terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

OS TRABALHADORES DE TODAS AS HORAS


Rogério Coelho

"O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de madrugada, a fim de assalariar trabalhadores para a sua vinha". - Jesus (Mt., 20:1 a 16)

Em todas as épocas da História da Humanidade, a Misericórdia Divina sempre beneficiou a Terra com a vinda dos Missionários da Luz que esparziam a mancheias as benesses do Mundo Maior, atenuando, destarte, as sombras da ignorância e do sofrimento...

A eclosão de uma idéia, de uma filosofia de Vida, não se dava de forma repentina, inesperada, surgida do nada. Todo o arcabouço da idéia já fora adredemente desenhado no Mundo Espiritual e sua aplicação obedece a um planejamento criterioso, dividido em fases que vão desde os minúsculos e singelos primórdios até à exuberância da idéia já implantada, sedimentada e definitivamente adotada pela maioria e, finalmente, por todos em sua fase final. Conhecendo esse mecanismo e prevendo o futuro - ainda remoto - é que Jesus afirmou: (Jo., 10:16).

"(...) e haverá um rebanho e um Pastor".

A Parábola dos Trabalhadores da Última Hora expõe com peregrina clareza as diversas fases dos movimentos regeneradores da Humanidade.

O Pai de Família envia para sua vinha cinco levas de trabalhadores:

1ª - Sai de "madrugada" e contrata os primeiros;

2ª - Sai à hora 3ª;

3ª - Sai à hora 6ª;

4ª - Sai à 9ª, e, finalmente,

5ª - Sai à hora 11ª e contrata os últimos.

Observemos a simetria existente entre o tempo de contratação dos primeiros até os da hora 9ª. Os períodos são iguais: existe uma diferença de três horas entre cada um. Isso nos leva a observar o planejamento e a perseverança em cumpri-lo dentro de uma cronologia perfeita e harmoniosa.

Agora, observemos que o período compreendido entre a 9ª hora e a 11ª hora é menor. Isso significa que a idéia, já sedimentada, implanta-se com mais rapidez e menos dificuldades, porque passa a ser aceita com mais presteza, dadas à sua lógica e racionalidade, tendo, também, menos obstáculos a enfrentar do que em sua origem.

O Cristianismo obedeceu a esse critério.

a "madrugada" do Cristianismo começa com o início (Moisés) e o apagar das luzes do Velho Testamento em Malaquias (4:5), quando é anunciada a vinda de Elias que não é outro senão João Batista (o percursor de Jesus) e temos nele (em João Batista) a hora 3ª, extinguindo-se o período anterior(da madrugada) em Sócrates e Platão que esboçaram de forma ostensiva os primeiros desenhos das idéias cristãs e pasmem!... das idéias espíritas também!...

A hora 6ª é caracterizada pela chegada do Meigo Zagal Celeste e de Seus Apóstolos, responsáveis pela semeadura no solo sáfaro dos corações das primeiras sementes da Era Nova.

Na hora 9ª surge a figura de Paulo, o Apóstolo dos Gentios e de tantos outros que deram continuidade à obra inicial, estendendo-se esse período por todo o tempo em que as idéias cristãs foram se expandindo, mercê do trabalho incansável e profícuo dos vexilários do amor e da abnegação cujos nomes honram a História dos Povos.

Eis que surge a última hora: a 11ª. Entram na liça os sustentadores da idéia que pouco a pouco invade a estrutura da sociedade em todas as latitudes.

Aqueles que colaboraram nas fases iniciais reencarnam para continuar a obra. Daí a assertiva messiânica exarada no capítulo vinte, versículo dezesseis do Evangelho escrito por Mateus:

"Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos".

Assim é porque os trabalhos humanos são coletivos e Deus abençoa a solidariedade. Não nos pode, portanto, surpreender o fato de que muitos dentre aqueles que participam dos movimentos primitivos revivem hoje e reviverão amanha para terminar a obra que começaram outrora.

Cada vez retornam mais esclarecidos, mais adiantados, trabalhando não na base mas no acabamento do edifício e, por estarem mais familiarizados com o serviço pela experiência adquirida nos milênios, a fase final (da 9ª à 11ª hora) se processa em mais curto lapso de tempo.

Assim, podemos resumir:

Madrugada - Moisés, Malaquias, Sócrates;

Hora 3ª - João Batista (percursor)

Hora 6ª - Jesus e Seus Apóstolos (semeadura)

Hora 9ª Paulo a Francisco de Assis

Hora 11ª - Allan Kardec

*

Constantino, Espírito protetor, afirma (1):



... Bons Espíritos, meus bem-amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso seria aquele que dissesse: comecei o trabalho ao alvorecer do dia e só o terminei ao anoitecer... Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas há quantos séculos e séculos o Senhor vos chama para a Sua Vinha, sem que quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugidio na imensidade dos tempos que formam para vós a eternidade".

Não significa, porém, que os trabalhadores das diversas fases estejam restritos à elas de forma estanque. Os mesmos Espíritos podem participar das várias fases, mesmo que permeadas por séculos: a reencarnação explica.



Henri Heine detalha (2):

"(...) O belo dogma da reencarnação eterniza e precisa a filiação espiritual. Chamado a prestar contas do seu mandato terreno, o Espírito se apercebe da continuidade da tarefa interrompida, mas sempre retomada. Ele vê, sente que apanhou de passagem, o pensamento dos que o precederam. Entra de novo na liça, amadurecido pela experiência, para avançar mais. E todos, trabalhadores da primeira e da última hora, com os olhos bem abertos sobre a profunda justiça de Deus, não mais murmuram; adoram.



Tal um dos verdadeiros sentidos desta parábola, que encerra, como todas as de que Jesus se utilizou falando ao povo, o gérmen do futuro, sob todas as formas, sob todas as imagens, a revelação da magnífica unidade que harmoniza todas as coisas no Universo, da solidariedade que liga todos os seres presentes ao passado e ao futuro".



(1) - Kardec, A. in "O Evangelho segundo o Espiritismo" -Capítulo XX, item 2

(2) -Kardec, A. in "O Evangelho segundo o Espiritismo" - Capítulo XX, item 3.



A eclosão de uma idéia, de uma filosofia de Vida, não se dava de forma repentina, inesperada, surgida do nada.

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