domingo, 28 de setembro de 2014

Educação e Repressão

Educação e Repressão

Palestra Virtual
Promovida pelo Irc-espiritismo
http://www.irc-espiritismo.org.br
Centro Espírita Leon Denis
http://www.celd.org.br

Palestrante: Cláudia Linhares
Rio de Janeiro
20/07/2001

Organizadores da palestra:

Moderador: "Dejavu" (nick: |moderador|) "Médium digitador": "Cacs" (nick: Claudia_Linhares)

Oração Inicial:

<|Moderador|> Estamos iniciando mais uma palestra virtual do IRC-Espiritismo. Neste momento, vamos elevar nosso pensamento, buscando a sintonia com a espiritualidade superior. Vamos pedir ao Pai que ilumine a palestrante desta noite, para que transmita com facilidade esclarecimentos sobre o importante tema a ser abordado. Vamos pedir proteção e coragem, ao mesmo tempo que agradecemos pela graça de estarmos aqui, vivendo nossas oportunidades de progresso. Que assim seja!

Apresentação do Palestrante:

<Claudia_Linhares> Boa noite a todos.
Esperamos que os nossos poucos conhecimentos de educação fundamentado na Doutrina Espírita possa enriquecer ainda mais a cada um de nós. Sou Claudia, formada em Pedagogia pela UERJ, pós graduanda pela UFRJ, professora há 17 anos e espírita por convicção.

Considerações Iniciais do Palestrante:

<Claudia_Linhares> A educação no Brasil viveu diferentes momentos históricos, sem entendê-los não há como discuti-la. Da moda do paparico, em que as crianças do período imperial eram tratadas como um cristal, frágil, que nada podiam, passamos pela imposição de valores duros, ditadores e rígidos. Com os primeiros passos da modernidade passamos a encará-la de forma liberal demais, proibir era proibido, ditar regras era ser careta e, assim os pais foram se modernizando e se perdendo de certa forma. Vivendo a onda natural da falta de tempo inerente ao mundo moderno, foram se descuidando de fatos importantes. Hoje estamos marcados pela grande discussão dos limites. É a crise da educação. Que bom vivermos essa crise. Sempre depois do caos vem a ordem e, se erramos no passado e procuramos hoje um caminho mais seguro para educarmos nossos filhos, haveremos de encontrá-lo. Então, estabeleceremos um novo paradigma, o nosso modelo de educar, equilibrado e coerente. O importante nesse momento de crise é sabermos fundamentar o modelo de educação que desejamos em nosso lar. Os teóricos auxiliam, abrem caminhos, oferecem propostas múltiplas para revermos nossa prática, mas o caminhar é nosso, é de cada um. Numa família espírita, é de fundamental importância, diria mesmo que de vital importância, que ao escolhermos e optarmos por nossos caminhos, não nos esqueçamos de que nossos filhos são espíritos, envelhecidos, necessitados como nós de amadurecimento e aperfeiçoamento moral. Assim como para nós não é fácil acertar sempre, para eles não é diferente. Fazer certo num momento, não significa fazer sempre. Vivem, como nós, um momento de aprendizagem para só daí em diante incorporarem como educação. Se de fato o paparico faz mal, igualmente o faz a repressão. Encontrar o ponto de equilíbrio é o desafio da modernidade. Mas o que de fato é reprimir? Essa é uma permanente pergunta feita por pais conscientes que não desejam criaturas silenciadas por regras ditadas sem exemplos ou explicações". Reprimir, vem do latim "reprimere" e quer dizer "impedir a ação ou movimento de, punir, tiranizar, rejeitar idéias, percepções ou afetos. Todas as vezes portanto, que na ânsia de educar, silenciarmos nossas crianças sem oferecer-lhes o direito de dar suas explicações, sem ouvir suas razões, ainda que possam ser consideradas por nós adultos como absurdas, estamos reprimindo. Por isso é que o castigo só faz afeito se discutido, exposto às razões que se leva a esse recurso, se tal for a prática em nosso lar, algumas vezes seremos surpreendidos por nossos próprios filhos que se auto imporão o castigo. O que se pergunta hoje é quanto tempo temos para gastar nessas discussões. Que quantidade de tempo temos para empreender nessa grande tarefa que é a educação. Talvez pouco, daí tantas vezes apelarmos para uma prática rígida e autoritária que tem como resultado a frustração de uma relação distante, e sem credibilidade, que leva a uma outra questão. Quem cumprirá o nosso papel no mundo? Quem meu filho elegerá para ser seu companheiro e conselheiro? Quem lhe oferecerá o ombro nos momentos de dificuldade? Para não correr o risco é preciso rever nossas práticas. A reflexão é um bom começo, principalmente se for feita em parceria, educando x educador. Mas isso não é fácil. Assim como nossos filhos, também temos muita dificuldade para ouvi, para ser recriminado, discordado e até acusado. O orgulho ainda nos escraviza. "Imagina ter que ouvir de alguém que teoricamente está sobre minha tutela que eu estou errado", este é o primeiro pensamento de quem comunga de uma prática de repressão. Mas é preciso. É preciso ouvir da mesma forma que desejamos ser ouvidos por eles. É preciso considerar seus questionamentos, esse é um modelo de educação democrática, onde o diálogo alicerça os sentimentos, onde a amizade colorirá a vida de relação futura, onde aprenderemos a cultivar o afeto e o respeito não por sermos seus tutores mas por sermos seus irmãos de luta, com igual objetivo de aqui estar. Crescer moralmente, aprendendo a máxima do Cristo: fazer ao outro todo o bem que desejas que o outro te faça. É uma iluminada tarefa, que não deve ser ofuscada pela prática mais fácil, onde o forte manda e o fraco simplesmente obedece. Encontrar tempo e coragem para ouvir e amar é a tarefa permanente de todos os pais que querem construir uma relação não de filhos obedientes mas, fundamentalmente, de filhos amigos, capazes de amar e entender, de compartilhar e reconhecer que viver é isso: saber sempre lidar com as tantas diferenças, que podem servir de elo que aproxima homem a homem na conquista de um mundo melhor, heterogêneo sim, porque somos espíritos, mas nem por isso menos fraterno.

Perguntas/Respostas:

<|Moderador|> [1] <Dejavu> Qual o impacto de uma educação repressora, durante a infância, sobre o psiquismo daquele indivíduo na fase adulta?

<Claudia_Linhares> Com muitas possibilidades de insegurança, falta de decisão e iniciativa. Mas nós não podemos nos esquecer que somos Espíritos e como Espíritos, individualidades. Assim, a repressão ganha sua gravidade em escala maior ou menor de acordo com a maturidade do próprio Espírito. (t)

<|Moderador|> [2] <Cecilia> É certo bater nos filhos?

<Claudia_Linhares> NÃO. Eu te perguntaria: É certo violentar um homem? Porque seria então certo bater nos filhos? (t)

<|Moderador|> [3] <kkatia> Quando temos espíritos difíceis, que recusam as tentativas de orientação, como devemos proceder, até que ponto os pais são culpados dos insucessos?

<Claudia_Linhares> Devemos proceder com a mesma paciência que o PAI procede conosco. É muito freqüente a intolerância dos pais, a falta de diálogo, e o esquecimento de que nossos filhos são Espíritos. Isso na prática equivale a insucesso e de certa forma nos tornamos culpados por não conseguirmos encontrar caminhos alternativos que nos permitam acertar ou pelo menos fazer um pouco melhor. (t)

<|Moderador|> [4] <SOL_BRILHANTE> Como pai e espírita debato-me muitas vezes com a diferença de pensamentos num diálogo procurado, mas não assentido. Como Pedagogo de prof. e por vocação, deparo-me com as orientações políticas das diversas correntes e com a tão arraigada cultura judaica cristã. Como encarar à luz do espiritismo esta tarefa sem ferir o livre arbítrio e transpor para a educação corrente?

<Claudia_Linhares> O respeito pelo outro deve estar acima de qualquer teoria ou corrente pedagógica. Não podemos nos esquecer que o outro é um indivíduo dotado de livre arbítrio e nem sempre preparado para absorver nossas intenções, ainda que boas. No entanto, o diálogo sincero e autêntico deve ser sempre tentado ainda que hajam resistências. Fundamentado, diria eu, na pedagogia da paciência. (t)

<|Moderador|> [5] <||Miguel||> A educação deve seguir a parâmetros universais ou particulares? As culturas mais próximas da animalidade devem seguir os mesmos parâmetros?

<Claudia_Linhares> Há uma corrente pedagógica que insiste que a visão partindo do macro para o micro inspira amplitude da própria situação. Pensando agora como educador espírita, diria que educamos nossas crianças para um modelo de mundo que sonho para o futuro, mas não há como educar o mundo sem que se eduque o próprio homem. A Lei de Deus é igual para todos. (t)

<|Moderador|> [6] <SOL_BRILHANTE> Como conciliar o dilema hoje muito em voga, em que os pais atiram para os professores a educação de seus filhos e os professores atiram pra os pais muitas de suas tarefas?

<Claudia_Linhares> Diria que ambos são de fundamental importância na formação do homem. No entanto, embora precisem caminhar juntas, família e escola possuem o seu próprio papel. Se cada uma se voltasse a cumprir bem o papel estabelecido para elas no que tange a educação, já teríamos evoluído em muitas questões educacionais. (t)

<|Moderador|> Duas perguntas correlatas: [7] <kkatia> podemos considerar que um pouco de repressão é necessário para guiar espíritos rebeldes? <sil_> como fazer pra se educar sem reprimir? É correto impor limites?

<Claudia_Linhares> Diria muito de consciência. Certamente a repressão acentuará ainda mais a rebeldia. A única maneira existente e trabalhosa para se educar sem repressão é convidar o outro a tomada da própria razão. Isso só é possível através do diálogo. Na verdade, pela falta de tempo, pressa de viver, e atribuições múltiplas, a corrente educativa adotada nos lares é de um permanente monólogo, ou seja, com a palavra o pai autoritário ele manda, e o filho obedece. Com relação aos limites, é correto e devemos trabalhá-lo sempre a nível de consciência. Os limites devem ser claros e autênticos, para serem respeitados é preciso que não hajam dois pesos e duas medidas. (t)

<|Moderador|> [8] <SOL_BRILHANTE> Como enquadrar a educação a luz do Espiritismo , com o espírito da Escola Moderna?

<Claudia_Linhares> Tendo inserido em seu contexto e em seu mundo interior de professor conhecedor da educação e espírita, que não educamos o corpo, educamos a alma. Seja qual for a escola ou a corrente que optemos na nossa prática pedagógica, a educação é direcionada ao mesmo ideal, ao mesmo objeto: ao Espírito. (t)

<|Moderador|> [9] <Dejavu> É correto o modo padronizado de ensino que vemos nas escolas, uma vez que sabemos que os Espíritos são individualidades?

<Claudia_Linhares> É possível por em prática uma metodologia comum, tendo atenção no entanto no desenvolvimento individual de cada aluno. No entanto, melhor seria que o mundo amadurecesse para a visão de que educamos a alma porque assim, nos preocuparíamos mais com o indivíduo e não com os pacotes pedagógicos que estão em moda no momento. (t)

<_Moderador_> [10] <Cecilia> nós, enquanto espíritas, como devemos ver pais que nos repreenderam na infância?

<Claudia_Linhares> Com compreensão, certamente fizeram o que puderam. Talvez não o melhor, mas precisamos entender a postura e o conhecimento que circulavam na época de nossos pais. Alguns, ainda foram educados na pedagogia da palmatória, onde a reflexão esteve totalmente divorciada da prática. Fazer diferente seria um ato de heroísmo ou de muita maturidade espiritual. (t)

<|Moderador|> [11] <sil_> Você conhece certamente Jean Piaget, e o que ele diz sobre automina, heteronomia, etc, qual a relação que podemos estabelecer entre sua teoria e a doutrina espírita?

<Claudia_Linhares> Diria que a Doutrina Espírita em seu apelo a fé raciocinada estabelece total conexão com a autonomia trabalhado por Piaget. Quanto mais sei com consciência, mas responsável, mais seguro e mais autônomo me torno inclusive no movimento de meu próprio livre arbítrio. A heteronomia relacionaria com a fé cega, capaz de estabelecer comportamentos de pouca reflexão, de pouca decisão e quase sem independência. (t)

<|Moderador|> [12] <Dejavu> É viável implantar educação religiosa nas escolas públicas?

<Claudia_Linhares> Não. Nosso país, o Brasil, é um país culturalmente católico. Implantar a religião poderia incorrer no risco de implantar o dogmatismo católico. Essa é uma opinião minha, fundamentada numa prática de sala de aula, em escolas de diferentes práticas religiosas. (t)

<|Moderador|> [13] <||Miguel||> Carregamos em nós histórias pessoais de repressões e imposições; esse é o material que temos; o que utilizar de nosso, na educação, retirando essa bagagem histórica, no âmbito pessoal e social?

<Claudia_Linhares> Utilizemos a nossa maturidade espiritual. A prática consciente e as reformas lúcidas ainda que lentas da sociedade nos convida a uma permanente reflexão do modelo, isso algumas vezes parece promover o caos, mas daí vem a ordem. , é a teoria do paradigma. (t)

<|Moderador|> [14] <Dejavu> Qual o papel da casa espírita na educação? Haveria alguma função repressora também?

<Claudia_Linhares> De educar o ESPÍRITO. Trabalhando principalmente a conscientização, no entanto não podemos esquecer que, assim como nós, os evangelizadores também são Espíritos imperfeitos dotados de impulsos, com dificuldades muitas vezes para domar seus instintos e com uma interpretação muito individual da própria Doutrina, podendo correr o risco por imaturidade, ou mesmo falta de conhecimento, ser repressor em sua prática e algumas vezes até em seu discurso. Por isso, é preciso que haja sempre o estudo em grupo, cursos de capacitação e trocas entre os trabalhadores da casa. (t)

<|Moderador|> [15] <sil_> Com relação aos limites, o que acha de regras coletivas e como lidar com a indisciplina? é válido ser autoritário?

<Claudia_Linhares> As regras coletivas são necessárias, pois vivemos em sociedade. Quanto a indisciplina, é preciso que trabalhemos a formação do indivíduo enquanto consciência. Quando digo ao meu filho, por exemplo, para não jogar papel no chão, preciso ser a primeira a não fazer. O que é válido e deve ser o nosso esforço, é conquistar a confiança através da transparência para que a razão seja o apelo a nossa obediência. (t)

Considerações Finais do Palestrante:

<Claudia_Linhares> É preciso que amadureçamos a importância da educação para a reforma da sociedade. E´ de fundamental relevância a todos nos que já nos preocupamos com a Doutrina Espírita e com a educação do espírito para a responsabilidade maior ou menor que temos com o processo. Somos todos educadores e como tais, precisamos ler, reler e repensar nossa própria pratica, afinal o exemplo é material seguro na garantia da qualidade educativa. Muita paz a todos! (t)

Oração Final:

<|Moderador|> Agradecemos, ó Pai, pelas dádivas da vida, pelos momentos de reflexão trazidos aqui nesta noite, pelo auxílio constante dos benfeitores espirituais, e pela oportunidades de aprendizado e aperfeiçoamento que a vida nos proporciona a cada instante. Que estejamos receptivos às tuas bênçãos de paz e luz e que possamos permanecer serenos e confiantes. Que assim seja!

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