1. Conjunto de imagens recalcadas que guardam relação com o mesmo impulso inconsciente. Dicionário Contemporâneo da língua Portuguesa - Caldas Aulete
2. Conjunto de representações ou idéias estruturadas e caracterizadas por forte impregnação emocional, total ou parcialmente reprimidas e que determinam as atitudes de um indivíduo, seu comportamento, seus sonhos, seus desejos etc. Dicionário da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
3. Não são coisas estranhas depositadas no fundo do ser e susceptíveis de subir à superfície, mas sim sistemas de condutas constantemente presentes. Ou antes seguimentos de conduta que jamais foram completamente integrados. Essas condutas, isoladas ou fragmentárias, subsistem como uma só peça, constantemente prontas a despertar. A. Hernard
4. São imagens de determinadas situações psíquicas de forte carga emociona, e além disto incompatíveis comas disposições da consciência. C. G. Jung.
ESTRUTURA DA PSIQUE
O funcionamento da vida humana acontece não somente no corpo, mas também em estruturas contidas na mente.
A psique embora não seja vista como uma realidade objetiva, tem anta importância quanto a dimensão física da vida. Ela possui estrutura e energia própria, que lhe mantêm em movimento constante, sendo auto-regulada por suas próprias normas.
A consciência é uma função que relaciona os conteúdos psíquicos e o ego. A percepção do mundo exterior ocorre através dela.
"Nossa consciência não se cria a si mesma, mas emana de profundezas desconhecidas. Desperta gradualmente na criança, e a cada manhã, ao longo da existência, desperta das profundezas do sono, saindo de um estado de inconsciência. É como uma criança que nasce diariamente das profundezas do inconsciente materno. Não é apenas influenciada pelo inconsciente, mas emerge dele continuamente, sob a forma de inumeráveis idéias espontâneas e de repentinos lampejos de pensamento" (Jung - Vol XI/5, p. 935).
Para que o ego se relacione com o inconsciente é necessário um esforço mútuo contínuo, por se tratar da convivência com um desconhecido. Quando existe uma recusa ou impossibilidade nesta relação, a invasão dos conteúdos do inconsciente pode representar uma ameaça ao ego.
No hemisfério inferior do diagrama temos a representação do inconsciente. Este na psicologia junguiana é compreendido pelo inconsciente pessoal e inconsciente coletivo.
O inconsciente pessoal localiza-se fronteira com o consciente, sendo constituído por sua camada mais superficial. Os elementos nele contidos têm uma natureza pessoal, e são propriedade exclusiva de cada indivíduo.
Tais elementos não estão sob o domínio da vontade. A energia que possuem é insuficiente para atingir a consciência. Têm origem a partir de lembranças e experiências vividas que foram perdidas na memória em razão do peso de seu conteúdo emocional; de material que foi desvinculado do ego, devido a não compatibilidade com a atitude consciente; e de qualidades pessoais não desenvolvidas.
O material presente nesta camada do inconsciente pode ser traduzido à consciência através dos sonhos, de possíveis choques emocionais ou mesmo de forma espontânea. Apesar de estar ligado ao ego consciente, este não está apto para a assimilação de todo o seu conteúdo, sendo assim a influência sobre o mesmo pode ser grandiosa.
O inconsciente coletivo é uma camada mais profunda que o inconsciente pessoal. Seu conteúdo é impessoal, comum a toda a humanidade, com validade universal sendo transmitidos de geração a geração.
Pode ser comparado à estrutura anatômica do corpo humano que é imutável em sua essência, independente de cultura, sociedade ou tempo. A comprovação de sua existência pode ser aferida em parte pela observação do comportamento instintivo da humanidade.
O termo inconsciente coletivo originalmente usado por Jung, oi por ele mesmo a seguir substituído por psique subjetiva, devido ao seu caráter de neutralidade, e determinação de valor de seus conteúdos após o confronto com a consciência.
O funcionamento da psique objetiva independe do desejo e/ou intenção do ego, este, porém, o vivencia e até certo ponto o compreende.
O inconsciente coletivo possui não só o material consciente rejeitado. É dele que surgem as possibilidades de desenvolvimento e do crescimento do potencial humano, bem como da criatividade.
Quanto mais próxima a relação com o inconsciente pessoal maior será a possibilidade de revelação das imagens e motivos contidos no inconsciente coletivo. Isto significa expansão da personalidade promovendo amadurecimento do ego.
No âmago da psique objetiva encontra-se um centro ordenador chamado SELF (si mesmo).
O Self é o centro da totalidade psíquica; abrange o consciente e o inconsciente. Como o arquétipo da totalidade, o Self tem uma natureza que não pode ser conhecida pela mente natural.
Para que ocorra desenvolvimento da personalidade é necessário um confronto do ego com o SELF. É desejo deste transforma-lo, porém suas exigências e expectativas nem sempre podem ser por ele assimiladas.
O caminho que leva o ego ao Self foi chamado por Jung de individuação. O processo de individuação não é nada mais do que a luta para tornar-se aquilo que se é, ou o que se está destinado a ser.
O Self é a meta da individuação; sempre existirá como um alvo a ser alcançado, pelo menos enquanto estivermos nos limites do tempo e espaço a que estamos submetidos na condição de criaturas humanas.
Mergulhados no inconsciente coletivo encontramos elementos autônomos chamados de arquétipos.
Arquétipo significa amostra, forma básica, estrutura primária. Representam a estrutura imutável do mundo psíquico, cujo significado é do arcabouço psíquico primário, comum a todos os seres humanos.
Os arquétipos não podem ser representados; existem como uma realidade virtual. São dotados de energia psíquica. Sua apresentação acontece em forma de idéias e imagens, a nível pessoal e coletivo.
A origem dos arquétipos é obscura e sua natureza indecifrável. Surgem a partir do inconsciente coletivo de onde temos conhecimento apenas indireto. Sua formação está relacionada a impressões gravadas em decorrência de experiências comuns a todos os homens, que se repetem geração após geração, levando a padrões específicos do comportamento.
Através dos arquétipos podemos compreender porque em lugares e épocas distante surgem temas idênticos nos mitos, contos de fadas, nas artes, nos dogmas e ritos religiosos bem como nas demais produções do inconsciente.
Jung acreditava ser uma tarefa de cada geração a busca da compreensão dos conteúdos dos arquétipos e seus efeitos.
Os complexos são elementos da estrutura da psique, representados no diagrama por pequenos círculos, situados no hemisfério inferior do digrama, ou seja, no inconsciente.
Existem imagens psíquicas carregadas emocionalmente não relacionadas à atitude consciente. Têm como base um padrão universal (arquétipo) que é o seu núcleo. Este encontra-se vinculado ao inconsciente coletivo com uma natureza impessoal.
A casca do complexo situa-se o redor do núcleo, tendo uma natureza individual relacionada ao inconsciente pessoal.
Os complexos quando ativados são acompanhados de afeto, vêm do inconsciente de forma autônoma, se impõem à inconsciência, exercendo sobre ela domínio; como se fossem seres independentes. Sob a ação do complexo a psique funciona de modo fragmentado. Sujeita às lei ditadas pelo mesmo.
Os complexos em si não são patológicos, fazem parte da estrutura da psique normal. Assumem caráter patológico quando desconhecidos e/ou negados. Quanto mais desvinculados da totalidade psíquica maior o seu grau de autonomia e mais perturbadora a sua ação.
A persona é uma estrutura localizada entre o complexo do ego e a consciência coletiva.
A persona tem um aspecto individual e outro coletivo. Individualmente refere-se aos papéis desempenhados por nossa escolha, através destes o eu apresenta-se ao mundo exterior. Enquanto fenômeno coletivo relaciona-se a aspectos da personalidade vividas como produto de expressão da psique coletiva.
A persona funciona tanto como uma roupa de proteção quanto como uma possibilidade de envolvimento como mundo em que vivemos.
A sombra é uma estrutura localizada no inconsciente pessoal. Refere-se a personalidade oculta, que foi reprimida pelo ego ou mesmo não reconhecida por ele.
ETIOLOGIA E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS
Segundo as pesquisas clínicas da psicanálise, a origem dos complexos localiza-se na história pessoal de cada indivíduo. Decorre de acontecimentos do passado e do modo como os mesmos foram vividos; bem como, dos recursos utilizados pelo ego.
Trata-se, portanto, de uma realidade psíquica de ordem pessoal e não de uma realidade histórica que pode ser descrita por outrem.
À luz dos acontecimentos de psicologia analítica apesar de não existir uma clareza sobre a etiologia de certos complexos, os mesmos "são descritos como aspectos parciais da psique dissociados, estando sua etiologia muitas vezes relacionada a um chamado trauma ou choque ou mesmo coisa semelhante que arrancou fora um pedaço da psique. Uma das causas mais freqüentes é, na realidade, um conflito moral cuja razão última reside na impossibilidade aparente de aderir à totalidade da natureza humana. Esta impossibilidade pressupõe uma dissociação imediata, que a consciência do eu saiba ou não. Regra geral, há uma inconsciência pronunciada a respeito dos complexos, e isto naturalmente lhes confere uma liberdade ainda maior" (Jung vol VIII, p. 204).
Como referido, a origem dos complexos parece relacionada a experiências marcantes vividas no passado, sobretudo na infância. Estes elementos agrupam-se em torno de um núcleo abstrato chamado de arquétipo.
A sensibilização de um indivíduo à formação de um complexo, resulta da reativação de experiências por ele vividas num dado momento, carregadas de afeto, que de alguma forma imprimiram uma cicatriz na sua história.
Dentre as experiências marcantes geradoras de complexos duas categorias principais merecem destaque: traumatismos psicológicos (sobretudo relacionados a choques de ordem afetiva como separação, exclusão, abandono, violação, etc) e as experiências que geram "climas perturbadores" (em geral por períodos prolongados de tempo - privação crônica, retenção da expressão espontânea, estados de obsessão, supervalorização ou subvalorização, etc).
O ego através dos seus mecanismos de defesa vive em busca de um equilíbrio de forças em relação ao complexo. Se o ego encontra-se enfraquecido, a tendência é a deflagração do complexo de forma autônoma, ficando este submetido ao seu controle.
"Os conteúdos do inconsciente pessoal são, principalmente, os complexos de teor emocional que constituem a intimidade pessoal da existência. Os conteúdos do inconsciente coletivo são chamados de arquétipos" (Jung, Conferência de Eranos - 1934).
Desta forma um novo caminho foi apontado. A noção de complexo aparece ligada à "idéia do arquétipo", guardando uma relação de complementação mútua.
Sobre a composição estrutural dos complexos, Jung identificou dois elementos aos quais denominou de casca e núcleo.
A casca do complexo é a porção mais externa e superficial. Apresenta-se com uma forma característica de reação, ou comportamento próprio, vinculada à acontecimentos da infância, dificuldades e/ou repressões que guardam relação de causa e efeito com o momento em questão, mesmo que não haja participação da consciência.
Existe uma carga energética responsável pelo efeito perturbador do complexo, que se origina além da camada pessoal e diz respeito a outra estrutura, descrita como o núcleo do complexo.
O núcleo é, portanto, o centro do complexo. Refere-se a um padrão universal de comportamento chamado de arquétipo, relacionado ao inconsciente coletivo, onde se encontram os elementos herdados da psique.
Se quando o pessoal é explorado por inteiro é que o núcleo arquetípico pode ser alcançado, porque a casca do complexo é a forma de encarnação do tema mitológico e se faz presente na natureza individual de cada um.
Nas palavras de Jung os "complexos são pontos focais ou nodais da vida psíquica que não devem faltar pois de outra maneira a atividade psíquica chegaria a uma paralisação fatal. Eles têm o poder impulsionador da vida psíquica" (Jung, vol. VI, pág. 925).
"Um complexo torna-se patológico somente quando pensamos que não o temos". (Jung, vol. XVI p. 179). Na nossa ignorância psíquica, somos possuídos por eles.
"O sofrimento não é uma doença; é sim o pólo oposto normal da felicidade" (Jung, vol. XVI, p.179).
É oportuno fazer uma distinção entre os "complexos mórbidos" e os "saudáveis". Conforme a sua origem proceda do inconsciente pessoal ou coletivo.
É clara a distinção entre o que foi chamado de casca e núcleo do complexo. A casca, como estrutura do inconsciente pessoal, determina-se o complexo total. Vai "se comportar" como um elemento patológico ou saudável. O modo como os elementos do núcleo foram experimentados no passado, determina-se a energia do complexo que pode ser incorporada de forma harmoniosa ao ego consciente ou se esta energia funcionará como algo perturbador. O complexo perturbador torna-se-á próximo, da integração quando for possível superar a casca envolta com conflitos e atingir o seu núcleo arquetípico.
É próprio comentário de Jacobi quando diz que "Os complexos constituem a estrutura básica da psique. Assim o próprio complexo é um componente saudável da psique.
O material derivado do inconsciente coletivo nunca é patológico; ele pode ser patológico apenas quando provém do inconsciente pessoal, onde ele sofre uma transformação e uma coloração específica ao ser atraído para dentro de uma área de um conflito individual.
Portanto é apenas o estado da mente consciente, a maior ou menor estabilidade do ego, que determina o papel do complexo.
Tudo depende da mente consciente ser capaz de compreender, assimilar e integrar o complexo, a fim de afastar seus efeitos nocivos. Se não consegue isto a mente consciente torna-se vítima do complexo, e é sufocada em maior ou menor grau por ele" (Jacobi, apud Whitmont, p. 63-64).
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