terça-feira, 3 de novembro de 2015

Inteligência e instinto

Inteligência e instinto


Apresentamos nesta edição o tema no 65 do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, que está sendo aqui apresentado semanalmente, de acordo com programa elaborado pela Federação Espírita Brasileira, estruturado em seis módulos e 147 temas.

Se o leitor utilizar este programa para estudo em grupo, sugerimos que as questões propostas sejam debatidas livremente antes da leitura do texto que a elas se segue.

Se destinado somente a uso por parte do leitor, pedimos que o interessado tente inicialmente responder às questões e só depois leia o texto referido. As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto abaixo.

Questões para debate

1. Que é inteligência?

2. Podemos dizer que o homem tem dupla natureza?

3. Que são atos instintivos?

4. Que diferença existe entre os atos instintivos e os atos inteligentes?

5. É certo dizer que os animais devem sua vida ao instinto e que o homem vive graças à inteligência?

Texto para leitura

É à alma que o homem deve sua inteligência e racionalidade
1. A inteligência é o atributo essencial do Espírito, em razão do qual toma ele conhecimento de sua própria existência e exerce atividades voluntárias e livres. Quando o Espírito atinge o grau de humanização, sua inteligência adquire desenvolvimento superior, como o surgimento da razão e do senso moral, que lhe facultam a capacidade de conceber e reconhecer a existência de Deus.

2. Realizando múltiplos atos livres e voluntários, apresentando finalidade nítida e obedecendo a juízos e raciocínios bem elaborados, o homem é um ser que revela dupla natureza: material e espiritual. Não nos esqueçamos de que há uma alma unida ao corpo do homem e somente a ela deve ele sua inteligência e racionalidade, seus conhecimentos e sentimentos, bem como sua vontade e liberdade.

3. Existem, entretanto, seres que realizam atos em que se revela também nítida finalidade, mas que parecem obedecer antes a automatismos que a impulsos decorrentes da livre vontade. Tais atos visam sobretudo à conservação do indivíduo e da espécie, objetivando as funções de nutrição e de reprodução, provendo ao crescimento, ao desenvolvimento e à propagação, enfim, da plena realização da vida.

4. Esses atos são devidos ao instinto – são os chamados atos instintivos. Existem esboçados no reino vegetal, mas são bem mais evidentes no reino animal, tanto quanto na espécie humana, e ocorrem, seja no homem, seja nos animais, ao lado dos atos inteligentes.

A inteligência e o instinto decorrem do mesmo princípio
5. Existe diferença entre o instinto e a inteligência? Será o instinto, como alguns pensam, um atributo inerente à matéria e não à alma? Se assim fosse, teríamos de admitir que a matéria é também inteligente, o que é manifestamente falso. Ora, se ao ato instintivo falta o caráter principal do ato inteligente, que é ser deliberado, revela, no entanto, uma causa inteligente, porque apta a prever e a evitar o engano, o que levou muitos estudiosos a admitir que instinto e inteligência procedem de um mesmo princípio, que inicialmente teria somente as qualidades do instinto e depois se desenvolveria, evoluiria e passaria por uma transformação que lhe daria as qualidades da inteligência livre.

6. Esta última hipótese não resiste a uma análise mais profunda, porque freqüentemente o instinto e a inteligência se encontram juntos no mesmo ser e, às vezes, no mesmo ato. No caminhar, por exemplo, é instintivo o simples movimento das pernas, tanto no homem como no animal – um pé vai adiante do outro maquinalmente. Mas no acelerar o passo ou retardá-lo, bem como no levantar o pé para desviar-se de um obstáculo, intervém a vontade, a deliberação e o cálculo. De igual modo, o animal carnívoro é levado pelo instinto a alimentar-se de carne, mas age com inteligência e mesmo astúcia quando toma medidas para garantir sua presa.

7. Em face disso é que se diz que o instinto é uma espécie de inteligência, enquanto outros afirmam que é uma inteligência sem raciocínio. O fato é que muitas vezes se torna difícil estabelecer um limite nítido de separação entre o instinto e a inteligência, porque muitas vezes eles se confundem.

8. Inteligência e instinto – e esta é a opinião mais comum – são manifestações do mesmo princípio espiritual, que obedecem a duas determinantes ou a dois motores diferentes: um ligado à vontade e à liberdade do indivíduo, e outro que escapa totalmente à vontade e à liberdade. Nesse sentido, podem distinguir-se perfeitamente os atos que dependem da inteligência desenvolvida daqueles que decorrem estritamente do instinto.

Os atos inteligentes aprimoram-se com a aprendizagem
9. Sendo a inteligência, em sua plenitude, a faculdade de pensar e agir racional e deliberadamente, os atos inteligentes são conscientes, voluntários, livres e calculados. São, além disso, suscetíveis de variações, porque a inteligência, variável e individual por excelência, é suscetível de progresso. Os atos inteligentes decorrem da aprendizagem e pela aprendizagem se aprimoram, fato que não ocorre com os atos instintivos.

10. Vejamos o exemplo do patinho: logo que rompe a casca do ovo que o mantinha encerrado, se vê próximo um córrego ou um lago, corre alegremente para ele e lança-se na água, nadando imediatamente com perfeição. Onde aprendeu o pato a nadar? São igualmente instintivos o ato do castor, que constrói sua casa com terra, água e galhos de árvores; o ato dos pássaros, que constroem com perfeição seus ninhos; o ato da aranha, que tece com precisão sua teia. Vêem-se já aí alguns dos caracteres do instinto: é algo inato, perfeito e específico, ou seja, surge espontaneamente, sem prévia aprendizagem, em todos os indivíduos de uma mesma espécie e leva a atos completos, acabados, perfeitos, desde a primeira vez que são realizados.

11. Verifica-se, no entanto, que esses atos continuam durante toda a vida do ser sem mudança alguma. Essa capacidade de nadar, de construir, de tecer não sofre variação através dos tempos, de modo que o castor constrói hoje a sua cabana como o faziam seus ancestrais e assim farão os seus descendentes, com os mesmos materiais e da mesma maneira.  Nas edificações dos homens, ao contrário, é evidente a evolução na forma e no uso dos materiais, porque decorrem de atos inteligentes, sujeitos à vontade e à liberdade, variáveis de acordo com as circunstâncias, o que é uma característica dos atos inteligentes.

12. O homem também deve a sua conservação e manutenção a atos instintivos, e não apenas aos atos inteligentes. Lembremos tão-somente o que se dá nos primeiros dias após o nascimento de uma criança, que, do mesmo modo como ocorre com as crias de outros mamíferos, suga o leite materno, sem que ninguém lhe tenha ensinado. A circulação sangüínea, o funcionamento do aparelho digestivo e tantas outras funções verificáveis no ser humano também se devem à força do instinto.

Respostas às questões propostas

1. Que é inteligência? R.: A inteligência é o atributo essencial do Espírito, em razão do qual toma ele conhecimento de sua própria existência e exerce atividades voluntárias e livres. Quando o Espírito atinge o grau de humanização, sua inteligência adquire desenvolvimento superior, como o surgimento da razão e do senso moral, que lhe facultam a capacidade de conceber e reconhecer a existência de Deus.

2. Podemos dizer que o homem tem dupla natureza? R.: Sim. O homem é um ser que revela uma natureza material e uma natureza espiritual. Não nos esqueçamos de que há uma alma unida ao seu corpo físico e somente a ela deve ele sua inteligência e racionalidade, seus conhecimentos e sentimentos, bem como sua vontade e liberdade.

3. Que são atos instintivos? R.: São os atos que parecem obedecer antes a automatismos que a impulsos decorrentes da livre vontade. Eles visam sobretudo à conservação do indivíduo e da espécie, objetivando as funções de nutrição e de reprodução, provendo ao crescimento, ao desenvolvimento e à propagação, enfim, da plena realização da vida. Esses atos são devidos ao instinto e, por isso, chamados atos instintivos.

4. Que diferença existe entre os atos instintivos e os atos inteligentes? R.: A diferença entre uns e outros é que os atos inteligentes são conscientes, voluntários, livres e calculados. São, além disso, suscetíveis de variações, porque a inteligência, variável e individual por excelência, é suscetível de progresso. Os atos inteligentes decorrem da aprendizagem e pela aprendizagem se aprimoram, fato que não ocorre com os atos instintivos.

5. É certo dizer que os animais devem sua vida ao instinto e que o homem vive graças à inteligência? R.: Não. O homem deve também a sua conservação e manutenção a atos instintivos, e não apenas aos atos inteligentes. Lembremos tão-somente o que se dá nos primeiros dias após o nascimento de uma criança, que, do mesmo modo como ocorre com as crias de outros mamíferos, suga o leite materno, sem que ninguém lhe tenha ensinado. A circulação sangüínea, o funcionamento do aparelho digestivo e tantas outras funções verificáveis no ser humano também se devem à força do instinto.


Bibliografia:

A Gênese, de Allan Kardec, cap. 3, itens 11 a 17.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário