para que as pessoas entendessem o que significa conhecer-se para se transformar.
3- Fale um pouco sobre sua proposta  ao leitor logo no primeiro capítulo do seu livro - "quem sou eu"?
R. A proposta é que nós devemos partir para o auto-conhecimento iniciando por um estudo e compreensão do próprio organismo que usamos enquanto Espíritos encarnados.
4- Seu livro tem um foco nos princípios básicos da Psicologia Analítica , melhor dizendo, os conceitos Junguianos. Como pode este conhecimento ajudar na proposta evolutiva do Ser?
R. : Temos que partir do fato que Jung construiu sua Psicologia nao só com base nos conhecimentos da ciência, porém com base no conhecimento da mediunidade e dos fenômenos espíritas. Ainda na faculdade ele comecou a ler e a praticar em reuniões mediúnicas, inclusive dirigindo uma com sua prima, que era médium, durante dois anos. E nisso ele verificou que todos nós ao encarnamos trazemos um designío que precisa ser cumprido, tambem descobriu que a evolução se faz do inconsciente para o consciente. E apesar de não ter dito explicitamente não se pode entender o princípio de individuação sem a base da reencarnação, porque não fora assim a quase totalidade dos seres humanos nunca atingiriam esta meta.
5- Explique para o leitor o que é Individuação?
R. : Segundo Jung é a possibilidade de nós atingirmos a singularidade psíquica. Todos nos desde o nascimento somos influenciados pelo coletivo e obrigados a agir de acordo com ele.  Entenda-se coletivo como a própria sociedade. Pela individuação conseguimos nos libertar da influência sistemática do coletivo, passando a agir segundo nossos próprios critérios de vontade. Podemos até agir de acordo com as normas sociais, mas não por mera imposição simplesmente, porque assim queremos fazer. Um exemplo do homem individuado é o próprio Jesus que sempre e a qualquer instante, apesar de se sujeitar ao ambiente em que viveu sempre demonstrou sua independência.
6- Qual a sua visão da manifestação ou Constelação dos Complexos, como chama Jung, numa reunião mediúnica?
R. : Os Complexos são conteúdos fundamentais para a existência. Temos complexos educacionais que nos ajudam na aquisição de cultura, como temos complexos que influenciam negativamente o nosso comportamento. Assim, tanto encarnados quanto desencarnados, possuímos complexos vez que outros constelados um ou muito deles. Numa reunião mediúnica quando um Espírito com um complexo qualquer se aproxima de um médium, ele constela um complexo semelhante nesse médium e através desta afinidade de complexos se estabelece a comunicação entre as duas mentes.
7-  E o doutrinador como se insere neste contexto?
R : A função do doutrinador é a mesma do Psicoterapeuta porque através da influência dos Espíritos amigos e sua própria condição vai interferir no psiquismo do desencarnado ajudando a tomar conhecimento de suas dificuldades e poder assumir novas posições mentais na nova vida que esta levando. Em consequência o médium também passa por um processo de psicoterapia , pois como ele e o Espírito estão numa mesma sintonia de complexos há a ação pela palavra e pela energia do doutrinador e mentores espirituais que vão ajudá-lo também em suas dificuldades. O doutrinador é levado a este contexto por ter alguma afinidade de complexos neste processo. Ele é um curador ferido , pois não esta acima daqueles a quem esta ajudando. Porém sofrendo das mesmas dificuldades ou semelhanças aprende com o problema que se apresenta a resolver tambem os seus.
8- Que ligação o leitor pode fazer entre seu complexo materno e suas diversas encarnações?
R. : Como todo Complexo se estabelece sobre um arquétipo, o complexo materno também o faz. A cada encarnação o Espírito inicia uma nova existência,  cria um novo ego, uma nova personalidade e sem dúvida desenvolve um complexo materno de acordo com as influências recebidas desde o momento da encarnação no útero de sua mãe. As influências das mães anteriores foram assimiladas pelo ser espiritual e fazem parte do que eu chamo o inconsciente pretérito.
9- No capítulo XII de seu livro Desenvolvimento Pessoal, você aborda sobre as projeções e a sombra. Como aplicar este saber para nosso auto- conhecimento?
R. : A sombra é um arquétipo onde nos reprimimos tudo aquilo que não interessa a nossa consciência saber, tanto positivo como negativo. Por isso a sombra se divide em sombra escura e áurea. O auto- conhecimento exige que nós tragamos para a consciência estes aspectos reprimidos integrando-os à nossa maneira de ser desta forma, a uma expansão da consciência e uma melhor compreensão da nossa vida e dos nossos relacionamentos.
10- Você poderia nos dar uma dica de como integrarmos nossas projeções?
R. : A projeção é um fator inconsciente que acontece por tanto a revelia de nossa vontade, mas ela tem sempre um conteúdo emocional.  Por isso toda vez que alguém desperta em nos uma emoção positiva ou negativa intensa, existe uma projeção de nossa sombra. Quer dizer nos começamos a ver valores ou erros que são nossos transferidos para a outra pessoa. A integração vai acontecer quando passamos a raciocinar de que maneira eu sou como esta pessoa que eu estou ou admirando ou condenando. Descobrindo isso este conhecimento passa a fazer parte do nosso consciente e por isso não somos mais dominados por eles mas passamos  a ser senhores dele.

Individuação - Do Harmonia

A Individuação

1- É um dos conceitos centrais da Psicologia Analítica de Jung. É o processo de desenvolvimento da personalidade pela diferenciação psicológica do eu. É um processo no qual o  ego visa tornar-se diferenciado da coletividade, embora nela vivendo, ampliando suas relações. Para se alcançar a individuação é necessário se evitar as tendências coletivas inconscientes. A individuação respeita as normas coletivas e o individualismo as combate. O contrário à individuação é ceder às tendências egocêntricas e narcisistas ou à identificação com papéis coletivos. A individuação leva à realização do  Self, e não simplesmente à satisfação do  ego. É um processo dinâmico que passa pela compreensão da finitude da existência material, objetiva, face  à inevitabilidade da morte física.

Sonhos no processo de individuação 

2 - Para Jung,  “a individuação, a realização própria, não é apenas um problema espiritual, e sim o problema geral da vida.” 3 Sem sombra de dúvida esse é o grande objetivo do sonhar. É uma tendência arquetípica do Self, o processo de diferenciação do coletivo. O sonho está a serviço desse processo. Por mais fragmentário que seja, ele representa uma via de acesso às etapas daquele processo. Os sonhos referentes ao processo de individuação geralmente ocorrem em séries conectadas entre si, cuja interpretação isolada seria um equívoco. Eles trazem, inicialmente, a consciência e o inconsciente em integração, sendo este alcançando aquela, isto é, conteúdos inconscientes tornando-se conscientes. Mostram, muitas vezes, uma situação de crise (ou lesão do  ego) e início de um processo penoso que envolve o confronto entre o  ego e sua  sombra. Figuras bizarras e ameaçadoras são exemplos dos receios do  ego em continuar esse processo. Símbolos da resistência  ao confronto e dos mecanismos de defesa do  ego, surgirão como confirmação do que é negado por ele, centro da consciência que, historicamente, tende a desenvolver-se separada do inconsciente. Figuras do sexo oposto ao sonhador tendem a surgir como uma necessidade de integração com a polarização oposta à consciência. Na série de sonhos do processo de individuação não é raro o surgimento de escadas como a simbolizar os degraus em que se dá o processo de transformação e suas peripécias. Às vezes, a escada possui sete degraus, numa referência aos processos alquímicos antigos.
                                               
1 -  NOVAES,  Adenáuer. Sonhos: mensagens da alma. 3. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia,
2005, p. 20.
2 -  NOVAES,  Adenáuer. Sonhos: mensagens da alma. 3. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia,
2005, p. 205-207.
3 -  C. G. Jung, Obras Completas, Vol. XII, par. 163.

Nos sonhos ocorrem imagens de natureza arquetípica que surgem como a descrever o processo de desenvolvimento da personalidade, muitas vezes mostrando a tomada de consciência da aproximação do ego com o  Self. Para alcançar esse fim, o inconsciente produz sonhos mostrando a necessidade de lidar com conteúdos do inconsciente pessoal primeiro, para depois se ir ao coletivo. Os sonhos onde se atinge um ápice, um último degrau, podem significar a  necessidade de sair do processo de conscientização do inconsciente pessoal e sinalização para o início de uma nova etapa. Ver-se em sonhos, nos primeiros degraus da escada, significa a necessidade de integrar alguns conteúdos infantis.
Nesse processo, é comum surgirem imagens oníricas personificadoras da racionalidade e do intelecto, a assumir posição secundária, solicitando ao  ego dar lugar à emoção, ao sentimento, à intuição, enfim, à função inferior da consciência. Elas também costumam ajudar o  ego no processo de individuação, o que não deve, porém, ser motivo para que se confie a vida aos sonhos. O símbolo da mandala representa o novo centro deslocado do  ego,   o  Self. Ela se reveste de várias formas nos sonhos: o círculo, a esfera, o quadrado, a flor, a quadratura do círculo, etc., ou objetos que se lhes assemelhem. A mandala, enquanto símbolo onírico,  impõe um padrão de ordem ao caos. Nos sonhos ela representa a tentativa da psiquê de organizar os opostos irreconciliáveis. O aparecimento de um símbolo que  represente o  Self nos sonhos, como por exemplo uma  mandala, certamente estará trazendo à consciência algo que diga respeito ao ego, por este ter se originado por uma necessidade daquele núcleo arquetípico. Ao ego desestruturado, surge nos sonhos um símbolo do  Self perfeitamente definido e constituído.

O indivíduo, enquanto vivendo o processo de individuação, terá sonhos significativos em relação a orientação que precise. As imagens procurarão mostrarlhe a necessidade de:
1. Tornar consciente o inconsciente;
2. Dar menor poder ao ego;
3. Desligar-se das influências psicológicas parentais;
4. Tornar-se independente;
5. Diferenciar-se do coletivo aprendendo a conviver com tendências opostas e precavendo-se das arquetípicas;
6. Eliminar projeções e enxergar as  transferências, bem como reconhecer as personas de que se utiliza para conviver socialmente e sua excessiva valorização;
7. Perceber seus mecanismos de defesa que tentam evitar a aproximação dos conteúdos inconscientes;
8. Aceitação de sua sombra;
9. Confrontação com a ânima/ânimus e percepção de suas projeções;
10. Dissolução dos complexos para enxergá-los e trabalhá-los;
11. Deslocar o centro orientador da personalidade do ego para o Self ;
12. Estabelecer o encontro com o Self.Os sonhos iniciais do processo costumam causar certo incômodo natural para o sonhador. Posteriormente, passam a trazer-lhe relativa segurança.  

Singularidade

4 - “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.” Mateus, 5:48. A busca de um significado para a Vida sempre foi a meta do ser humano. Um sentido que lhe dê motivação e que lhe explique o porquê e para quê vive, constituísse em sua maior aspiração. O Cristo assinala que ser perfeito é regra sem exceção para todos os seres na natureza. Mas qual o sentido psicológico desse imperativo? Estaria ele falando ao ego ou ao Espírito?

Descobrir sua própria singularidade representa uma importante aquisição na evolução do Espírito, pois quando isto se dá, ele se depara com a liberdade de escolha e com a certeza de que não existe bem nem mal, mas apenas aquilo que lhe convém ou não. Até chegar a esse ponto, por força de sua imaturidade, o ser humano comete muitos equívocos, pois não sabe efetivamente o que lhe convém ou não, para a própria evolução. A perfeição na Terra é fruto do consenso de conceitos entre os seres humanos. As qualidades que ele atribuiu a Deus são fruto da percepção de si mesmo, constituindo-se naquilo que ele sabe não possuir, mas que poderia alcançar ao longo da sua evolução. O que Deus é, em realidade, o ser humano ainda não o sabe. Apenas ele Lhe atribui qualidades superlativas. A perfeição, vista dessa maneira, é uma criação humana. Isso não invalida a visão de perfeição divina que temos. Deus é, independente de nossas pobres concepções e adjetivos.

Muitas vezes, por atribuir qualidades superlativas à perfeição, o ser humano se frusta por não obtê-la. Persegue-a, mas não a alcança. Certamente que, além do espaço exíguo de uma vida não ser suficiente, ele simplesmente se contenta com poucas qualidades conquistadas, abandonando seu propósito máximo. Assim ocorre com muitos indivíduos, nas diversas religiões e filosofias, que buscam uma espiritualização antes de viver sua própria humanização. Pensam que, por realizar algumas práticas religiosas ou por estar a serviço de seu credo, não necessitam viver sua humanidade. Antes de atingir o estado que considera de perfeição, o ser humano deve aprender a viver e conviver bem com seus semelhantes. A muitos parece que esse estado deve ser alcançado com o objetivo de se viver bem após a morte, isto é, na espiritualidade, esquecendo-se de que o retorno à Terra é uma oportunidade de aprendizado. É exatamente o viver equilibradamente aqui na carne, que capacita o Espírito para a vida espiritual. De que vale viver para ser bom no futuro se no presente não se valoriza essa possibilidade? Seria realmente possível ser bom após a morte se não conseguiu tal proeza enquanto encarnado? Evidentemente que a resposta é negativa. Um dia a máscara cai e o Espírito se verá como realmente é.

A perfeição é uma meta cujo ápice é inalcançável. Constitui-se numa busca arquetípica do ser humano e como tal sua realização é inimaginável. Por ser uma tendência arquetípica não é possível materializá-la, mas apenas representá-la. O imperativo de ser perfeito nos leva a entender que se trata de algo que se encontra como tendência a ser vivida pelo ser humano. O Cristo falava com conhecimento de causa de quem sabia da existência psíquica das tendências arquetípicas no ser humano. A tendência à perfeição é uma espécie de presença do Criador na criatura. Psiquicamente, todos a temos, e ela nos exige materialização. Realizar, ou tentar realizar a perfeição, possibilita ao Espírito, atravessando as diversas circunstâncias e vivendo as experiências da Vida, conhecer as leis de Deus.

O Cristo falava ao Espírito. Pode-se traduzir o sede perfeitos por:  não deixe de viver sua Vida, viva sua humanidade, viva seu processo, comprometa-se com seus princípios, siga sua tendência divina, busque sua essência espiritual, torne-se consciente de sua evolução, realize seu Self. A espiritualização deve se processar enquanto vivemos a humanização. Não é um processo isolado ou que, necessariamente, se deva vivê-lo fora do contato com a sociedade. Pode-se, por algum período, buscar o recolhimento, o estar consigo mesmo, para depois de refazer-se, voltar ao convívio com o semelhante, a fim de pôr-se em prova.

O  sede perfeitos foi tomado equivocadamente como uma ordem para ser cumprida imediatamente, no espaço restrito de uma  encarnação. É preciso que se atente para o fato de que são necessárias muitas vidas até que se atinja a percepção do processo psíquico que envolve a evolução. Esse processo deve ser conscientemente vivido e compartilhado. Precisamos ter calma em relação a  nós mesmos. Ter paciência para com as imperfeições, sem nos acomodarmos quanto à necessidade de evoluir. Ser  perfeito, dentre outros aspectos, é autodeterminar-se a espiritualizar-se.

Ninguém cresce sem atravessar obstáculos, nem evolui sem administrar perdas e submeter-se ao atrito da convivência com seu semelhante, que se constitui num espelho vivo do nosso mundo interior. Precisamos do outro tanto quanto os outros precisam de nós. A evolução é um processo individual e coletivo ao mesmo tempo. É um paradoxo solúvel, na medida em que percebemos a complexidade e
simplicidade simultâneas do evoluir.

A individualidade ou singularidade é a marca do Criador na criatura. A construção da personalidade, que envolve a real percepção dessa individualidade, é tarefa  do indivíduo juntamente com a sociedade da qual ele faz parte a cada encarnação, com o contributo que recebe nos intervalos entre elas. A descoberta dessa individualidade se dá na medida em que o ser humano vive no coletivo (família, sociedade, etc.). O processo de tornar-se perfeito, em verdade, envolve o individualizar-se sem a necessidade de isolamento. C. G. Jung chamava esse processo de  individuação, que é, dentre outras definições, o viver a sua própria individualidade no coletivo.

O processo de individuação não se confunde com o que se chama de perfeição, pois não pressupõe a aceitação de regras religiosas ou de uniformização de atitudes externas. Individuar-se é realizar sua própria individualidade enquanto em sociedade. Nesse sentido, sede perfeitos também equivale a: realize sua individualidade, verdadeira essência divina.

Para se buscar essa individualidade deve-se discriminar primeiro tudo aquilo que o mundo colocou em nós, isto é, o que faz parte da personalidade, mas que serve apenas como meio de adaptação à convivência social. Após essa identificação deve-se buscar retirar aquilo que nos atrapalha a evolução. O que restar é nossa essência. É trabalho laborioso e difícil de se fazer, não raro requer ajuda e, de tempos em tempos, avaliação do processo.

Os cristãos, na sua maioria, perseguem a perfeição acreditando que ela é alcançável após algumas práticas religiosas de fácil realização. Acreditam que, se não a alcançam, é porque são pecadores ou imperfeitos. Justificam seus insucessos através de sua própria condição, sem perceber que, talvez, o equívoco esteja em sua interpretação da mensagem cristã. O Espiritismo vem propor uma nova visão do
significado da palavra perfeição, diferindo da exigência radical de tornar-se perfeito sem o trabalho de construção interior. O Espiritismo é uma doutrina cristã mas não adota as práticas exteriores das religiões cristãs.

Sou uma individualidade eterna responsável por tudo que me acontece e devo aprender a viver coletivamente. 5 - Minha felicidade se dá na convivência social, no atrito com meus semelhantes. Sou uma singularidade eterna responsável por tudo que me acontece e encontro essa certeza aprendendo a viver coletivamente. O ser humano só encontra sua singularidade conscientizando-se de sua natureza coletiva. Como vimos antes, são quatro as fases de desenvolvimento psíquico e espiritual do ser humano: o autoconhecimento, o autodescobrimento, a autotransformação e, por fim, a auto-iluminação. São processos, aos quais estão sujeitos encarnados e desencarnados, independentes do grau de evolução em que se encontrem, exceção feita aos Espíritos puros. Esses processos ocorrem ao longo das sucessivas encarnações do espírito, porém, em escala menor e de forma embrionária, podem ocorrer numa única existência, ainda que incompletos. Não basta portanto autoconhecer-se e autodescobrir-se. Deve-se buscar a autotransformação e a auto-iluminação. As duas últimas fases pressupõem a aplicação constante de suas próprias convicções à vida social, sem impô-las aos outros.

Nelas, a sociedade passa a ser, concomitante com o próprio indivíduo, o alvo das transformações necessárias ao progresso. Encontrar sua própria maneira de ser, ou seja, ter uma identidade psicológica, faz parte da evolução do indivíduo quer esteja encarnado ou desencarnado. A vida continua e sempre exigirá o encontro do ser consigo mesmo, no corpo físico ou fora dele. Os espíritos desencarnados, mesmo aqueles que supervisionam tarefas espíritas, se encontram em regime de aprendizado, buscando o autoconhecimento, bem como as demais fases evolutivas. Essa procura ao encontro do si mesmo requer percepção do processo de evolução espiritual e de suas fases.

Autoconhecer-se não basta, pois, muitas vezes, atende-se às exigências do ego em conhecer-se e em tomar consciência  das coisas pelo seu desejo de permanente controle. A essa fase inicial assinalada por Sócrates no seu conhece-te a ti mesmo, do oráculo de Delfos, no templo do deus Apolo, deverá suceder a fase das descobertas sobre os aspectos inconscientes da própria natureza interior. Esse processo se dá necessariamente no convívio com os semelhantes.

Imprescindível a percepção desses conteúdos íntimos, oriundos das experiências relacionais nas sucessivas encarnações, guardados cuidadosamente por mecanismos psíquicos importantes. Autodescobrir-se não se confunde com a mera lembrança, mesmo que completa, de situações vividas no passado, quer de forma espontânea ou pela regressão induzida de conteúdos reencarnatórios. É a consciência de sua própria personalidade como resultante daquelas vivências arquivadas, o que dispensa a exigência de relembrá-las detalhadamente.

A vida ascética, ou o isolamento social, não representa garantia de felicidade ou de crescimento espiritual. O necessário confronto com os opostos de sua própria personalidade se dá no convívio com os semelhantes. O indivíduo pode se isolar para adquirir energias e disposição para aquele confronto imprescindível, como um meio, mas não um fim. Em outras palavras, não se deve fugir do mal que percebe em si, muito menos do que acredita existir no mundo, mas reconhecê-lo e integrá-lo à própria vida, dada sua relatividade e inexistência absoluta.

As proibições medievais não encontram mais lugar na sociedade que aspira crescer e evoluir, muito menos no Espiritismo que liberta. Assumir a responsabilidade pelos próprios atos toma o lugar das proibições e vetos no comportamento humano. Proibir é deseducar, é alienar. Estabelecer responsabilidades é ensinar, é educar para a Vida.

As imitações de comportamentos não são mais cabíveis; o Cristo, muito menos alguém encarnado ou desencarnado, não deve ser imitado em seus gestos e ações, sob pena de viver-se uma vida alheia a si mesmo. Os comportamentos alheios devem ser percebidos quanto às suas conseqüências e conveniência de serem aplicados a quem os vê. Imitar é alienar-se; verificar sua conveniência é aprender. Deve-se buscar a mensagem que é subjacente ao comportamento observado e, de acordo com sua própria personalidade, exercitá-la.

O espírito encarnado, na busca de sua própria evolução, não deve prescindir de encontrar sua autonomia no pensar, no falar e no agir. Quando agimos ou atuamos por uma imitação ou sob o comando de alguém, presente ou ausente, não devemos pensar que já adquirimos aquela experiência em nós. Estamos apenas fazendo algo sob a influência de condições externas. Encontrar suas motivações pessoais e agir de acordo com os próprios princípios, é evoluir.

Cada ser humano é responsável direto e indireto pelos seus atos. Ninguém sofre por ninguém nem atravessa processos  cármicos educativos por responsabilidade de terceiros. Somos responsáveis diretos pelo exercício de nossa própria vontade e indiretos pelas influências inconscientes que recebemos. A responsabilidade individual nos coloca diante da necessidade de  adquirirmos a maturidade e agirmos com um apurado senso de autoria de nosso destino.

Os acontecimentos de nossa vida são, em realidade, atraídos por nós, em face da exigência da lei de Deus a que todos estamos sujeitos, no constante aprendizado visando a evolução espiritual. Só nos acontece aquilo que precisamos atravessar para conhecer as leis de Deus. Nesse sentido, não há acaso nem determinismo, pois tudo passa pela escolha do próprio indivíduo de qual caminho queira trilhar, sabendo que este lhe trará sempre aquilo de que necessita para evoluir como também por experiências típicas do nível humano. Passamos na vida pelas provas correspondentes ao que somos. Só conseguimos resolver algo externamente quando internamente já estiver solucionado.

Instituições,  grupos ou mesmo a família, com lideranças autocráticas e
seguidores fiéis, se aproximam em semelhanças, àquelas que instituíram religiões
dogmáticas, que criaram uma casta de doutores e um numeroso grupo de ignorantes
ou alienados. Os dirigentes de grupos (religiosos ou familiares) devem possuir
habilidade para, por um lado, propagar a verdade coletiva entre seus liderados e, por
outro, permitir que cada um se aproprie dela, favorecendo seu desenvolvimento
psíquico e espiritual.

Quando numa família ocorre o comando autocrático por um dos cônjuges,
muitas vezes os filhos necessitarão, mais tarde, aprender por si sós, aquilo que lhes
foi imposto fazer ou pensar. A rebeldia, muitas vezes presente na adolescência, pode
decorrer, dentre outros fatores, do modelo estrutural calcado na imitação de
comportamento, inerente à forma como foram educados.
A construção do próprio eu maduro é tarefa árdua e se processa na intimidade
da consciência de cada um, constituindo-se num aprendizado inalienável e sujeito a
percalços diversos. O grande rival é o próprio indivíduo com sua tendência imitativa
de igualar-se ao senso comum.

Encontrar sua própria essência singular vivendo em sociedade e
compartilhando com seus pares suas descobertas interiores, é fundamental para se
alcançar a felicidade. Essa singularidade é, na realidade, a essência divina em nós.
A personalidade humana é dotada de um núcleo singular, que é sua
individualidade, e de aspectos plurais oriundos de sua convivência social. O
primeiro é natural e representa o selo de Deus no ser humano. Os aspectos plurais
são adquiridos e se prestam, no decorrer da evolução, a fazer chegar ao núcleo, as leis de Deus.

Descobrir essa singularidade já acrescida parcialmente das leis
universais, representa um grande marco na evolução pessoal.
Mesmo aquelas ocorrências da vida que vêm de retorno por atitudes passadas,
obedecendo a necessidades evolutivas, devem ser encaradas de forma positiva, numa
perspectiva otimista. Por mais que pareçamos inocentes demais diante da vida, é
importante que sejamos otimistas e que sempre consideremos que, qualquer que seja
o resultado de uma ação consciente que vise nosso bem estar sem agredir a ninguém,
resultará num benefício para nós.

Identidade, Individualidade e Personalidade
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Podemos pensar que o espírito, o ser humano, é algo incognoscível em si,
porém quando ele se expressa (se manifesta) ele é e será sempre algo de si mesmo e
do meio no qual se apresenta. Em suas manifestações externas ele sempre revela
aspectos de sua essência mesclados a  outros do meio no qual se apresenta. Sempre
que se expresse será individual e coletivo ao mesmo tempo.

Sua identidade estará condicionada ao momento, ao resultante do acúmulo de
suas experiências reencarnatórias e à sua singularidade. Os Espíritos são distintos
não só pelas diferentes experiências ao longo da evolução como também pela
singularidade que o Criador imprimiu em cada um, no ato da criação. Naquele
momento, o Criador, sem estabelecer hierarquia ou injustiça, estabeleceu a unidade
de cada ser.

O   Espírito logicamente é único em si. Não é possível haver duas coisas iguais,
pois a unidade é o fundamento do universo. A diversidade de unidades constitui uma
Unidade.

Nossa identidade se faz não apenas pelas aparências ou pelas características
intelectuais, emocionais ou sociais adquiridas ao longo da evolução, mas
principalmente pelo sentido pessoal de existir. Cada um é o que lhe constitui o
mundo íntimo, construído por sobre a base da singularidade gerada pelo Criador.
Buscar reconhecer em si a própria  individualidade, isto é, aquilo que em nós difere
dos outros, é fundamental para o crescimento espiritual.

O que distinguiu um Espírito de outro no ato da criação? A resposta não deverá
contradizer o princípio da igualdade em Deus. Ele não nos fez em série ou em
duplas. Somos singularidades divinas a serviço do próprio processo de autoiluminação.
A personalidade é a maneira singular pela qual o indivíduo responde ao meio.
A personalidade não se resume em atos comportamentais, pois é também e
principalmente a estrutura que os modela e que decide sobre as respostas a serem
dadas. Alguns atributos do espírito antes de reencarnar serão privilegiados em face
                                               
das provas a que ele se submeterá. O conhecimento prévio das provas e o meio em
que encarnará permitirá que tais atributos sejam discriminados.
O comportamento não define nem resume a personalidade humana. Ele é tão
somente um de seus componentes, visto que boa parte do que se pensa e sente não se
expressa nas atitudes. Não se pode desprezar a necessidade de estabelecer um
conceito dinâmico para a personalidade. Não só pela condição essencial do Espírito
como elemento oriundo da força criadora divina, como pela necessidade de
entendermos como resultante também da dinâmica da relação com um outro. Por si
só o Espírito não se define, visto que sua existência está atrelada à de Deus, e sua
personalidade está à de outro ser.

O desenvolvimento da personalidade, a partir da infância, refere-se à retomada
do  ego, ou melhor, à formação de um novo ego. É comum se confundir
personalidade com ego. A estruturação ou consolidação do ego  se dá por uma
integração contínua de fatores motivacionais, emocionais e cognitivos internos. As
características do  ego não englobam os aspectos pertencentes à personalidade. A
formação dela  transcende os limites de uma existência e nela estão inclusos os
conteúdos inconscientes. O ego é apenas uma forma dinâmica e funcional da
personalidade se manifestar.

O que chamamos de personalidade não é o Espírito em si, visto que ele não
apresenta a gama de sensações, emoções, pensamentos, idéias e sentimentos
existentes na totalidade que engloba também o corpo e o perispírito.
Muitas são as possibilidades da personalidade encarnada. Em si, o ser contém
as potencialidades divinas e a capacidade de desenvolvê-las. Por conta da cultura e
da sociedade nos privamos de manifestar tudo de bom que encerramos em nós
mesmos. Acostumamos a projetar nossas melhores qualidades e potenciais em
figuras que as apresentaram, acreditando, por vezes, que só elas as possuem. O que o
outro possui existe potencialmente em nós. É dever de todo ser humano ir à busca do
que realmente é.

A individualidade é o próprio Espírito com suas aquisições das leis de Deus.
Ela independe do corpo físico e do perispírito, pois é o rótulo de Deus na Natureza.

O Centro Espírita e a Individuação

Claudio C. Conti

Inúmeras são as atividades em um Centro Espírita, dentre elas pode-se ressaltar o estudo de temas doutrinários e, conseqüentemente, a aplicação prática daquilo que é aprendido teoricamente que é o auxílio àqueles que, ao menos aparentemente, se encontrem em situação mais precária, seja material ou emocionalmente. Todos os programas de trabalho são desenvolvidos com a única finalidade de promover a transformação íntima do indivíduo, porém, apesar de serem ferramentas poderosíssimas, o que é efetivamente capaz de produzir mudança do padrão comportamental será algo que somente existe dentro de cada um. Este algo é que necessita encontrar ambiente propício para entrar em ação.

Segundo este raciocínio, a principal função do Centro Espírita é propiciar condições para que o individuo encontre a si mesmo. Para o entendimento desta questão, faremos uso da teoria proposta por C. G. Jung sobre o que denominou de "individuação" e "persona" [1].

Em linhas gerais, a individuação seria o processo pelo qual o indivíduo se despojará de falsos invólucros da persona; enquanto que esta, por sua vez, seria a forma como este mesmo indivíduo se mostrará diante das diferentes situações nas quais se depara na vida cotidiana, escondendo, sob “pesadas fantasias”, o que realmente é. Em outras palavras, o nosso comportamento perante os diversos grupos sociais dos quais fazemos parte seriam como máscaras. Em cada situação nosso comportamento é condizente com o meio, seja por uma questão de medo ou para que possamos extrair algo de que se necessita ou que se queira.

Tomemos como exemplo o possível comportamento de um mesmo individuo em três momentos de sua vida:

- No Centro Espírita: durante sua estada naquele ambiente especial, seria bondoso, paciente, prestativo e solicito, pois, desta forma, poderia granjear a amizade e consideração dos outros integrantes.

- No ambiente doméstico: seria um tirano, promovendo o medo de seus familiares, pois, desta maneira, teria seus caprichos e vontades atendidas.

- No ambiente profissional: seria ardiloso, produzindo situações em que desmerecesse seus companheiros e, nestas oportunidades, posaria de superior para, então, tirar algum proveito ou galgar postos mais altos.

Caso os três comportamentos apresentados acima não  sejam passageiros, fruto de uma perturbação momentânea ou de um simples ajustamento com uma nova conjuntura, persistindo por longo período de tempo, poderíamos dizer que existem três personas existentes na mesma psique. Em outras palavras, três personalidades ínsitas na mesma individualidade, sobressaindo aquela que for considerada a melhor para o estimulo recebido, que seriam o ambiente e as pessoas envolvidas com o local.

Percebe-se que, no exemplo exposto, o Centro Espírita funcionou como um catalisador para que uma persona especifica encontrasse campo propício para se mostrar e tornar-se conhecida do próprio individuo que, até entrar em contato com aquele modo de agir e pensar, desconhecia esta particularidade sua.

Todavia, enquanto o comportamento trino satisfizer suas necessidades e se sentir feliz com tal situação, não haverá motivo para que busque alterá-la. Com o tempo, que poderá ser mais ou menos longo, podendo, inclusive, durar mais de uma encarnação, o indivíduo tenderá a se cansar, pois a manutenção destas personas requer um gasto excessivo de energia. Além disto, o aprimoramento moral a que todos estamos fadados irá atingi-lo também. A partir deste momento surgirá o desconforto proveniente de comportamentos tão diferentes e inadequados, acenando que o momento da renovação há chegado.

Como o processo evolutivo do espírito ocorre gradativamente, o indivíduo em questão, inicialmente, não conseguirá homogeneizar suas atitudes. Por este motivo, diante de situações em que possa tirar algum proveito no ambiente profissional, por exemplo, aquela persona especifica, que ainda está presente, surgirá com toda a força, independentemente da sua nova disposição. Após alguns fracassos na tentativa para controlar aquela componente de sua individualidade que se quer anular e que passou a ser um visitante  indesejado, poderá considerar impossível a mudança e, por isso, desistir do esforço. Caso isto ocorra, será necessário um período de tempo ainda maior para que, através de experiências ainda mais desagradáveis que fatalmente advirão, segundo a lei de causa e efeito, novamente busque a conciliação dos seus atos.

Porém, persistindo em sua intenção de transformação, a cada momento sentirá mais desconforto pelo seu comportamento trino, promovendo, desta forma, o fortalecimento daquela persona pela qual optou para suplantar as outras, até que ela esteja suficientemente fortalecida e, conseqüentemente, as outras enfraquecidas, para, então, sobressair em todos os momentos. 

Sob este prisma, pode-se facilmente compreender que antes de alguém se decidir por uma tendência específica de comportamento, é preciso, antes de tudo, que esta lhe seja conhecida. Poderá, desta forma, experienciar as benesses que possam lhe propiciar umas e os malefícios de outras posturas que lhe são comuns. Em suma, é necessário o mínimo de autoconhecimento. Sendo filhos de Deus e estando fadados a perfeição  relativa, somente se alcançará a plenitude, estado de perfeita harmonia consigo mesmo, quando livres das tendências negativas para que, então, a luz interior possa brilhar. A descoberta deste verdadeiro “eu” é que precisa ser alcançado.

Este é o processo descrito pelos responsáveis pela Codificação para a evolução do espírito e, como a verdade surge sempre de todos os lados, é também o processo descrito por Jung para o que ele denominou de "individuação", que nada mais é do que "tornar-se um ser único" [2].  

O ambiente fraterno do Centro Espírita, por sua vez, é fundamental para que o individuo conviva, não apenas com pessoas de boa vontade, mas, principalmente, por ter a oportunidade de conhecer aquela sua porção bondosa e os benefícios que possa lhe trazer. Por este motivo, é fundamental demonstrar a necessidade da freqüência no Centro Espírita e, mais ainda, ressaltar a importância do grande passo que foi dado por já ser capaz de, pelo menos naquele ambiente, agir com harmonia e tranqüilidade e que, através do trabalho perseverante, aquele comportamento será uma constante em todo e qualquer local em que esteja.

Muitas vezes, no trabalho de divulgação da Doutrina Espírita, seja palestras ou através de uma simples conversa, na ânsia de fazer com que aqueles que nos ouvem vislumbrem os benefícios de um comportamento sadio, enfatizamos a necessidade da reforma íntima como sendo essencial e urgente. Apesar deste conceito não estar errado, como a renovação do espírito é gradativa, muito poucos estão na condição desta transformação rápida, por isso, estes que nos ouvem podem, devido à aflição gerada por tentativas frustradas, desenvolver estados depressivos ou, até mesmo, desistir.

Afinal, aqueles que ainda não estiverem amadurecidos o suficiente não serão tocados, nem mesmo quando pressionados insistentemente. Talvez uma abordagem mais amena seja muito mais eficaz, salientando que pequenos avanços são, na realidade, grandes passos que precisam e devem ser cultivados para, com o passar do tempo, encontrarem terreno fértil e assim, cada vez mais, o individuo estará em condições de controlar as más inclinações existentes em todos nós.

A Doutrina Espírita não faz milagres, afinal, milagres não existem, mas fornece subsídios para aqueles que queiram viver cada vez melhor consigo mesmo e com os outros. Todavia, o trabalho e a perseverança são necessários.

Referência: [1] C. G. Jung, O Eu e o Inconsciente, 16a. edição, Editora Vozes, 2002, pg. 50. 
[2] C. G. Jung, O Eu e o Inconsciente, 16a. edição, Editora Vozes, 2002, pg. 49.

PSICOLOGIA E ESPIRITISMO



Difícil falar em Espiritismo sem lembrarmos do nome de Allan Kardec. O mesmo acontece quanto o tema é Psicologia onde os nomes de "Freud" e "Jung" estão intimamente ligados.
Sigmund Freud, chamado de "O Pai da Psicanálise", deu grande impulso à Psicologia, ao estudar a interpretação dos sonhos e desenvolver o "método da associação livre", pelo qual conseguiu obter a cura de muitas doenças mentais. Neste método, os seus pacientes falavam "qualquer coisa que lhes viesse à cabeça". Freud buscava então desvendar os sentimentos reprimidos nessas manifestações, estimulando seus pacientes a colocarem-nos para fora.
Carl Gustav Jung, deu seqüência ao trabalho desenvolvido por Freud, porém de uma forma, por assim dizer, mais "científica". Jung aprofundou-se no estudo do inconsciente, sem, no entanto, entrar de maneira mais profunda nos conceitos da reencarnação e da imortalidade do inconsciente (alma ou Espírito).
Atualmente, no entanto, a Psicologia já discute de uma forma mais profunda a estrutura e a origem da chamada "zona inconsciente". Se Freud começou a desvendar os "véus da alma" pela descoberta das atividades do inconsciente, Jung aprofundou-se no psiquismo, definindo então o inconsciente coletivo. Faltou-lhe, no entanto, considerar os vínculos com o passado, resultante das vivências renovadas pelo mecanismo da reencarnação.
Jung realizou, no início do século passado, um estudo profundo sobre o desenvolvimento anímico, tendo como paciente uma sonâmbula. Como resultado de seus estudos, Jung deparou-se com a idéia do processo da imortalidade. No entanto, por ser de difícil aceitação pelo meio científico de sua época, Jung descartou essa hipótese, criando, como resultado, uma psicologia de difícil entendimento.
Somente em 1928, mesmo assim afirmando que caberia ao futuro uma melhor avaliação do tema, Jung se pronuncia sobre o assunto, afirmando que a mente possui legados de conteúdos históricos, que se tornam presentes na zona consciente, por motivos diversos, preponderantemente aqueles de caráter emocional.
Certamente, a compreensão dos conceitos da imortalidade da alma, da reencarnação e da comunicabilidade com os Espíritos auxiliaria em muito a melhor compreendermos o trabalho desenvolvido.
Observem que interessante, quando Jung aborda a personalidade Maná e suas estruturas arquetípicas: "Reconheço que em mim atua um fator psíquico que se oculta diante de minha vontade consciente. Inspira-me idéias extraordinárias, ao lado de produzir afetos e caprichos em minha natureza. Sinto-me importante diante desses fatos e o que considero pior, estou atado a esses fatos de modo a admirá-los". Diz ainda Jung: "A personalidade Maná é dominante no inconsciente coletivo, é o arquétipo do homem poderoso em forma de herói, mago, santo, curandeiro, dono de homens e Espíritos, amigo de Deus".
Seria este o reconhecimento de Jung da influência dos processos espirituais na psicologia ?
Seria a forma de convergi-los para a aceitação do meio científico de sua época ?
Na terapia junguiana, que explora extensivamente os sonhos e fantasias, um diálogo é estabelecido entre a mente consciente e os conteúdos do inconsciente. A doença psíquica é tida como uma conseqüência da separação rígida entre elas. Os pacientes são orientados a ficarem atentos aos significados pessoal e coletivo (arquétipo) inerente aos seus sintomas e dificuldades. Sob condições favoráveis eles poderão ingressar no processo de individuação: uma longa série de transformações psicológicas que culminam na integração de tendências e funções opostas, e na realização da totalidade. Jung trilhou a individuação, pois havia a necessidade imperiosa nele de ir ao inferno e voltar para poder mostrar o caminho da volta àqueles que ficaram perdidos pelo caminho da vida. Tornou-se ele uma resposta sincera e corajosa ao nosso tempo. "Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der". (In http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung#Jung_-_Uma_resposta_ao_nosso_tempo)
Inquestionável, no entanto, que os conceitos espíritas permitem uma melhor compreensão da zona inconsciente ou Espírito. Frente à imortalidade da Alma, o Sonambulismo e a possibilidade da comunicabilidade com os espíritos, realizados por intermédio dos fenômenos mediúnicos, a compreensão dos complexos afetivos e a personalidade Maná seriam mais facilmente entendidos.
Enquanto ciência, a Doutrina Espírita se caracteriza pela sua excelência, seu dinamismo e pela sua lógica sempre fundada na fé raciocinada, impulsionando o ser humano na busca de sua evolução moral e científica

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Construção da Individuação


O pastor que resagata a ovelha perdida, torna-se mais vigilante em relação à mesma, assim como às demais, evitando-se excesso de confiança, porque, à medida que o rebanho avança, existem desvios e abismos perigosos...
       Ante a ovelha que foge, a atitude do pastor é o socorro maternal, nada obstante, às vezes, o animal rebelde liberta-se dos braços protetores e novamente desaparece, optando pelo desvão no qual se oculta...Em tal situação, em seu benefício o pegureiro assume o seu animus e, vigoroso, aplica-lhe o cajado ou atiça-lhe o cão, encaminhando-o de volta ao aprisco.
       É, portanto, inadiável o dever de prosseguir-se no compromisso relevante sobre qualquer custo, seja qual for a circunstãncia em que se apresente.
       A insistência de que se dá provas, quando se optando pela situação doentia, pelas sinuosidades do comportamento sem responsabilidade, propele a consciência - o pastor vigilante - a impor sofrimentos que se encarregam de apontar o rumo correto, de encontrar-se o que se está extraviando ou foi deixado na retaguarda...
      O ocidental acostumou-se com os limites da emoção e adaptou-se aos prazeres da sensação de tal modo, que tudo aquilo que o convida a inversão desse comportamento parece-lhe de dificil aplicação e, por tal razão, evita viver a proposta de olhar para si mesmo, para dentro, de autopenetrar-se para descobrir os incomparáveis tesouros da alegria íntima, da vivência elevada, sem cansaço, sem ansiedades nem expectativas. Esse esforço é realizado somente quando não tem outra alternativa e quando apresenta cansaço em torno do conhecido gozo dos sentidos.
     É necessário passar por todas essas experiências, experimentar dificuldades e acertos, sofrer perseguições e ser eleito porque tudo isso faz parte da constituição arquetipica da evolução, e ninguém pode vivenciar um estágio sem passar pelo outro.


( do livro: Em Busca da Verdade- Joanna de Ângelis )


Individuação ou Individualismo?


"Apenas, Deus, em sua misericórdia infinita, vos pôs no fundo do coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Escutai-a, que somente bons conselhos ela vos dará.”
O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo XIII – item 10

O que é certo e errado perante a “crise das certezas” que dominam a humanidade? Quais são as bússolas para nortear a conduta neste cenário de transformações céleres por que passam as sociedades?

A palavra conceito quer dizer idéia que temos de algo ou alguém. Analisamos a vida e os fatos pela ótica individual de nossas conceituações. Nosso entendimento não ultrapassa esse limite.

Alguns desses conceitos resultam da vivência. Foram estruturados pelo uso de todos nossos sentidos, adquirindo significados. Chamamo-los experiência. Outros são fruto da capacidade de pensar e adquirir conhecimento. Determinam os pensamentos predominantes na vida mental. Quando criamos fixação emocional a esse padrão do pensar, nasce o preconceito.

A experiência leva ao discernimento. O discernimento é a porta para a compreensão. A compreensão identifica a Verdade.

O preconceito conduz ao julgamento. O julgamento sustenta os rótulos. Os rótulos distanciam da realidade.
A atitude construtiva na Obra da Criação depende da habilidade de relativizar. Até mesmo a experiência, por mais preciosa, necessita ser continuamente repensada, evitando a estagnação em clichês.

A vida é regida pela Suprema Lei da Impermanência. Certo e errado são critérios sociais mutáveis sob a perspectiva sistêmica. Apesar disso, são referências úteis à maioria dos habitantes da Terra. Funcionam como “estacas disciplinadoras”. Porém, em certa etapa do amadurecimento espiritual, constituem amarras psicológicas na descoberta da realidade pessoal, cuja riqueza está nos significados únicos construídos a partir dos ditames conscienciais.[...]

Na individuação o critério certo /errado é substituído por algumas perguntas: convém ou não? Quero ou não quero? Serve ou não serve? Necessito ou não necessito? Questões cujas respostas vêm do coração. Somente aprendendo a linguagem dos sentimentos poderemos escutar as mensagens da alma destinadas ao ato de individuar-se. E sentimento é valor moral aferível exclusivamente por nós mesmos no átrio sagrado da intimidade consciencial.

Somos aquilo que sentimos. As máscaras não destroem essa realidade. Quando aprendemos o auto-amor, abandonamos o “crítico interno” que existe em nós e passamos a exercer a generosidade do autoperdão, ou seja, a aceitação incondicional da criatura ainda imperfeita que somos.[...]

Saber o que nos convêm, saber o que é útil, exige dilatado discernimento aliado ao tempo. Quando usamos os rótulos certo/errado, fomentamos a culpa e a punição. Quando sabemos o que nos convém, agimos e escolhemos com responsabilidade na condição de autores do nosso destino. Quando amadurecemos, percebemos que certo e errado se tornam formas de entender, experiências diversificadas.
O caminho de ascensão para todos nós, Filhos de Deus, é o mesmo, apenas muda a maneira de caminhar. Cada criatura tem seu passo, seu ritmo, sua história.

[...]Grande distância separa o processo de individuação da atitude de individualismo.
Na individuação encontramos a necessidade, enquanto no individualismo temos a prevalência do interesse pessoal.

Na individuação temos a alma; no individualismo, a personalidade.

Na individuação temos a consciência; no individualismo, o ego.

Na individuação existem descoberta e criatividade; no individualismo, a imitação e a disputa.

Na individuação temos o preparo e o amadurecimento; no individualismo, a precipitação.

Na individuação experimentamos a realização pessoal; no individualismo, a insaciedade.

A individuação é fruto do amor; o individualismo é a leira do egoísmo.

Na individuação floresce o crescimento espiritual; o individualismo é a sementeira do egoísmo.

O individualista, queira ou não, também caminha em seu processo de individuação. [...]

Sabendo que todos rumam para o melhor, Jesus, em Sua excelsa sapiência, estabeleceu: “Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo.” (João, 8:15)

Se Ele, que podia, não julgou, por que nós, que d'Ele seguimos os ensinos, vamos agir como quem pode escutar os alvitres da alma alheia na tentativa de definir o que é certo ou errado? Qual de nós estará em condição de nutrir certeza se a atitude do próximo é uma expressão de individuação ou um cativeiro de personalismo?"

Biografia:
Ermance de La Jonchére Dufaux nasceu em 1841, na cidade de Fontainebleu, França.

Colaborou como médium, no trabalho de Kardec, na elaboração de da segunda edição de "o Livro dos Espíritos" em 1860. Segundo São Luís, Ermance, assim como Kardec, era uma druidesa reencarnada.
Seu guia espiritual deu grande incentivo à Kardec para publicar a "Revue Espírite" - Revista Espírita. Ermance, com seu pai, tornou-se sócia fundadora da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Ainda como médium foi autora do livro " A Vida de Joana D'arc contada por ela mesma".
Como autora espiritual tem prestado grande contribuição no plano da espiritualização e da educação nos roteiros do amor com as obras psicografadas através do médium Wanderley Oliveira.(Fonte: SEED)

É de autoria dela a mensagem acima, encontrada na obra 'Escutando Sentimentos', psicografada por Wanderley S. de Oliveira.

Leis Psíquicas - Adenauer


Leis psíquicas

“Não penseis que vim revogar a lei ou os
profetas: não vim para revogar, vim para
cumprir.” Mateus, 5:17 .6

O Cristo assinalou que veio cumprir a lei. Não veio
sublevar a ordem vigente, pois não era um subversivo no
sentido vulgar do termo. Não queria ser confundido com um
rebelde sem causa. Tinha um propósito mais amplo. Sua
revolução não era apenas político-social, mas,
principalmente, psico-espiritual. Visava atingir o ser
humano em sua alma, em sua essência mais profunda.
Vinha para educar, fazer evoluir, a fim de que o ser humano
transcendesse a materialidade, adquirindo elementos para
mudar qualitativamente no seu processo espiritual.
Vivemos sob o domínio de leis sociais, necessárias ao
desenvolvimento espiritual, pois elas promovem o
equilíbrio e a harmonia na convivência cotidiana. Essas leis
traduzem em menor escala, ou tentam traduzir, as leis
espirituais de Deus. Estabelecem os limites e disciplinam a
conduta do ser humano. Precisamos dessas normas externas
até conseguirmos internalizar as leis espirituais, quando
então, aquelas se tornarão desnecessárias. A partir daí o ser
humano conseguirá viver de acordo com as leis externas,
face a existência de uma lei interna moralmente elevada.
                                               
Quando a lei interna é moralmente inferior à lei
externa, ocorre o embate, cujas conseqüências exigirão
processos educativos, aparentes sanções, para o
desenvolvimento espiritual. Quando a lei interna é
moralmente superior à externa, o ser humano vive em
perfeita harmonia, conseguindo influenciar seu meio social,
favorecendo o aperfeiçoamento das normas de convivência
coletiva. Ele não só se melhora, como concorre para o
progresso social, pelo exemplo que vivencia.
Um sentido que pode se perceber nas entrelinhas da
citação do Cristo é aquele que nos leva a entender que os
caminhos existentes, pertencentes as mais diversas religiões,
se seguidos com coerência, podem levar o ser humano ao
progresso moral, isto é, obedecer antigos princípios que
assinalavam a necessidade do ser humano buscar o
crescimento espiritual, sem inventar “verdades novas”.
Destruir o antigo pode ser uma forma de fugir a entrar em
contato com as dificuldades que temos de enfrentar e com
nossos próprios conflitos. Não há necessidade de destruir a
lei interna que nos convida ao Bem e ao Amor. Essa lei
também nos leva à necessária individuação, ao encontro
com o Si mesmo.

A  individuação é um processo que se fundamenta no
alcançar de certos estados de espírito, que colocam o ser
humano na condição de se sentir centrado e em sintonia
com princípios éticos superiores. É um processo contínuo e,
geralmente, se inicia com uma crise do ego. Diferencia-se
da chamada  perfeição, por não seguir, necessariamente, as
exigências religiosas, nem se limitar à obrigatoriedade de
seguir normas externas.
Ao alcançá-la, o ser humano consegue:
- fazer contato com seu propósito maior na Vida,
definindo claramente seus objetivos;- entrar em harmonia com as metas que traçou para
a atual encarnação, sem se deter em atavismos já
ultrapassados;
- descobrir e realizar seu talento singular, que o
diferencia de todos os outros, o qual se constitui
no seu caminho seguro para a felicidade interior;
- ser verdadeiro dentro das capacidades e limites
que possui, alcançando o máximo de perfeição
possível enquanto encarnado;
- impedir que os talentos pessoais sejam sufocados
pelos  complexos inconscientes, reduzindo sua
influência na vida consciente;
- desligar-se das influências coletivas e parentais
que impedem a manifestação das potencialidades
do Espírito;
- integrar sua  sombra (7) impedindo que ela possibilite
a proliferação das projeções;
- perceber melhor as diversas personas (8) de que se
utiliza para relacionar-se com o mundo, facultando
uma melhor integração social;
- melhor perceber a leveza do mundo e quanto o
universo conspira a favor da evolução do Espírito;
- integrar-se aos objetivos da Espiritualidade
Superior.

Esses conflitos se encontram na consciência, quando
lembrados, e no inconsciente, oriundos de eventos
esquecidos da presente encarnação ou de encarnações
passadas. Eles se agrupam por semelhança e se estruturam
em redes denominadas psicologicamente de  complexos. São
núcleos afetivos que envolvem situações adversas similares,
ocorridas nas várias vidas do Espírito. São desejos, intensões,
motivações não realizados, reprimidos por
motivos diversos, que necessitam ser exteriorizados de
alguma maneira. Inevitável, como se pode analisar, a
formação de complexos, face à complexidade da Vida.

Muitas vezes criamos situações de fuga diante dos
problemas a fim de não entrarmos em contato com nossos
complexos. Não aceitamos antigos princípios e adotamos
mecanismos de defesa para evitar o sofrimento de ter que
lidar com a necessidade de encarar de frente o que tem sido
constantemente evitado. Na realidade costumamos fugir de
nós mesmos. Essa viagem ao encontro do si mesmo é,
muitas vezes, evitada face aos inconvenientes que provoca,
pois nos faz entrar em contato com nossas imperfeições.

Não destruir a lei, mas cumpri-la é um convite a que
observemos nosso mundo interior e não fujamos do
necessário embate com nossos complexos. Destruí-los sem
perceber-lhes a influência que exercem sobre nós é um
equívoco grave. Conhecer-lhes a natureza é o mesmo que
penetrar em nosso mundo interior e descobrir como nos
enredamos nas teias psíquicas que engendram novos
conflitos. Deixar que eles atuem inconscientemente sobre a
nossa vida ou simplesmente destruí-los sem lhes conhecer a
origem, é permanecer na ignorância sobre nós mesmos.

Não destruir a lei, pois sabemos que a mensagem
superior do amor está presente na essência das diversas
religiões e filosofias da humanidade. Não é preciso destruir
a crença do outro, mas fazer com que ele compreenda o
sentido superior que nela existe. A mensagem do Cristo está
presente na essência das diversas religiões. Com o coração
poderemos enxergá-la em sua inteireza. E com ele
conseguiremos viver de tal forma que o outro a perceba.

O Cristo cumpriu a lei, pois tornou-se o exemplo vivo
de alguém que realizou sua individuação, tornando-se
único, singular. Mudou a história da humanidade, por terrealizado, com o máximo de integridade, a sua lei interna. Viveu-a e assumiu todas as conseqüências de seus atos.
Esse é o caminho da  individuação de todo ser humano. Não
destruir a lei interna, mas conhecê-la e cumpri-la é o único
caminho que o conduzirá a felicidade, que é sua fatalidade.

A tolerância às crenças alheias é um princípio que
denota bom relacionamento interpessoal. É um dos sinais da
inteligência emocional que necessita desabrochar no
Espírito. Reflete a consciência de si mesmo, além da
percepção do estágio evolutivo do outro. Quando
internalizarmos a mensagem, certamente não nos
importaremos com o rótulo religioso do outro, mas sim, em
como estamos lidando com a nossa própria crença.

Todo indivíduo realizado e saudável, em paz consigo
mesmo, respeita o outro, mesmo quando ele se encontra
equivocado. Com suas observações sobre o comportamento
alheio, não procura tomar o lugar da norma externa do
outro, mas sim com a melhoria de sua norma interna. Ao
mesmo tempo, procura melhorar sua própria norma interna
e a externa. O recado do Cristo nos convida à percepção da
lei interna, cuja destruição não deve ocorrer. É um convite a
que nos perguntemos: qual a norma interna que permitimos
vigore em nós? Será rígida? Exigente? Punitiva? Qual a sua
medida? É com essa medida que viveremos, pois atuamos
externamente como o fazemos internamente. A verdadeira
lei  interna certamente será aquela que me colocará diante do
propósito que devo realizar na Vida e que me conduzirá ao
sentimento incomparável de satisfação interior. A essência
da mensagem espírita, dirigida ao Espírito, é a mesma do
Cristo. Ela deverá ser a norma interna de conduta que se
traduzirá no exemplo externo de convivência.


6 - Utilizamos, como fonte de consulta, a tradução da Bíblia feita por João Ferreira de
Almeida, Edição da Sociedade Bíblica do Brasil, 1969, Rio de Janeiro-Rj.


7 -  A Sombra contém os aspectos negativos e os desconhecidos da personalidade.


8 -  Segundo Jung, persona é aquilo que na realidade não somos, mas aquilo que tanto nós
como os outros pensamos que somos.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Amor, perdão, cura e autocura


Entrevista com Andrei Moreira
Publicado em 27 de setembro de 2011 por admin
Fonte: Nosso Jornal – Folha Comunitária de Abaeté, 02/12/10

Dr. Andrei, o que é a saúde, a doença, cura e a autocura na abordagem médico-espírita?

A saúde é entendida como o reflexo do equilíbrio do ser em relação às leis divinas. Na visão espírita, o homem é um ser imortal, alguém que preexiste à vida física, que sobrevive ao fenômeno biológico da morte e, ao longo do processo evolutivo, através da reencarnação, vai crescendo, desenvolvendo-se em direção a Deus. A saúde do corpo físico é um reflexo do nível de equilíbrio desse espírito no processo evolutivo perante o amor, o belo e o bem. Já a doença é uma sinalização interior de reequilíbrio, convidando o ser a reconectar-se com o amor e com a fonte. É uma mensagem gerada no mais profundo da realidade espiritual do ser e que se reflete no corpo físico como um convite à reconexão com o amor, ao desenvolvimento do autoamor e do amor ao próximo. Nessa visão, a saúde e o adoecimento são construções do próprio homem e ninguém é vítima de nada, senão de si mesmo, das suas próprias decisões, das suas próprias escolhas, daquilo que decide e determina em sua vida. Portanto, toda cura é também um fenômeno de autocura, porque, para que ela se instale em definitivo, é necessário que haja não simplesmente um alívio dos sintomas e uma resolução do processo biológico no corpo físico, mas também uma reformulação moral do pensamento, do sentimento e da ação, fazendo com que o ser esteja transformado em profundidade, em consonância com a lei divina, ou seja, mais em sintonia com a lei do amor.

O amor é, então, o caminho para a cura?

O amor é o grande medicamento, é a grande finalidade da existência. Na verdade, nós caminhamos em direção a Deus como o “filho pródigo” da parábola de Jesus, reconectando nossa relação com o Pai e retornando para a casa de Deus, que, na verdade, é dentro do nosso próprio coração, onde Deus está. Pouco a pouco, vamos fazendo isso, descobrindo as nossas virtudes, a grandeza íntima que há dentro de nós, tudo aquilo que Deus nos deu como possibilidade evolutiva e que pode nos realizar plenamente. Nesse contexto, o amor representa um movimento medicamentoso por excelência, enquanto movimento de respeito, de consideração, de valorização, de inclusão, de consideração. Ele nos trata as doenças da alma, que são orgulho, egoísmo, vaidade, prepotência, arrogância, e nos coloca em sintonia com a fonte, que é Deus, nos auxiliando a reconectar-nos com o Pai. Desenvolver o amor é o caminho mais rápido, fácil e eficaz para a cura da alma e do corpo.

Nos seminários, você apresentou também o perdão como o caminho para a saúde integral. Fale um pouquinho sobre isso.

Sim, o perdão é condição essencial para a saúde. Sem o perdão, não há paz interior, não há saúde nem física, nem emocional. Shakespeare dizia que não perdoar ou guardar mágoa é como beber veneno, desejando que o outro morra. O veneno age naquele que o guarda, que o cultiva dentro de si. E a mágoa atua dentro de nós na semelhança de uma planta que, uma vez guardada, cultivada, vai crescendo, criando raízes, dá flores, frutos e multiplica-se. E nós acabamos enredados em uma série de dores emocionais, sem que nem saibamos, às vezes, onde tudo começou. Tudo porque vamos guardando as coisas dentro de nós, sem trabalhar, sem dialogar, sem metabolizar emocionalmente aquilo que estamos sentindo, vivenciando. Quando vemos, a situação está numa questão muito profunda e muito grave.

Para que tenhamos paz, é necessário que abracemos o perdão como um projeto. O perdão é uma decisão pela paz, que se traduz em atitudes pelo estabelecimento dessa paz, no entendimento das questões emocionais, das nossas características pessoais, das circunstâncias que envolvem o ato agressor e da responsabilidade e co-responsabilidade nossa no processo. Ele se traduz como um processo, porque não se dá da noite para o dia. Ele se constrói ao longo do tempo e através de atitudes sucessivas de busca dessa metabolização emocional que, muitas vezes, precisa de um acompanhamento terapêutico profissional, através de um psicólogo que faça essa abordagem íntima e ajude-nos a encontrar nossas respostas, sentidos e significados mais profundos.

O perdão passa também pelo acolhimento e aceitação da nossa humanidade e da humanidade do outro, sobretudo, na superação dos traumas, porque só aceitando a condição fundamental do ser humano, de estar num processo contínuo de erro e acerto, é que a gente dá conta de conviver com os equívocos do outro que nos fere e até mesmo com os nossos mesmos. Naturalmente, nós só fazemos para o outro aquilo que fazemos para nós. Então, nós só conseguimos aceitar a humanidade do outro quando aceitamos a nossa própria humanidade, quando acolhemos em nós a nossa capacidade de errar e recomeçar, abraçando o auto-amor como uma proposta de vida. O autoamor é filho da humildade, uma das representações magníficas da amorosidade divina, aquela decisão interna de nos acolher, de nos tratar com ternura, compaixão e com a benevolência que nós necessitamos, embora com a firmeza necessária para domar as nossas paixões e renovarmo-nos de nossos defeitos que julguemos necessários. Então, o perdão é uma atitude de conquista desse estado de paz interior, através do entendimento das circunstâncias que nos envolvem e da decisão pelo amor.

Em Abaeté, é muito grande o número de pessoas viciadas em anti-depressivos, ansiolíticos, bebidas e drogas pesadas, como o crack. O que você poderia falar para essas pessoas?

Toda dependência é uma busca de aplacar o vazio interior através de coisas externas. Mas esse vazio interior, que nós todos temos, só é aplacado pela presença do autoamor. O vazio é um vazio do amor, mas esse amor que nos falta não é o amor que vem do outro, é o amor que vem de dentro, é o amor que a gente pode se dar. Então, para o tratamento e a profilaxia de qualquer processo de dependência, é importante ensinar as pessoas a se valorizarem, se respeitarem, se gostarem. A estabelecerem relações familiares honestas em que as pessoas dialoguem, conversem, estejam atentas umas às outras e partilhem suas emoções, mostrando-se, não de forma idealizada, mas de forma honesta, real, ensinando cada um a ver, em todos nós, luz e sombra, beleza e feúra, coisas positivas e negativas. Nós precisamos aprender a acolher esses dois lados, aprendendo a transformar aquilo que não amamos em nós e a valorizar e desenvolver aquilo que há de bom, de positivo.

A depressão passa pela não aceitação da vida. Há uma mensagem subliminar no depressivo que é: “como não tenho a vida que desejo, não aceito a vida que tenho”. Há também uma mensagem da arrogância, da prepotência de acreditar que, ferindo a si mesmo, fere a própria sociedade, fere o mundo. Muitas vezes, por trás da depressão, há culpas e processos autopunitivos profundos, em virtude da ausência da humildade, em se permitir aceitar a vida como pode ser e de recomeçar quantas vezes forem necessárias para se alcançar a felicidade.

No tratamento da depressão, é importante abordar a questão do desenvolvimento da aceitação da vida, da submissão ativa a Deus. Isso significa “aceitar a vida tal como ela está, mas fazendo tudo para se buscar aquilo que se deseja”, sem abandonar o prazer de viver, sem entrar naquela tristeza patológica, aquela tristeza excessiva que se configura como estado depressivo.

Os antidepressivos são muito úteis quando bem indicados durante um certo período, mas não podem virar uma muleta, eles não são a pílula da felicidade, não podem ser a fonte que nos dão a realização íntima, que aplacam a nossa dor. Nós temos, hoje, na nossa sociedade, uma medicalização excessiva, um uso abusivo de medicamentos, porque não aprendemos a lidar com naturalidade com as nossas emoções. O medo, a tristeza, a raiva, a alegria são emoções básicas, e nós temos que aprender a lidar com elas. Quando não lidamos de forma natural é que elas adoecem, se transformando em mágoa, em pânico, em euforia ou em depressão.

Na nossa sociedade, observamos que há um excesso de medicalização das emoções naturais. Tão logo a pessoa fica triste, já entra com um antidepressivo, um ansiolítico para que ela evite lidar com sua ansiedade ou sua tristeza. Mas a ansiedade e a tristeza são situações naturais da vida, que até um determinado nível são muito positivas e que nos falam muito a respeito de nós mesmos. É importante que o autoconhecimento guie o processo, pra que entendamos o que está acontecendo na nossa alma e na nossa vida. Marta Medeiros fala, de uma forma muito bela, que a tristeza é o quartinho do fundo onde a gente analisa a nossa vida. E é isso que nós temos que aprender: a estudar nossas emoções, nossas características, para retirar delas ensinamentos preciosos a respeito de nós mesmos e do outro e, com isso, nos tornarmos pessoas melhores.

O suicídio pode ser visto como uma doença da alma?

O suicídio é um ato de desespero em que o sujeito tenta matar a dor que há nele e, muitas vezes, ele envolve a família e os outros numa situação de dor ainda maior do que aquela que era a dor original. Por isso, também é uma manifestação de egoísmo. Nós devemos evitar o suicídio em nossa sociedade, estabelecendo acolhimento à dor emocional das pessoas, através de serviços competentes em que as pessoas possam ser escutadas, ouvidas, acolhidas e onde possam ser bem orientadas através de um acompanhamento terapêutico com profissionais competentes, que possam nos ajudar a metabolizar as dores e as dificuldades que vivemos. Precisamos, sobretudo, de um ensino religioso e moral que nos dê base e subsídio para entender quem somos, o que viemos fazer e para onde vamos e uma base moral que nos forneça elementos de estímulo ao desenvolvimento das virtudes que são potências da alma e verdadeiros profiláticos contra o suicídio.

Na visão espírita, o suicídio é um ato muito infeliz, porque o indivíduo reconhece-se vivo do outro lado da vida, matando somente o corpo físico. E aquela dor original, além de não estar resolvida, está aumentada pela circunstância do ato agressor à própria vida. Esse é um direito que nenhum de nós tem. Somente a Deus compete dar e retirar a vida. Então, diante daquele que cometeu o suicídio, nós devemos agir com compaixão e misericórdia, enviando-lhe as nossas preces. As orações sinceras daqueles que amam ou mesmo daqueles que têm boa vontade e desejam auxiliar chegam até o coração daqueles que estão em sofrimento do outro lado da vida como verdadeiros bálsamos, alívios e medicamentos que amenizam seu sofrimento e os auxiliam a prosseguir. Como a vida é eterna, cada um terá a oportunidade de se renovar, de recomeçar, embora tendo que lidar com os resultados infelizes que, às vezes, são sofrimentos desnecessários desses atos de desespero.

Na edição de dezembro, o Nosso Jornal abordou um problema preocupante, que é o número crescente de acidentes de trânsito com vítimas fatais, muitas vezes em veículos dirigidos por menores. O que poderíamos dizer, sobretudo aos pais que têm dificuldade em impor limites, em dizer não, e acabam emprestando o carro ou presenteando o filho menor com motocicletas?

Isso não pode acontecer de forma alguma. Os pais não podem abrir mão do seu direito e da sua responsabilidade como educadores. Nossa sociedade exige que, para uma pessoa dirigir, ela esteja habilitada, e isso somente após a maioridade. Os pais têm que aprender a respeitar isso. Se não respeitam essa condição fundamental básica, assumem as consequências pelos erros daqueles que lhes são responsabilidade direta. Nós sabemos que, hoje, é muito difícil para as famílias aprender a colocar limites, porque vivemos processos educacionais que dão muita liberalidade aos jovens, sem o processo educacional que os ensine a usar a liberdade com responsabilidade. Então, os pais, enquanto educadores morais, não podem abrir mão desse papel. Devem ser aqueles que utilizam de vários instrumentos, procuram ajuda profissional se necessário, mas de forma alguma abrem mão do seu papel, desistindo dos adolescentes a eles vinculados. Precisam ser, sim, aqueles que buscam todos os recursos e meios para fornecer ao indivíduo o elemento educacional, que vem, sobretudo, pelo exemplo, porque os adolescentes aprendem muito mais vendo o que os pais fazem, do que escutando o que os pais dizem. O exemplo da família é extremamente importante no processo educacional, e a sociedade deve ter leis e cumprimentos das leis, deve estabelecer processos educativos para menores que sejam pegos sem habilitação, assim como para aqueles que sejam pegos alcoolizados, dirigindo, colocando em risco a sua vida e a vida de outros. E os pais devem agir com responsabilidade também, estabelecendo processos internos na dinâmica familiar que sejam processos delimitadores quando os menores ou quando os indivíduos, mesmo maiores, atinjam esse nível de irresponsabilidade, colocando em risco a sociedade. É dever dos pais fazer essa delimitação.

Inclusive, com internet, não é? Os jogos de internet que são viciantes também…

Jogos viciantes, agressivos, que desenvolvem a agressividade no indivíduo e que, muitas vezes, alienam o indivíduo da vida de relação. Nós temos visto adolescentes viciados em jogos de internet que não priorizam a relação com o outro, o estar fora de casa, o conviver. Com isso, acabam se tornando adultos fechados, reprimidos e com dificuldades de estabelecer laços afetivos profundos. Então, todas as instrumentações da vida são positivas, mas têm que ser limitadas. Os pais têm que limitar o uso da internet, entrar em acordo com seus filhos. Não agir simplesmente de forma autoritária, mas estabelecer acordos para processos educativos que levem o jovem a se envovler com esporte, com a sociabilização, com a educação moral, através da educação religiosa, das atividades sociais, a responsabilização com o bem a seus semelhante. O jovem pode ser direcionado para atividades voluntárias, caritativas, que são extremamente educadoras e fazem o jovem conhecer outras realidades, vislumbrar outras perspectivas e, muitas vezes, ressignificar a própria vida e o próprio contexto. É dever dos pais estabelecer os limites e as regras da convivência sem abrir mão desse direito e dessa obrigação moral que eles têm.

Esse ciclo de palestras em Abaeté foi também o lançamento do seu livro “Cura e Autocura”. Fale um pouquinho sobre esse trabalho.

“Cura e Autocura, uma visão médico-espírita”, é uma publicação da Ame editora, o órgão editorial da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, e aborda a saúde e o adoecimento dentro da visão espírita. São 16 capítulos, abordando diversos aspectos como, por exemplo, o perdão como caminho de cura, a caridade como instrumento de cura, a ação do pensamento na saúde e na doença, as curas de Jesus, a saúde e o adoecimento na visão espírita, terapêutica, médico-espírita, bem como o terapeuta como curador e outros assuntos, com apresentação de casos, de trabalhos práticos também nesse sentido, sobretudo o amor e o auto-amor como caminhos de encontro do ser consigo mesmo e de cura do corpo e da alma. Esses livros podem ser adquiridos diretamente na editora através do telefone             (31) 3332-5293      , pelo site www.amemg.com.br ou nas grandes livrarias em Belo Horizonte.

Para finalizar, deixe uma mensagem de Natal para nossos leitores.

A mensagem de Natal que eu deixo é que todos nós aprendamos a reconhecer em Jesus o guia e modelo de nossas vidas. Ele é a síntese do amor universal, é o grande representante da ética transpessoal do amor, do belo e do bem. Nós temos que entender que sua mensagem não é uma mensagem religiosa para ser vivida nas igrejas, nos centros, nos cultos, mas é uma mensagem para todo dia, para todo e qualquer instante. É uma mensagem de transformação e renovação da alma, de reconexão com o Pai, com o Criador dentro de nós, de religação com a fonte do eterno bem e do belo dentro de nós. As virtudes pregadas e vividas pelo Cristo são a grande referência de vida para que nós conquistemos um padrão de comportamento que seja superior e exemplar, que pacifica nossas almas e realiza nossos espíritos. Deve ser uma mensagem que está muito mais na prática do que nos nossos lábios. Ela tem que estar nas nossas ações, sendo esforço e vivência no dia-a-dia. Ela é a força que pode renovar e transformar a nossa sociedade.