quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Uma Reforma Íntima


Raimundo Pinheiro

Muitos são os motivos que nos levam à Casa Espírita:
Pelo amor, pela dor, convite de alguém, hoje pela razão, etc...
E o que acontece? Assistimos palestras, recebemos o passe, tomamos água
fluidificada e vamos embora. Somos espíritas apenas dentro da Casa
Espírita, estas atitudes irão se repetir por longo tempo. Mas à medida que
vamos estudando e compreendendo melhor os ensinamentos espíritas,
sentimos que necessitamos nos integrar mais nas ações de reforma moral da
sociedade, e nada melhor para fazermos isso do que  iniciando por nós
mesmos, ou seja, que sejamos espíritas na convivência com o mundo, e isso
nos leva à nossa reforma moral.
Todo espírita estudioso caminha neste sentido, porque compreende que o
Espiritismo como filosofia busca atingir o seu mais nobre objetivo, que é a
reforma moral da criatura.
A grande maioria dos livros escritos pelas vias mediúnicas são ricos de
ensinamentos, e verdadeiros tratados de saúde mental, com uma terapia
baseada no Evangelho de Jesus e na Codificação Kardequiana.
Livros como: "Auto Conhecimento", "O Homem Integral", "O Ser
Consciente", "Espelho D'alma", "Momentos de Renovação" e outros não
necessariamente espíritas, nos indicam a importância da Reforma Íntima,
ou renovação de atitudes, como fator essencial para alcançarmos o
progresso moral e espiritual, visando à nossa felicidade relativa.
Duas afirmativas nos chamam à reflexão:
1. Renovação de atitudes...
Um jovem foi ao médico, queixando-se de dores abdominais. Tendo sido
atendido pelo médico, este atencioso, realizou exames, fez entrevistas, e ao
final chegou ao diagnóstico: Cirrose hepática, doença do fígado por
ingestão de bebida alcoólica. Enfermidade conhecida e facilmente tratável,
receitou um tratamento, onde o paciente deveria tomar uma medicação,
fazer caminhadas diárias, ao final da caminhada realizar algumas ginásticas.
O paciente saiu satisfeito, pois, ver-se-ia livre de suas dores. Ao final de
um mês, retornou novamente o paciente ao consultório médico, onde o
doutor o atendeu solícito.
Ah doutor! O tratamento não deu resultado, pois continuo a sentir dores. O
profissional estranhou, pois tinha confiança em seu diagnóstico, mas voltou
a examiná-lo.
- O senhor tomou o remédio que lhe receitei? Sim senhor doutor, certinho,
três vezes ao dia!

- O senhor fez as caminhadas para melhorar a circulação? Cinco
quilômetros todos os dias doutor! - O senhor fez as ginásticas como
recomendado? Uma hora diária após as caminhadas doutor! - O senhor
parou de beber? Não doutor... Doutor continua doendo...
A medicina terrena trata das enfermidades do corpo físico, o Espiritismo
trata das enfermidades do espírito (estando ele encarnado ou não). O
médico nos escuta, analisa, faz exames e nos recomenda um tratamento. A
Casa Espírita, nos escuta, analisa, consola, e também nos recomenda
mudanças de atitudes; mas esta vai mais além em nosso benefício, pois nos
fornece o passe magnético, a água fluidificada e em alguns casos
tratamentos de desobssessões.
Mas assim como no caso do paciente enfermo, se quisermos melhorar,
cumpre que façamos a nossa parte mudando as nossas tendências negativas,
ou ficaremos indefinidamente tomando remédios, realizando caminhadas,
fazendo ginásticas, recebendo passes, tomando água fluidificada...
Emmanuel, em uma de suas mensagens no diz: "O pastor conduz o seu
rebanho, mas são as ovelhas que andam com as próprias pernas".
2. Felicidade relativa...(Em virtude da afirmativa de Jesus - "A felicidade
não é deste mundo" Bíblia/Eclesiastes, Evangelho Segundo o Espiritismo/
Capítulo V, item 20). Analisando esta afirmativa do Cristo apenas pela letra
que mata e não pelo espírito que vivifica, muitos apressados, inimigos do
estudo e cultores do negativismo atribuem que estamos na Terra para sofrer,
que este é um vale de lágrimas, aqui só há dores e  aflições, etc.
Semelhantes afirmativas são no mínimo equivocadas e inconseqüentes,
pois espalham o desânimo, pessimismo, descrença, resignação
incondicional. A nossa razão nos mostra que podemos e temos momentos
felizes mesmo no estágio evolutivo em que nos encontramos, pois quem
não fica feliz com um casamento? O nascimento do primeiro filho? Uma
formatura? O primeiro emprego? No aniversário, receber aquele presente
tão esperado? Jesus, profundo conhecedor, não iria  contrariar as Leis
Naturais, negando estes fatos. Ele se referia tão somente à felicidade plena,
que é atributo apenas dos Mundos Felizes e Angélicos.
Sabemos então que para evoluirmos espiritualmente temos que realizar a
nossa Reforma Íntima, mas algumas perguntas nos assaltam:
O que é Reforma Íntima? Ela deve ser compreendida como a chave mestra
para o sucesso de sua melhora interior e, conseqüentemente, da sua
felicidade exterior.
Para que serve? Renovar as esperanças interiores tendo por meta o
fortalecimento da fé, a solidificação do amor, a incessante busca do perdão,
o cultivo dos sentimentos positivos e a finalização no aperfeiçoamento do
ser

O que fazer? Realizar atos isolados, no dia-a-dia levando-nos a melhorar as
nossas atitudes, alterando para melhor a nossa conduta aproximando-a
tanto quanto possível do ideal cristão.
Por onde começar? Pela auto crítica.
Como fazer a reforma íntima? Bem .....
Embora uma linha de pensadores espíritas entenda que os meios de o
conseguir é obra e esforço de cada um, as obras literárias estão repletas de
indícios e dicas.
Em "O Livro dos Espíritos" no capítulo Conhecimento de si mesmo, à
pergunta 919, Allan Kardec questiona aos Espíritos: - Qual o meio prático
mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à
atração do mal?
"Um sábio da antigüidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo."
Allan Kardec, profundo conhecedor das deficiências  humanas, investiga
mais a fundo no desdobramento da questão acima.
919a) - Conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade
está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de
consegui-lo?
"Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a
minha consciência, passava revista ao que fizera e  perguntava a mim
mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim
se queixar...(SANTO AGOSTINHO).( O Livro dos Espíritos - Allan
Kardec)
Parece resultar daí que o conhecimento de si mesmo  é, a chave do
progresso individual.
Ocorre-nos lembrar de Benjamin Franklin, Estadista, escritor e inventor
norte americano (inventor do para-raio, Boston 17-01-1706 - Filadélfia 17-
04-1790).
Benjamin Franklin era um tipógrafo na Filadélfia homem fracassado e
cheio de dívidas, achava que tinha aptidões comuns, mas acreditava que
seria capaz de adquirir os princípios básicos de viver com êxito, se pudesse
apenas encontrar o método certo. Método este encontrado e relatado em seu
livro a "Autobiografia de Benjamin Franklin" (1771-1788).
Benjamin Franklin, em sua juventude era um homem de muita inteligência
e perspicácia, apesar de ter estudado apenas até o segundo ano primário.
Era ávido por conhecimento e lia muito, estudava e  escrevia ensaios e
poesias. Estudava sobre tudo que lhe interessava, principalmente sobre os
grandes vultos da história de todos os tempos. Por isso mesmo tinha uma
grande cultura e um conceito moral muito rígido, e cobrava-se muito, bem
como, cobrava aos outros a mais correta e ilibada conduta. Em suas
reuniões sociais, tecia críticas francas e ácidas sobre todos os deslizes de
seus colegas, sentindo um prazer mórbido em derrotar verbalmente aos

seus oponentes, fato que ao longo do tempo foi deixando-o só e isolado nas
reuniões a que eram "obrigados" a convidá-lo pelo seu cargo político.
Sentindo o peso deste isolamento, em conversa com um amigo muito
chegado, comentou esta aversão das pessoas de seu convívio.
Tendo sido localizada a causa deste sentimento de aversão, com uma
tenacidade que só as almas valorosas possuem, empreendeu luta acirrada ao
combate às suas imperfeições.
Mas por mais que se esforçasse, controlava uma imperfeição, mas caía
invariavelmente em outra, quando esta outra recebia a sua atenção novo
deslize fazia-o tropeçar, e a situação não avançava. Era como se estivesse
tentando reter água com as mãos que, não obstante, escorria por entre seus
dedos.
O isolamento continuava e até acentuava-se.
Lembrando-se das habilidades bélicas de Napoleão Bonaparte, que adotava
a estratégia de "dividir para vencer", de espírito  inventivo, Franklin
imaginou um método tão simples, porém, tão prático, que qualquer pessoa
poderia empregá-lo.
Franklin escolheu treze princípios que julgava serem necessários ou
desejáveis aprender e procurar praticar. Escreveu-os em pequenos pedaços
de cartolina, com breve resumo do assunto, e dedicou uma semana da mais
rigorosa atenção a cada um desses princípios separadamente. Desse modo,
pode percorrer a lista toda em treze semanas, e repetir o processo quatro
vezes por ano.
Quando passava ao princípio seguinte não esquecia os anteriores, e cada
vez que se pegava em falha, fazia uma pequena marca no verso do cartão,
assim no retorno àquele princípio dedicava maior atenção e esforço.
Manteve em segredo o que estava fazendo, pois receava que os outros se
rissem dele. (é triste constatar que até aos dias de hoje nos vangloriamos de
atos incorretos, falcatruas, engodos, vícios que cometemos, mas temos
vergonha de admitirmos que estamos tentando melhorar praticando alguma
virtude).
Ao fim de um ano Franklin havia completado quatro cursos, e constatou
que já buscava com naturalidade o controle de suas falhas, apesar de estar
longe de dominar com perfeição qualquer daqueles princípios.
Este procedimento deu tão certo que Franklin utilizou-o ao longo de toda a
sua vida, embora mudando os princípios uma vez já tendo controlado
aquela deficiência combatida.
Os treze princípios de Benjamin Franklin eram:
Temperança - Não coma até o embotamento; não beba até a exaltação.
Silêncio - Não fale sem proveito para os outros ou para si mesmo; evite a
conversação fútil.
Ordem - Tenha um lugar para cada coisa; que cada parte do trabalho tenha
seu tempo certo.

Resolução - Resolva executar aquilo que deve; execute sem falta o que
resolve.
Frugalidade - Não faça despesa sem proveito para os outros ou  para si
mesmo; ou seja, nada desperdice.
Diligência - Não perca tempo; esteja sempre ocupado em algo útil;
dispense toda atividade desnecessária.
Sinceridade - Não use de artifícios enganosos; pense de maneira reta e
justa, e, quando falar, fale de acordo.
Justiça - A ninguém prejudique por mau juízo, ou pela omissão de
benefícios que são dever.
Moderação - Evite extremos; não nutra ressentimentos por injúrias
recebidas tanto quanto julga que o merecem.
Asseio - Não tolere falta de asseio no corpo, no vestuário, ou na habitação.
Tranqüilidade - Não se perturbe por coisas triviais, acidentes comuns ou
inevitáveis.
Castidade - Evite a prática sexual sem ser para a saúde ou procriação;
nunca chegue ao abuso que o enfraqueça, nem prejudique a sua própria
saúde, ou a paz de espírito ou reputação de outrem.
Humildade - Imite Jesus e Sócrates.
A quantos desejarem experimentá-lo, sugere-se analisarem-se, buscando
aquelas deficiências mais comuns e corriqueiras, que sabemos possuir, ou
as qualidades que não temos mas que gostaríamos de  ter, adaptando o
método às necessidades e interesses de cada um. Ao  alcançar uma
conquista, alterar a meta, buscando por outra, que vão surgindo ao longo do
tempo, mas cuidando sempre para que não incorram em recaída.
Este não é o primeiro e nem será o último método inventado, que visa à
melhoria das pessoas através da reforma íntima, mas com certeza, nos
aponta mais uma alternativa palpável e simples, que está ao alcance de
quantos tiverem a coragem e a vontade firme de empreender esta luta
íntima na escalada evolutiva.
Não é um caminho fácil. Não existe caminho fácil. Mas é um caminho
seguro.
Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", no capítulo XVII, SEDE
PERFEITOS, Allan Kardec escreveu:
"Reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral, e pelos
esforços que emprega para domar as suas más inclinações".
Na Bíblia em "O Novo Testamento", Tiago em suas epístolas nos adverte:
"Fé sem obras é estéril".
Que Jesus nos ilumine e guie.
Gentilmente Cedido Pelo Autor.




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