terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nostalgia e Depressão



As síndromes de infelicidade cultivada tornam-se estados patológicos mais profundos de nostalgia, que induzem à depressão. 
O ser humano tem necessidade de auto-expressão, e isso somente é possível quando se sente livre. 
Vitimado pela insegurança e pelo arrependimento, torna-se joguete da nostalgia e da depressão, perdendo a liberdade de movimentos, de ação e de aspiração, face ao estado sombrio em que se homizia. 
A nostalgia reflete evocações inconscientes, que parecem haver sido ricas de momentos felizes, que não mais se experimentam. Pode proceder de existências transatas do Espírito, que ora as recapitula nos recônditos profundos do ser. lamentando, sem dar-se conta, não mais as fruir; ou de ocorrências da atual. 
Toda perda de bens e de dádivas de prazer, de júbilos, que já não retornam, produzem estados nostálgicos. Não obstante, essa apresentação inicial é saudável, porque expressa equilíbrio, oscilar das emoções dentro de parâmetros perfeitamente naturais. Quando porém, se incorpora ao dia-a-dia, gerando tristeza e pessimismo, torna-se distúrbio que se agrava na razão direta em que reincide no comportamento emocional. 
A depressão é sempre uma forma patológica do estado nostálgico. 
Esse deperecimento emocional, fez-se também corporal, já que se entrelaçam os fenômenos físicos e psicológicos. 
A depressão é acompanhada, quase sempre, da perda da fé em si mesmo, nas demais pessoas e em Deus... Os postulados religiosos não conseguem permanecer gerando equilíbrio, porque se esfacelam ante as reações aflitivas do organismo físico. Não se acreditar capaz de reagir ao estado crepuscular, caracteriza a gravidade do transtorno emocional. 
Tenha-se em mente um instrumento qualquer. Quando harmonizado, com as peças ajustadas, produz, sendo utilizado com precisão na função que lhe diz respeito. Quando apresenta qualquer irregularidade mecânica, perde a qualidade operacional. Se a deficiência é grave, apresentando-se em alguma peça relevante, para nada mais serve. 
Do mesmo modo, a depressão tem a sua repercussão orgânica ou vice-versa. Um equipamento desorganizado não pode produzir como seria de desejar. Assim, o corpo em desajuste leva a estados emocionais irregulares, tanto quanto esses produzem sensações e enarmonias perturbadoras na conduta psicológica. 
No seu início, a depressão se apresenta como desinteresse pelas coisas e pessoas que antes tinham sentido existencial, atividades que estimulavam à luta, realizações que eram motivadoras para o sentido da vida. 
À medida que se agrava, a alienação faz que o paciente se encontre em um lugar onde não está a sua realidade. 
Poderá deter-se em qualquer situação sem que participe da ocorrência, olhar distante e a mente sem ação, fixada na própria compaixão, na descrença da recuperação da saúde. Normalmente, porém, a grande maioria de depressivos pode conservar a rotina da vida, embora sob expressivo esforço, acreditando-se incapaz de resistir à situação vexatória, desagradável, por muito tempo. 
Num estado saudável, o indivíduo sente-se bem, experimentando também dor, tristeza, nostalgia, ansiedade, já que esse oscilar da normalidade é característica dela mesma. Todavia, quando tais ocorrências produzem infelicidade, apresentando-se como verdadeiras desgraças, eis que a depressão se está fixando, tomando corpo lentamente, em forma de reação ao mundo e a todos os seus elementos. 
A doença emocional, desse modo, apresenta-se em ambos os níveis da personalidade humana: corpo e mente. 
O som provém do instrumento. O que ao segundo afeta, reflete-se no primeiro, na sua qualidade de exteriorização. 
Idéias demoradamente recalcadas, que se negam a externar-se - tristezas, incertezas, medos, ciúmes, ansiedades - contribuem para estados nostálgicos e depressões, que somente podem ser resolvidos, à medida que sejam liberados, deixando a área psicológica em que se refugiam e libertando-a da carga emocional perturbadora. 
Toda castração, toda repressão produz efeitos devastadores no comportamento emocional, dando campo à instalação de desordens da personalidade, dentre as quais se destaca a depressão. 
É imprescindível, portanto, que o paciente entre em contato com o seu conflito, que o libere, desse modo superando o estado depressivo. 
Noutras vezes, a perda dos sentimentos, a fuga para uma aparência indiferente diante das desgraças próprias ou alheias, um falso estoicismo contribuem para que o fechar-se em si mesmo, se transforme em um permanente estado de depressão, por negar-se a amar, embora reclamando da falta de amor dos outros. 
Diante de alguém que realmente se interesse pelo seu problema, o paciente pode experimentar uma explosão de lágrimas, todavia, se não estiver interessado profundamente em desembaraçar-se da couraça retentiva, fechando-se outra vez para prosseguir na atitude estóica em que se apraz, negando o mundo e as ocorrências desagradáveis, permanecerá ilhado no transtorno depressivo. 
Nem sempre a depressão se expressará de forma autodestrutiva, mas com estado de coração pesado ou preso, disfarçando o esforço que se faz para a rotina cotidiana, ante as correntes que prostram no leito e ali retêm. 
Para que se logre prosseguir, é comum ao paciente a adoção de uma atitude de rigidez, de determinação e desinteresse pela sua vida interna, afivelando uma máscara ao rosto, que se apresenta patibular, e podem ser percebidas no corpo essas decisões em forma de rigidez, falta de movimentos harmônicos... 
Ainda podemos relacionar como psicogênese de alguns estados depressivos com impulsos suicidas, a conclusão a que o indivíduo chega, considerando-se um fracasso na sua condição, masculina ou feminina, determinando-se por não continuar a existência. A situação se torna mais grave, quando se acerca de uma idade especial, 35 ou 40 anos, um pouco mais, um pouco menos, e lhe parece que não conseguiu o que anelava, não se havendo realizado em tal ou qual área, embora noutras se encontre muito bem. Essa reflexão autopunitiva dá gênese a estado depressivo com indução ao suicídio. 
Esse sentimento de fracasso, de impossibilidade de êxito pode, também, originar-se em alguma agressão ou rejeição na infância, por parte do pai ou da mãe, criando uma negação pelo corpo ou por si mesmo, e, quando de causa sexual, perturbando completamente o amadurecimento e a expressão da libido. 
Nesse capítulo, anotamos a forte incidência de fenômenos obsessivos, que podem desencadear o processo depressivo, abrindo espaço para o suicídio, ou se fixando, a partir do transtorno psicótico, direcionando o paciente para a etapa trágica da autodestruição. 
Seja, porém, qual for a gênese desses distúrbios, é de relevante importância para o enfermo considerar que não é doente, mas que se encontra em fase de doença, trabalhando-se sem autocomiseração, nem autopunição para reencontrar os objetivos da existência. Sem o esforço pessoal, mui dificilmente será encontrada uma fórmula ideal para o reequilíbrio, mesmo que sob a terapia de neurolépticos. 
O encontro com a consciência, através de avaliação das possibilidades que se desenham para o ser, no seu processo evolutivo, tem valor primacial, porque liberta-o da fixação da idéia depressiva, da autocompaixão, facultando campo para a renovação mental e a ação construtora. 
Sem dúvida, uma bem orientada disciplina de movimentos corporais, revitalizando os anéis e proporcionando estímulos físicos, contribui de forma valiosa para a libertação dos miasmas que intoxicam os centros de força. 
Naturalmente, quando o processo se instala - nostalgia que conduz à depressão - a terapia bioenergética (Reich, como também a espírita), a logoterapia (Viktor Frankl), ou conforme se apresentem as síndromes, o concurso do psicoterapeuta especializado, bem como de um grupo de ajuda, se fazem indispensáveis. 
A eleição do recurso terapêutico deve ser feita pelo paciente, se dispuser da necessária lucidez para tanto, ou a dos familiares, com melhor juízo, a fim de evitar danos compreensíveis, os quais, ocorrendo, geram mais complexidades e dificuldades de recuperação. 
Seja, no entanto, qual for a problemática nessa área, a criação de uma psicosfera saudável em torno do paciente, a mudança de fatores psicossociais no lar e mesmo no ambiente de trabalho constituem valiosos recursos para a reconquista da saúde mental e emocional. 
O homem é a medida dos seus esforços e lutas interiores para o autocrescimento, para a aquisição das paisagens emocionais. 

Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco

A ABORDAGEM ESPÍRITA DA DEPRESSÃO



O que é, por que e como ela surge.
Médicos e renomados médiuns espíritas ensinam como vencer este mal.

Por Erika Silveira
Um estado de tristeza constante que persiste por mais de quinze dias consecutivos, queda de energia, vontade e interesse; alterações no apetite, sono e desejos sexuais, podem significar os primeiros sintomas de uma crise de depressão. É um problema que atinge um número cada vez maior de pessoas nos tempos atuais, mas como prevenir e combater este mal da vida moderna?

Nesta entrevista, o médico neuropsiquiatra e psicoterapeuta, dr. Franklin Antonio Ribeiro, dirigente do Grupo Espírita Hosana Krikor e membro do Núcleo de Estudos dos Problemas Espirituais e Religiosos (NEPER), do Instituto de Psiquiatria da USP, esclarece quais são seus principais agentes causadores e como a ciência e a doutrina espírita podem trabalhar juntas.

A depressão pode ocorrer em qualquer idade?

Acontece em todas as idades, inclusive na infância. Uma tese apresentada em um congresso de psicanálise em Roma, no ano de 1953, mostrou que a falta de carinho e atenção pode causar depressão. A experiência foi realizada com 165 meninos que conviveram com as mães durante pelo menos seis meses e depois se afastaram por algum motivo. No primeiro mês, os bebês começavam a chorar mais, se tornavam tristes e mantinham distanciamento das pessoas que se aproximavam. No segundo, já não tinham a mesma qualidade no ganho de peso e altura e no terceiro, se as mães não retornassem, passavam a adquirir infecções com maior facilidade. Alguns chegavam a falecer. No caso das mães voltarem, os bebês se curavam da depressão. Isso mostra que o amor é um elemento valioso para tratar o problema.

A depressão pode ocorrer também na adolescência, tendo como sintoma mais comum a irritabilidade, aliás, o número de jovens com depressão vem aumentando devido ao uso exagerado do álcool e das drogas. O álcool é o maior agente depressor de todos. Mexe com o sistema controlador do humor, levando o indivíduo a ter alterações de comportamento. À principio, o álcool desinibe, por isso a maioria das pessoas gosta de beber, só que se houver predisposição genética, pode ocorrer a dependência.

Já na terceira idade, ocorre alteração de memória. O esquecimento exagerado é um sinal no idoso.

Como a depressão é analisada do ponto de vista médico, humanístico e espiritual?

A depressão tem várias faces. Do ponto de vista humanístico, o amor, desde a infância, é fator primordial e começa dentro da família. Se há uma relação sincera entre os parceiros, a criança vai crescer dentro de um lar estruturado, mesmo com todas as dificuldades naturais de uma relação humana. O indivíduo aprende desde cedo a lidar com a insatisfação, com as crises, com o respeito, amizade, desprendimento e outros aspectos importantes nos relacionamentos.

Muitas vezes, se a pessoa está com a auto-estima baixa, sem autoconfiança, desanimada, desinteressada, sem prazer na vida e sente que alguém se interessa por ela, sua imunidade melhora muito. O ser humano precisa se sentir reconhecido. Sem isso, começa a sentir uma sensação de vazio e angústia.

O deprimido tem equívocos em relação ao que pensa sobre si mesmo. O indivíduo não se conforma com aquilo que está podendo ser e o que gostaria de se tornar.

Do ponto de vista médico, a depressão é uma falta de neurotransmissores no cérebro, que necessita de medicamento, ou seja, de um controle químico.

Pelo ângulo espiritual, a culpa, o remorso, a mágoa e o ressentimento levam a pessoa a estados depressivos, podendo causar o desenvolvimento de doenças psicossomáticas e até mesmo câncer. Portanto, o amor e o perdão que a doutrina espírita tanto nos ensina são sentimentos também preventivos.

Quais são os tipos de depressão?

Na depressão primária o indivíduo nasce com falta de neurotransmissores e com doses de remédio e amor a depressão pode ser evitada. Lembramos também que a depressão recebe os fatores genéticos. Estudos com irmãos gêmeos comprovam o fato.

Na secundária, há fatores que podem desencadear a depressão como alguns medicamentos que afetam o humor, períodos pós-cirurgia, pós-parto, pré-menstruais, menopausa, entre outros.

O que fazer diante dos sintomas de uma depressão?

Primeiro procurar um médico psiquiatra para que não sejam tomados remédios ministrados de forma errada.. Cada paciente necessita de um antidepressivo específico. Se além do remédio, da terapia, dos cuidados com o sono, com a alimentação e das relações, o deprimido fizer um tratamento espiritual com passes magnéticos, água fluidificada e leitura do Evangelho, tanto melhor. O tratamento completo engloba o biológico, psicológico, social e espiritual.

Como prevenir?

Se o fator genético for muito forte, pode-se evitar os fatores psicológicos e espirituais. Psicologicamente, podemos ensinar a criança a lidar com a falta das coisas e das pessoas, estabelecendo limites. Educar é frustrar, porque a vida na Terra possui perda, dor, sofrimento e inevitavelmente passaremos por situações assim. Se formos educados desde cedo a enfrentar as situações, estaremos mais bem equipados. Se a cada sofrimento os pais derem um presente, ou de certa forma, satisfizerem o princípio do prazer o tempo inteiro, estarão criando seres inseguros, rebeldes, que aprenderão a ver na matéria a solução para seus problemas. Ao contrário disso, devem ensinar o princípio do perdão, da verdade, sinceridade, respeito, lealdade, companheirismo e diálogo.

A verdadeira prevenção está no autoconhecimento, no amor a si mesmo e ao próximo, tendo consciência de que os seres humanos são como são, e não da forma como gostaríamos que fossem. Só conseguimos compreender o outro, quando nos compreendemos, aprendendo a aceitar, a lidar com a insatisfação. Não há como prevenir depressão senão passarmos por nós mesmos. Deus está dentro de nós, então agradeça a Ele pela vida. Quando o temporal passa, surge um lindo sol.


A MEDITAÇÃO NO COMBATE À DEPRESSÃO

Apesar das técnicas de meditação serem ensinadas pelos orientais há séculos, estão sendo descobertas e utilizadas recentemente pelos ocidentais.

Humberto Pazian, autor do livro Meditação - Um Caminho para a Felicidade, relata em sua obra como os conceitos, técnicas e experiências na prática da meditação podem auxiliar as pessoas a se sentirem mais felizes e realizadas. “Se entendermos que uma perfeita interação entre corpo, mente e espírito, nos fará atingir a verdadeira felicidade e reconhecermos a meditação como um caminho para alcançá-la, só nos faltará um pouco de determinação para criarmos em nossas vidas uma pequena porta para que adentre a Grande Luz”, diz. Existem variados tipos e técnicas para meditarmos, como a meditação zen-budista, hindu etc. A seguir, Pazian esclarece alguns pontos básicos sobre meditação.

O que é meditação e seus principais benefícios?

Existem diversas explicações e sentidos, de acordo com cada escola ou organização de estudos. No meu modo de entender, gosto de dizer que meditar é “estar” com Deus e isso traz paz e harmonia.

Quanto tempo a pessoa necessita para praticar?

Apenas como exemplo, Jesus “estava com Deus” todo o tempo e a sua vida é conhecida de todos nós pela sua grandeza.

Como estamos ainda no início de nossa caminhada evolutiva, alguns minutos pela manhã e pela noite, diariamente, são um excelente começo.

Como a meditação pode ajudar no tratamento da depressão?

A depressão não acontece de um dia para o outro, pois é um processo lento que vai se alojando e desarmonizando nosso ser. A prática da meditação vai trazendo novamente a harmonia e a eliminação do estresse que existe nesses casos, além de servir também como método preventivo.

Existem técnicas certas para meditar?

É só começar a buscar a presença Divina em todo o momento possível e sem dúvida a maneira mais apropriada chegará até você.

Ensine um exercício simples que as pessoas possam praticar se estiverem se sentindo cansadas e desanimadas.

Se possível, a pessoa deve acordar um pouquinho mais cedo do que o habitual, procurar um cantinho sossegado e sentar-se calmamente. Esquecer de tudo; horários, obrigações, tristezas e alegrias e concentre-se na respiração; inspirando e expirando com tranqüilidade. Observe seus pensamentos, mas não se fixe neles. Após um breve período pense em Deus, procurem senti-lo com todo o amor que haja em seu coração e se deixe levar por essa sensação indescritível.

Quais têm sido os benéficos relatados pelas pessoas que leram o livro e passaram a praticar?

São inúmeros casos que nos chegam de pessoas que mudaram suas vidas em vários sentidos após a prática regular da meditação. No meu caso, por exemplo, posso assegurar que para realizar o trabalho espiritual que entendo como minha tarefa, a meditação tem sido fundamental. Não sei se seria possível sem ela.

Como utilizar a prece aliada à meditação no auxílio ao combate à depressão?

Orar pedindo, acreditando na melhora, meditar com amor e fazer por merecer a cura buscando no Evangelho o caminho a seguir.

Deixe-nos uma mensagem.

Num estado crônico de depressão é sempre importante procurar o auxílio de um profissional, seja médico ou terapeuta habilitado, além da ajuda espiritual. Porque como foi dito, o quadro depressivo não surge de um momento para o outro e a meditação - que é o nosso desejo de “estarmos com Deus” - tem sido um excelente método preventivo, não só contra a depressão, mas contra todos os males que surgem ou atingem nossos espíritos.


DEPRESSÃO

Joanna de angelis / Divaldo Pereira Franco
Mensagem extraída da obra Receitas de Paz


A depressão tem a sua gênese no espírito, que reencarna com alta dose de culpa, quando renteando no processo da evolução sob fatores negativos que lhe assinalam a marcha e de que não se resolveu por liberar-se em definitivo. Com a consciência culpada, sofrendo os gravames que lhe dilaceram a alegria íntima, imprime nas células os elementos que as desconectam, propiciando, em largo prazo, o desencadeamento dessa psicose que domina uma centena de milhões de criaturas na atualidade. Se desejarmos examinar as causas psicológicas, genéticas e orgânicas, bem estudadas pelas ciências que se encarregam de penetrar o problema, temos que levar em conta o espírito imortal, gerador dos quadros emocionais e físicos de que necessita, para crescer na direção de Deus.

A depressão instala-se, a pouco e pouco, porque as correntes psíquicas desconexas que a desencadeiam, desarticulam, vagarosamente, o equilíbrio mental.

Quando irrompe, exteriorizando-se, dominadora, suas raízes estão fixadas nos painéis da alma rebelde ou receosa de prosseguir nos compromissos redentores abraçados. Face as suas cáusticas manifestações, a terapia de emergência faz-se omprescindível, embora, os métodos acadêmicos vigente, pura e simplesmente, não sejam suficientes para erradicá-la. Permanecendo as ocorrências psicossociais, sócio-econômicas, psico-afetivas, que produzem a ansiedade, certamente se repetirão os distúrbios no comportamento do indivíduo conduzindo a novos estados depressivos.

Abre-te ao amor e combaterás as ocorrências depressivas, movimentando-te em paz na área da afetividade com o pensamento em Deus.

Evita a hora vazia e resguarda-te da sofreguidão pelo excesso de trabalho. Adestra-te, mentalmente, na resignação diante do que te ocorra de desagradável e não possas mudar.

Quando sitiado pela idéia depressiva alarga o campo de raciocínio e combate o pensamento pessimista. Açodado pelas reminiscências perniciosas, de contornos imprecisos, sobrepõe as aspirações da luta e age, vencendo o cansaço.

Quem se habilita na ação bem conduzida e dirige o raciocínio com equilíbrio, não tomba nas redes bem urdidas da depressão. Toda vez que uma idéia prejudicial intentar espraiar-se nas telas do pensamento obnubilando-te a razão, recorre à prece e a polivalência de conceitos, impedindo-lhe a fixação.

Agradecendo a Deus a benção do renascimento na carne, conscientiza-te da sua utilidade e significação superior, combatendo os receios do passado espiritual, os mecanis mos inconscientes de culpa, e produze com alegria. Recebendo ou não tratamento especializado sob a orientação de algum facultativo, aprofunda a terapia espiritual e reage, compreendendo que todos os males que infelicitam o homem procedem do espírito que ele é, no qual se encontram estruturadas as conquistas e as quedas, no largo mecanismo da evolução inevitável.



TRISTEZA
Irmão José / Carlos A. Baccelli
Mensagem extraída do livro Lições da Vida


Não permitamos que a triste nos mergulhe na depressão.

A apatia é abismo profundo do sairemos apenas à custa de muito esforço.

Não nos entreguemos, inermes, aos problemas que nos rodeiam, ensimesmados na tristeza.

Os que se rendem ao desanimo transformam-se em pacientes psiquiátricos, vitimados por estranha anemia de ordem moral.

Quando sentirmos que a tristeza insiste em se demorar conosco, ocupemos as nossas mãos e a nossa mente no serviço do bem. deixemos a poltrona do comodismo e desintoxiquemo-nos no suor da caridade.

Se abatidos espiritualmente no reconhecimento das próprias imperfeições, sintamo-nos incentivados à luta, ao invés de admitirmos a derrota.

Reajamos contra a melancolia, sacudindo o seu jugo de nossos ombros.

Reparemos que em nossos caminhos, de fato, “as bênçãos são muito mais numerosas do que as dores”. Observemos os exemplos de quantos se encontram lutando com limitações maiores que as nossas, sem que lhes escutemos uma reclamação sequer. No livro dos Provérbios, cap. 17, v. 22, está escrito: “O coração alegre é como o bom remédio, mas o espírito abatido seca até os ossos”.

(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 24, paginas 06-10)

DEPRESSÕES REEDUCATIVAS


DEPRESSÕES REEDUCATIVAS

"SABEIS POR QUE, ÀS VEZES, UMA VAGA TRISTEZA
SE APODERA DOS VOSSOS CORAÇÕES E VOS LEVA
A CONSIDERAR AMARGA A VIDA?" E.S.E., CAP. 5
Dores existenciais, quem não as experimenta?
A pergunta do espírito François de Geneve foi elaborada num tempo em que os avanços das ciências psíquicas não tinham alcançado as profícuas conquistas da atualidade. Com o título "melancolia" e utilizando o saber espírita, esse colaborador da Equipe Verdade deu a primeira palavra sobre a grave questão dos transtornos de humor e sua relação com a vida espiritual.
A luz da ciência, depressão primária é o quadro cuja doença não depende de fatores causais para surgir, sendo, em si mesma, causa e efeito. Depressão secundária é aquela que decorre de um fator causal que pode ser, por exemplo, uma outra doença grave que resulta em levar o paciente a ficar deprimido.
Boa parcela dos episódios de "depressão primária crônica", aqueles que se prolongam e agravam no tempo mas que permanecem nos limites da neurose, ou seja, que não alcançam o nível de perda da realidade, são casos que merecem uma análise sob o enfoque espiritual graças à sua íntima vinculação com o crescimento interior.
A luz da imortalidade, as referidas depressões são como uma "tristeza do espírito" que ampliam a consciência, de si. Um processo que se inicia, na maioria dos casos, antes do retorno à vida corporal quando a alma, em estado de maior "liberdade dos sentidos", percebe com clareza a natureza de suas imperfeições, suas faltas e suas necessidades, que configuram um marcante sentimento de falência e desvio das Leis Naturais. A partir dessa visão ampliada, são estabelecidos registros profundos de inferioridade e desvalor pessoal em razão da insipiência na arte do perdão, especialmente do autoperdão. Nessa hora quando a criatura dispõe de créditos mínimos para suportar esse "espelho da consciência", seu processo corretivo inicia-se na própria vida extrafísica em tratamentos muitos similares aos dos nosocômios terrestres, até que haja um apaziguamento mental que lhe permita o retorno ao corpo, a mesmo não ocorre com quantos experimentam a "dura realidade" de se verem como são após a morte, mas que tombam nas garras impiedosas das trevas a que fizeram jus, regressando à vida corporal em condições expiatórias sob domínio de severas psicoses para colher os frutos das sementes que lançou.
Nessa ótica, depressão é um doloroso estado de desilusão que acomete o ser em busca da sua recuperação perante a própria consciência na vida física.
Essa análise amplia o conceito de reforma íntima por levar-nos a concluir que soa para alma o instante divino para a reparação, conclamando-a, após esbanjar a "Herança do Pai", assim como o "Filho Pródigo" da parábola evangélica, ao recomeço progressivo no "Colo Paternal", onde encontrará descanso e segurança - valores perdidos há milênios nos terrenos de sua vida afetiva.
Semelhantes depressões, portanto, são o resultado mais torturante da longa trajetória no egoísmo, porque o núcleo desse transtorno chama-se desapontamento ou contrariedade, isto é, a incapacidade de viver e conviver com a frustração de não poder ser como se quer e ter que aceitar a vida como ela é, e não como se gostaria que fosse. Considerando o egoísmo como o hábito de ter nossos caprichos pessoais atendidos, a contrariedade é o preço que pagamos pelo esbanjamento do interesse individualista em milênios afora, mas, igualmente, é o sentimento que nos fará refletir na necessidade de mudança em busca de uma postura ajustada com as Leis Naturais da vida.
Para a maioria de nós, contrariedade significa que algo ou algum acontecimento não saiu como esperávamos, por isso algumas criaturas costumam dizer: "nada na minha vida deu certo!". É tudo uma questão de interpretação. Quase sempre essa expressão "não deu certo" quer dizer que não saiu conforme nosso egoísmo. O desapontamento, portanto, é altamente educativo quando a alma, ao invés de optar pela tristeza e revolta, prefere enxergar um futuro diverso daquele que planejou e, no qual, a grande meta da felicidade pode e deve estar incluída.
O renascimento corporal é programado para que a criatura encontre nas ocorrências da existência os ingredientes precisos à sua transformação. Brota então, espontaneamente, o desajuste, em forma de insatisfação crônica com a vida, funcionando como canal de expulsão de culpas armazenadas no tempo, controladas com a força de mecanismos mentais defensivos ainda desconhecidos da ciência humana e eclodindo sem possibilidade de contenção. Um "expurgo psíquico" em doses suportáveis ...
Os sintomas a partir de então são muito conhecidos da medicina humana: insônia, tristeza persistente, idéias de auto-extermínio, vazio existencial e outros tantos. Poderíamos asseverar que almas comprometidas com esse quadro psicológico já renascem com um "ego frágil", suscetível a uma baixa tolerância com suas falhas e estilo de vida, uma dolorosa incapacidade de se aceitar, menos ainda de se amar. No fundo permanece o desejo impotente de querer a vida conforme seus planos, mas tudo conspira para que tenha a vida que precisa em vista de suas necessidades de aperfeiçoamento.
A rebeldia, no entanto, que é a forma revoltante de reagir perante os convites renovadores, pode agravar ainda mais a prova íntima. Nesse caso o homem soçobra em dores emocionais acerbas que o martirizam no clímax da dor-resgate. Medo, revolta, suscetibilidade, impotência diante dos desafios são algumas das expressões afetivas que podem alcançar a morbidez, quando sustentadas pela teimosia em não aceitar os alvitres das circunstâncias que lhe contrariam os sonhos e fantasias de realização e gozo. Forma-se então um quadro de insatisfação crônica com a vida.
Como já dissemos, esse é sem dúvida o mais infeliz efeito do nosso egoísmo, o qual age "contra" nós próprios ao decidirmos abandonar a suposta supremacia e grandeza que pensávamos possuir, em nossas ilusões milenares de orgulho que se desfazem ao sopro renovador da Verdade.
Eis as mais conhecidas facetas provacionais da vida mental e emocional do espírito que experimenta a dor das "depressões primárias crônicas", cujo processo detona sua melhoria espiritual que já vem sendo relegada ao longo dos evos:
* Aflição antecipada com perdas - "neurose de apego" .
* Medo da frustração - "neurose de perfeccionismo" .
* Extrema resistência com a auto-aceitação ˆ"neurose de vergonha" .
* Desgaste energético pelo esforço para manter controle - "neurose de domínio" .
* Formas sutis de autopunição - "neurose de culpa" .
* Nítida sensação de que o esforço de melhora é infrutífero - "neurose de ansiedade".
* Acentuada suscetibilidade nos fatos corriqueiros - "neurose de autopiedade".
* Surgimento imprevisto e sem razões de preocupações inúteis - "neurose de martírio".
A depressão assim analisada é uma forma de focar o mundo provocada por fatores intrínsecos, endógenos, desenvolvidos em milênios de egoísmo e orgulho. Chamamo-la em nosso plano de "silenciosa expiação reparadora" .
Acostumados a impor nossos desejos e a imprimir a marca do individualismo, somos agora chamados pela dor reeducativa a novos posicionamentos que nos custam, quase sempre, a cirurgia dos quistos de pretensão e onipotência, ao preço de "silenciosa expiação" no reino da vida mental. Somos "contrariados" pela vida para que eduquemos nossas potencialidades.
Infelizmente, com raras exceções, nossos gostos são canteiros de ilusões onde semeamos os interesses pessoais, em franca indiferença às necessidades do próximo, colhendo frutos amargos que nos devolvem à realidade.
Há que se ter muita humildade para aceitar a vida como ela é, compreender suas "reclamações" endereçadas à nossa consciência e tomar uma postura reeducativa. O orgulho é o "manto escuro" que tecemos com o fio do egoísmo, com o qual procuramos nos proteger da inferioridade que recalcitramos aceitar em nós mesmos de longa data.
Bom será quando tivermos a coragem de nos mirar no "espelho da honestidade" e aprender a conduta excelsa do perdão, porque quem perdoa conquista sua alforria das celas da mágoa e da culpa. Conquanto a princípio o sentimento de culpa possa fazer parte da reconstrução de nossos caminhos, temos a assinalar que a sua presença ainda é sinal de orgulho por expressar nossa inconformação com o que somos, ou nossa rebeldia em aceitar nossa falibilidade. Se o orgulho é um "manto", com o qual ingenuamente acreditamos estar protegidos dos alvitres vindos de fora concitando-nos à autenticidade, a culpa é a lâmina cortante vindo de dentro que nos retira o controle e exige um novo proceder.
Apesar do quadro expiatório, as depressões reeducativas quando vencidas trazem como prêmio um extraordinário domínio de si mesmo, sem que isso signifique "querer viver a vida a seu gosto", e também um largo autoconhecimento. Passada a prova, ficará o aprendizado.
Essa depressão reeducativa afiniza-se, sobremaneira, com a visão de François de Geneve porque a maior aspiração da alma é se libertar das ilusões da vida material e gozar das companhias eleitas. Assim expressa o autor: "Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra."
Espírito Ermance Dufaux

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Causas atuais das aflições e lições do momento - André Luiz


Causas Atuais das Aflições – De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente: outras, fora desta vida.
Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são conseqüência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.
Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vitimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos!
Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma!
Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!
Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!
Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o principio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.
Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo a origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.
A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições senão a si mesmo? O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria.
Os males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente.
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo V, item 4.

Lições do Momento
Deus é amor invariável e o amor desafivela os grilhões do espírito.
Se há repouso na consciência, a evolução da alma ergue-se, desenvolta, dos alicerces insubstituíveis do sacrifício.
Quem não se bate pelo bem, desce imperceptivelmente para as fileiras do mal.
Junto à correção sempre existe o desacerto, exaltando o mérito do dever na conduta digna.
Identifique, na dificuldade, o favor da Providência Divina para dilatar-lhe a paz, sentindo, no imprevisto da experiência mais grave, o futuro de incitamento à perseverança na boa intenção e vendo, na tibiez de quantos imergiram na invigilância o exemplo indelével daquilo que não deve ser feito.
Quanto maior a sombra em torno, mais valiosa a fonte da luz.
Desse modo, a alegria pura viceja entre a dor e o obstáculo; a resignação santificante nasce em meio às provas difíceis; a renúncia intrépida irrompe no sio da injustiça das emulações acirradas, e a pureza construtiva surge, não raro, em ambiente de viciação mais ampla.
Eis por que, em seu círculo pessoal, se entrecruzam mensagens importantes e diversas a lhe doarem o estímulo e a consolação, o entendimento e a claridade de que você carece para ajustar-se espiritualmente, através das lides variadas de cada instante.
O chefe irritadiço é instrumento providencial da corrigenda.
O companheiro problemático deixa-nos livre o caminho à sementeira da fraternidade sem mescla.
O engano é precioso contraste a ressaltar as linhas configurativas da atitude melhor.
A tortuosidade do caminho demonstra a excelência da estrada reta.
Faça, pois, do momento que transcorre, a lição recolhida para o momento a transcorrer, verificando quantas vezes, em vinte e quatro horas, você é requisitado a auxiliar os semelhantes, e não regateie cooperação.
Na oficina de trabalho, buscam-lhe a gentileza no amparo de muitos corações que se sentem ao desabrigo.
Na via pública, esbarram-lhe o passo, companheiros que vão e vêm buscando encontrar o sorriso que você pode ofertar-lhes como incentivo à esperança.
No recesso do lar, o alvorecer encontra-lhe a presença, em novas possibilidades de exaltar a confiança nos Desígnios da Altura.
Na conversação comum, requisições ostensivas auscultam-lhe a disposição de estender conhecimento e virtude, na enfermagem das chagas morais entrevistas na modulação das vozes e nos traços dos semblantes, afora variegados ensejos de assistir o próximo, a lhe desafiarem a eficiência e a vigilância, tais como a necessidade interior estampada no silêncio do visitante, o azedume do colega menos feliz, o doente a buscar-lhe os préstimos, o sofredor a rogar-lhe compreensão, a abordagem da criancinha desvalida, a surpresa menos agradável, a correspondência a exigir-lhe a atenção ou o noticiário intranqüilo que a imprensa propala.
Pureza inoperante é utopia igual a qualquer outra, e, em razão disso, ignorar a poça infecta é manter-lhe a inconveniência.
Não menospreze, assim, a lição do momento, na certeza de que renovamos idéias, experiências e destinos, cada dia, segundo as particularidades das manifestações de nosso livre-arbítrio.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Humanização na Seara Espírita



Expositores espíritas inspirados, que sensibilizam mentes e corações, derrapam, impacientes e raivosos, em pequenos incidentes de imprudência no trânsito das vias públicas, cinco minutos depois de deixar a tribuna espírita.

Sorrisos, abraços festivos, alegria e afeto efusivos dos encontros doutrinários arrefecem-se, inesperada e incompreensivelmente, alguns minutos depois, quando ficamos a sós com as mesmas pessoas antes entusiasmadas.

Lidadores valorosos embrenham-se no cipoal de suas “folhas de vivências” doutrinárias, alienando-se do contato salutar e espontâneo, aguardando dos outros o aceno de idolatria ou de cordialidade que todos lhe devem, segundo sua interpretação, ante o pedestal de experiências, enquanto, tal colaborador, muita vez, não encontra motivação para emitir um essencial “bom dia” ao deparar-se nos ambientes sociais com alguém de seu grupamento.

Pais distribuem alimentos e carinho aos sofredores sociais em magnífica pose de caridosos, no entanto, meia hora depois, no lar, são impotentes para beijar os seus próprios filhos com ternura. Tais atitudes que integram o cotidiano de nós, os espiritistas, merece uma avaliação oportuna.

Almas mais sensíveis, perante esse episódio de repentina transformação de postura afetiva, não conseguindo entender suas causas, atribuem à hipocrisia, incoerência e deseducação esse fenômeno comportamental.

Observa-se claramente, nos exemplos acima discriminados, uma lamentável defasagem entre a presença do obreiro espírita nos seus ambientes de espiritualização e suas lutas diuturnas além fronteiras do Centro Espírita.

Qual será a razão dessa alteração afetiva indesejável?

Que tem faltado ao aprendiz espírita para transportar ao seu convívio social esses momentos de enlevo emocional desfrutados junto aos grêmios cristãos?

Não estaríamos, ante tais circunstâncias, vivenciando um “afeto artificial” ou um “pseudo-afeto” dentro dos ambientes doutrinários?

O que nos leva a essas mudanças súbitas de estado emocional?

As leiras de relacionamento espírita ensejam melhores expressões do afeto em razão da ausência de fatores sociais coercitivos que distanciam os homens. Seu caráter voluntário e não proibitivo suscita a boa-vontade e a espontaneidade, levando as criaturas a sentirem-se bem aceitas na sua colaboração, criando um clima para relações agradáveis e benfazejas.

Todavia, essa não é a realidade da sociedade escravizada por relações de conveniência, nas quais o interesse pessoal e grupal definem seu códigos de comunicação, sua linguagem e sua praxi. Assim fica o aprendiz espírita com largo e intransferível desafio íntimo de saber como transportar, para semelhantes quadros de suas experiências, as “boas novas” que vem fruindo no contato com as tarefas doutrinárias.

Quando elegemos a humanização na seara espírita não avocamos somente a proposição de sermos mais afetivos. Tratamos sim de uma releitura sobre o foco dos objetivos assinalados para desempenho junto aos grêmios espíritas cristãos.

Hoje destaca-se o Centro Espírita com Escola de Espiritismo, quando o futuro acena para que ele se promova à condição de Escola do Espírito.

Tais terminologias podem aparentemente significar a mesma coisa, no entanto, existe uma ontologia, uma razão de ser em tais perspectivas que define posturas e propostas bem diversas. Como Escola de Espiritismo, em muitos casos, os conteúdos doutrinários são mais valorizados que o homem, enquanto o foco na Escola do Espírito converge as finalidades da agremiação para o “ser”, ou seja, sobre a complexidade existencial da criatura, suas necessidades, seus valores, suas habilidades.

Precisamos promover a casa espírita de mera escola de estudos sistematizados e planejados para um Centro de Convivência e Treinamento para Desenvolvimento dos Traços Morais da Regeneração.

Ensinar Espiritismo sem auxiliar o Espírito a tornar-se um ser integral pode apenas significar transmissão de conteúdos, informação, conhecimento. Para isso, os ambientes de Amor e estudo espíritas haverão de transformar-se pelo jejum da indiferença e pela oração do afeto vivido. A pedagogia do afeto na educação do Espírito tem regime de urgência. Ampliemos o raio de influência do Espiritismo em nós dilatando suas concepções para além do cérebro, atingindo o sagrado templo do coração. Espiritismo na inteligência é informação; Espiritismo no sentimento é transformação.

Quando falamos em humanização, referimo-nos à contextualização, que é oferecer aos profitentes espíritas os instrumentos para que possam fazer dessa informação espírita a sua transformação espiritual. Conhecimento no cérebro quando é contextualizado tem o nome de saber. E saber, em outras palavras, quer dizer aprender as respostas e os caminhos para desenvolver seus potenciais e daqueles que nos rodeiam. O saber é o conhecimento intelectivo que foi absorvido pelo coração.

Contextualizar, portanto, é humanizar a seara. Para contextualizar oferecendo condições aos nossos irmãos de obterem sua paz e suas “respostas Divinas”, precisamos rever esse foco da missão do Centro Espírita, evitando que se torne um lugar de “bancos frios” nos quais assentem “alunos” com largos cabedais intelectuais sobre a novel doutrina, mas com franca inabilidade para se amarem e transportarem esse Amor ao mundo social em que estagiam.

Contextualizar é descobrir horizontes, respostas, caminhos. É construir o saber espírita através do autoconhecimento, descerrando para si mesmo os enigmas da existência.

Podemos questionar qual utilidade terá para nós o aprofundamento nas encantadoras temáticas espíritas se, muitas vezes, em anda ou quase nada tais temáticas estão auxiliando-nos a sermos homens e mulheres de bem, escondendo a vida afetiva onde pulsamos com a nossa mais profunda realidade!

Preparados desde o berço para o sucesso material, raras vezes recebemos “aulas” sobre o Amor. Fomos treinados socialmente para esconder os sentimentos, camuflar as emoções. A educação afetiva, portanto, é o grande desafio no capitulo da transformação interior do “ser”. Ocorre, em verdade, que os seres humanos não estão preparados para serem “humanos”.

O século XXI será o tempo das habilidades pessoais, dilatando os valores humanos em contraposição ao século XX, que foi o período das habilidades técnicas e mecanicistas. Sigamos os rumos apresentados pela UNESCO, que estabeleceu os quatro pilares da educação para o século XXI em

Aprender a ser;

Aprender a fazer;

Aprender a conviver;

Aprender a conhecer.

E empreendamos uma nova era para nossas casas de amor definindo-as como lar espiritual para formação da família universal.

Uma nova e promissora vereda desponta-se na vida daqueles que fruem o ambiente do Centro Espírita. Na casa de Jesus e Kardec o Amor é a lição primeira, e as relações abrem-se para o afeto. Não estando regulado por rígidas hierarquias, nem sob a tutela do frio institucionalismo, a casa espírita apresenta-se como escola social das relações sinceras e duradouras, verdadeiro núcleo de treinamento da convivência regenerativa. Nossa grande meta é o desenvolvimento da afabilidade e doçura nos corações, empreendendo uma campanha promissora por novas vivências nas agremiações espíritas, ricas de humanismo, nas quais acima de quaisquer fatores coloque-se sempre o homem em primeiro plano.

O amor, enquanto sentimento sublime, não carece aprendizado, está ínsito e abundante na alma humana. O mesmo não ocorre com a atitude amorosa, que torna imprescindível o estudo e o hábito. Saber externar esse sentimento dignificante na convivência exige equilíbrio, autoconhecimento, esforço reeducativo das tendências, desejo de melhorar-se e um ambiente que estimule a busca de semelhantes conquistas. E qual ambiente oferece tanto quanto os Centros Doutrinários? Qual grupamento instiga tanto a melhoria pessoal e íntima quanto as agremiações dirigidas sob as diretrizes de Jesus e Kardec?

Obviamente, quando proclamamos a necessidade de uma campanha pró humanização nas leiras de serviço espírita-cristão é, tão somente, no sentido de um maior denodo em investimentos e iniciativas que ofereçam a seus profitentes melhores condições de entendimento e convivência em favor de uma fixação definitiva do caráter humanitário, já latente nos núcleos de tarefa.

Falta-nos emprenhar com maior ostensividade e consciência no trabalho de arregimentação de relacionamentos de maior profundidade afetiva pela saúde de nosso conviver.

As organizações e suas tarefas têm vida própria. Elas são aquilo que dela fazem seus integrantes. Razão pela qual a permuta relacional é a essência das instituições nas quais fazem parte todos os valores e limites do ser humano. Não é assim razoável desconsiderar ou mesmo tratar com indiferença a vida emocional desse intercâmbio, a fim de não alimentarmos ainda mais a ação mecânica e destituída de afeto e estímulo, consumindo os ideais superiores de muitos corações que ingressam nas fileiras do de labor, sem permitir que “o encanto do Amor” e a alegria da amizade faça parte desse concerto de espiritualidade e crescimento pessoal.

Empenhemo-nos em estabelecer estudos, cursos, técnicas, jogos educativos e reciclagens contínuas junto aos grupos que dirigimos, objetivando mais humanização e menos institucionalização.

Igualmente, no campo individual, cada qual reconheça que humanizar é dar de si e não apenas aguardar as atenções alheias, guardando elevadas expectativas para com os outros.

Enquanto dirigentes, invistamos na melhoria das condições da vida interpessoal do grupo, elaborando programas saudáveis de convívio familiar e dilatemos os conhecimentos dos tarefeiros sobre a vida de relações, tratando temáticas específicas e adequadas às necessidades e demandas apresentadas na rotina das atividades.

Enquanto partícipes das sociedades doutrinárias, busquemos construir esse espaço de renovação para cada um de nós, oferecendo nossa cordialidade, ternura, atenção e carinho para os companheiros, enriquecendo os relacionamentos afins e dilatando as possibilidades de crescimento junto ao menos afins.

Um programa permanente, do individual ao coletivo, trará frutos auspiciosos tornando motivante a convivência. Esse é o piso elementar para que as responsabilidades assumidas no trabalho obtenham um melhor resultado e desempenho das capacidades e talentos individuais, reforçando o Centro Espírita à condição de ambiente cristão, mas acrescido da garantia insubstituível que faz do Cristianismo algo essencialmente celeste e universal: seu caráter humanitário, único capaz de promover o progresso dos homens em razão de preparar seu profitente para ser uma “carta viva” da paz e do amor, em plena sociedade de homens atormentados.

Ermance Dufaux

IMPRUDÊNCIA NO TRÂNSITO



IMPRUDÊNCIA NO TRÂNSITO

"QUANTOS HOMENS CAEM POR SUA PRÓPRIA CULPA !
QUANTOS SÃO VÍTIMAS DE SUA IMPREVIDÊNCIA, DE
SEU ORGULHO E DE SUA AMBIÇÃO." E.S.E., CAP. 5.
Cumpríamos nossos afazeres rotineiros no Hospital Esperança, quando fomos chamados com urgência por Dona Maria Modesto Cravo no saguão para "confinamento de acidentados".
Descemos o mais rápido que podíamos em direção aos pavilhões do subsolo acompanhados por Rosângela, jovem aprendiz que se tornou infatigável companheira nos serviços de socorro.
Ao chegarmos, adentramos a unidade de tratamentos especializados e vimos Frederico, excelente cooperador das lides mediúnicas em conhecido estado brasileiro, em condições dolorosas.
Dona modesto nos recebeu com a notícia:
- Fizemos o que foi possível como você sabe Ermance, mas veja o resultado ...
- E qual o prognóstico, Dona Modesto?
- "Coma mental"! Foi recolhido trinta minutos após o acidente sem problemas com vampirismo e nem com o desligamento dos chacras.
- Ficará no monitoramento ou vai para as câmaras de recomposição?
- Por dois dias permanecerá aqui, depois vamos reavaliar o quadro. Verifique você mesma o estado.
Aproximamos. Rosângela sempre atenta acompanhava cada detalhe. Frederico estava com o corpo em estado de languidez, musculatura flácida e muito, ferimentos expostos na região craniana. Um leve toque na sua fronte foi o suficiente para aferir a problemática mental. Intenso barulho de vidros estilhaçados e ferro sendo retorcido, seguido de uma infeliz sensação de descontrole e impotência. O corpo perispiritual semelhava-se a uma massa amolecida que lembrava um corpo após desfalecimento, mas com muito maior soma de flacidez. Não seria exagero dizer que parecia estar se desmanchando. A cor arroxeada dos pés à cabeça dava a idéia cadavérica e assombrosa. Rosângela se apiedava da situação de nosso amigo e teve um leve mal-estar devido à cessão espontânea de energias. Saímos um pouco do ambiente, juntamente com Dona Modesto, enquanto trabalhadores especializados tomavam outras providências.
Dona Modesta, sempre atenciosa, indagou: - Está melhor, Rosângela?
- Sim, foi uma doação imprevista. Estou tranqüila.
Percebendo que Rosângela recuperava-se, dirigiu-se a mim com as informações:
- Como você bem conhece a história, a despeito de suas inúmeras qualidades que dele faziam um homem íntegro, Frederico agia como uma criança ao volante. Sempre imprudente no trânsito, acreditava em demasia na segurança do automóvel e preferiu ignorar os cuidados que deveria tomar. Negou se reeducar nas lições do trânsito e colhe agora o fruto amargo de sua opção. Foi alertado muitas vezes fora do corpo, durante as noites de sono, em vão. Providenciamos amizades que o chamaram na responsabilidade, sem sucesso. Por fim, ele próprio vai ser a lição em si mesmo, embora com o elevadíssimo preço da vida física.
Atenta e sempre educadamente curiosa, Rosângela questionou:
- Poderíamos aventar a hipótese de inimigos espirituais no caso, já que era médium?
- De forma alguma, minha jovem.
- Haveria algum componente cármico em aberto para resgate em forma de morte trágica?
- Também não, Rosângela.
- Algum descuido da parte dele, que não seja na arte de conduzir o veículo?
- Absolutamente, ele era extraordinariamente precavido quanto à manutenção do mesmo, com o objetivo de que usufruísse tudo que podia da máquina. Não ingeria alcoólicos, era possuidor de reconhecida habilidade visual e motora.
- Então, é um caso de imprudência?
- Pura imprudência, minha filha. Ultrapassou em muito a oitava casa decimal nos limites de velocidade, em plena via urbana. Retorna com trinta e sete anos de antecedência deixando família e uma reencarnação promissora com sua mediunidade e vida espírita consciente. Todo o amparo possível e desejável em nome da misericórdia foi-lhe oferecido. O mundo físico nesse instante vai cogitar de carmas e obsessões, resgate e liberação, todavia, o que Frederico mais vai precisar é de tempo, autoperdão, paciência e muitas dolorosas intervenções cirúrgicas.
- Quanta dor desnecessária! - asseverou a jovem com grande lamento.
-Não existe dor desnecessária, Rosângela, existe provas dispensáveis, ou seja, tribulações que poderíamos evitar. A dor será tão grande e valorosa que levará Frederico à virtude da prudência em toda a eternidade. O que é de se lamentar é que poderia aprender isso a preço módico nos investimentos da vida. Não podemos confundir acaso e programação divina.
- Elucide meus raciocínios Dona Modesto, qual a diferença?
A benfeitora, no entanto, como de costume, querendo esquivar-se da postura professoral, falou:
- Querida Ermance, responda você mesma a essa oportuna interrogação que deveria ser refletida e mencionada entre os espíritas na carne.
- Sim, Dona Modesto, com prazer. Como sabemos, o acaso seria uma aberração nas Leis do Universo, portanto, não existe. É parte de uma concepção da ignorância em que ainda estagiamos. Dessa forma, todo acontecimento tem suas razões explicáveis. A programação reencarnatória, entretanto, é um plano com objetivos divinos em favor de quem regressa à sagrada experiência corporal na escola terrena. Semelhante projeto sofre as mais intensas e flexíveis alterações ao longo da jornada. Veja o caso de Frederico que alterou em mais de três décadas o seu retorno. Nem sempre o que acontece está na programação da vida física; nem por isso existe acaso, ou seja, mesmo o "imprevisto" tem finalidades sublimes na ordem universal, embora pudesse ser evitado. Nada existe por acaso, quer dizer, para tudo há uma causa, uma explicação. Isso não significa que tudo tenha que acontecer como acontece. Até os fatos do mal não existem sem causalidade, nem por isso podemos concebê-los como uma obra do Pai, e sim reflexo oriundo de nossas decisões infelizes.
- Em sua ficha não constava o regresso na categoria de morte trágica?
- Não, ele se enquadrava na morte natural por idade, gozando de plena saúde.
- Suponhamos então que constasse um resgate através de tragédia, qual seria sua situação?
Dona Modesta interveio com naturalidade esclarecendo:
- Se assim fosse minha jovem, ainda seria um suicida, porque estaria, nesse caso, antecipando o tempo de sua liberação. Inclusive a categoria de desencarne pode sofrer modificações, conforme o proveito pessoal na reencarnação. Temos casos, aqui mesmo no Hospital, de criaturas que ressarciriam velhos crimes de guerra com desenlaces lentos, sofrendo longamente nas pontas dos bisturis e tesouras cirúrgicas e que, no entanto, levaram um leve escorregão no banheiro e acordaram na vida extrafísica felizes e saudáveis ... Há também mudanças para melhor ...
A conversa avançou, enquanto aguardávamos algumas providências de refazimento a Frederico. Passados alguns minutos, fomos orientados por Dona Modesto:
- Chamei-lhe, Ermance, a fim de que possas integrar a equipe de amparo à família de Frederico. A esposa está inconsolável. Como você sabe, ela não tem a fé espírita e está confusa.
- Sim, vou inteirar-me das iniciativas e logo rumaremos à residência para prestar os auxílios possíveis.
Quando regressávamos para os pavilhões superiores do Hospital, acompanhada por Rosângela, ela retomou sua sede de aprender:
- Ermance, mesmo não tendo sido intencional, a morte de Frederico será considerada um suicídio?
- Certamente. Não há ninguém que vá considerar a morte de alguém um suicídio, mas o Espírito, ao retomar a posse da vida imortal, submete-se aos regimes naturais que vigoram no Universo. Por se tratar de uma criatura tão consciente quanto o médium Frederico, a cobrança consciencial é maior. Ele próprio se imporá severos "castigos".
- Então, mesmo não havendo intenções propositais do ato criminoso, ele guarda um nível de culpabilidade pelo esclarecimento que possuía?
--Certamente. Todo esclarecimento torna-nos mais responsáveis. Quando Frederico retomar a lucidez por completo iniciará uma etapa muito dolorosa de reconstrução mental. Alguns casos similares levam a estágios prolongados de anos a fio na "para-esquizofrenia", um quadro muito similar à doença psiquiátrica da classificação humana agravado pelas ideoplastias. Para isso temos aquele saguão no qual ficam confinados os hebetados em transes psíquicos que a Terra ainda desconhece. Seus quadros vão muito além dos transtornos psicóticos. O fato de não ter a intenção do trespasse e por comportar-se à luz do Evangelho o livrou de outros tantos tormentos voluntários, que ainda poderiam agravar em muito o seu drama, em peregrinações pelas regiões inferiores junto à crosta terrena. Para se obter melhores noções sobre o tema, sugiro a você, minha jovem que reflita e estude o tema Lei de Liberdade, na Parte Terceira de O Livro dos Espíritos, acrescido da oportuna questão 954 que diz:
"Será condenável uma imprudência que compromete a vida sem necessidade?
"Não há culpabilidade, em não havendo intenção, ou consciência perfeita da prática do mal"
Amigos espíritas,
Por traz da imprudência escondem-se, quase sempre, os verdugos da ansiedade, da malquerença, da vaidade de aparências, da avareza e de múltiplas carências que o homem procura preencher correndo riscos e desafios em nome do entretenimento e da vitória transitória.
A postura ética do homem de bem perante as leis civis deve ser a da integridade moral.
A direção de um veículo motorizado é uma arte, e como tal deve ser conduzido: a arte de respeitar a vida.
Os códigos existem para serem cumpridos. Habitua-te à disciplina nesse mister e procura agir com discernimento e vigilância perante as obrigatoriedades que te são pedidas.
Se outros não as seguem, responderão por eles próprios e não por ti.
Tu, porém, age no trânsito memorizando sempre que por traz de cada volante existem almas em provação carregando perigosa arma nas mãos, nem sempre sobre controle.
Procura ser o pacificador e renova teu proceder por mais desacertos nas avenidas do mundo ...
Dirige com o coração e não com o cérebro, e jamais esqueças que todos responderemos pela utilização que fizermos dos bens confiados.
Aprende a respeitar as leis humanas considerando esse um passo favorável para tua melhoria espiritual.
Faze de tua condução uma ocasião de autoconhecimento e procura averiguar o que sustenta a atitude de insensatez em acreditar que jamais ocorrerá contigo os lamentáveis episódios que já ceifaram milhões de corpos, nos testes da prudência e da responsabilidade. Habilidade pessoal adquirida com o tempo é crédito que te solicita mais cautela, enquanto os iludidos nela enxergam competência com permissão para o exagero.
Quanto à segurança das máquinas, analisemo-la como medida de prevenção e segurança, não quesito para o abuso.
Recorda que, até mesmo como pedestre, tens convenções que te cabem para a cooperação nos espaços comunitários.
Nossa tarefa, enquanto desencarnados, é proteger e orientar sempre conforme os limites das convenções, ultrapassando-as somente quando o amor não se torna conivência.
Nesse sentido, estejam certos os amigos na carne que de nossa parte respeitamos o que estipula a lei terrena; assim, apuramos sempre se o ponteiro medidor não ultrapassa a oitava casa decimal como uma medida aferidora de equilíbrio para a harmonia geral, critério seletivo para dispensar amparo e auxílio em casos de reincidência ...
Espírito Ermance Dufaux

domingo, 4 de setembro de 2011

Reforma Íntima



Muitos são os motivos que nos levam à Casa Espírita: Pelo amor, pela dor, convite de alguém, hoje pela razão, etc...

E o que acontece? Assistimos palestras, recebemos o passe, tomamos água fluidificada e vamos embora. Somos espíritas apenas dentro da Casa Espírita, estas atitudes irão se repetir por longo tempo. Mas à medida que vamos estudando e compreendendo melhor os ensinamentos espíritas, sentimos que necessitamos nos integrar mais nas ações de reforma moral da sociedade, e nada melhor para fazermos isso do que iniciando por nós mesmos, ou seja, que sejamos espíritas na convivência com o mundo, e isso nos leva à nossa reforma moral.

Todo espírita estudioso caminha neste sentido, porque compreende que o Espiritismo como filosofia busca atingir o seu mais nobre objetivo, que é a reforma moral da criatura.

A grande maioria dos livros escritos pelas vias mediúnicas são ricos de ensinamentos e verdadeiros tratados de saúde mental, com uma terapia baseada no Evangelho de Jesus e na Codificação Kardequiana.

Livros como: “Auto Conhecimento”, “O Homem Integral”, “O Ser Consciente”, “Espelho D’alma”, “Momentos de Renovação” e outros não necessariamente espíritas, nos indicam a importância da Reforma Íntima, ou renovação de atitudes, como fator essencial para alcançarmos o progresso moral e espiritual, visando à nossa felicidade relativa.

Duas afirmativas nos chamam à reflexão:

1. Renovação de atitudes...

Um jovem foi ao médico, queixando-se de dores abdominais. Tendo sido atendido pelo médico, este atencioso, realizou exames, fez entrevistas, e ao final chegou ao diagnóstico: Cirrose hepática, doença do fígado por ingestão de bebida alcoólica. Enfermidade conhecida e facilmente tratável, receitou um tratamento, onde o paciente deveria tomar uma medicação, fazer caminhadas diárias, ao final da caminhada realizar algumas ginásticas. O paciente saiu satisfeito pois veria-se livre de suas dores. Ao final de um mês, retornou novamente o paciente ao consultório médico, onde o doutor o atendeu solícito.

Há doutor! O tratamento não deu resultado, pois continuo a sentir dores. O profissional estranhou, pois tinha confiança em seu diagnóstico, mas voltou a examiná-lo.

- O senhor tomou o remédio que lhe receitei? Sim senhor doutor, certinho, três vezes ao dia!
- O senhor fez as caminhadas para melhorar a circulação? Cinco quilômetros todos os dias doutor!
- O senhor fez as ginásticas como recomendado? Uma hora diária após as caminhadas doutor!
- O senhor parou de beber? Não doutor... doutor continua doendo...

A medicina terrena trata das enfermidades do corpo físico, o Espiritismo trata das enfermidades do espírito (estando ele encarnado ou não). O médico nos escuta, analisa, faz exames e nos recomenda um tratamento. A Casa Espírita, nos escuta, analisa, consola, e também nos recomenda mudanças de atitudes; mas esta vai mais além em nosso benefício, pois nos fornece o passe magnético, a água fluidificada e em alguns casos tratamentos de desobssessões.

Mas assim como no caso do paciente enfermo, se quisermos melhorar, cumpre que façamos a nossa parte mudando as nossas tendências negativas, ou ficaremos indefinidamente tomando remédios, realizando caminhadas, fazendo ginásticas, recebendo passes, tomando água fluidificada...

Emmanuel, em uma de suas mensagens no diz: “O pastor conduz o seu rebanho, mas são as ovelhas que andam com as próprias pernas”.

2. Felicidade relativa...(Em virtude da afirmativa de Jesus – “A felicidade não é deste mundo” Bíblia/Eclesiastes, Evangelho Segundo o Espiritismo/ Capítulo V, item 20). Analisando esta afirmativa do Cristo apenas pela letra que mata e não pelo espírito que vivifica, muitos apressados, inimigos do estudo e cultores do negativismo atribuem que estamos na Terra para sofrer, que este é um vale de lágrimas, aqui só há dores e aflições, etc. Semelhantes afirmativas são no mínimo equivocadas e inconseqüentes, pois espalham o desânimo, pessimismo, descrença, resignação incondicional. A nossa razão nos mostra que podemos e temos momentos felizes mesmo no estágio evolutivo em que nos encontramos, pois quem não fica feliz com um casamento? O nascimento do primeiro filho? Uma formatura? O primeiro emprego? No aniversário, receber aquele presente tão esperado? Jesus, profundo conhecedor, não iria contrariar as Leis Naturais, negando estes fatos. Ele se referia tão somente à felicidade plena, que é atributo apenas dos Mundos Felizes e Angélicos.

Sabemos então que para evoluirmos espiritualmente temos que realizar a nossa Reforma Íntima, mas algumas perguntas nos assaltam:

· O que é Reforma Íntima? Ela deve ser compreendida como a chave mestra para o sucesso de sua melhora interior e, conseqüentemente, da sua felicidade exterior.

· Para que serve? Renovar as esperanças interiores tendo por meta o fortalecimento da fé, a solidificação do amor, a incessante busca do perdão, o cultivo dos sentimentos positivos e a finalização no aperfeiçoamento do ser.

· O que fazer? Realizar atos isolados, no dia-a-dia levando-nos a melhorar as nossas atitudes, alterando para melhor a nossa conduta aproximando-a tanto quanto possível do ideal cristão.

· Por onde começar? Pela auto crítica.

· Como fazer a reforma íntima? Bem ..... (Cairbar Schutel – “Fundamentos da Reforma Íntima” Abel Glaser).

Embora uma linha de pensadores espíritas entenda que os meios de o conseguir é obra e esforço de cada um, as obras literárias estão repletas de indícios e dicas.

Em “O Livro dos Espíritos” no capítulo Conhecimento de si mesmo, à pergunta 919, Allan Kardec questiona aos Espíritos:

- Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?
“Um sábio da antigüidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”

Allan Kardec, profundo conhecedor das deficiências humanas, investiga mais a fundo no desdobramento da questão acima.

919a) - Conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar...(SANTO AGOSTINHO).( O Livro dos Espíritos - Allan Kardec)

Parece resultar daí que o conhecimento de si mesmo é, a chave do progresso individual. (esta é uma tarefa que compete a cada um individualmente).

Ocorre-nos lembrar de Benjamin Franklin, Estadista, escritor e inventor norte americano (inventor do para-raio, Boston 17-01-1706 - Filadélfia 17-04-1790).

Benjamin Franklin era um tipógrafo na Filadélfia homem fracassado e cheio de dívidas, achava que tinha aptidões comuns mas acreditava que seria capaz de adquirir os princípios básicos de viver com êxito, se pudesse apenas encontrar o método certo. Método este encontrado e relatado em seu livro a “Autobiografia de Benjamin Franklin” (1771-1788).

Benjamin Franklin, em sua juventude era um homem de muita inteligência e perspicácia, apesar de ter estudado apenas até o segundo ano primário. Era hávido por conhecimento e lia muito, estudava e escrevia ensaios e poesias. Estudava sobre tudo que lhe interessava, principalmente sobre os grandes vultos da história de todos os tempos. Por isso mesmo tinha uma grande cultura e um conceito moral muito rígido, e cobrava-se muito, bem como, cobrava aos outros a mais correta e ilibada conduta. Em suas reuniões sociais, tecia críticas francas e ácidas sobre todos os deslizes de seus colegas, sentindo um prazer mórbido em derrotar verbalmente aos seus oponentes, fato que ao longo do tempo foi deixando-o só e isolado nas reuniões a que eram “obrigados” a convidá-lo pelo seu cargo político.

Sentindo o peso deste isolamento, em conversa com um amigo muito chegado, comentou esta aversão das pessoas de seu convívio.

Tendo sido localizada a causa deste sentimento de aversão, com uma tenacidade que só as almas valorosas possuem, empreendeu luta acirrada ao combate às suas imperfeições.

Mas por mais que se esforçasse, controlava uma imperfeição mas caía invariavelmente em outra, quando esta outra recebia a sua atenção novo deslize fazia-o tropeçar, e a situação não avançava. Era como se estivesse tentando reter água com as mãos que, não obstante, escorria por entre seus dedos.

O isolamento continuava e até acentuava-se.

Lembrando-se das habilidades bélicas de Napoleão Bonaparte, que adotava a estratégia de “dividir para vencer”, de espírito inventivo, Franklin imaginou um método tão simples, porém tão prático, que qualquer pessoa poderia empregá-lo.

Franklin escolheu treze princípios que julgava ser necessário ou desejável aprender e procurar praticar. Escreveu-os em pequenos pedaços de cartolina, com breve resumo do assunto, e dedicou uma semana da mais rigorosa atenção a cada um desses princípios separadamente. Desse modo, pode percorrer a lista toda em treze semanas, e repetir o processo quatro vezes por ano.

Quando passava ao princípio seguinte não esquecia os anteriores, e cada vez que se pegava em falha, fazia uma pequena marca no verso do cartão, assim no retorno àquele princípio dedicava maior atenção e esforço.

Manteve em segredo o que estava fazendo, pois receava que os outros se rissem dele. (é triste constatar que até aos dias de hoje nos vangloriamos de atos incorretos, falcatruas, engodos, vícios que cometemos, mas temos vergonha de admitirmos que estamos tentando melhorar praticando alguma virtude).

Ao fim de um ano Franklin havia completado quatro cursos, e constatou que já buscava com naturalidade o controle de suas falhas, apesar de estar longe de dominar com perfeição qualquer daqueles princípios.

Este procedimento deu tão certo que Franklin utilizou-o ao longo de toda a sua vida, embora mudando os princípios uma vez já tendo controlado aquela deficiência combatida.

Os treze princípios de Benjamin Franklin eram

(Autobiografia de Benjamin Franklin): (tais como escreveu e na ordem que lhes deu)

Temperança – Não coma até o embotamento; não beba até a exaltação.

Silêncio – Não fale sem proveito para os outros ou para si mesmo; evite a conversação fútil.

Ordem- Tenha um lugar para cada coisa; que cada parte do trabalho tenha seu tempo certo.

Resolução – Resolva executar aquilo que deve; execute sem falta o que resolve.

Frugalidade – Não faça despesa sem proveito para os outros ou para si mesmo; ou seja nada desperdice.

Diligência – Não perca tempo; esteja sempre ocupado em algo útil; dispense toda atividade desnecessária.

Sinceridade – Não use de artifícios enganosos; pense de maneira reta e justa, e, quando falar, fale de acordo.

Justiça – A ninguém prejudique por mau juízo, ou pela omissão de benefícios que são dever.

Moderação – Evite extremos; não nutra ressentimentos por injúrias recebidas tanto quanto julga que o merecem.

Asseio – Não tolere falta de asseio no corpo, no vestuário, ou na habitação.

Tranqüilidade – Não se perturbe por coisas triviais, acidentes comuns ou inevitáveis.

Castidade – Evite a prática sexual sem ser para a saúde ou procriação; nunca chegue ao abuso que o enfraqueça, nem prejudique a sua própria saúde, ou a paz de espírito ou reputação de outrem.

Humildade – Imite Jesus e Sócrates.

A quantos desejarem experimentá-lo, sugere-se analisarem-se, buscando aquelas deficiências mais comuns e corriqueiras, que sabemos possuir, ou as qualidades que não temos mas que gostaríamos de ter, adaptando o método às necessidades e interesses de cada um. Ao alcançar uma conquista, alterar a meta, buscando por outra, que vão surgindo ao longo do tempo, mas cuidando sempre para que não incorram em recaída.

Este não é o primeiro e nem será o último método inventado, que visa à melhoria das pessoas através da reforma íntima, mas com certeza, nos aponta mais uma alternativa palpável e simples, que está ao alcance de quantos tiverem a coragem e a vontade firme de empreender esta luta íntima na escalada evolutiva.

Não é um caminho fácil. Não existe caminho fácil. Mas é um caminho seguro. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo XVII, SEDE PERFEITOS, Allan Kardec escreveu:

“Reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que emprega para domar as suas más inclinações”.

Na Bíblia em “O Novo Testamento”, Tiago em suas epístolas nos adverte: “Fé sem obras é estéril”.

Que Jesus nos ilumine e guie.

Muita paz.
João Batista Armani



Bibliografia:

O Evangelho Segundo o Espiritismo. (Allan Kardec).

O Livro dos Espíritos. (Allan Kardec).

O Homem Integral.( Divaldo Pereira Franco – Joanna de Angelis).

Autobiografia de Benjamin Franklin.

Fundamentos da Reforma Íntima. (Abel Glaser – Cairbar Schutel)
Published By: Espiritismo na Rede - Friday, 29