Despedida, Separação e Perda
"É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos" (O Livro dos Espíritos, questão 728).
Em 19-03-2012, às 9hs e 45mint.
É bastante compreensível as lágrimas pela separação. A separação pode representar um estado momentâneo, que não significa, necessariamente, a quebra de uma relação, a ruptura de um vínculo afetivo, mas, uma interrupção necessária para seguirmos o nosso próprio trajeto. A perda também não existe, como bem disse um grande filósofo: "na natureza nada se perde, tudo se transforma". A própria destruição ocorrida pelos "tsunami" da vida é, na verdade, "transformação" e, a transformação é necessária para o desenvolvimento da Humanidade, segundo os ensinamentos espíritas. É preciso aprendermos a nos despedir do apego, aprender o desapego das coisas, das pessoas, dos costumes. Desapego não é desprezo, e sim, aceitar, de boa vontade, essas transformações em nossas vidas, designadas por Deus.
As lágrimas de tristeza são inevitáveis, no entanto, sofrer é uma opção. A forma como demonstramos os nossos sentimentos e emoções está de acordo com o grau da nossa evolução. A separação, bem como a perda de entes queridos, despertam na alma emoções que se condensam no corpo físico em lágrimas. As lágrimas são, pois, como a materialização das nossas emoções mais profundas, as vindas da alma. O sofrimento nasce da imaturidade do espírito em trabalhar com essas sensações. É o grau de desenvolvimento espiritual que nos permite sentir sem sofrer, ou seja, comover-se sem, com isso, absorver o sofrimento. O conhecimento espiritual mostra-nos a necessidade do "fim", que, em si mesmo, não é o fim, mas o recomeço, ou, um novo começo, a regeneração.
Morre-se o corpo físico para renascermos em Espírito. O corpo orgânico nasce, desenvolve-se, definha e morre. Porém, a alma liberta-se e, torna-se Espírito, uma metamorfose comparada à da borboleta e do casulo. Despe-se da roupagem pesada (invólucro corpóreo), e voa-se livre. Morrer, assim, significa uma nova vida, um renascimento, é o sinal de que já se cumpriu, neste tempo, o que foi determinado por Deus, Senhor único de tudo o que há no Céu e na Terra. Vale lembrar que o nosso tempo não é o de Deus. A nossa curta visão não nos permite enxergar além de 180º à nossa volta, e, a nossa pouca evolução espiritual não nos permite perceber, além do nosso campo visual, a grandeza em tudo o que há no Universo, pois que, tudo parte do Princípio Inteligente Universal, que é Deus, assim sendo, nada é por um "acaso". Não conseguimos, enfim, captar a essência de tudo o que está envolto na perda, nas dores e nas calamidades. O não conhecimento das causas leva-nos ao desajuste mental como forma de defesa: "(...) o que chamais destruição não passa de uma transformação (...)" (KARDEC)
Quando "perdi" Puma, a minha cadelinha de estimação (ver "Homenagem aos animais"), no seu primeiro ano de vida, não entendia nada sobre esse processo de transformação, ainda sabendo que tudo tem início, desenvolvimento e fim, não compreendia a existência de Deus sobre todas as coisas, sobre a "vida" e a "morte". Deus não permite o sofrimento a nenhuma de suas criaturas, senão, para o seu desenvolvimento moral, pois que, não seria bom e justo. Se ainda sofremos é por não o conhecermos, por não confiarmos, verdadeiramente, na sua suprema existência. Acreditássemos que está sobre todas as coisas, não lastimaríamos, ao contrário, render-se ia-lhe glória em louvor. Deus está em nós. "Somos filhos de Deus, dotados de força infinita". Aceitar a partida do ser que amamos, sem lastimar, é prova de gratidão e humildade ao Pai, que tudo criou. Quem ama a Deus, não lamenta devolver-lhe a vida, que nem mesmo nos pertence, pois que somos todos depositários dos bens terrenos.
Se tivesse compreendido os ensinamentos do Evangelho, segundo Cristo, entenderia que fiz o que tinha que ser feito naquele momento, para o meu bem, de minha família e da própria Puma, que sofria de uma doença, no caso dela, incurável - cinomose - pois que já havia atingido seu sistema nervoso central. Ela já não mais se alimentava, não dormia e mordia a quem se mexesse próximo dela, incluindo-nos, os seus donos... Lembro-me da minha filha chorando, dizendo: "o que mais me dói é saber que ela jamais me mordeu antes dessa doença, sei que ela não queria me morder". E como doeu, em mim, tê-la que sacrificar pelo bem de todos. Eu não "a" sacrifiquei, eu "me" sacrifiquei, morri um pouco no instante de assinar a sua sentença de morte. As minhas mãos que só lhe deram carinho, abreviavam-lhe a vida.
Ainda não estou completamente curada da dor, choro ao relatar. Sempre penso que a dor já passou, mas não passou, apenas deixou de ser sofrimento. Mesmo sendo, hoje, estudante do Espiritismo, ainda não me transformei internamente, esforço-me. Mas, quem disse que seria fácil libertar-se? Ao menos, os meus olhos já não disparam "piscadelas", num descontrole total, como se fosse apagar os reflexos de culpa da minha consciência. Já não me sinto mais culpada. Aceito que foi como precisava ser. O por quê, só a Deus pertence conhecer.
Resistimos às perdas por não compreendermos os ganhos. Com a dor da "transformação", ganhei em força, em paciência e em autoconhecimento. Passei a buscar essa "reforma íntima". Procurei conhecer em Kardec, no Livro dos Médiuns, sobre os animais, sobre a sua existência em nossas vidas: "(...) Deus colocou os animais ao vosso lado como auxiliares, para vos alimentarem, para vos vestirem, para vos secundarem (...) Mas, em sua sabedoria, não quis que estivessem sujeitos à mesma lei do progresso. Tais como foram criados se conservaram e se conservarão até a extinção de suas raças" (O Livro dos Médiuns, cap. XXII). Aprendi, assim, a amar sem excesso, sem apego, compreendendo que somos apenas depositários do Senhor, usufrutuários dos bens terrenos, que nada nos pertence, para tudo há um propósito Divino. "Tudo voltará à Deus".
Dei-me conta do amor sem apego quando da separação de minha filha. Ela seguiu para morar em um outro Estado, no sentido de construir o seu próprio trajeto, cumprir seu destino. Entendo que é uma separação apenas geográfica e temporal. A distância não existe para almas que se afinam, amam-se, nem para os Espíritos. Chorei a despedida pois que ainda necessito, devido a minha imperfeição, "tocar" o amor, mas não é sofrimento, não é solidão. Estou sozinha sem me sentir só. Compreendo que seguir cada qual o seu destino, faz parte da nossa caminhada evolutiva. Antes de partir, pediu-me: "mãe, depois você vem morar comigo em São Paulo". Respondi-lhe que esse é um projeto de vida dela, e não meu. Ela tem que vivê-lo, é o seu processo de amadurecimento, de construção, e, o meu momento de reconstrução. A separação, para ela, significa o começo do "caminhar com as próprias pernas", para mim, o "reaprender a caminhar sozinha". Como todas as coisas do mundo, os filhos também não nos pertencem.
Desejo que quando Deus perguntar-me do que foi feito da criança que me confiou, possa responder-lhe: "tornou-se uma linda criatura Senhor. Ela cresceu dentro dos princípios morais cristãs, evoluiu e seguiu o seu próprio caminho. Constituiu uma nova família e, isto muito alegra-me, Senhor. Dela só tive do que me orgulhar, do que bem dizer. E, isto é motivo de felicidade para uma mãe em processo de aprendizado. Creio Senhor, que muito mais aprendi a partir dela. Obrigada, Senhor, por tê-la permitido na minha existência. Saudades! Ah! são muitas! Mas saudade não é tristeza, só a sentimos de quem verdadeiramente amamos". Que Assim Seja!
Luz e Amor!
"Meus amigos, agradeceis a Deus, que vos permitiu gozar a luz do Espiritismo. Não porque somente os que a possuem possam salvar-se, mas porque, ajudando-vos a melhor compreender os ensinamentos do Cristo, ela vos torna melhores cristãos. Fazei, pois, que ao vos vendo, se possa dizer que o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são uma e a mesma coisa, porque todos os que praticam a caridade são discípulos de Jesus, qualquer que seja o culto a que pertençam" (Fora da Caridade não há Salvação, cap. XV; 10, O Evangelho Segundo o Espiritismo).
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