domingo, 9 de dezembro de 2012

Explanação do capítulo 16 do ESE

1 - Salvação dos ricos - Itens 1 e 2

O principal escopo da missão de Jesus é libertar os seres humanos do jugo da escravidão da matéria e  convencê-los que o objetivo primordial, acima de todas as coisas, são os esforços para conquistar a vida eterna, isto é, a vida do puro Espírito, do Espírito que, completando o ciclo das provas que foram necessárias ao progresso moral e de conhecimento, chega ao Supremo grau de pureza, o que faculta a compreensão de Deus e o gozo eterno da vida Espiritual livre, que o leva a aproximar-se cada vez mais do centro da Onipotência, sem igualar-se jamais à Divindade.

"Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se dedicará a  um e desprezará o outro.  Não podeis servir a Deus e a Mamon".  Os fariseus que eram avarentos, ouvindo-Lhe todas estas coisas, zombavam Dele. Jesus lhes disse:  - "Pondes grande cuidado em parecer justos aos humanos; mas Deus conhece os vossos corações; pois, o que é elevado aos olhos dos humanos é abominação aos olhos de Deus."  Lucas XVI, 13 a 15.

Falando a criaturas grosseiras, de natureza rebelde, de Espíritos endurecidos, Jesus tinha que lhes dirigir fortes e enérgicas reprimendas, para conseguir tocá-los um pouco, impressionando-lhes a imaginação. As palavras de Jesus devem ser interpretadas segundo o espírito e não segundo a letra.

"Ninguém pode servir a Deus e a Mamon".

Mamon era uma divindade que os antigos assírios adoravam, um ídolo de prata e ouro, que  representava as paixões humanas, com seu cortejo de vícios, o que explica o pensamento de Jesus quando disse:  "Ninguém poderá servir a dois senhores". De fato, não podemos viver a vida espiritual para as coisas de Deus, cedendo simultaneamente aos desvarios da vida material mundana.

Em regra, o mundo dá apreço a coisas cobiçáveis, a riqueza e a glória, porque satisfazem ao cego orgulho da criatura humana, enquanto Jesus ama os de Espírito humilde, aos simples e mansos de coração. A criatura deve aguardar que, pela vontade do Criador, se desenvolvam os predicados com que haja de brilhar aos olhos de seus irmãos, mas deve esperar em atividade, no trabalho que Deus sempre abençoa, e não na inércia, na ociosidade, na despreocupação.

Algumas pessoas têm a riqueza e o poder, e outras a miséria.  É para cada um uma prova, e os próprios  Espíritos, as vezes, as escolhem, porém muitas vezes sucumbem, não conseguindo realizá-las. Tanto a riqueza como a pobreza são tarefas difíceis.  A pobreza provoca lamentação, e a riqueza leva a excessos.

O rico sofre mais tribulações, porém tem mais meios de ajudar.  A posição elevada no mundo e a autoridade são provas tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque, quanto mais o ser humano for rico e poderoso mais obrigações têm a cumprir, portanto, maiores são os meios que dispõe para fazer o certo ou o errado.  Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz dos seus bens e do seu poder.

A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos distanciam da jornada espiritual. A existência presente, tanto para o pobre como para o rico, é mais um momento na eternidade da vida espiritual. Tanto os pobres como os ricos devem lembrar que a atual situação é efêmera:  Passará como passam e se sucedem as fases da Lua.

Todos somos Espíritos encarnados submetidos em provas a vencer.  A Pátria é o Universo e nós somos  os companheiros eternos da estrada evolutiva. Quando somos pobres, façamos jus às promessas da bem-aventurança, suportando a pobreza com resignação e calma, aproveitando a situação em que nos encontramos para esmagar o nosso orgulho e adoçar o nosso caráter.

Quando somos ricos, fujamos da sentença que; todo rico se perde na sua riqueza, elevemos o nosso ideal acima das coisas mundanas.  Procuremos possuir certa casta  da riqueza que o ladrão não rouba, a traça não rói e a morte não arrebata.

Aproveitemos os meios que ora dispomos, para exercer a beneficência.  Afrouxemos o cordão de nossas bolsas.  Combatamos o egoísmo, porque ele é o nosso maior inimigo; instiga-nos a aumentar a nossa fortuna na Terra, cavando nossa ruína no além.

Pobres:  Sejam humildes e pacientes, sem baixezas, nem vilanias.
Ricos:  Sejam caritativos e bondosos, sem ostentação, nem vaidades.
Pobres e ricos devem se lembrar que, a pobreza e a riqueza são cadinhos por onde a Providência faz  passar os Espíritos, para os purificar e fazê-los, ao mesmo tempo, conhecerem a si próprios.

Deus conhece os pobres e ricos de agora, mas nós não nos conhecemos.  Saberemos quem somos, após  a prova passada.  Aí lamentaremos se sucumbirmos e nos congratularemos em nosso íntimo se vencermos.

Nem a riqueza e nem a pobreza conduzem-nos à elevação ou ao umbral; mas o modo como o pobre  recebe a dor e o rico aufere o prazer, é o que acarreta noutra vida, esta ou aquela consequência.

Tanto pobres como ricos devem refletir a maneira como recebem a prova de agora.  O agora passa  célere.  Cada dia, ou cada hora, ou cada minuto que se escoa no tempo, é um passo dado em demanda ao término desta jornada.

Servir a Deus e as riquezas?  Por que Jesus nos diz que não podemos servir aos dois?
Servir a Deus é fazer a entrega, despojando-se de todas as amarras que nos afastam Dele.  Para isso não é preciso que nos tornemos mendigos.  Jesus nos alerta para não servirmos às riquezas, porque ela faz prisioneiros àqueles que a veneram, como se fosse a causa mais importante da vida.  Lutando para adquiri-las, esquecem moral, dever e família.  Escravizados pela cobiça não encontram tempo para Deus.

Tempo para servir a Deus não quer dizer visitas aos templos, nem recitar ladainhas.  Servi-Lo é tornar  amena a vida física e espiritual, daqueles que possuem menos do que nós.

Os que amam a Deus e desejam trabalhar na Sua vinha, fazem de cada irmão uma divindade, não se  importando com que ele seja rico ou pobre ou muito necessitado.  Vivem na riqueza porque esta lhes pertence, mas amam e trabalham para Deus, fazendo da riqueza adquirida, um meio de demonstrar a capacidade de humanos corretos.

"Vede as aves do céu:  Não semeiam, não ceifam, não enchem celeiros e, entretanto, Vosso Pai Celestial as alimenta.  Não sois muito mais do que elas?".  Mateus, capítulo 24, vers., 26.

O Divino Mestre não pretendeu aconselhar ao ser humano que, para todas as suas necessidades se  entregue ao Criador; que deixe de cumprir a sua tarefa; que se despreocupe de toda previdência,   negligenciando-se em precatar para os dias da velhice e invalidez.

Jamais Jesus daria esse conselho, porque no Seu ensino, a criatura humana, no vigor de sua idade, deve   assegurar os grãos para a sua velhice.  Aconselha que o faça lealmente, com integridade, diante do  Senhor, sem desperdiçar qualquer parcela, porque lhe cabe ajudar seus irmãos desvalidos ou inválidos,  que não puderam colher mais do que algumas espigas para o seu sustento.

"Não vos inquieteis pelo dia de amanhã".

Isto quer dizer que, vivendo segundo os desígnios de Deus e trabalhando, como deve, para a sua
subsistência, deve a criatura humana estar sempre confiante de que a tudo mais, como for de justiça e conforme as necessidades espirituais, o Pai proverá.  E também quer dizer que, apesar de
ser mais previdente, não deve mostrar-se ambicioso, nem concentrar na acumulação de riquezas
todos os pensamentos e desejos.

Mesmo que trabalhando o ser humano se encontre na penúria, deve confiar-se ao Senhor que, sabendo o que convém a cada uma de suas criaturas, e que se permite tal situação, é porque ela representa prova necessária para depurar o Espírito e torná-lo digno do Criador.

Cientes que devemos estar, que nem as mínimas coisas somos capazes de fazer, então não podemos alimentar a pretensão de mudar os acontecimentos que decorrem da ação Divina.  Em todas
as circunstâncias nos cabe conformar-nos, certos de que tudo obedece à vontade de Deus, que só
ao nosso bem visa.

Não nos preocupemos com os cuidados e aflições que hajam de vir.  Entreguemo-nos confiantes
à misericórdia do Senhor, que não deixará de chamar os obreiros diligentes, no devido tempo,
para gozarem dos frutos dos seus labores.  Coragem, portanto, coragem, que esse tempo chegará.

Quando houvermos transposto a barreira que nos detém os passos, volveremos à nossa verdadeira pátria e de lá apreciaremos os progressos da humanidade, e cumprida estará integralmente a
revelação do Cristo.
Que assim seja!

2 - Guardai-vos  da  Avareza - item 3.

PARÁBOLA  DO  AVARENTO

"As terras de um humano rico produziram muito fruto.  E ele discorria consigo:  Que hei de fazer, pois não tenho onde recolher os meus frutos?  E disse:  Farei isto:  derribarei os meus celeiros e os construirei maiores, e aí guardarei toda a colheita e os meus bens e direi ao meu Espírito:
Meu Espírito, tu tens muitos bens em depósito por longos anos; descansa, come e bebe e regalate.  Mas Deus disse-lhe:  Insensato, esta noite eles exigirão o teu Espírito; e as coisas que ajuntaste para quem serão?  Assim é aquele que entesoura para si e não é rico para com Deus".  Lucas, capítulo XII, vers. 16 a 21.

Quanto mais chegava perto o cumprimento da missão de Jesus na Terra, mais Ele intensificava o
Seu trabalho de difusão da Doutrina do Amor, da qual havia sido encarregado, pelo Supremo Senhor, de trazer à Terra.

Os escribas e fariseus já faziam planos para acabar com o Filho de Deus e aí, o Mestre iniciou
Suas parábolas que constituem um dos mais eloquentes capítulos do Novo Testamento.

A parábola do avarento é uma síntese maravilhosa do trágico fim de todos aqueles que não veem
a felicidade senão no dinheiro e são seus escravos incondicionais.  Para essa gente havendo dinheiro, há tudo.  Periclite a família, cambaleie a sociedade, que o mendigo arraste-se pelas vias
públicas, envergonhado e descomposto, chore e soluce o aflito, grite de dores o enfermo, o miserável ou o inválido sem pão e sem lar, nada comove esses corações de pedra, nada lhes demove,
nada consegue mudar ou desviar-lhes as vistas dos seus frutos, dos seus celeiros, do seu ouro!

São pessoas desumanas, diria até sem Espírito; pelo menos ignoram a existência, de si mesmos,
desse princípio imortal que deve constituir, para todos, o principal objeto de cuidados e de carinho.

A avareza é a véspera da mendicidade, ou seja, o fator da miséria.

Quantos miseráveis perambulam pelas praças, implorando o auxílio, e que nesta mesma existência ou em outra, foram ricos, sustentaram grandezas, tiveram celeiros transbordantes.

Quantos párias se arrastam pelas ruas, a bater de porta em porta, implorando uma esmola pelo
amor de Deus.

Qual a origem dessa situação penosa que atravessam e qual a causa desses sofrimentos?
A Avareza!  Ricos de dinheiro eram pobres para com Deus, porque, embora não lhes faltasse
tempo, nunca se dedicaram a Deus, nunca procuraram a Lei Divina, nunca pesquisaram o próprio
íntimo em busca de algo que existe, que sente, que quer e que não quer, que ama e que odeia,
que vê o passado, que, ao menos, teme o futuro; nunca buscaram saber se essa centelha de inteligência que lhes dá tanto amor ao ouro, tanta ganância pelos bens terrenos, poderá sobreviver a
esse corpo que, de uma hora para outra, cairá exânime, para ser entregue ao banquete dos vermes!

O que valem as riquezas efêmeras, sombras de felicidade que se esvaem, grandezas que desaparecem à primeira visita de uma enfermidade mortal!  O que valem celeiros repletos em presença
do ladrão da morte que chega em momento inesperado, e, até, quando nos julgamos em plena
mocidade e com ótima saúde!

Mísero avarento dos bens que Deus lhe confiou!  Pensou, porventura, que não tem que prestar
contas desse depósito?  Pensou que há de permanecer com você e servir para multiplicar, cada
vez mais a sua fortuna?
Em verdade afirmo que, o ouro se converterá em brasas a causticar a sua consciência!

Em verdade digo que, o ouro se transformará em peias e algemas, resultante da ação nefasta que
teve, em detrimento dos que tinham fome, dos que tinham sede, dos enfermos desprezados, dos
pobres trabalhadores de quem explorou o trabalho!

Rico!  Movimente esse talento que o Senhor lhe concedeu!  Granjeie amigos com esse tesouro da
iniquidade, para que eles o auxiliem a entrar nos tabernáculos eternos!  Faça o certo e o bem; socorra o pobre; ampare o órfão; auxilie a viúva necessitada; cure o enfermo; como se ele fosse o
seu irmão ou filho; pague com generosidade o trabalhador que está a seu serviço.  Faça mais:
Compre livros e aproveite os momentos de ócio para se instruir, porque um rico ignorante é como um asno de sela dourada.  Ilustre o Espírito; faça para você tesouros e celeiros nos Céus,
aonde os vermes não chegam, os ladrões não alcançam, a morte não entra.

Lembre do avarento, cujo Espírito, na mesma noite em que fazia castelos no ar, foi chamado pelo
Senhor!
Avareza é a paixão que se apodera da criatura cuja preocupação consiste em acumular riquezas.
Ainda são muitas as pessoas que só cuidam das coisas da Terra e que não creem em Deus, na
elevação do imortal Espírito, na vida futura e que não tem no que se preocupar.  E quando menos
espera, se vê arrebatada pela morte, deixando tudo quanto acumulou durante a vida terrena, para
ser esbanjado pelos outros, que nada fizeram pela aquisição de tanta riqueza.

O ser humano devia compenetrar-se para combater a avareza, entendendo que se deve reunir tesouro para a vida eterna, e não juntar riquezas para uma vida efêmera, que apenas alguns anos
duram.

Esta lógica é naturalmente para aqueles que buscam o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que é o código da vida eterna e da moral divina, que desejam se tornar ricos em Deus, pela prática ininterrupta do amor e da caridade, pelo esforço constante de se libertar das influências materiais como:  A sensualidade, o orgulho, o egoísmo, a cupidez, a inveja etc.

Jesus não veio ao mundo para reinar sobre as coisas perecíveis da Terra, nem para dar aos seres
humanos leis materiais.  Sua missão constituiu, sobretudo, desprender da matéria humanos profundamente materializados, a fim de dar-lhes a visão e o gosto das coisas espirituais.
"Aquele que acumula sem cessar, e sem beneficiar ninguém, terá uma desculpa válida ao dizer
que ajunta para deixar aos herdeiros?  - É um compromisso com a consciência errada!".  Pergunta 900, Livro dos Espíritos.

O ser humano avaro é o egoísta que nega auxílio pecuniário a quem lhe bate à porta, desprezando a oportunidade de servir, e até mesmo de ouvir quem lhe venha pedir socorro.  Sua atenção
está centralizada na aquisição do dinheiro e nas diversas formas de enriquecimento.
A atmosfera vibratória do avarento é certamente obscura, densa.  Tem grande dificuldade em
sentir a inspiração que vem do Alto, em captar sugestões nobres em relação ao seu próximo.
Porém a ironia do destino causa-lhes os maiores impactos.  A queda é um grande sofrimento,
porque lhes tira o mais valioso:  O dinheiro!

A avareza se manifesta em diferentes gradações, que se refletem nas nossas preocupações diá-
rias, com maior ou menor intensidade.  A importância que damos aos nossos pertences e as inquietações que tantas vezes nos desequilibram, pelo fato de termos perdido esse ou aquele objeto
de maior estima, representam nosso apego a eles.

É uma forma de avareza não querer emprestar algumas de nossas quinquilharias, com receio de
perdê-las ou desgastá-las e também é um aspecto de ciúme.

A mania de guardar por tempo indeterminado, até mesmo sem usar, joias, roupas ou outros pertences pessoais, reagindo em dar a alguém que mais necessite, sem justificativas, caracteriza avareza. 
Dos valores eternos, os aprendizes do Evangelho já apreenderam, que da avareza, não se tem nenhum benefício real, ela precisa ser identificada e combatida.

Como exemplo de desprendimento dos valores materiais, lembremos um episódio da vida do estimado benfeitor espiritual, Dr. Bezerra de Menezes.  - Certo dia, ao consultar no gabinete médico uma senhora de poucas posses, entregando-lhe o receituário, ouviu as suas lamentações, pois
não tinha condição suficiente para a compra dos remédios.  Então, o magnânimo médico, não
encontrando em seus bolsos o correspondente em moeda corrente, entregou à senhora o seu anel
de formatura, para que com ele obtivesse dinheiro que lhe permitisse medicar a criança doente
que trazia no colo.

Talvez ainda não consigamos ter a atitude do Dr. Bezerra de Menezes, mas vamos observando o
que temos de avareza e combatendo em nós este malefício, para mais tarde, ter atitudes benéficas
para o próximo e para nós mesmos.

Quanto mais aprendemos o Evangelho de Jesus, vamos descobrindo os nossos vícios e vamos
criando forças para combatê-los.

O Evangelho do Mestre é o caminho da vida eterna.
Não iremos ao Pai, sem entendê-lo e praticá-lo, porque o Divino Mestre veio trazê-lo a mando
do Pai Celestial, para que evoluíssemos na senda do bem.
E Jesus que é todo de misericórdia, nos recebe de braços abertos no Seu Evangelho!

3 - Jesus em casa de Zaqueu - item 4.

Zaqueu é um astro que brilha no Evangelho.  É um Espírito de contato mais suave, que afaga o
Espírito quando recordamos essas figuras proeminentes da legenda Sagrada.  Basta lembrar que
foi na casa deste destemido chefe dos publicanos que Jesus encontrou fino acolhimento, e tão espontânea recepção espiritual, que passados quase dois mil anos, ainda nos comove numa alegria
santa, idêntica, talvez, àquela que Jesus sentiu, levando-O a pronunciar a nova felicitadora, que
se nos depara no trecho de Lucas:  "Hoje entrou a salvação nesta casa".

Os publicanos eram os arrematantes dos impostos públicos, designados pelos antigos romanos.
Eram cavalheiros romanos, que formavam companhias poderosas, destinadas a arrematar, por
certa quantia, a cobrança dos impostos nas províncias, pelo prazo de cinco anos.
Cada companhia tinha um nome especial, conforme a qualidade de imposto; assim havia:
- Decumani - cobrava os dízimos.
- Partitores - para as alfândegas.
- Pecuaru - para os pastos etc.

Estas companhias tinham sede em Roma e subdiretores e agentes em todas as províncias.  Os
publicanos abusavam com frequência dos seus direitos, exigindo dos contribuintes mais do que o
devido, e por isso, eram odiados pelo povo.  Os judeus, especialmente, tinham grande antipatia
pelos publicanos, não só porque estes exorbitavam a sua ação, como também porque consideravam o imposto taxado pelo domínio de Roma contrário à lei judaica.

E Allan Kardec escreve:  "Daí a aversão pelos publicanos de todas as classes, entre as quais se
encontram pessoas estimáveis, mas que, por motivo de suas funções, eram desprezadas, bem
como as pessoas de suas relações, sendo todos confundidos na mesma ordem".

Zaqueu, consequentemente, era mal visto por todos, porque estava incluído no juízo que se fazia
dos publicanos.  Entretanto, a passagem do Evangelho deixa transparecer ter sido um humano
correto, um humano de bem.

O prolóquio:  "Dize-me com quem andas que te direi os defeitos que tens", não vigorou para o
chefe dos publicanos, instalado em Jericó.  E se ele não tinha caráter reto até o seu encontro com
Jesus, a transformação momentânea por que passou, foi tão real que atingiu a transfiguração.
Maravilhamo-nos com a transfiguração de Jesus no Tabor, tendo ao seu lado Moisés e Elias como representantes da Lei e dos Profetas, a testemunhar a individualidade do Nazareno como
cumpridor e executor da Lei e sancionador dos profetas; e nos alegramos com a transfiguração
de Zaqueu em Jericó, tendo como executor Jesus e, como testemunhas, os profetas.

O chefe dos publicanos era dócil, manso de coração.  O Evangelho lembra o encontro de Jesus
com Zaqueu.  Baixo de estatura, o publicano subiu na árvore chamada sicômoro, e se fez alto,
para ver o Nazareno, escondido pela multidão:  Porém, alto de dignidade e de dinheiro, Zaqueu
faz-se novamente pequeno para alcançar pela elevação, - o reino dos Céus.

Enquanto não vira a Jesus, estava exaltado.  Exaltado em tamanho corpóreo (pois subira no sicômoro), exaltado em dignidade, exaltado em fortuna!
Basta o Mestre dar com os olhos nele, Zaqueu humilha-se - desce do sicômoro, desce das dignidades e desce do dourado altar em que havia se colocado.
- "Zaqueu, desce depressa, porque importa que eu fique hoje na tua casa", disse Jesus.
E Zaqueu desceu com toda a pressa que uma notícia de alegria produz, fazendo-nos descer quando estamos nas alturas:
- "Senhor, vou dar a metade de meus bens aos pobres, e, se em alguma coisa defraudei alguém,
lho restituirei quadruplicado", disse Zaqueu.

Bela lição!  Bela, porque vestida do exemplo.  Não é só a palavra que soa como bronze ou como
o címbalo; é o fato, é a ação que grava e inscreve com letras indeléveis a Doutrina que vigora.
Como são belas essas individualidades dos tempos idos, sempre memoráveis:  Paulo, Madalena,
Zaqueu!

Paulo cai fulminado na estrada de Damasco, e depondo as armas, renuncia a autoridade que tinha
para massacrar os discípulos do Cristianismo nascente, empunha a nova bandeira, e do tenebroso
Saulo, transforma-se em apóstolo, mensageiro da luz e da verdade.

Madalena enfrenta o Nazareno pela primeira vez e Lhe acompanha os passos, e de mulher mundana que era, não mais abandona o seu Benfeitor e Mestre.

Zaqueu sobe ao sicômoro, desce do sicômoro, abre gavetas, remexe cofres, desenterra haveres,
restitui o alheio com juros de quatrocentos por cento, e aos pobres e famintos enche de bens ao
ter a honra de uma simples visita Daquele que lhe havia trazido a luz da elevação!

Que quadros belíssimos, que ornamentos admiráveis, os quais, se passados para a tela dos cinemas, fariam reviver o poder da singular Doutrina que, nascida num estábulo e subjugada pela
cruz infamante, proclamou-se em ressurreições sucessivas, a mais lídima expressão da Palavra
de Deus!

Todos que ouviram Jesus, dizendo que ia hospedar-se na casa de Zaqueu, ficaram estupefatos,
por ser ele um publicano.  E quando Zaqueu se dispôs a repartir os seus bens, disse-lhe o Senhor:
- "Hoje a elevação entrou nesta casa, porque ele também é filho de Abraão.  Com efeito, o filho
do humano veio procurar e salvar o que estava perdido".

O diálogo simples revela grandes ensinamentos, que ainda estão despercebidos por muitos, mas
que destacam o ensinamento moral e o ensinamento espiritual.

O fato de Zaqueu procurar uma melhor maneira de ver Jesus, já revela predisposição à mudança
de atos, pois a simples presença do Rabi Galileu provocou profundas reflexões.  E a mudança de
Zaqueu já fazia parte dos objetivos do Mestre, tanto que, ao entrar em Jericó, percebe-o facilmente em cima de uma árvore, ansioso por um olhar, ao que Jesus corresponde, demonstrando
profundo conhecimento de psicologia transpessoal:  Levanta o olhar e a ele se dirige dizendo:
"Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa".

A palavra casa, neste caso, adquire nova conotação, visto que vem antecedido de uma afirmativa
verbal - pois hoje DEVO FICAR em tua casa.  Na frase, o verbo DEVO é aplicado no sentido de
certeza e não de hipótese.  Entendemos, com isso, que o Mestre se refere à casa mental de Zaqueu, pois a hospedagem que desejava Jesus não era apenas no lar físico, mas principalmente no
coração, a fim de que esse se modificasse.

Convém exaltar a imensa facilidade com que Jesus manipula os fluidos, pois se subentende que
Ele altera a psicosfera pessoal de Zaqueu, permitindo que compreenda a mensagem de natureza
espiritual na sua perfeita essência.

E ele entende, como se Jesus a propusesse:  "Desce depressa, pois hoje devo ficar em teu coração
para sempre".

O envolvimento fluídico é tão patente, que bastaram alguns momentos em contato com o Mestre
para que Zaqueu se modificasse moralmente, não apenas no compromisso de distribuir os bens
aos pobres e ao quádruplo pagar aos que devia, mas por despertar nele o sentimento de caridade
e desprendimento, levando-o a doar aos pobres a metade dos bens que lhe pertenciam.
A autoridade espiritual de Jesus se faz presente ao afirmar:  "A elevação entrou nesta casa, porque ele também é filho de Abraão".

Jesus veio salvar, isto é; mostrar como se elevar ao que estava perdido ou rebaixado.  No entanto, demonstra claramente que conhecia as mazelas que marcavam o caminho espiritual de Zaqueu, percebia nos seus pensamentos a vontade de mudar.  E se não fosse verdade, Jesus estaria
interferindo no livre arbítrio dele, modificando-o contra a sua vontade.

A receptividade de Zaqueu às sugestões do Mestre modifica instantaneamente o seu comportamento para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmo, salvando aquela encarnação
e, por conseguinte, reformando-se pela conversão, através de atos e não de promessas.

A passagem de Zaqueu é de grande alcance e importância na condução de nossas ações.  Subir
no sicômoro representa a predisposição para a mudança, que funciona como agente facilitador da
reforma íntima, a reforma que se constitui no preparo da morada de nossos corações, onde com
certeza o Cristo pedirá pousada.

Pelo simples fato de estarmos aqui, nesta casa cristã, já estamos nos predispondo a conhecer os
ensinamentos do Mestre Jesus.
Como Zaqueu, vamos abrir a brecha para que o Cristo entre no nosso coração.
E que Ele permaneça sempre!

4 - Parábola do Rico e Lázaro - item 5.

Este ensino é a proclamação da caridade, que é imprescindível para todos.
O rico e o pobre Lázaro personificam a humanidade sempre rebelde aos ditames da Luz e da
Verdade.  O rico gozou no mundo e sofreu no espaço; Lázaro sofreu no mundo e gozou no espa-
ço.

Este rico que se vestia de púrpura e que todos os dias se regalava esplendidamente, é o símbolo
daqueles que querem tratar da vida do corpo e esquecem-se da vida do Espírito.  São os que buscam a felicidade no comer, no beber e no vestir; são os que se entregam a todos os gozos da matéria, são os egoístas que vivem unicamente para si, os orgulhosos que, entronados nos altares
das paixões vis, da vaidade, da soberba, não veem senão o que lhes pode saciar a sede dos prazeres, não cultivam senão a luxúria, que mata os sentimentos afetivos e anula os dotes do coração.
Nesta parábola, o rico representa a personificação dos que são escravos do reino do mundo, que
não veem mais do que o mundo material, esse paraíso perdido na degradação moral, que avilta
os Espíritos e atira aos erros dos vícios.

Jesus falava geralmente por parábolas; e esta lição que o Mestre ofereceu há mais de 2000 anos
aos povos da Palestina, e que consta no Evangelho de Lucas como um conselho salutar e memorável, nada mais é do que uma parábola; é um ensino alegórico e representativo do que se passa
no espaço, para afirmar a nossa vida além tumba, é uma consequência justa e equitativa da nossa
existência na Terra.

O rico passou toda a sua vida a se fartar esplendidamente, a desprezar os pobres, a desprezar a
Deus, a respeitar sua lei, a dar as costas à religião, a gozar e a folgar, mas, quando desencarnou,
não pode continuar a viver como vivia, vestindo-se de púrpura, comendo manjares, bebendo licores, porque no mundo dos Espíritos não há púrpuras, não há manjares, não há licores.  Ele já se
havia fartado com os prazeres da Terra, não podia fartar-se com os prazeres do Céu, porque não
os havia buscado, nem havia adquirido o tesouro com que se conquista as glórias celestes.

Lázaro representa os excluídos da sociedade terrena, aqueles; que mal podem chegar ao portão
dos grandes templos, os que não podem entrar nos palácios dourados, os que a sociedade despreza.
Os Lázaros não são esses pobres orgulhosos do mundo, que não têm muitas vezes o que comer e
o que vestir, mas estão cobertos com a púrpura do orgulho; não é essa gente que não tem dinheiro, mas tem vaidade; não tem palácios, mas tem egoísmo; não tem jantares, mas tem prazeres nefastos.
Os pobres que Lázaro serviu de símbolo na parábola, são os que sofrem com resignação, são os
que desprezam os bens da Terra, porque buscam as coisas de Deus; são aqueles que se veem
usurpados daquilo que tem por direito na Terra, mas pacientes e resignados não se revoltam,
porque creem no futuro e esperam as dádivas que lhes estão reservadas por Deus.

Eles sabem, porque estudam, esperam e oram, que existe um Criador, um Pai Supremo, que lhes
dá o prêmio das suas vigílias, um salário pelos seus afazeres morais, uma luz para a sua orienta-
ção espiritual; e que esse prêmio, esse salário, essa luz, embora, às vezes, pareça tardar, não faltará, porque a justiça de Deus é infalível, é indefectível.

O rico e Lázaro - duas personalidades distintas, uma que gozou e a outra que sofreu, pelos padrões humanos; uma a quem nada faltava e a outra a quem tudo faltava, vão trocar as suas condi-
ções; vão mudar de cenário:  O mendigo vai para a abundância, e o rico é o que passa a mendigar.
Muitas vezes esse reverso de medalha acontece até na própria existência terrena.

Todos conhecemos uma medalha, uma moeda.  De um lado traz uma figura e do outro lado o seu
valor real.  Assim também acontece conosco.  Cada um de nós é uma medalha, uma moeda.  A
moeda vale segundo o câmbio corrente, assim também nós valemos de acordo com o câmbio espiritual, que taxa o valor dos Espíritos.

Os que só olham a efígie da moeda, não conhecem o valor do dinheiro, porque a efígie, o verso
da moeda, só traz uma figura, e esta nada vale.

Assim também os que olham o ser humano só pelas aparências, pelo exterior, não conhecem o
ser humano; porque o exterior do ser humano é a efígie da vaidade, do egoísmo e do orgulho.  O
que vale na moeda é o reverso; o que vale no ser humano é o interior, ou seja, o Espírito.
O rico trazia no verso a característica da efígie, mas depois que morreu, apurou-se o valor da
moeda, gravado no reverso, e esse valor não permitiu a entrada no Céu, ou seja, uma vida melhor
no mundo espiritual.

Ao pobre, que desde a sua existência na Terra, sabia o valor do reverso da moeda, esse sacrifício
lhe deu o valor de ser levado pelos anjos ao Seio de Abraão.
O julgamento de Deus é diferente do julgamento dos humanos!
Deus não se deixa levar pelo preconceito; Deus não se deixa levar pelo juízo humano.

Seio de Abraão é a liberdade do Espírito no espaço infinito.  Seio de Abraão é o mundo invisível
onde os Espíritos caminham livres de todas as peias, realizando sempre novas conquistas, fazendo novas descobertas, aprendendo novas verdades que os elevam em conhecimentos e moral, que
os elevam em felicidade.  Abraão foi o patriarca dos Hebreus, alta personalidade do Antigo Testamento, com fé inabalável, a ponto de quase sacrificar seu filho único - Isac, para obedecer as
ordens que havia recebido do Alto.  Era um crente sincero na imortalidade do Espírito; via o espaço semeado de Espíritos, conversava com os Espíritos, os que são chamamos de mortos, e vivia em relação contínua com o mundo dos Espíritos.

E para esse mundo é que foi Lázaro, que na Terra viveu aguilhoado pela dor, privado das delícias
do mundo, mas cria num Deus Supremo, que lhe concedera aquela existência de expiação e de
provas, para que reparasse os males de suas vidas passadas, em que havia se descuidado das coisas Divinas e só tratado dos gozos efêmeros.  Lázaro saldara a sua conta:  Ao sair da prisão corpórea tinha pagado o último ceitil de sua dívida, e reconquistara o reino da liberdade e da luz,
que Deus concede a todos que se submetem à Sua lei, aos Seus santos desígnios.

O Evangelho diz que o rico levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro e exclamou:  "Pai
Abraão, tenha compaixão de mim!".  E pede a Lázaro que molhe a ponta do seu dedo e refresque
a sua língua.  O rico queria água.  Tinha sede e essa sede não era a do corpo físico, era sede de
consolação, de esperança, de perdão.

Compreendeu que a causa das suas dores era a vida dissoluta que passara no mundo e a chama
viva do remorso abrasava a sua consciência.

Ele queria água, essa água da vida, essa água da salvação que Jesus havia dado à mulher da Samaria.
Ainda havia um grande abismo entre Lázaro e o rico, que só se preocupava com o corpo físico,
ao passo que Lázaro teve os olhos voltados para o Alto, e pagou suas dívidas materiais, conquistou fluidos espirituais para se elevar.

Apesar de estarem em faixas diferentes, Abraão ouvia a voz do rico e este ouvia a voz de Abra-
ão.  Comunicavam-se, pois havia necessidade do rico ser exortado para se regenerar mais tarde, e
como Lázaro, vir novamente ao mundo pagar a sua dívida e depois subir para o Seio de Abraão;
porque também ele era filho de Deus, e Deus não deixa nenhum filho Seu perecer.

Abraão disse-lhe:  "Filho lembra da tua vida e da vida de Lázaro", querendo dizer que deveria
voltar, com a vida corporal semelhante a de Lázaro, para sofrer as consequências do seu orgulho
e do seu egoísmo.  E foi então que o Espírito do rico, cheio de pobreza e sofrimento, lembrou-se
dos cinco irmãos que levavam a mesma vida física que ele na Terra, e replicou:  "Pai, eu Te rogo, então, que o mandes à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos, para os avisar, a fim de não
suceder virem também para este lugar de tormentos".

E Abraão lhe respondeu:  "Eles têm Moisés e os profetas.  E se eles não ouvem a Moisés e os
profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém entre os mortos".  Moisés
- é o caminho que precisam seguir, e os profetas são os médiuns, que pela influência dos Espíritos, diz o que se passa após a morte e o que se deve fazer aqui, para encontrar a luz.

Deus dá a liberdade a todos para buscarem a Sua lei; e àqueles que buscam, o Pai não dá o Espí-
rito por medida.  Está escrito  "Aquele que pede recebe; o que busca, encontra; e ao que bate, se
abre, porque o Pai não dá uma pedra para quem Lhe pede um pão, nem uma serpente a quem Lhe
pede um peixe".  Mateus, 7, 8.

Assim Deus respeita o livre arbítrio que concedeu a cada um.
Os Espíritos podem se comunicar e se manifestar aos encarnados, mas não podem obrigar, embora sejam eles portadores de grandes conhecimentos, a tomar posse desde já da felicidade futura!
O rico e Lázaro, ambos tiveram a sua oportunidade.  Lázaro aceitou com resignação a sua missão, e o rico esqueceu-se de suas obrigações, quando se viu cercado de tanto conforto.  Ambos
são filhos de Deus, por isso, o rico terá nova oportunidade, para consertar o que não fez numa
existência em que tivera muitas facilidades.

Sabemos que muitos ricos das coisas do mundo e muitos pobres que querem enriquecer com as
coisas do mundo, embora ouçam sobre as coisas divinas, não se convencem da necessidade de
buscá-las.  Dizem que é ilusão, tolice.

Por isso não foi permitido o aviso aos cinco irmãos do rico.
Ao ser humano que se quer convencer pela força, lhe acontecerá o que aconteceu com a cigarra
de La Fontaine:  "Cantou a sua vida, mas depois chorou a sua morte".  E há de voltar chorando
na outra vida para, com justa razão, cantar na imortalidade.

5 - Parábola dos Talentos - item 6.

Igualmente à Parábola dos Talentos, temos a Parábola das Minas.  A dos Talentos narrada por
Mateus e a das Minas narrada por Lucas.
- Um homem ilustre foi para um país longínquo, a fim de obter para si o governo e voltar.  Chamou dez servos, deu-lhes dez minas e disse:  Negociai até eu voltar.  Mas os seus concidadãos o
odiavam, e enviaram após ele uma embaixada, dizendo que não queriam que ele os governasse.
Quando ele voltou e após ter tomado posse do governo, mandou chamar os servos.
Veio o primeiro, e disse:  "Senhor, tua mina rendeu dez".  Então o senhor lhe deu autoridade sobre dez cidades.

Veio o segundo, e disse:  "Senhor tua mina rendeu cinco".  Então o senhor lhe deu autoridade
sobre cinco cidades.

E veio outro dizendo:  "Senhor, eis a tua mina, eu a guardei, pois tinha medo de ti, porque tu és
severo, tiras o que não puseste e ceifas o que não semeastes".
Respondeu-lhe:  "Servo mau, pela tua boca te julgarei".  Sabes o que faço, por que não puseste o
meu dinheiro no banco?  E então na minha vinda teria exigido com juros.  E disse aos presentes:
Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem dez.
Responderam-lhe:  Senhor, este já tem dez.

"Declaro-vos que a todo que tem, dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será
tirado.  Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu governasse, trazei-os
aqui e matai-os diante de mim".  Lucas, capítulo XIX, vers. 11, 27.
Todos somos filhos de Deus; o Pai dos Espíritos reparte com todos igualmente os Seus dons; a
uns dá mais, a outros dá menos, sempre de acordo com a capacidade de cada um.  A uns dá dinheiro, a outros sabedoria, a outros dons espirituais e, finalmente, a outros concede todas essas
dádivas reunidas.

De modo que um tem cinco talentos, outro dois, outro um; ou então um tem dez, outro cinco, outro dois.

Para o Senhor não há privilégios nem exclusões; e se cada qual for consciente do que possui e
compenetrado dos seus deveres agisse de acordo com a Lei Divina, tenham certeza, que ninguém
teria razão de queixar-se da sorte ou reclamar a má situação em que se encontra.
Todo indivíduo no mundo é depositário de um talento ou duas minas.  Mesmo aqueles que se
julgam miseráveis e mendiga a caridade pública, se procurarem suas aptidões, que trazem ocultas
nos recônditos do Espírito, verão que não são tão desgraçados quanto se julgam.
Todos nós trazemos a este mundo talentos e minas para garantir a atual vida e a futura, porque o
mundo é apenas uma estância aonde viemos fazer aquisições, provisões para construirmos e
abastecermos a vida futura.

Observemos o mendigo que passa andrajoso e sujo, perguntemos sobre a sua vida, levemo-lo a
falar, pesquisemos suas qualidades e seus defeitos; penetremos no recesso do seu coração e de
seu cérebro; estudemo-lo físico, moral e espiritualmente; façamos a sua psicologia, e teremos
ocasião de ver nesta figura esquálida, monótona e às vezes, até repelente, qualidades superiores
às de muitos cidadãos que se ufanam nas praças, veremos nele, dons adormecidos, semelhantes
às minas escondidas na terra ou o talento atado a um lenço!

A parábola tem maior aplicação aos grandes, aos poderosos, aos doutos, aos sacerdotes e similares, que por se intitularem guias do povo, são merecedores de maior cobrança.

Há mais de dois mil anos, o Supremo Senhor enviou ao mundo o Seu Filho dileto e representante, cuja doutrina sábia, consoladora e ungida de amor, é a única capaz de salvar a humanidade.

E o que observamos por toda parte?

Na esfera religiosa, como na esfera científica, o dolo, a má fé, a deturpação da verdade.
Nas guerras de 1914 e 1939, baniu-se dos Espíritos os princípios de fraternidade que o Cristo nos
legou, pois muitos lares ficaram na orfandade, cidades foram devastadas e a imoralidade se acentuou.
E onde estão os subsídios e os subsidiados; os servos, os talentos e as minas legados no Evangelho às gerações?

Nós, servos indolentes, cheios de preconceitos e temores humanos, ocultamos substanciosos ditames que nos foram doados, para ganhar meios de nos elevarmos, e por isso passamos por penosas existências de expiação e provas, até que, mais humildes, mais submissos à vontade divina, recebamos novo talento, nova mina, para começarmos a preparar o nosso bem-estar futuro.

Todos somos filhos de Deus:  O Pai reparte igualmente Suas dádivas entre todos os Seus filhos;
faz levantar o Sol para corretos e errados e descer as chuvas para justos e injustos; mas exige que
essas dádivas sejam acrescentadas por todos.

Os que obedecem aos Seus preceitos têm o mérito de suas obras; os que desobedecem, o demérito, e são responsáveis pela falta de observância de seus sagrados deveres.

O dinheiro não nos foi dado para volúpias, nem a sabedoria para estufar; assim como os dons espirituais não nos foram concedidos senão para serem proveitosos à fé, à esperança e à caridade.
Não devemos esbanjar a fortuna que nos foi concedida, nós, meros depositários, da qual teremos
de prestar severas contas.

Encaremos as parábolas sob o ponto de vista Espírita.
Elas dirigem-se justamente àqueles que tiveram a felicidade de receber os talentos e as minas dos
conhecimentos Espíritas.

Sabe-se que estes conhecimentos, quando corretos e bem entendidos e aplicados, são uma fonte
perene de felicidade e, ao contrário, quando erradamente entendidos e aplicados, são como setas
de remorsos cravados nas consciências desviadas do certo, do bem e da verdade.
Aqueles que recebem a Doutrina Espírita e ainda os dons espirituais, e os aplicam em proveito
próprio e alheio, com o fim especial de tornar conhecida a Palavra de Deus, são os que receberam dois e cinco talentos, cinco e dez minas, e quando chamados ao ajuste de contas, lhes será
dito:  "Servos bons e diligentes!  Fostes fiéis no pouco, também sereis no muito; confiar-vos-ei o
muito; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades, sobre cinco cidades", de
acordo, cada um, com os talentos e as minas que recebeu.

Aqueles que recebem a Doutrina e dons espirituais e não os observam, ou os aplicam errado e
mal, são semelhantes aos que enterram os talentos e as minas, ao invés de colocá-los no banco
para render juros.  Serão julgados e lhe serão tirados o pouco que têm, porque a todo o que tem,
dar-se-lhe-á e terá em abundância, e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
Os talentos, as minas, são os conhecimentos que vamos adquirindo em cada existência, e quanto
mais conhecimentos nós temos, mais nos será pedido, pois teremos noção de nossas atitudes, de
nossos atos, para com Deus e o nosso próximo.  “A todo que tem, dar-se-lhe-á”; pois quanto
mais temos conhecimento dos ensinamentos de Jesus, mais devemos procurar obter conhecimentos, nos reformando intimamente, para galgar os degraus da evolução.

Aos que nada têm, até aquilo que têm, lhes será tirado.  A este que não tem conhecimento algum,
será necessário que vá a busca do saber, que sinta vontade de evoluir, então os seus talentos e as
suas minas começarão a aumentar.

Todos nós recebemos talentos ou minas a serem trabalhados e quantos de nós, por medo, enterramo-los, alegando não ter condições de fazê-los multiplicar.  E assim, passamos a vida toda, negligenciando os talentos a nós oferecidos.  Enquanto isso admiramos aqueles servos fiéis, que tudo fazem para não deixar enterrado o que recebem do Senhor, os que enfrentam o desprezo do
mundo, as desavenças familiares, enfim, fazem de suas vidas um banco de providências divinas,
onde os banqueiros do Senhor os ajudam com o aumento dos juros.

Coitado daquele que, acovardado, diante do pavor de enfrentar as próprias deficiências, corre do
compromisso, alegando sempre imperfeição ou medo de ir contra o Senhor.  Este se compara ao
servo infiel, que enterrou o talento recebido e que, até este, foi-lhe retirado.  Afastando-se daqueles que tudo fazem para servir ao Senhor, sofrerá o ranger de dentes e a consciência acusando-o
de relapso, porque não teve o desejo de progredir, negligenciou e perdeu o pouco que adquirira.

E João, no capítulo XV, versículo 2, diz:  "Toda vara que não dá fruto em mim, ele a cortará, para que dê mais abundante fruto".
O ser degredado será levado para um planeta inferior à Terra, quando houver a separação do joio
e do trigo e lá aprenderá a dar frutos.
Felizes os que não guardam para si o talento recebido, mas multiplica-os, oferecendo a cada filho
de Deus o que Dele recebeu:  Amor.
E Jesus, está sempre disposto a nos oferecer amor, quando O procuramos sinceramente!

5 - Utilidade Providencial da Fortuna - item 7.

"Jesus olhando ao redor de si disse:  Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas!  Os discípulos ficaram surpreendidos com estas palavras.  Mas Jesus tornou a dizer-lhes:
Filhos, quão difícil é entrar no reino de Deus os que confiam nas riquezas!  É mais fácil entrar
um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus.  E eles ficaram
sobremaneira admirados, dizendo entre si:  Quem então pode ser salvo?  Jesus olhando para eles,
disse:  Aos humanos é impossível, mas a Deus não; porque a Deus tudo é possível".   Marcos,
capítulo X, vers. 23 -27.

Jesus falava por meio de parábolas, às vezes eram rudes, porque as pessoas daquela época entendiam assim, através dos exemplos.

O camelo a que Jesus se refere nesta parábola, não é o camelo animal, e sim uma corda.
Na lição do Evangelho está explicado que, a riqueza não é obstáculo à elevação de quem a possui, porque Deus, nosso Pai Bondoso, jamais a daria a alguém, para prejudicá-lo.  A riqueza é
uma prova como é a pobreza e, vai depender de quem vai usá-la.

Muitas vezes os Espíritos que vêm com maior soma de benefícios para o engrandecimento material, moral e espiritual de seus irmãos, esquecem da missão que vieram desempenhar.  O orgulho
é insuflado pelos bajuladores, pelos servis, que têm como deus a riqueza, transviam muitos Espí-
ritos, levando-os a rudes e penosas provações, pelo errado emprego da fortuna que, o Criador
lhes concedeu para o seu aperfeiçoamento e dos seus semelhantes.

Sabemos que a opulência tem as suas virtudes, os seus feitos gloriosos, mas são grandes os obstáculos que se acham na opulência.

O ser humano rico tem mais dificuldades a vencer que o pobre.  Além de tratar de si e dos seus,
além de procurar manter as exigências sociais, além de estudar e estudar muito porque dispõe de
mais tempo que o pobre, ainda lhe cabe o dever restrito de exercer a caridade, quer socorrendo os
necessitados do corpo físico, quer ensinando os ignorantes, dirigindo a todos as palavras de conforto, de coragem de resignação.

Deus não condena a riqueza e ninguém é condenado por ser rico.
"Como é difícil entrar um rico no Reino dos Céus!  É mais fácil  - disse Jesus, passar um camelo
pelo fundo de uma agulha do que um rico se salvar".

Esta sentença do Mestre vem em apoio das provas por que aqueles que pediram bens de fortuna
para prestarem benefícios ao seu próximo e progredirem rapidamente, pois através da fortuna
material deverão conquistar a fortuna imperecível que, os ladrões não roubam, as traças não
roem e a ferrugem não consome.

Aqueles que pediram a pobreza devem manter a coragem, a resignação, pois a verdadeira fortuna
é a que nos proporciona as virtudes que praticamos e das quais nos cercamos.

A condessa Paula, bela, jovem, rica e de estirpe ilustre, era perfeito modelo de qualidades intelectuais e morais.
Faleceu aos 36 anos de idade.  E as pessoas repetiam:  "Por que Deus retira tão cedo pessoas assim da Terra?".
Felizes aqueles que tornam abençoada a sua memória.  Ela era boa, meiga e indulgente, sempre
pronta a desculpar e atenuar o erro em lugar de aumentá-lo.
A simples ideia de que alguém pudesse experimentar uma privação, por sua causa, provocar-lheia um remorso de consciência.

A sua beneficência era inesgotável, mas não essa beneficência ostentosa; exercia a caridade de
coração e não provinda do amor de vanglórias.  Só Deus sabe as lágrimas que ela enxugou, os 
desesperos que acalmou, pois essas práticas caridosas só tinham por testemunhas os infelizes que
socorreu.  Socorria com aquela delicadeza que eleva o moral em vez de o rebaixar.

Da sua estirpe e das altas funções do marido, decorriam-lhe onerosos encargos domésticos, que
não podia eximir-se; satisfazia plenamente as exigências de sua posição, sem avareza, fazia com
método, evitando desperdícios e superfluidades, que lhe bastava metade daquilo que a outrem
não bastaria.

Assim fazia com que da sua fortuna maior quinhão fosse facultado aos necessitados.  Destinava
uma parte da sua fortuna para a caridade, e conciliava seus deveres para com a sociedade e para
com os infortúnios.

Após doze anos de seu desencarne, um dos seus parentes iniciados no espiritismo, evocou-a.  E
ela disse:
- Tem razão, meu amigo, em pensar que sou feliz.  Na Terra estive entre os felizes, pois não me
lembro de haver aí experimentado um só desgosto real.  O que é, no entanto, essa felicidade
comparada àquela que desfruto aqui?

Não há nada na Terra que se compare às vastas regiões do espaço, matizadas pelas cores que tem
o arco-íris.  Nem as mais esplêndida festas terrenas, com os mais ricos paramentos, são comparadas as assembleias de Espíritos resplandecentes de brilho que as vistas dos humanos não suportariam.
Os concertos da Terra são monótonos perante os concertos harmoniosos, em relação a suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e as fibras do Espírito.

São insípidas as maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade como um eflúvio
benéfico, sem mistura de inquietação, de apreensão, de sofrimento.
Aqui tudo verte amor, confiança, sinceridade:  Por toda parte corações amantes, amigos por toda
parte!

Nem invejosos, nem ciumentos!  Este é o mundo em que me encontro, meu amigo, ao qual você
chegará infalivelmente se seguir o reto caminho da vida.
Tem cada um a sua missão a cumprir, seus protegidos a velar, amigos terrenos a visitar, mecanismos na Natureza a dirigir, Espíritos atormentados a consolar:  É o vai e vem de um mundo para o outro, reunindo-nos, separando-nos para novamente nos juntarmos.  Aqui ninguém tem tempo para enfadar-se, por um segundo que seja.

Atualmente a Terra é o magno assunto de nossas cogitações.  Há grande movimento entre os Espíritos.  Numerosas falanges aí fluem, a fim de auxiliarem o progresso e a evolução.
São nuvens de trabalhadores sob ordens de chefes experimentados.  É como se estivessem derrubando uma floresta, abatendo troncos seculares, arrancando suas raízes profundas, desbastando o
terreno; preparam a terra, semeiam; edificam novas cidades sobre as ruínas carunchosas de um
velho mundo.  Os Espíritos se reúnem em conferências e transmitem suas ordens por mensageiros, em todas as direções.

A Terra deve regenerar-se em dado tempo, pois os desígnios da providência se realizam e cada
um tem o seu papel.  Não sou simples espectadora, isto me envergonharia, já que todos trabalham.  Missão importante me é designada.

Não foi sem labores que alcancei a posição que ora ocupo na vida espiritual; fiquei ciente, que
não bastou a minha última existência, por mais meritória que ela pareça, não era por si só suficiente.  Em várias existências passei por provas de trabalho e miséria que voluntariamente havia
escolhido para fortalecer e me depurar espiritualmente; dessas provas tive a dita de triunfar, a
mais perigosa, a da fortuna e bem-estar material, um bem-estar sem sombras e desgostos.  Nessa
consistia o perigo.  Antes de tentar quis sentir-me forte para não sucumbir.  Deus, tendo em vista
as minhas boas intenções, concedeu-me a graça de Seu auxílio.

Muitos Espíritos, seduzidos pelas aparências, pressurosos, escolhem essa prova, mas, fracos para
afrontar-lhe os perigos, deixam que as seduções do mundo triunfem da sua experiência.
Trabalhadores, eu estou nas vossas fileiras:  Eu, a dama nobre, ganhei como vós, o pão com o
suor do meu rosto; saturei-me de privações, sofri reveses e foi isso que me retemperou as forças
espirituais; do contrário, eu teria falido na última prova, o que me teria deixado para trás, na minha carreira.

Como eu tereis também a vossa prova de riqueza, mas não vos apresseis em pedi-la muito cedo.
E vós outros, ricos, tende sempre que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na
Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do Todo Poderoso.
Não nos esqueçamos meus irmãos que, aqui na Terra, tudo nos é emprestado temporariamente,
para alcançarmos o nosso progresso.

No relato da Condessa, vimos que a fortuna não é um mal, e sim degrau para a evolução.
E somente aprendendo o Evangelho de Jesus, alcançaremos a paz.

"Ninguém vai ao Pai senão por mim".

6 - Desigualdade das Riquezas - item 8.

Deus concedeu a riqueza e o poder a alguns e a miséria a outros, para provar cada um de uma
maneira diferente e bem se sabe que, muitas vezes, as provas são escolhidas pelos próprios Espí-
ritos, que muitas vezes sucumbem ao realizá-las.

Tanto a pobreza como a riqueza são provas difíceis.  A pobreza, a miséria, provoca a lamentação
contra a Providência Divina, e a riqueza leva a todos os excessos.

O rico dispõe de mais meios para fazer o certo e o bem, porém passa por mais tentações.  Expõese a ser egoísta, orgulhoso e insaciável; suas necessidades aumentam com a fortuna e julga não
ter o bastante para si mesmo.

A posição elevada no mundo e a autoridade sobre os semelhantes são provas tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque, quanto mais o ser humano for rico e poderoso, mais obrigações
têm a cumprir e maiores são os meios de que dispõe para fazer o certo e o errado.
Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do seu poder.
A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos distanciam da
perfeição espiritual.

Todas as criaturas humanas tendem para o mesmo fim e Deus fez as Suas leis para todos.  Por isso dizemos ou ouvimos frequentemente:  - o Sol brilha para todos.
Com isso dizemos e ouvimos uma grande verdade.

Todas as criaturas humanas são submetidas às mesmas leis naturais; todos nascem com a mesma
fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo físico do rico se destrói como o do pobre.
Deus não concedeu superioridade natural a nenhuma criatura, nem pelo nascimento, nem pela
morte:  Todas as criaturas são iguais perante Ele.

Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles viveu mais ou menos tempo espiritual e,
por conseguinte, realizou mais ou menos aquisições; a diferença está no grau de experiência e na
vontade, que é o livre-arbítrio:  Por isso uns se aperfeiçoam mais rapidamente, tendo aptidões diversas.
A mistura de aptidões é necessária, a fim de que cada um possa cumprir os desígnios da Providência Divina, nos limites do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais:  O que um
não faz, o outro faz, e é assim que cada um tem a sua função útil.  Por isso, que habitantes de outros orbes, superiores, na sua maioria criados antes de nós, vêm habitar aqui na Terra para nos
dar exemplos.

Se um Espírito de um orbe superior vier habitar um mundo inferior, ele conserva integralmente
suas aptidões, porque o Espírito, no que progrediu, não regride mais.  Ele pode escolher um envoltório mais rude ou uma situação precária, apenas para lhe servir de lição e ajudá-lo a progredir.
As nossas aptidões se relacionam com o grau de aperfeiçoamento a que chegamos.  Deus não nos
criou com desigualdades de faculdades, mas permite que os diferentes graus de desenvolvimento
se mantenham em contato, a fim de que os mais adiantados possam ajudar os mais atrasados a
progredir.  E também a fim de que as criaturas humanas necessitassem umas das outras, compreendendo a lei de caridade que as deve unir.

A desigualdade das condições sociais é obra do ser humano.  Somente as leis de Deus são eternas.  Essa desigualdade social desaparecerá juntamente com a predominância do orgulho e do
egoísmo, restando somente a desigualdade do mérito.  Chegará um dia em que a grande família
dos filhos de Deus só verão o Espírito puro e não o sangue mais ou menos puro.
Os que abusarem da superioridade social serão oprimidos, porque renascerão numa existência
em que eles sofrerão tudo o que fizeram os outros sofrer.

A igualdade absoluta das riquezas é impossível, pois existe a diversidade das faculdades e dos
caracteres.  Porém o bem-estar é relativo e cada um pode gozá-lo, porque o bem-estar está no
emprego do tempo de acordo com a vontade e não em trabalhos pelos quais não se têm nenhum
gosto.  Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficará por fazer.  O equilí-
brio existe em tudo e é o ser humano quem o perturba.

E um dia todos se entenderão, quando praticarem a lei da justiça.
Há pessoas que caem na pobreza e na miséria por sua própria culpa.
A sociedade deve velar pela educação moral dos seus membros, porque é a má educação que falseia o critério dessas pessoas, em lugar de cortar-lhes as tentações perniciosas.
Enfim vemos que, tanto a pobreza e a riqueza, são provas dificílimas dadas ao Espírito, porque
vai depender da sua vontade de evoluir.  E tanto a riqueza, como a pobreza, leva o Espírito a
evolução.  E se passamos por elas, é para burilar o Espírito, esse diamante bruto.
Saibamos que não é somente o rico da parábola o grande devedor da vida.  Muitas vezes a fortuna é simplesmente um cárcere.

Há outros avarentos que devemos recordar em nossa viagem para a Luz maior:  Temos os sovinas da inteligência, que se ocultam nas floridas trincheiras da inércia; temos os abastados de saú-
de que desamparam os aflitos e doentes; temos os privilegiados de alegria que cerram a porta aos
tristes, isolando-se no oásis de prazer; temos os felizes de fé que procuram a solidão, a pretexto
de se preservarem contra o pecado; temos os expoentes da mocidade que menosprezam a velhice; temos os favorecidos da família terrestre, que esquecem os andarilhos da penúria que vagueiam sem lar.
Todos esses ricos, comuns de experiência, contraem pesados débitos para com a humanidade.
Não nos esqueçamos que o tesouro real da vida está no nosso coração.

Quem não pode doar algo de si mesmo, na boa vontade, no sorriso fraterno, tão pouco estenderá
as mãos recheadas de ouro, porque só o amor abre as portas da plenitude espiritual e semeia na
Terra a luz da verdadeira caridade, que extingue o erro e dissipa as trevas.
A pobreza é mera ficção.  Todos temos algo.  Todos podemos auxiliar.  Todos podemos servir.
E o Mestre Jesus disse:  "O maior na vida será sempre aquele que se fizer devotado servidor de
todos".

Em nosso relacionamento habitual com César  - simbolizando o governo político, não nos esque-
çamos de que o mundo é de Deus e não de César, para que não sejamos parasitas na organização
social em que fomos chamados a viver.

Muitos acreditam estarem exonerados de quaisquer obrigações para com o poder administrativo
da Terra, simplesmente porque pagaram seus impostos, achando que não devem fazer mais nada.
Então, não esqueçamos que somos de Deus e não de César, e que César não dispõe de meios para substituir junto de nós a assistência de Deus.

Por isso a Providência Divina conta com a nossa participação constante no certo e no bem, para
alcançarmos a vitória com o progresso real.

A voz do Senhor nos fala na acústica da própria consciência e procuremos executar aos nossos
deveres sem esperar que César nos visite com exigências ou aguilhões.
O trabalho é regulamento da vida e devemos cultivá-lo com diligência, utilizando os recursos
que dispomos para a melhoria de todos que nos cercam.

Auxiliar os outros é recomendação do Céu e em razão disso, auxiliemos sempre, seja amparando
um companheiro infeliz, protegendo uma fonte ameaçada pela secura ou plantando uma árvore
benfeitora que amanhã falará por nós à beira do caminho.
Todos prestaremos contas à Divina Providência quanto aos bens que nos foram emprestados
temporariamente, e sem nenhum constrangimento, exercitemos a compreensão e a tolerância, o 
otimismo e a fé, apagando os incêndios da rebelião ou da crítica onde estiverem e estimulando,
em toda parte, a plantação de valores suscetíveis de estabelecer a harmonia e a prosperidade em
torno de nós.

De nada vale dar a César algumas moedas por ano, cobrindo-o de acusações e reprovações todos
os dias.
Doemos a Deus o que é de Deus, oferecendo o melhor de nós mesmos, em favor dos outros, e,
desse modo, César estará realmente habilitado a amparar-nos e a servir-nos, hoje e sempre, em
nome do Senhor.
Devemos nos empobrecer das ambições inferiores e adquirir a luz que nasce da sede da perfeição
espiritual.
Quem se empobrece de exigências da vida física, recebe os tesouros inapreciáveis do Espírito.
E Jesus, o Divino Amigo, estará sempre junto de nós, tanto na empreitada da reforma íntima como na ajuda ao próximo.

7 - A Verdadeira Propriedade - item 9.

É difícil estabelecer conceito exato de pobreza e riqueza.  A primeira significa falta ou carência,
enquanto a segunda nos dá o entendimento de abundância ou fartura.
Tanto uma quanto a outra dizem respeito a bens materiais ou morais.

A riqueza e a pobreza podem referir-se a povos, nações, e até mesmo a continentes ou simplesmente ao indivíduo.  Mas, nem só de pão vive o ser humano e, é inquestionável a existência de
riqueza e pobreza material, também existem em comum essas condições no mundo do ponto de
vista moral.  Assim, há criaturas ricas e pobres que não creem em Deus, na Sua existência.  As
primeiras são ricas de bens materiais, mas pobres de entendimento; as segundas são duplamente
carentes:  Nem riqueza material e nem moral.

Deus, por intermédio da Natureza, deu ao indivíduo todos os meios e recursos para a sua subsistência.  As dificuldades da criatura humana, onde quer que se encontre; são desafios para o seu
aprimoramento, a sua evolução.

Ao lado de modernos edifícios proliferam favelas populosas e degradantes.  Junto de elevados e
nobres ideais deparamos com pavorosas ruínas morais.  Há coletividades e até povos que se adiantam na conquista de bens e cultura, mas que são indigentes de fé.  O materialismo é a grande
chaga do mundo e faz o ser humano esquecer a existência do Espírito.  O egoísmo, que o materialismo entroniza no peito das pessoas, faz com que elas se esqueçam de apreciar a beleza da vida; como o sorriso da criança feliz correndo sobre a grama.  O materialismo embrutece o ser
humano ao buscar afastá-lo de Deus e incutir-lhe a ambição e a cobiça.

A humanidade já dispõe de suficiente experiência para compreender que o materialismo, além de
não resolver os problemas do mundo, agrava os do Espírito.  Ao negar a existência do Espírito,
procura destruir a liberdade, a esperança e a fé.  Desse modo, o Espírito ainda prisioneiro a bens
materiais, quando reencarnado, sente-se mais encarcerado.

Devemos considerar, com relação a bens, haveres e fortunas, que a igualdade absoluta é impossível, mas a desigualdade muito acentuada é altamente ultrajante ao ser humano.  Por isso mesmo, jamais devíamos esquecer que o direito à vida física não pode sofrer qualquer espécie de restrição e que o supérfluo para uns pode suprir muitas necessidades vitais de outros.

As leis de amor e fraternidade quando forem praticadas, no futuro, vão arredar do coração humano o egoísmo e o orgulho e, com eles, serão também afastados muitos tormentos do caminho.
A Doutrina Espírita vem abrir à criatura humana as oportunidades de se livrar de todos os empecilhos à sua evolução.  Também no que se refere à riqueza e a pobreza mostra-nos a solução para
as dificuldades decorrentes delas.

Tudo o que a riqueza nos proporciona para que esqueçamos os deveres para com o próximo, não
é culpa dela, e sim de quem dela abusa.  A riqueza é de grande utilidade quando se sabe aproveitá-la.  E se a riqueza só produzisse o erro, Deus não a poria na Terra, pois qual é o pai que deseja
o mal de seus filhos?

A riqueza é para conduzir o ser humano a produzir o certo e o bem, e se não é um elemento direto para o progresso moral, é sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual, pois
dá oportunidade de mais aprendizado e fornece oportunidades para os cientistas em suas pesquisas.
A pobreza é, para os que sofrem, a prova de paciência e de resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.

Portanto, os males não são decorrentes de uma ou de outra, mas do comportamento do ser humano em face delas.

Não é por sabermos que a pobreza é prova de resignação, que devemos cruzar os braços, deixando que os nossos irmãos sofram, sabendo que podemos repartir algo do que temos.
Tanto na abastança ou na privação, estamos comprometidos com o amanhã, quando haveremos
de colher os frutos doces, ou amargos, que plantamos na lavoura correta, ou nos desfiladeiros do
erro.

Desse modo, há bens materiais e bens do Espírito.  Os materiais nós deixamos no mundo físico,
porque não podemos levá-los quando partimos daqui; os bens do Espírito nós os levamos, pois o
Espírito é imortal e como ele, os bens morais são imperecíveis e fazem a sua grandeza.  Mas os
ricos do mundo que fizerem errado uso de suas riquezas, arrastarão angústias e sofrimentos, enquanto os pobres que também forem abundantes em erros e delinquências, carrearão destruição e
pesadelos.

A humanidade compõe-se de pequena parcela que retém bens e fortunas, e de um enorme contingente em precárias condições de vida física e de uma população intermediária, também muito
numerosa, podendo ser incluída naqueles extremos.  Estabelecer limites entre todas é irrealizá-
vel.

Deus não condena nem uma e nem outra, pois, ambas são aprendizado, pois o Espírito, ora pode
encarnar como rico e ora pode encarnar como pobre.  Saber conviver com a condição em que se
reencarna é o seu livre-arbítrio.

A Doutrina Espírita vem para orientar e esclarecer todas as pessoas, em quaisquer condições ou
posições sociais, lançar luz sobre as consciências de todos, ao desvendar para cada um de nós a
existência de Deus e às Suas leis, do Espírito e da imortalidade, e de tudo o que nos relaciona
com o porvir.  Dilata, assim, os horizontes ao descortinar a eternidade e mostrar que o desencarne é o portal da vida real.

O corpo terrestre é valioso instrumento de formação da verdadeira riqueza.  Ele se notabiliza
como ferramenta essencial em nosso próprio favor, no fecundo campo da vida.
Temos o primoroso equipamento do cérebro.  Aprendamos a produzir pensamentos que enobre-
çam a estrada, conquistando o apreço e a estima dos semelhantes, em nosso próprio benefício.
Possuímos o tesouro dos olhos.  Vamos movimentá-los no serviço e nos estudos, provendo o Espírito dos mais amplos valores, no setor do conhecimento que nos aprimoramos.

Dispomos da felicidade dos ouvidos.  Empreguemo-los na aquisição de ensinamentos e palavras
edificantes que possam clarear o nosso futuro.
Contamos com a bênção da língua.  Usemo-la na máxima possibilidade, emitindo o verbo sadio,
e fraternal, que nos assegure a confiança e simpatia dos outros.
Retemos conosco o patrimônio dos braços.  Apliquemos na plantação do certo e do bem e surpreenderemos abundantes colheitas de prosperidade e alegria.
Guardemos conosco o cofre do coração.  Com ele estendamos os recursos para recolher da vida
os júbilos do amor, alicerce da ventura sonhada.

Nem sempre o corpo físico será uma cruz para a regeneração do Espírito.
Na maioria das circunstâncias é a ferramenta com que o Espírito pode talhar os mais altos destinos.
Não nos preocupemos com o problema da abastança ou da carência de utilidades materiais, porque a riqueza e pobreza, à frente da Lei Divina, muitas vezes, apenas significam oportunidades
de aperfeiçoamento e elevação.

Somente o trabalho sentido e vivido é capaz de gerar a verdadeira fortuna e acrescentá-la infinitamente e, por isso, amando a tarefa que o Senhor nos confiou, por mais inquietante e singela, 
valhamos-nos do tempo para enriquecermos hoje de luz e amor, compreensão e merecimento, a
fim de que o tempo não nos encontre amanhã de coração fatigado e mãos vazias.

8 - M., Espírito Protetor, Bruxelas, 1861 - item 10.

Neste capítulo do Evangelho, vimos que não há mal nenhum em possuir fortuna, desde que seja
adquirida de maneira lícita e se continue trabalhando pelo bem do próximo, gerando emprego,
pagando-se salário justo, distribuindo um pouco a favor dos mais carentes de alguma maneira,
pois será pedido prestação de contas de cada centavo em erro ganho e em erro pago.
Não se pode usar e abusar da riqueza sem ter que prestar contas, pois ao adquiri-la, Deus está
pedindo perseverança, justiça, vontade e esforço.  Porém, se usada errada, será causa de queda,
pois terá que se responder por todas as ações.

Há muito esforço que se faz para transmitir fortuna aos descendentes, mas se quem a recebe, não
está preparado para tê-la, não conseguirá administrá-la, perderá tudo, enquanto o que a usou com
sabedoria, não visando somente o seu proveito próprio, crescerá.  Por isso, veem-se grandes fortunas ruírem, pois os que as recebem não estão aptos para recebê-las, não sabem fazer o verdadeiro uso delas.
No mundo realmente existe os usurários, que são os agiotas, os avarentos, os sovinas, os mesquinhos, estes são os ricos infelizes, são os dilapidadores dos bens do povo, porque a movimentação
do dinheiro poderia incentivar o trabalho, atenuando as dificuldades dos mais infortunados.
Entretanto, temos fortunas de grandes beneméritos da humanidade, que estimulam as grandes
iniciativas em favor do bem público.  Transformam pântanos em parques industriais, onde milhares de criaturas ganham honestamente o pão da vida, e por isso merecem o nosso respeito.

Não se deve julgar ninguém, só Deus pode julgar as criaturas; sendo o planeta terrestre uma
abençoada escola de dor, que conduz à alegria e ao trabalho, que encaminha para felicidades com
Jesus, deve-se assinalar que, na carne, há quase totalidade de Espíritos com débitos pesados, com
as mais vastas obrigações, perante a obra de Deus, que é o país infinito dos Espíritos.
O Senhor das riquezas é o próprio Pai que criou o Universo, onde estão os bancos infalíveis e os
milionários que podem dispor eternamente dos seus bens.

As expressões cambiais do mundo terrestre são convenções que outras convenções modificam.
Basta, às vezes, um sopro leve das marés sociais, para que todos os quadros da riqueza humana
se transformem.
Dinheiro para gastar e dívida financeira para resgatar, são oportunidades que o Senhor de todas
as coisas oferece para que seja digno Dele.
O crédito exige a virtude da ponderação com a bondade esclarecida e o débito reclama a virtude
de paciência com o amor ao trabalho.

O capital do mundo não é um erro, apesar de serem raríssimos os seres humanos que conseguem
trabalhar sem este estímulo.
O capital continuará sendo um aguilhão, até que as criaturas entendam o divino prazer de servir.
Para os mais abastados; o capital tem constituído a preocupação bendita da responsabilidade, para a maioria dos seres humanos; o estímulo ao trabalho.
O capital é um recurso de sofrimento purificador, não somente para os que o possuem, mas para
quantos se esforcem para obtê-los.  É o meio pelo qual o amor de Deus opera sobre toda a estruturação da vida material no globo; sem a sua influência, as expressões evolutivas deixariam a desejar, mesmo porque, os Espíritos encarnados estão longe de compreender os valores legítimos
da vida.

Na Parábola do rico e Lázaro, o Espírito de Abraão, personifica a Providência Divina junto à Lá-
zaro redimido, porém não atendeu as súplicas do rico desventurado, sendo ele também filho de
Deus. 
Será insensibilidade nos Espíritos gloriosos que já se redimiram das vicissitudes da existência
material?
Abraão e Lázaro viram no sofrimento do rico a misericórdia inesgotável do Pai Celestial que,
dos erros mais profundos, sabe extrair a água amargosa que há de curar o coração.
Ambos compreenderam que seria contrariar os desígnios de Deus, levar ao irmão torturado uma
água mentirosa que não lhe mataria a sede espiritual.
E o que pedia o rico ao Espírito de Abraão?
Rogava que Lázaro voltasse à Terra para dar a seus pais, a sua mulher, a seus filhos e irmãos as
verdades de Deus, a fim de que se salvassem.

Por que não lembrou de pedir essa difusão de verdades entre todas as criaturas?  Por que razão
somente pensou nos seus amados pelo sangue, quando todas as criaturas são irmãos e têm necessidade da paz de Deus, que é a água viva da redenção?

A solicitação do rico é muito semelhante à maioria das súplicas que partem dos caminhos escuros da Terra, filhas do egoísmo ambicioso, ou do malfadado espírito de preferência das criaturas,
orações que nunca chegam a Deus, porque se apagam no mesmo círculo de sombra e ignorância
em que foram geradas, pela insensatez dos seres humanos indiferentes.
A Terra ainda está cheia de heranças tristes, porque desconhece a grandeza do Cristo, por isso os
quadros sociais tão angustiosos da existência terrestre, por não meditar também na profunda Parábola do rico e Lázaro, isto é, nos ensinamentos de Jesus.

O grande problema em relação à riqueza é que ela exacerba as erradas paixões, desperta o orgulho e o egoísmo, os vícios radicais, causadores de todos os outros vícios humanos.  O que se deve condenar é o abuso da riqueza, resultado da imperfeição do Espírito que encarna para viver
essa prova, e não a riqueza em si mesma, porquanto se Deus permite que exista, é que ela faz
parte dos Seus próprios projetos pedagógicos em relação ao ser humano.
Como diz Allan Kardec:  A riqueza é, com razão, considerada elemento de progresso!
O maior obstáculo que se trilha no caminho espiritual não é a riqueza.  É, na verdade, o apego à
autoimagem, ao ego.

Precisa-se observar com honestidade a vida, enfrentar as fraquezas e problemas, amar a verdade,
ouvir o coração, enfim, trabalhar o íntimo honesta e inteligentemente, para ampliar a consciência
de si mesmo.
A própria Natureza apresenta preciosas lições.
Sucedem-se os anos com precisão matemática, mas os dias são sempre novos.
Dispondo, assim, de trezentos e sessenta e cinco ocasiões de aprendizado e recomeço, anualmente, quantas oportunidades de renovação moral encontrará a criatura, no abençoado período de
uma existência?

Deve-se guardar do passado o que for correto, bom e justo, mas não guardar do pretérito os detritos e sombras, ainda mesmo quando mascarados de encantador revestimento.
Cada hora que surge pode ser portadora de reajustamento.
Se possível, não deixe para depois os laços de amor e paz que pode criar agora, em substituição
às pesadas algemas do desafeto.
Não é fácil dedicar o coração a favor daqueles que ferem.
Entretanto, o melhor antídoto contra os tóxicos da aversão é a boa vontade, à benefício daqueles
que odeiam ou que ainda não compreendem.

Ficando na fortaleza defensiva, o adversário cogita de enriquecer as munições, porém, tornandose sereno, mostrando disposição na luta, a ideia de acordo substitui, dentro de cada um e em torno dos passos, a escura fermentação da guerra. 
Alguém te magoa?  Reinicia o esforço da boa compreensão.
Alguém não te entende?  Persevera em demonstrar os intentos mais nobres.
Deixe-se viver cada dia, na corrente cristalina e incessante do bem.
Não esqueça a assertiva do Mestre:  "Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino dos
Céus".

Renasça agora nos propósitos, deliberações e atitudes, trabalhando para superar os obstáculos
que te cercam e alcançando antecipadamente a vitória sobre ti mesmo no tempo...
Mais vale auxiliar, ainda hoje, do que ser auxiliado amanhã!
E o Mestre Jesus, está nos auxiliando sempre!

9 - Emprego da Fortuna - item 11.

"Não podeis servir a Deus e a Mamon".  Mateus, capítulo 6, vers. 6-24.

Mamon era uma divindade que os povos antigos adoravam, feita de ouro e prata, representando
mais ou menos o que representava Júpiter para os romanos, isto é, os vícios da humanidade com
todo o seu cortejo, explicando o pensamento de Jesus:  "Não podeis servir a dois senhores ao
mesmo tempo".  Ou servir a Deus, Criador e Pai, ou servir aos interesses do mundo.
Não é possível viver uma vida que agrade a Deus, praticando desregramentos que deixam uma
existência comprometida com vícios e paixões.

Não podemos ter no Espírito, ao mesmo tempo, o amor e o egoísmo; a caridade e a avareza; o
desprendimento e a cólera; a mansidão, que reflete humildade de Espírito com simplicidade de
coração e o orgulho; a atividade indispensável ao trabalho e a preguiça, a bondade para com todos e o gosto do assassínio e das violências, pois são comportamentos adversos.
Aquele que se consagra aos bens terrenos não tem como praticar o desprendimento que o progresso espiritual exige.

A era das divagações de pensamento passou.  Hoje, mais do que nunca, há a condição para se
conhecer o Criador do Universo.

O Mestre declarou no livro de Mateus (24-34) e no de Marcos (13-30):  "Que não passará esta
geração sem que todas estas coisas aconteçam".  E disse mais:  "O Céu  e a Terra passarão, mas
as minhas palavras não hão de passar".  E também profetizou João Batista:  "O machado está
posto à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bons frutos, é cortada e lançada ao fogo".  Mateus (3-10).

De Jesus até os nossos dias as gerações humanas têm sido inúmeras e, no entanto, as criaturas
humanas têm se comportado à vontade; mundana, viciosa e adulteramente, assassinando, roubando, pervertendo-se na prática de todos os erros possíveis e inimagináveis.

Não estamos referindo simplesmente aos pequeninos integrantes das massas populares, incultos,
apagados e débeis.  Estamos referindo aos que se orgulham de seus títulos, nomes e posição social, mas que também matam, que também roubam, que também mentem, que também praticam
a corrupção, e não têm o direito de alegar desconhecimento de Deus.

Haverá a hora do basta, porque todos serão levados a refletir, porque o Pai Celestial não privou
ninguém de consciência, e a geração que Jesus se referia é a dos Espíritos, que o Senhor do
mundo colocou sob a Sua tutela, e todos nós estamos incluídos, e a passagem para mundos melhores somente ocorrerá com a perfeição alcançada.

A árvore de que João Batista falava, diz respeito a qualquer das ovelhas do grande rebanho de
Cristo que, no momento da escolha, não tenha condição de permanecer entre as que não transviaram.  Para aqueles que tiverem olhos de ver, a grande separação do joio e do trigo já está acontecendo.
Este sofrido planeta está sendo promovido a mundo regenerador.  E as árvores que nele não quiseram produzir frutos bons não permanecerão, por tratar-se de uma presença perniciosa na nova
fase a ser desenvolvida na Terra.

Vamos indagar a nossa consciência; pois ninguém dela é privado:
- Teria Deus esquecido de insistir em Suas advertências?

- Não!  Reflitamos todos sob cada versículo, cada sentença do Sermão da Montanha e nos convenceremos de quanto o Mestre alertou para que ninguém se perdesse por falta de conhecimento.   
No entanto, já está a acontecer na Terra a repetição do exílio dos filhos de Capela, no exílio doloroso de um contingente quase inumerável de filhos deste astro do Universo.
Somos cristãos e estamos convictos de nossa fé.  Quanto ao que o Cristo espera de nós não há
razões para dúvidas no Espírito.

São milhares e milhares de páginas que já devem ser milhões, em ensinamentos, orientações elucidativas e advertências.  Nem mesmo o povo de Israel, que a si mesmo denominava Povo de
Deus, recebeu tanto.

Como nós temos procedido aos olhos de Deus, diante de tão valiosos ensinamentos?  Será que
estamos sendo sinceros com o Consolador prometido pelo Senhor, e que nos veio no tempo certo?
E para que não houvesse dúvida em nossos corações, fomos premiados com o Evangelho Segundo o Espiritismo, onde encontramos mensagens assinadas pelo Espírito de Verdade, no prefácio
do capítulo VI e no capítulo XX, neles carinhosamente nos trata como trabalhadores da última
hora.

Que queremos mais?

Será que podemos ter a tranquilidade de consciência que somente a Deus estamos servindo?
Já estamos unificados no espírito da Doutrina do Consolador, que está conosco há 140 anos?
Já nos foi possível, pelo menos, colocar no ponto mais alto o trabalho da fraternidade?
Que fizemos de nossos venturosos propósitos de humildade?  Ou esquecemos o sentido destas
palavras:  "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração".  Mateus  (11 - 29).
Reflitamos sobre quanta coisa estranha tem sido expelida, aqui, ali e em outros lugares, pelo nosso incontido intelectualismo, a causar perplexidade nas mentes ingênuas ou despreparadas, dificultando-lhes o entendimento das verdades de que o Consolador é veículo.

Estamos nos momentos mais propícios ao nosso efetivo e bom serviço a Deus.  Se ontem Jesus
falava a seres humanos de instintos grosseiros, que punham acima de tudo seus compromissos
mundanos com Mamon, hoje a Doutrina Espírita se dirige a seres humanos bem mais adiantados,
e não é possível que humanos assim, se deixem dominar pelo deus Mamon; da vaidade e do personalismo exacerbado.

Recordemos uma vez mais, a advertência prudente do apóstolo Paulo aos companheiros na assembleia de Corinto:  "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe, não caia!".  I Cor. (10 - 12).
Ninguém está impedido de ser rico, de desfrutar poderes diante do mundo, de conquistar aplausos por seus dons intelectuais, de participar dos banquetes que às sociedades mundanas tenham
conquistado.  O livre-arbítrio nos pertence.

Todavia, quando nos permitimos ser colocado a Serviço do Senhor, na condição de trabalhador
ou obreiros do Evangelho, temos que manter a postura de servidor de Deus, exemplificando prudência, abnegação, humildade e devotamento.
Esses quatro instrumentos, seguros e poderosos, ajudam muito a exercitar o Evangelho e manterse fiel ao compromisso com o Cristo.

Vivendo nessa fidelidade, jamais atentaremos contra o Cristianismo Redivivo que é; unir, integrar, recompor e fortalecer a grande falange do Consolador e nunca dispersar, confundir, atordoar aqueles que, embora sinceros, são incipientes ainda na Seara do Senhor.
Bem de vida!

Estar bem de vida é a aspiração mais generalizada de todo o mundo, conquistar um lugar ao Sol.
Todos se identificam quando pretendem melhorar de situação.
As mudanças para melhor fazem parte da ordem natural das coisas. 
Somos seres humanos, isto é, seres pensantes, inteligentes, racionais.  Logo, temos os nossos
problemas e, dentro deles, as nossas aspirações.

O que não podemos é forçar situações para melhorar de vida física.  Não podemos disputar a
posse de grandes rendimentos, decorrentes de empregos rendosos, de posições vantajosas, de
cargos lucrativos, de negócios vultosos, sem nos inquirirmos se estamos preparados espiritualmente para entrar no seu usufruto, com lúcido discernimento das responsabilidades contraídas.
Muitas pessoas são proprietárias de grandes fortunas, porém gostariam de ser donos até mesmo
das nações de que são filhos e se fosse possível do planeta em que vivem.  E intelectualmente
bem dotadas, ofuscam as outras inteligências que existem.

Isto é buscar a infelicidade com as próprias mãos, pedindo o que não pode, desejando o que não
sabe, querendo o que não deve.
Será que pensam em Deus os que assim agem?   Acreditamos que não pensam nem em si mesmos, pois se o fizessem, não perderiam a honra para ganhar evidência, não sacrificariam a paz,
não trocariam o Céu interior pelo umbral das torturas morais.
De que nos serve sermos hoje, o que não podemos ser amanhã?   Possuirmos agora, o que nos será tirado amanhã?

Precisamos observar, se ao pensar em subir, não estamos descendo; ou se o melhor pretendido
não será, na realidade, o pior que nos sobrevirá.
Melhorarmo-nos de dentro para fora, interiormente, intimamente, é a questão, o ponto chave.
Bem de vida está, não propriamente quem melhora de situação material e, sim, o que melhora a
si mesmo, enriquecendo-se de virtudes, agigantando-se nos valores do Espírito.
Ser um humano correto e de bem na vida  - situação definida para consecução definitiva do verdadeiro objetivo de nossa destinação eterna.  Está é a causa e a meta de nossa permanência na
crosta planetária e à qual devemos estar atentos e de todo empenhados em conquistar.
Conquistemos o Reino de Deus dentro de nós e tudo mais nos será acrescentado.
O grande tesouro da vida está na paz interior, e só a temos, seguindo os passos do Mestre Jesus.
E aqui estamos para seguir às Suas pegadas.
Muita paz a todos!

10 - Um Espírito Protetor - Cracóvia, 1861 - item 12.

Em nossa vida precisamos constantemente fazer escolhas.  A nossa dificuldade é que nem sempre conseguimos discernir os caminhos que se abrem à nossa frente.  O conhecimento espírita
pode nos ajudar bastante nesses momentos de dúvidas e incertezas diante do futuro, mas, às vezes, o nosso conhecimento dos princípios básicos do Espiritismo é superficial para termos uma
análise da encruzilhada que nos encontramos.  Então, precisamos refletir sobre estes conhecimentos, meditar como aplicá-los em nossa vida, tendo o senso crítico para observar nossas atitudes e reações, identificando nossos motivos interiores.

Muitas vezes tomamos a decisão que precisamos tomar, porque ela define a nossa filosofia de
vida, mas não temos consciência que já fizemos a escolha.  Continuamos pela vida agindo e reagindo, sem fazer uma autoanálise, para perceber que, muitas vezes, não estamos trilhando o caminho mais viável para o alcance dos nossos objetivos, que consideramos válidos em vista das
informações colocadas ao nosso alcance pela Doutrina que abraçamos.  Estamos falando da decisão básica que devemos tomar quanto aos dois caminhos que a vida nos apresenta:  O material e
o espiritual.

O caminho material é a escolha mais imediata e geradora de posição social, conforto, bem-estar
físico.  Aí, traçamos nossas metas, considerando habilidades intelectuais e profissionais que precisamos adquirir, e aceitamos as regras de uma sociedade competitiva.  Dedicamos nossas horas
somente para obtenção do que está colocado em nossa mente, achando imprescindível à felicidade, armazenando mais, sem pensar nas carências à nossa frente, no futuro incerto.  A violência e
a enfermidade são imprevistos que nos ameaçam, projetando sombras sobre a nossa aparente
tranquilidade.

Na corrida, atrás de tantos afazeres materiais, nosso dia fica totalmente preenchido, sobrando
pouco espaço interior, para considerar o vazio que começa a se instalar dentro de nós, gerando
insatisfação.  E, muitas vezes, quando essa sensação começa a nos incomodar, procuramos preenchê-lo com aquisições de bens materiais.  Consumimos o nosso tempo de lazer diante da televisão; em espetáculos que atendem aos nossos sentidos; com bebidas; buscando novos parceiros.
A Doutrina Espírita nos mostra que esse caminho não nos trás a felicidade almejada.  A alegria
presente nele é aparente, efêmera, e deixa atrás de si uma estranha sensação, amarga, de frustra-
ção, aprisionando-nos num círculo vicioso e difícil de ser identificado e corrigido.  Consumimos
preciosas reservas de energia nisso e nos surpreendemos depois com doenças, acidentes imprevistos ou conflitos íntimos:  interfamiliares ou sociais, aos quais não estávamos buscando.  Pelo
conhecimento espírita aprendemos que, a qualquer tempo de nossas vidas podemos alterar os
rumos, escolhendo o caminho espiritual.

Escolher o caminho espiritual não significa renunciar a tudo que seja material.  A Doutrina Espí-
rita não prega o abandono do mundo, a reclusão e a clausura; o adepto do espiritismo, ao contrá-
rio, precisa estar presente na sociedade, vivendo conforme a realidade em que se inseriu ao reencarnar, para mais uma experiência de aprendizagem na Terra.  A escolha desse caminho determina novas prioridades, motiva atitudes diferentes, diante das circunstâncias e do próximo, gerando um novo modo de estar no mundo.

A intuição ganha espaço novo na nossa economia psíquica, trazendo subsídios às decisões que
precisamos tomar no dia a dia, ampliando nossa capacidade de discernir e de fazer opções, diante
dos problemas do cotidiano.  Esse caminho dá significado à nossa vida, preenche o vazio interior
e nos direciona a obter conquistas reais do Espírito.

Alertados pelo conhecimento espírita, buscamos o caminho espiritual, porém há expectativas que
não se realizam, porque as coisas não mudam da noite para o dia, os nossos problemas não são
eliminados e não teremos saúde e energia inesgotáveis.  E se essas coisas miraculosas não acontecem, voltamos atrás, ficamos confusos, sem saber no que acreditar.

A tentativa de percorrer os dois caminhos:  Espiritual e Material, pode acontecer.  Queremos servir a Deus e a Mamon, isto é; desejamos os benefícios do caminho espiritual, mas recusamos
abrir mão da comodidade, do conforto e dos prazeres que o caminho material proporciona, mas a
tentativa de conciliar os dois caminhos trás o conflito interior, e ficamos como aquele moço do
Evangelho, em Mateus, capítulo 19, vers. 16 a 24, que perguntou a Jesus o que deveria fazer para
ganhar o Reino dos Céus.  Jesus informou-lhe a necessidade de guardar os mandamentos.  Ele
respondeu que já o fazia.  O Mestre considerou que ele precisava de abnegação e renúncia dos
bens materiais, afirmando:  "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e
terás um tesouro no Céu.  Depois, vem e segue-me".

Pela narrativa do Evangelho, sabemos que o rapaz entristeceu-se com a resposta, porque possuía
muitos haveres.  Ele estava dividido entre a vontade de trilhar o caminho espiritual e a dificuldade de abandonar o que o mundo lhe proporcionava.  Assim ficamos muitas vezes, mas precisamos insistir no caminho espiritual, apesar dos obstáculos.

A atitude do rapaz rico motivou a célebre afirmação de Jesus, de que é mais fácil um camelo
passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus.  Camelo nesse caso,
não é um animal, e sim uma corda, ou um caminho muito estreito, como labirinto.  Essa passagem gera interpretações extremadas, pois muitos consideram os bens materiais a causa da perturbação do Espírito, porém isso não é verdadeiro, pois o ser humano precisa desse estímulo para
consagrar-se ao trabalho necessário à melhoria das condições do Planeta.  O trabalho humano
contribui para o saneamento do ambiente, desenvolve a produção de alimentos, determina o
aperfeiçoamento da indústria, minora os sofrimentos físicos, decorrentes das enfermidades.  Para
dar conta dessas atividades, a Ciência é chamada a ampliar os conhecimentos, a criar novas tecnologias, aumentando a eficiência e a segurança do trabalho humano.  Tudo isso é progresso e
evolução.

O grande problema é que a riqueza exalta as erradas paixões, desperta o orgulho e o egoísmo.  O
que se deve condenar é o abuso da riqueza, resultado da imperfeição do Espírito que encarna para viver essa prova, e não a riqueza em si mesma. E Deus permite que ela exista, porque ela faz
parte dos Seus projetos pedagógicos em relação ao ser humano.  E Allan Kardec nos diz que a
riqueza é, com razão, elemento de progresso.

A riqueza não é o maior obstáculo que trilhamos.  É o apego a ela e ainda não nos conscientizamos desse apego.  Precisamos observar com honestidade nossa vida, enfrentar nossas fraquezas e
problemas, amar a verdade, ouvir nosso coração, seguir as verdades descobertas na experiência,
trabalhar o íntimo honesta e inteligentemente, para ampliar nossa consciência de nós mesmos.
E para alcançar nossa consciência de nós mesmos, precisamos:
1 - Sair do nevoeiro dos sonhos do futuro ou da recordação do passado;
2 - Desistir do romantismo emocional;
3 - Analisar os próprios pensamentos e examinar os acontecimentos da própria vida.
Esses itens nos dizem que devemos enfrentar cada situação conscientemente, pois que é uma das
melhores maneiras de assumirmos as nossas responsabilidades.
Para trilhar o caminho espiritual, precisamos buscar os ensinamentos básicos que estão dentro
dos nossos corações, porque a lei divina está inscrita em nossa própria consciência.  Devemos parar de desperdiçar a vida física, sonhando e cobiçando prazeres fora de nós mesmos, impedindo-nos de conhecer nossos sentimentos íntimos.

A sabedoria oriental nos diz:  "Há rochas no oceano que vêm sendo cobertas de água há milhares
de anos; em seu interior, todavia, elas continuam secas".  É fácil interpretar:  As rochas somos
nós mesmos com os corações fechados, sem deixar penetrar nada no nosso interior, permanecendo secos.

A insensibilidade para responder aos apelos amorosos de Jesus é que nos amarra ao desapontamento em que nos encontramos.

Podemos quebrar esse ciclo, renunciando aos apegos e as ganâncias.  Pelo conhecimento espírita,
podemos entender uma forma nova de vida, colocando as coisas materiais em seu devido lugar,
tranquilizando assim o nosso coração, permitindo que ele se abra aos sentimentos mais sutis.
Jesus ofereceu-nos o Seu jugo e o Seu fardo:  "Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei.  Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando
e humilde de coração e achareis repouso para os Espíritos, pois é suave o meu jugo e leve o meu
fardo".  Mateus, capítulo 11, vers. 28 a 30.

Temos preferido o caminho mais difícil das amarras do mundo, recusando-nos ao jugo suave e
ao fardo leve, pois negamo-nos a observar a lei do amor que Ele nos ensinou.  O Espiritismo
vem, nos tempos atuais, reiterar o convite de Jesus, pelos esclarecimentos que nos possibilitam
alcançar a fé e a esperança, que podem gerar fraternidade.  Estamos, mais uma vez, diante da encruzilhada da vida que nos propõe seguir em paz ou continuar na angústia.  O primeiro caminho
sugere-nos a disciplina do dever, mas nos acena com a possibilidade da conquista serena de nós
mesmos; o segundo nos oferta alegrias fáceis, ocultando-nos a dor que fatalmente nos alcançará
cedo ou mais tarde.

Para que lado se inclina a nossa vontade?
Essa decisão é pessoal e intransferível, e dela depende o nosso amanhã.
Pensemos, e que Jesus nos ilumine nesse pensar!

11 - Fénelon - Alger - 1860. - item 13.

"Não junteis tesouros na Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e os ladrões os desenterram e roubam, mas acumulai para vós tesouros no Céu, onde não os consomem a ferrugem nem
a traça, e onde os ladrões não os desenterram nem roubam, porque, onde está o teu tesouro, aí está também o teu coração".  Mateus, capítulo 6, vers. 19 a 21.

Jesus dizia estas parábolas aos judeus, porque a ganância era obsedante, esqueciam a religião.
Hoje a situação não é muito diferente.  As riquezas exercem influência fascinante na vida física
das criaturas humanas, sufocando o que há de mais nobre e belo, abstraindo-se por completo das
coisas celestiais.

Jesus não condena as riquezas.  O que Ele recomenda é que não se escravizem por ela, nem faça
de sua posse a finalidade exclusiva da existência terrena, pois são transitórias, e não se deve torturar ao deixá-las.

Quando o Mestre Jesus diz:  "Ajuntai tesouros no Céu", é para que se desenvolva as corretas e
boas qualidades do Espírito:  A caridade, a justiça, a misericórdia, a tolerância, enfim; o amor
fraterno para com todos, pois é nisto que consistem as riquezas imperecíveis, que são realmente
do ser humano, que a traça e a ferrugem não podem corromper, nenhum incêndio ou inundação
pode destruir, e ladrão algum pode arrebatar.

A riqueza, quando utilizada de conformidade com a vontade divina, é o mais poderoso recurso
para ativar a evolução e o bem-estar da humanidade, pois dá serviço aos que dele precisam e
contribui para o desenvolvimento da inteligência humana, através das artes e ciências.
Se a riqueza fosse repartida igualmente com todas as criaturas, diz Kardec, cada um, supondo ter
com que viver sem trabalhar, procuraria eximir-se dele, resultando daí o mal de todos, pela paralisação do progresso e pela falta dos elementos indispensáveis à existência.

Deus concede a riqueza a número limitado, para que administrem com critério e integridade, fazendo chegar aos demais o bastante para cobrir as suas necessidades.
A riqueza é ainda um meio que Deus faculta aos seus detentores para que melhor aprendam a
discernir o certo do errado e, pratiquem o certo em grande escala, em proveito da coletividade e
de seu próprio progresso espiritual.
Não sendo possível que todos a usem ao mesmo tempo, cada um a possuirá por sua vez.  Quem
não a possui hoje, já a teve, ou virá a tê-la em outra encarnação, e quem a possui agora, poderá
não a ter amanhã.

Se tivéssemos uma única existência, não haveria explicações para essa divisão dos bens; porém,
vivemos muitas e muitas vezes, e sob esta luz de verdade está o equilíbrio da justiça divina.
Há muitas queixas do errado uso da riqueza e do poder que alguns fazem, chegando a duvidar da
Sabedoria Suprema que conduz todas as coisas, esquecendo que ninguém zomba impunemente
das leis de Deus.

Ai daqueles que, possuindo fortuna, não a põem em movimento, deixando de proporcionar trabalho ao povo!
Ai daqueles que, possuindo haveres em abundância, só pensam em aumentá-los, aumentá-los
sempre, sem atender os que, premidos pela necessidade, imploram um pouco mais de pão!
Ai daqueles que, vivendo na opulência, só pensam nas suas satisfações pessoais, sem se lembrarem dos que sofrem de fome, de frio, e não têm lugar onde possam repousar o corpo físico, exaustos e combalidos pela velhice ou pela enfermidade!

Então se aplica a sentença de Jesus:  "É preciso que haja escândalo; ai daqueles, porém, por causa de quem vier o escândalo", o que significa:  "É preciso que haja sofrimento, porque é através
de um cadinho de dor que se depura o sentimento”.  Ai daqueles que o provocam!  Ai daqueles
que o semeiam!  A morte para estes, não será a paz e nem a bênção do Céu.  Será o desassossego.  Desassossego da própria consciência; do egoísmo e da falta de sensibilidade.
Atormentados pelo tribunal da consciência, haverá necessidade de se dirigirem a Deus, implorando-Lhe por misericórdia, por uma nova oportunidade.
Por isso, não invejem os ricos e poderosos da Terra.

Se a pobreza é a prova da paciência e da resignação, a riqueza  constitui a prova do altruísmo e
da caridade  - bem mais difícil de vencer!
Certa vez, um cavaleiro de França, ausentou-se do seu domicílio, indo à Itália para resolver questão política.
Trazia consigo o propósito central de servir ao Senhor.
Inesperadamente surgiu a sua frente ulceroso mendigo a estender-lhe as mãos descarnadas e sú-
plices.

Quem seria semelhante infeliz a vaguear sem rumo?  Sem fixá-lo, atirou-lhe a bolsa farta.
O nobre cavaleiro voltou ao lar, menos afortunado nos negócios, deixou, de novo, a casa.  Ia para
a Espanha, em missão de eclesiásticos amigos, aos quais de devotava.
No mesmo lugar, estava outro infortunado pedinte, com os braços em rogativa.
Intrigado, retirou do grande saco de viagem pequeno brilhante, e arremessou-o ao triste caminheiro que parecia devorá-lo com o olhar.

E menos feliz no círculo de suas finanças, necessitou viajar pela Inglaterra, onde desejava solucionar vários problemas, alusivos à organização doméstica.
E no mesmo lugar, é surpreendido pelo amargurado leproso, cuja velha petição se ergue no ar.
O cavaleiro arranca do chapéu estimada joia e projeta-a sobre o romeiro, orgulhosamente.
Decorridos alguns meses, segue para porto distante, em busca de precioso empréstimo, porque
sua economia estava ameaçada de colapso fatal, e com precisão, no mesmo lugar, é interpelado
pelo mendigo e cujas mãos, em chagas, voltam-se ansiosas para ele.
Extremamente dedicado à caridade, não hesita.  Despe fino manto e entrega-o de longe, receando
contato.

Após um ano, indo à Paris invocar socorro de autoridades, no lugar de sempre é defrontado pelo
mesmo Lázaro, de feição dolorida, que lhe repete a mesma súplica.
O castelão lhe atira um gorro de alto preço, sem pausar o galope em que seguia.
Passam-se os dias.  E com festança representará os seus na cruzada com que se pretendia libertar
os lugares santos.

E no mesmo ângulo da estrada o mendigo o aguardava e lhe dirige com voz ainda mais triste.
O ilustre cavaleiro dá-lhe, então, um rico cesto de alimentos, sem dar-lhe a mínima atenção.
Na Palestina, combalido e separado de seus compatriotas, por anos a fio, padeceu miséria e vexame, ataques e humilhações, até que um dia, parecendo um fantasma, retorna ao lar, que não o
reconhece.

Houve a falsa notícia de sua morte, a esposa depressa o substituiu, e seus filhos, revoltados, soltaram os cães contra ele, que o dilaceraram cruelmente, sem piedade.  E o pranto lhe escorria dos
olhos semimortos.

Procurou velhas afeições, sofreu repugnância e sarcasmo.  Interpretado como louco, o exfidalgo, ausentou-se, em definitivo, a passos vacilantes...
Seguir para onde?  O mundo era pequeno demais para conter-lhe a dor.  Avançava, penosamente,
quando encontrou o mendigo.

Relembrou a passada grandeza, e voltou-se para si mesmo, como se estivesse buscando alguma
coisa para dar.
Pela primeira vez, contemplou o infeliz, cruzando com ele o angustiado olhar e sentiu, que, aquele homem, chagado e sozinho, devia ser seu irmão.
Abriu os braços e caminhou para ele, tocado de simpatia, como se quisesse dar-lhe o calor do
próprio sangue.  Foi, então, que, recolhido no regaço do companheiro que considerava leproso,
dele ouviu as sublimes palavras:

- Vem a mim!  Eu sou Jesus, teu amigo.  Quem me procura no serviço ao próximo, mais cedo me
encontra...  Enquanto me buscavas à distância, eu te aguardava aqui, tão perto!  Agradeço o ouro,
as joias, o manto, o agasalho e o pão que me deste, mas há muitos anos te estendia os braços, esperando teu próprio coração!

O antigo cavaleiro nada mais viu senão vasta senda de luz entre a Terra e o Céu...
Mas, no outro dia, quando os semeadores regressavam as lides do campo, sob a claridade da aurora, tropeçaram no orvalhado do caminho com um cadáver!
O cavaleiro estava morto!

Somente depois de muito sofrimento o cavaleiro encontrou Jesus, e Ele o tempo todo estava por
perto.  Poderia ter minorado os seus sofrimentos, pois quando fazia a caridade, deveria abrir o
seu coração.

Lutou, correu atrás das riquezas, esquecendo-se que a maior riqueza estava com ele:  o amor!
Todavia, o Mestre o aguardou, e no momento do seu maior sofrimento, abriu os olhos e conseguiu enxergá-lo, e Este imediatamente o abraçou.

Jesus, de várias maneiras se apresenta a nós.  Será que temos olhos para vê-Lo?  Será que em algum momento paramos para observá-Lo?

Não tardemos ao nosso encontro com Ele, como fez o cavaleiro.  Vamos depressa ao Seu encontro:  Amando o nosso próximo; fazendo o certo e o bem; tendo paciência e compreensão; sendo
honestos e amando a verdade; retirando os errados pensamentos e as mágoas de nós; enfim, nos
modificando a cada dia; tendo a consciência em paz.  Então estaremos caminhando ao Seu encontro e prontos para mais cedo do que esperávamos receber Seu abraço de amor!


12 - Desprendimento dos bens terrenos

- Lacordaire - Constantina - Argélia - 1863 - item 14.

"Preparai-vos tesouros no Céu, onde não há ferrugem nem traças que os possam destruir, onde
não há ladrões que os desenterrem e roubem".  Mateus, capítulo 6, vers. 20.
Isto é uma reflexão do Evangelho de Jesus, o Cristo de Deus.  Aprendendo no espírito do Evangelho, estamos objetivando, definitivamente, nossa reforma interior, e vamos refletindo sobre a
importância do conhecimento de nós mesmos.

Temos a necessidade do desenvolvimento racional da humildade, sem a qual seria difícil a aquisição de determinados atributos psíquicos, indispensáveis na conquista da verdadeira fé alicerçada na razão.
No conhecimento do Evangelho temos que nos conscientizar de uma conduta formal e espiritual
que nos permita um paulatino, mas irreversível, desprendimento das coisas deste mundo material.
Prestemos bem atenção:  Desprendimento não quer dizer abandono, ou pouco caso das coisas
que nos são necessárias enquanto permanecemos encarnados neste planeta.

No passado, admitiu-se que se desprender alguém das coisas materiais, era entregar-se a uma situação de extrema pobreza ou a práticas de isolacionismo, em que o candidato a santo abandonava amigos e familiares para residir num eremitério.
Repetimos mais uma vez que:  Não temos que lembrar da "letra que mata" e sim do “espírito que
vivifica”.

Entendamos desprendimento como desapego a bens, a objetos supérfluos, e, às vezes, até pessoas.  Dizemos desapego e não abandono.  Determinados bens são importantes enquanto úteis ao
progresso.
Para entender do Evangelho deve-se deixar o Espírito livre de influenciações negativas quando
tiver de adentrar a vida espiritual, o que de modo algum é possível numa existência de apego a
objetos e interesses materiais.
Antes da passagem de Jesus Cristo:  O nosso orbe era bastante obscuro, parecia um cárcere sem
luz e de atmosfera impura.

A pouco e pouco, o Espírito rebelde foi se adaptando às sombras e aos parcos recursos para sobrevivência, e nossa primeira preocupação foi a de apossamento das coisas ao nosso alcance.
Desta forma, foi fácil o desenvolvimento interior do vírus nocivo do egoísmo, que ainda escraviza e vilipendia a humanidade em nossos dias.
Dois tipos de personalidades foram percebidos, de início, no sombrio cenário:  Os possessivos  -
tudo para eles, só para eles e destruindo a quem lhes atrapalhasse a ganância; e os mais ou menos
desprendidos  - dotados de algum sentimento de fraternidade, então de temperamento menos
agressivo.

Ao mesmo tempo, havia uma grande massa de indiferentes dos que não agiam, dos ociosos, dos
bajuladores, dos criminosos comuns, dos que iam se anulando nos vícios do roubo, da cobiça, da
falsidade etc.

Esse era o cenário que o Messias anunciado pelos profetas iria deparar.  Era essa a ribalta sombria em que, possivelmente, nos encontrávamos um dia...
Será que mudou o cenário do mundo hoje?

Sim, porque o Cristo de Deus veio trazer luz para os corações.  Jesus já pensava no futuro, por
isso deixou o Seu Evangelho.  A preocupação Dele não era o somente com o ser humano atrasado e tosco, e ainda brutalizado daquele tempo.  Sua suprema preocupação era com toda uma geração integrada pelos seres humanos daquela época e de todos os milênios que se seguiriam na
esteira infinita do tempo.

Jesus quando fazia exortação diante do quadro de dores perante os humanos disse:  "em verdade
vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.  O Céu e a Terra
passarão, mas as minhas palavras não hão de passar".  E foram registradas por Mateus, capítulo
24, vers. 34 e 35.

A elevação é um processo.  Não é um acontecimento acidental ou uma graça que, de repente,
ocorre ao Pai Celestial conceder à alguém.

A revelação Espírita nos mostra que, o Cristo de Deus se referia não a uma geração de humanos,
mas a uma geração de Espíritos, abrangendo a toda a humanidade deste planeta, encarnada e desencarnada, em processo de evolução, de ontem, de hoje e dos milênios que estão por vir.
E numa outra ocasião, em Mateus, capítulo 17, vers., 17, Ele assim se expressou:  "Oh, geração
incrédula e perversa!  Até quando estarei convosco, e até quando vos sofrerei?". Claro que Jesus
não se referia aos humanos imaturos e embrutecidos daquela época, mas a todas as ovelhas que o
Pai colocara sob a Sua tutela, ao constituí-Lo governador e Cristo de nosso planeta, e enquanto
persistisse a nossa ignorância moral e espiritual.

Nossa conduta atual deve ser de muita preocupação com o certo e o bem, com a nossa posição de
obreiros do Senhor, divulgando a Doutrina-Luz.  Estamos vivendo a hora do desafio, ou seja, da
aplicação de todo o conhecimento adquirido através do Evangelho de Jesus.
Precisamos nos desprender do orgulho e da vaidade, antes de tudo.  É assim a conduta do seguidor de Jesus.  Convém que nos desprendamos dos nossos hábitos negativos, começando pelo desapego das coisas materiais perecíveis, que nos estimulam hábitos que se incrustam na personalidade e geram sentimentos errados que nos perturbarão, no além, a paz e a felicidade espirituais.
Não nos preocupemos com o joio, que um suposto adversário lançou no meio do trigal e sim
com as áreas reservadas ao certo e ao bem.

Sabemos que precisamos nos reformar, quando encontramos o Evangelho de Jesus.
O que é reforma íntima?  O próprio nome já indica.  Reformar é formar de novo.  Reconstruir.
Nas passagens evangélicas, existe uma personagem que se reveste de grandeza, quando conhecemos sua trajetória junto aos companheiros de Jesus.
Sensível e abnegada, buscou a reforma íntima e se tornou o exemplo da transformação moral que
a cristandade conheceu.  Distante, seguiu o Cristo passo a passo, enfrentando preconceitos e intolerância de seus companheiros de jornada.  Espírito nobre, ela carregava junto de si o fardo, com
o peso de suas próprias atitudes.  E sabia dos problemas que teria de enfrentar, quando a hora do
Mestre chegasse...

Do instante que tomou conhecimento do Mestre Jesus, suas esperanças de vida renovaram.
Escutou-O dizer ao moço rico para repartir tudo com os pobres...
Esteve presente quando Ele curou a muitos dos infelicitados.
Na calada da noite, junto a sua serva fiel, venceu a barreira dos preconceitos procurando-O na
casa de Simão e O mestre curou-a.

Em outra ocasião, também na casa de Simão, lava os pés de Jesus com lágrimas e os balsamiza
com perfumes, dando ensejo a mais um belíssimo ensinamento do Mestre.
Repartiu tudo o que tinha com os pobres e passou a fazer parte da comunidade do Caminho.
Quantos de nós conhecemos o Mestre Jesus e damos a volta por cima como Maria, a de Magdala.  Quantos de nós colocamos os ensinamentos de Jesus como prioridade em nossa existência?
Todos os dias o Mestre nos chama.

Os chamados são tantos e de todas as partes.
Mas, para largar tudo e segui-Lo, há uma grande distância.

Para segui-Lo é preciso fazer como Maria de Magdala:  Colocar para fora todas as nossas imperfeições e renovar-nos intimamente.  Não basta procurar os templos religiosos, agirmos como os
fariseus, que mostravam aquilo que não viviam.
Não basta cuidar do que entra pela boca.  Necessário se faz darmos uma boa introspectiva no
nosso íntimo, verificarmos como estamos e o que fazemos quando lembramos do "Sede Perfeitos" diante do fermento da maledicência, do egoísmo, do orgulho, da procura desregrada dos
prazeres fáceis, da inveja, do ciúme, que tão bem sabemos levedar...
Sigamos o exemplo de Maria de Magdala.  Quando Jesus pediu, ela deixou para trás uma vida fí-
sica de facilidades e buscou a "Porta Estreita", e, corajosa, entregou-se ao Mestre como uma valorosa guerreira e venceu suas batalhas.

Jesus a livrou dos Espíritos obsessores que a seguiam, e era preciso que ela cuidasse para que
eles não voltassem.
Saibamos seguir o chamado do Mestre.
Espelhemo-nos no exemplo radiante dessa mulher, que de tão grande, foi a escolhida de Jesus
para a sua primeira aparição, ao invés dos apóstolos amados.
Sejamos como ela, exemplos de amor à causa do Cristo, e livremo-nos dos empecilhos que nos
buscam, vestidos com a capa das nossas imperfeições.
Jesus somente nos pede que tenhamos boa vontade, para conseguirmos a nossa reforma íntima.
Vamos analisando os nossos defeitos, procurando melhorar a cada dia.
E a cada boa vontade nossa, o Mestre Amado, estará junto de nós, auxiliando, dando-nos forças
para continuarmos.
(O Reformador - 06/97)
FIM

Fonte:

http://bvespirita.com/Explana%C3%A7%C3%A3o%20do%20Evangelho%20Segundo%20o%20Espiritismo%20-%20Cap%C3%ADtulo%20XVI%20(Marli%20Aparecida%20Hergersheimer).pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário