quarta-feira, 30 de abril de 2014

Solidão: é muito mais que viver só

Solidão: é muito mais que viver só


Solidão é definida como estado de quem se acha ou vive só1. Solitário é aquele que vive em estado de solidão, aquele que não convive com os seus semelhantes(1).

Levando em conta esta definição, ou seja, solidão como viver só, Kardec(2) ensina que a vida social está na natureza, dentro da Lei da Sociedade. Deus fez o homem dando-lhe a palavra e as demais faculdades para que pudesse viver em sociedade. Desta forma, todos os seres humanos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente. Ressalta que o homem não pode viver insulado, pois se embrutece e não progride. Aquele que vive em reclusão, fugindo do contato com o mundo, é portador de um grave egoísmo.



Kardec é enfático quando diz que os laços sociais e familiares são necessários ao progresso do ser humano, pois, desta maneira, quis Deus que os homens aprendessem a amar-se como irmãos.

Assim, Kardec, sem utilizar a palavra solidão, repreende o homem com tendência a se isolar e a viver só. Orienta-o para o progresso e para isto deve ter uma vida de relação.

Tem-se que levar em conta, ainda, que estar sozinho, em muitos momentos, pode ser uma ocasião de solitude saudável e enriquecedora. Pode até desencadear notáveis expressões de criatividade, mas não implica dizer que toda solidão (viver só) traz benefício dessa natureza. Muitos indivíduos dizem se sentir bem quando conseguem ficar sozinhos por um curto período (como dizem: um tempo que é dado só para si) e muitas vezes esta situação faz com que se voltem para dentro de si e se conheçam melhor, principalmente revendo suas atitudes e imperfeições.

O mundo moderno propicia ao homem se sentir só. As causas principais são: famílias menos estáveis, divórcios em larga escala, filhos abandonando os lares na maioridade, computador (pessoas que passam a maior parte do tempo num mundo virtual), bullying (seja na escola, no trabalho, ou em outra situação, provocando o retraimento e isolamento do indivíduo) e outros. Estima-se que em 2010, 31 milhões de americanos viveram sozinhos em casa(3). No Brasil, a Fundação Getulio Vargas divulgou pesquisa em que estimou um número crescente de brasileiros que vivem sós.

Logicamente que o viver só, com pouca interação com o semelhante, pode ocasionar sintomas de tristeza, de incapacidade, de autodesvalorização (depressão) e tendência ao egocentrismo.

Geralmente, na Psicologia e na Psiquiatria, utiliza-se o termo solidão, no mesmo sentido que ensinam os dicionários: falta de alguém ou viver só.

Na prática médico-psiquiátrica a coisa não é bem assim. É comum ouvir a queixa solidão de pessoas que vivem sozinhas, ou porque perderam alguém (separação ou morte) ou pela dificuldade para ter uma amizade ou um relacionamento. No entanto, também se ouvem queixas de pessoas que sentem solidão mesmo convivendo com muitas pessoas, em companhia. Esta solidão é descrita como uma sensação de vazio ou de desconforto interno. Nota-se, desta forma, que se trata de um sentimento mais profundo do que estar simplesmente só.

Este vazio, quase sempre não bem explicado pelo indivíduo, é decorrente de outros sentimentos, tais como: abandono, rejeição, insegurança, baixa autoestima, falta de perspectiva futura, inutilidade; enfim, de sentimentos que encarceram a alma, que bloqueiam a vida afetiva saudável e relacionamentos sociais positivos.

Muitos existencialistas dizem que cada pessoa vem ao mundo sozinha, atravessa a vida como um ser separado dos demais e morre sozinha. Induzem a uma ideia de que o homem vive só na vida, esquecendo-se de que o ser humano é um ser social por sua própria natureza. O lidar com isto e direcionar tudo de uma forma satisfatória é uma condição humana, porque cada um pode e deve cultivar suas qualidades e modificar os seus defeitos, no anseio de viver bem consigo mesmo e na esfera social.

Solidão, no sentido mais profundo, também pode ser definida como uma incapacidade de sentir compaixão, de ser amado, de se amar e de ter esperança. Ainda, a procura de si dentro do vazio existencial, de direcionar os seus sentimentos e de se ligar com o Ser superior. Não se pode depender de alguma coisa para não se sentir em solidão.

A Psicologia e a Psiquiatria lançam mão de muitas formas para tratar a solidão. Entendida como viver ou estar só, a psicoterapia é um método efetivo e frequentemente muito bem sucedido. Nos casos da solidão vista como um vazio existencial, a terapia deve mostrar ao indivíduo que ter uma companhia ou melhorar seu relacionamento social não é o tudo. Deve enfatizar o entendimento e a compreensão da sua causa, a reversão dos pensamentos negativos, buscando a transformação dos sentimentos e atitudes negativas. Como se vê, a terapia espiritual é aconselhável em todos os casos.

A prática psiquiátrica ensina que não é comum a queixa de solidão isolada; geralmente ela está inserida em muitos transtornos emocionais como: a depressão, a ansiedade e as fobias. Transtornos nos quais se encontra um desequilíbrio de sentimentos.

Na visão espírita, ao praticar os ensinamentos de Kardec, a solidão pode ser evitada se as Leis de Deus forem consideradas. Ninguém deve se isolar; a interação entre os homens serve para a evolução e para a constante transformação dos sentimentos e atitudes. Agindo dessa forma, foge-se do egocentrismo e do vazio da alma que chamamos de solidão.

Emmanuel(4) ensina: “se desejas emancipar a alma das grilhetas escuras do eu (solidão, grifo nosso) começa o teu curso de autolibertação, aprendendo a viver como possuindo tudo e nada tendo, e, com todos e sem ninguém”.


BIBLIOGRAFIA:

1. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa.

2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Brasília: FEB,1985.

3. Loneliness and Isolation: Modern Health Risks – The Pfizer Journal IV, 2000.

4. XAVIER, Francisco C. / EMMANUEL. Fonte Viva. Rio de Janeiro: FEB, 2010.



José Luiz Condotta

Revista Internacional de Espiritismo - Agosto de 2011

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