segunda-feira, 4 de junho de 2012

Educação e felicidade


Educação e felicidade


Por Maria Ribeiro

Muitos poderão questionar qual a relação entre a educação e a felicidade, já que cada um desses conceitos tem sua definição própria, não havendo nenhum vínculo, aparentemente nem mesmo indireto, entre ambos. Para realizar a associação entre educação e felicidade, é preciso conhecer antes de tudo, tais definições, segundo o que considera o dicionário*. Portanto, educação é a ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais; conhecimento e práticas dos hábitos sociais; boas maneiras. E felicidade é o estado de quem é feliz; ventura; bem aventurança; bem estar; contentamento.

O mundo oferece muitas formas de se adquirir tanto uma como outra, bem como formas, ainda que sutis, para que ambas interajam através das ações humanas. 

A experiência faz demonstrações inequívocas do quanto a educação é necessária para a conquista da felicidade, e mesmo a educação representa aquisição individual tanto quanto a própria felicidade. Melhor dizendo: educação é conquista e felicidade lhe é conseqüente, nem conquista, nem privilégio.

Sob esta concepção, entende-se porque a reencarnação configura lei divina indispensável à evolução humano-espiritual. Sem arregimentação de valores cristãos, jamais se experimentará a felicidade em sua versão legítima. Já antes do Cristo, a Filosofia tentava conduzir o homem para uma reflexão profunda, para pensamentos mais maduros sobre a vida, sobre a morte, sobre um Ser superior, culminando numa visão introspectiva. O homem voltando o olhar para o próprio interior, passa a compreender melhor o que se passa a sua volta, qual a sua destinação, o porquê dos dissabores, das desgraças, qual o seu papel diante de tudo isto. Compreende sua inferioridade e a necessidade de educar-se, visto que a real felicidade é incompatível com sentimentos de egoísmo e todos os que deste se originam.  

Num mundo como a Terra, onde o crime em todas as suas nuanças grassa sem trégua, pode haver um único indivíduo realmente feliz? Pode-se dizer que apenas os homens nos quais habitam Espíritos mais adiantados gozam de tal sentimento. Estes se encontram num estágio mais avançado de educação espiritual através das experiências reencarnatórias que bem souberam aproveitar. Mas nestes não se vê o riso escancarado, nem a alegria ruidosa, nem sinal de excitação, porque estes caracteres são da felicidade egoísta, insana, irrefletida ou inconsciente. Ao contrário, trazem a serenidade no olhar, a doçura na discrição do sorriso que é sempre verdadeiro, os gestos e as palavras invariavelmente mencionam o auxílio, a cortesia ou a gratidão. 

Mas não foi sempre assim. Educação é um processo. Processo é uma coisa que não acontece de repente, mas paulatina e metodologicamente. 

De acordo com necessidades específicas, reencarna-se com esta ou aquela característica física, nesta ou naquela família ou classe social, bem como a localidade e outros fatores são determinados para que facilitem a jornada do reencarnante. Mas este facilitar longe está de significar moleza e regalias. Educação espiritual é a educação do Espírito, que ora se acha em estado de imaturidade. Repetindo Paulo: quando eu era menino, falava como menino, discorria como menino, mas logo que cheguei a ser homem, deixei as coisas de menino. É a imaturidade espiritual que impele o homem a práticas odiosas, más, ou, recorra-se a um eufemismo – a práticas infantis. É por desconhecer o bem que o homem faz o mal; é por ignorar a Verdade que o homem vive no erro; é por desconhecer a luz que espalha as trevas. Mas o mal, o erro e as trevas não são a sua essência, mas o homem ainda não descobriu isso. Quando “chegar a ser homem”, ou seja, quando crescer espiritualmente através da educação, que nada mais é do que reencarnações bem aproveitadas, deixará de praticar tais infantilidades, que hoje ainda são julgadas como barbaridades, perversidades, crueldades...

Muitos irmãos entre nós experimentam tal estágio evolutivo, tirando o sossego de toda uma sociedade que assiste atônita, cenas horríveis todos os dias. Há os que querem perseverar no mal, que se utilizam da inteligência adquirida para corromper e enganar; mas há os que possivelmente se encontram num estágio moral-intelectual muito atrasado, têm poucas experiências em sociedades civilizadas. (OLE** – 102) As leis penalizam, ainda que absurdamente, ao invés de empreender para estes companheiros fórmulas educacionais, neste caso, aliás, fórmulas de reeducação. Fala-se em pena de morte no Brasil, mas já temos uma pena de morte, ainda que velada, em casos específicos, o que mostra a hipocrisia da nossa sociedade, das nossas autoridades policiais. O cidadão comum em estado de euforia deseja o linchamento do infrator; em casos que ganham notoriedade o tema volta à baila como solução para o problema. É assim que a sociedade civilizada auxilia estes irmãos que ignoram o bem, reforçando neles o sentimento de agressividade, de vingança, de mais violência. A solução para o problema talvez esteja na percepção de que ainda não foram vencidos os sentimentos menos dignos, animalizantes e degradantes mesmo entre os civilizados, cujos sentimentos se encontram em processo de aprimoramento.

Um Ser devidamente educado para a Vida em tempo algum desejará o mal, mesmo para aquele que for julgado como o pior dos criminosos. Tem-se esquecido que estes também têm mães que choram por seus destinos malogrados; tem-se hostilizado a idéia de que estes compartilham da mesma paternidade Divina. 

Testemunha-se, principalmente em épocas de festejos, uma felicidade tresloucada e quase primitiva, descompromissada, evidentemente da situação do semelhante: cada um que procure um jeito de ser feliz. Assim, fica esquecido que é impossível encontrar a felicidade sozinho, porque esta é um tesouro que pertence a todos; ser feliz sozinho é impraticável, em se tratando da legítima felicidade cristã. E somente o homem espiritualmente educado será capaz de descobrir a importância do próximo em sua vida, e passará a valorizar a vida e a natureza que o cerca, sentindo em tudo uma sensação indelével de felicidade.

* Dicionário Aurélio
** OLE – O Livro dos Espíritos

A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.
-- Aristóteles

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