quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Reforma Íntima

Reforma Íntima


marcio_costa

 Frente às lutas da vida, legiões de irmãos buscam o consolo nas mais diversas fontes que a vida nos possibilita. Alguns imergem nas profundezas das facilidades materiais, acreditando encontrar no vício e nas paixões a solução dos problemas. Outros se embriagam em atividades diversas, buscando nelas uma fuga inconsciente de suas lamentações. Outros, ainda, adentram em templos e em locais de fé como se somente de lá pudessem extrair a paz tão procurada dos momentos de dor. Olvidam-se as famílias, esquecem-se os sentimentos e, assim, planejam-se os próprios infortúnios.

Em meio aos tormentos do nosso mundo de expiações e provas, muitos esquecem de que a cura das mazelas nem sempre está em lugares distantes. Mas sim, nos recantos mais íntimos do nosso “eu”. Trazemos no gérmen de nossas almas os débitos contraídos nas diversas oportunidades de reencarnações pregressas. No entanto, algozes de outrora, apresentamo-nos hoje como vítimas das supostas injustiças que assolam a nossa paz. E acreditamos ser mais um objeto da infelicidade em momentos nos quais o tempo parece parar.

Mas ao nosso redor tudo está em movimento. A pequena semente germina e após muitos anos se transforma em uma árvore frondosa. De pequenos fios de seda compõem-se tecidos maravilhosos. Por meio das primeiras pinceladas surgem quadros memoráveis. De tijolo em tijolo erguem-se cidades. E da mesma forma nos encontramos nesta encarnação. Sem perceber a nossa evolução moral e intelectual, progredimos lentamente a cada ensinamento ou momento de dor que a existência nos proporciona.

Mesmo com nossas dificuldades, não podemos esquecer que muitos de nossos momentos mais difíceis foram planejados antes do berço com a intenção de evoluirmos com tais aprendizados. São nestes momentos de angústia e de sofrimento em que nossas almas desfrutam da oportunidade de olhar para si e perceber o que pode ser corrigido para não incidirmos nos mesmos erros.

Assim começa a nossa reforma íntima.

Esta mudança em nossas vidas sempre ocorre à luz do nobre trabalho de nossos sentimentos morais e intelectuais. No primeiro caso, por meio das provas e expiações que nos concedem a percepção necessária para começarmos a entender as bases do amor, da caridade, da humildade e das demais virtudes que carecemos implementar em nossas vidas. No segundo caso, pelo conhecimento que nos levará ao melhor emprego das bases morais.

Se estivéssemos fadados ao consolo permanente, seríamos como filhos de pais extremamente zelosos que nada nos deixam fazer em prol do nosso próprio aprendizado. Nosso corpo e nossa mente não teriam como se desenvolver, tendo em vista que tudo estaria em nossas mãos. Atrofiados em nosso progresso, estacionaríamos em nossa condição evolutiva por um longo período de nossa existência. Mas a imperiosa necessidade de crescer nos leva ao esforço pessoal. Desta forma um bom pai conduz um filho. Ensina-lhe a empregar a sua inteligência e sua força vital em prol do trabalho dignificante. Só assim o filho amadurece em suas bases e progride.

No livro Agenda Cristã, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, André Luiz nos apresenta os “princípios redentores” que podem contribuir com a nossa reforma íntima. Embora não tenha a pretensão de esgotar o assunto, com tais comentários o grande amigo Espiritual já nos envolve nos sublimes poemas de luz entoados pelo Mestre Divino há dois mil anos.

Neste livro, André Luiz nos orienta a desejar o bem do próximo, da mesma forma como fazemos para nós mesmos. Pensando no próximo com o amor divino ensinado pelo Cristo, estaremos sendo fonte de luz que iluminará a nós mesmos.

Evitemos as discórdias e desagradáveis situações de confronto. Por mais que estejamos certos, tais situações alimentadas pela mágoa, pelo ódio e pelo rancor só favorecem a conexão com as sombras que se aproveitam destes momentos para nos incentivar na derrocada de nossos sentimentos. Um grito não se devolve com outro, criando uma espiral crescente de agressão mútua.

Levemos o amor e a caridade sem esperar a restituição. O amor sublime reside na doação natural e fraterna. O melhor retorno de tais ações sempre estará na felicidade e na alegria de ver alguém sorrindo pelo nosso concurso.

Cuidemos com amor das crianças, dos idosos e dos doentes. A fragilidade que o tempo levou de nossas mãos na adolescência será devolvida quando estivermos mais próximos da partida deste plano. Logo, façamos a caridade hoje porque talvez amanhã nossa vestimenta física talvez não permita usar esta ferramenta de progresso moral.

Não façamos críticas ao próximo. Como diz um ditado popular, cada vez que apontamos um dedo para alguém, os demais três de nossa mão se voltam para nós. No entanto, se recebermos uma crítica, agradeçamos ao interventor. Suas palavras contundentes poderão ser uma alerta para que não tomemos as mesmas atitudes com outro irmão. Poderão também nos alertar dos defeitos que possuímos e nem sempre percebemos.

Perdoemos quantas vezes for necessário não só com as palavras, mas também com a sinceridade dos sentimentos mais íntimos. Todos erramos devido às nossas imperfeições, mas aquele que insiste no erro merece mais o acolhimento do que nós. Afinal, quem de nós pode julgar e criticar o próximo, senão a própria justiça Divina.

Acolhemos o próximo com a alegria de um sorriso e o aconchego de um abraço, mesmo que este último se expresse somente por sinceras mãos estendidas. Um sorriso fraterno contagia, ameniza adversidades e traz conforto a quem precisa. Quantas vezes nos sentimos bem simplesmente por estar próximo do sorriso espiritual de um irmão. No entanto, o que sentimos são as ondas vibratórias de amor que nos envolvem e acalentam. O sorriso dignificante nascido da cumplicidade cria ondas mentais de luz entre aqueles que compartilham.

Aprendamos a buscar somente aquilo que é necessário. O exercício da simplicidade contribui para que o orgulho não seja alimentado.  Da mesma forma, estimulemos as nobres qualidades do próximo sem lhes instigar a vaidade. “O elogio é sempre dispensável” (André Luiz, no livro Conduta Espírita).

Procuremos valorizar cada momento de nossa vida, trabalhando “no bem de todos”, sem nos prendermos. Não sabemos o momento em que nossos laços se desatarão e precisamos estar preparados para os novos caminhos que precisaremos trilhar.

Por fim, sejamos alegres, justos, motivados, agradecidos e confiantes na fé Divina. Em todos os momentos Deus estará conosco, mesmo que o véu sobre nossos corações não nos permita percebê-lo.

Tais sugestões não esgotam o que devemos fazer para buscar a nossa reforma íntima. No entanto, poderão ajudar a renovar nossas forças em busca da felicidade sublime e relevante no trabalho do amor da qual gozam os espíritos superiores.

“O homem renovado para o bem é a garantia substancial da felicidade humana.” (André Luiz, no livro Agenda Cristã).

Márcio Martins da Silva Costa.

Referências:

LUIZ, André. Agenda Cristã. 45ª ed. Brasília-DF: Federação Espírita Brasileira – FEB, 2014. 111 p. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
LUIZ, André. Conduta Espírita. 32ª ed. Brasília-DF: Federação Espírita Brasileira – FEB, 2012. 120 p. Psicografado por Waldo Vieira.
LUIZ, André. Missionários da Luz. 45ª ed. Brasília-DF: Federação Espírita Brasileira – FEB, 2013. 382 p. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
EMMANUEL. Vinha de luz. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira – FEB, 2013. 250 p. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
EMMANUEL. Fonte Viva. 21ª ed. Rio de Janeiro-RJ: Federação Espírita Brasileira-FEB, 1997. 415 p. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.

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