terça-feira, 29 de outubro de 2013

Desconfiança


Nos nossos dias, impelidos pelos instintos e pelos estímulos da matéria que nos envolve, sem nos darmos conta, vamos, pouco a pouco, colocando em nossos corações, a dúvida, a incerteza, fazendo com que a desconfiança passe gradativamente a nortear os nossos passos.

O nosso olhar, sutilmente passa a ser encoberto pela bruma obscurecida da desatenção, da falta de condescendência e compreensão e, às vezes, até mesmo do desrespeito e desconsideração, externando a desconfiança nítida que continuamente faz morada em nossa alma.

Nossos olhos, nossos ouvidos, nossa mente atentos vão adquirindo o lastro negregoso que nos torna especialistas em detectar os deslizes, as falhas, os equívocos e, portanto, as fragilidades daqueles que nos dão a caridade da sua companhia para deles nos valermos em benefício próprio.

Assim agindo, vamos fazendo com que nossas palavras, gestos, atitudes e mesmo nosso silêncio sejam cobertos pelo tênue verniz da superficialidade, excluindo o tesouro da sinceridade, simplesmente para nos precavermos de eventuais riscos futuros que, muitas vezes, amalgamamos nas nossas mentes como escudos a nos proteger de inimigos que somente nossa alma, em desequilíbrio, supõe existir.

Olvidamo-nos, porém, de que, ao desconfiarmos, o maior equívoco está em nós mesmos, pois, egoisticamente, somente levamos em conta o que pensamos, o que deduzimos, sem nos atermos a que o nosso interlocutor também é um ser humano possuidor de riquezas que não estamos sabendo auferir e que, conseqüentemente, nos fariam crescer.

Assim sendo, nossos olhos perdem a candura, nossas palavras, a sinceridade, nossos ouvidos, a paciência e, como conseqüência, todo o nosso ser vai se tornando impermeável às belezas do mundo, enregelando-nos interiormente.

Nosso coração passa a exteriorizar o amor, somente para aqueles que amamos, para aqueles que compactuam com nossos interesses, aptidões e pensamentos, negando aos demais o doce perfume da fraternidade.

Por isto, aproveitemos todos os momentos que a vida generosamente nos concede para fazer da sinceridade a nossa bandeira, externando-a com segurança, a todos aqueles que o Pai da Vida faz cruzar os nossos caminhos.

Entretanto se, em alguns momentos da nossa jornada, alguns corações não compreenderem a pureza das nossas palavras, atitudes e pensamentos, não nos decepcionemos, não nos entristeçamos, tendo sempre em mente que cada um oferece o que tem e nós, amorosamente, fizemos a nossa parte ofertando ao próximo o tesouro da sinceridade, sem exigir ou mesmo esperar que façam o mesmo para conosco.

Para que nos sintamos cada vez mais motivados a assim agir, torna-se necessário que tenhamos bem nítido em nossa mente o testemunho legado há quase dois mil anos pelo Divino Amigo quando, mesmo martirizado no madeiro infamante pôs em evidência para toda a humanidade a doçura e a sinceridade do seu amor, que se encontram latentes em nossos corações.

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