segunda-feira, 18 de março de 2013
Os falsos profetas - ESE
Capítulo 21
CONHECE-SE A ÁRVORE PELO FRUTO
1. Por que não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore
que dê bom fruto. Por que cada árvore se conhece pelo seu próprio
fruto, pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se colhem uvas dos
abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem,
porque da abundância do seu coração fala a boca. (Lucas, capítulo 6,
versículos 43 a 45.)
2. Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós
vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por
seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros,
ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e
toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus
frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá
bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os
conhecereis. (Mateus, capítulo 7, versículos 15 a 20.)
3. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém
vos engane, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o
Cristo e enganarão a muitos. E surgirão muitos falsos profetas e
enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de
muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo.
E se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe
deis crédito, porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão
grandes sinais e prodígios que, se possível fosse, enganariam até os
escolhidos. (Mateus, capítulo 24, versículos 4 e 5, 11 a 13 e 23 e 24.)
(Marcos, capítulo 13, versículos 5 e 6, 21 e 22.)
MISSÃO DOS PROFETAS
4. Atribui-se comumente aos profetas o dom de revelar o
futuro. Em decorrência, as palavras profecia e predição se tornaram
sinônimas. No sentido evangélico a palavra profeta tem uma
significação mais ampla. Ela se aplica a todo enviado de Deus com
missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os
mistérios da vida espiritual.
Um homem pode, no entanto, ser profeta sem fazer predições.
Essa era a idéia dos judeus, no tempo de Jesus. Por tal razão é que,
ao ser Jesus levado perante o sumo sacerdote Caifás, os escribas e os
anciãos que ali estavam reunidos lhe cuspiram no rosto, lhe deram
socos e bofetadas, dizendo: "Cristo, profetiza para nós, e dize quem
é este que te bateu".
Houve, no entanto, profetas que tiveram a presciência do
futuro, quer por intuição, quer por revelação providencial, a fim de
transmitirem avisos aos homens. Como os acontecimentos preditos
se realizaram, o dom de predizer o futuro foi considerado como
um dos atributos da qualidade dos profetas.
PRODÍGIOS DOS FALSOS PROFETAS
5. "Levantar-se-ão falsos cristos e falsos profetas que farão
grandes prodígios e maravilhas tais que seduziriam até os próprios
escolhidos." Estas palavras dão o verdadeiro sentido do termo
prodígio. Na sua significação teológica, os prodígios e os milagres
são fenômenos excepcionais, que fogem das leis da Natureza. As
leis da Natureza, sendo obras de Deus exclusivamente, poderiam
ser por Ele anuladas, se fosse de sua vontade. Mas, o simples bom
senso nos diz que Ele não pode ter dado a seres inferiores e perversos
um poder igual ao seu e, menos ainda, o direito de desfazerem o
que Ele fez.
Jesus não poderia consagrar a existência de uma concessão
dessa ordem. De acordo com o sentido que atribuem a estas palavras,
um espírito mal-intencionado teria o poder de fazer prodígios, que
poderiam enganar até os próprios escolhidos. Isso nos levaria a
admitir que, podendo eles fazer o que Deus faz, os prodígios e os
milagres não seriam um privilégio exclusivo dos enviados de Deus.
E tais prodígios nada provariam, pois que nada distingue os
fenômenos provocados por Espíritos santificados dos fenômenos
provocados pelas criaturas perversas. É necessário, portanto, que se
procure um sentido mais inteligente para essas palavras.
Aos olhos do homem do povo, todo fenômeno, cuja causa
seja desconhecida, passa por sobrenatural, maravilhoso e miraculoso.
A causa do fenômeno, quando se torna conhecida, faz com que o
aparente prodígio, por extraordinário que pareça, não seja outra
coisa que a manifestação de uma lei da Natureza. É assim que a área
dos fatos sobrenaturais diminui à medida que se amplia a área da
Ciência.
Em todos os tempos, os homens têm explorado, em proveito
de sua ambição, de seu interesse pessoal e de seu desejo de poder,
certos conhecimentos que possuíam, a fim de ganharem o prestígio
de um poder supostamente sobre-humano ou de uma pretensa
missão divina.
São esses os falsos cristos e falsos profetas.
A difusão de conhecimentos mais amplos vem trazer-lhes o
descrédito. É por isso que o número de falsos profetas diminui à
medida que o homem comum se esclarece. O fato de realizarem
aquilo que, aos olhos de certas pessoas, se considera como um
prodígio, não é, portanto, um sinal de missão divina. Isso que fazem
pode ser o produto de conhecimentos que qualquer um pode
adquirir, ou de faculdades orgânicas próprias, que tanto o mais
indigno como o mais digno dos homens pode possuir.
O verdadeiro profeta se reconhece por características mais
sérias que essas dos falsos profetas e tais características são
exclusivamente morais.
NÃO CREIAM EM TODOS OS ESPÍRITOS
6. Amados, não acrediteis em todos os espíritos, mas provai se os
espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado
no mundo. (João, Epístola 1, capítulo 4, versículo l.)
7. Os fenômenos mediúnicos, longe de confirmar os falsos
cristos e os falsos profetas, como algumas pessoas dizem, vêm, ao
contrário, dar-lhes um golpe mortal.
Não peça ao Espiritismo nem milagres e nem prodígios,
porque ele declara de modo expresso que não os produz. Assim
como a física, a química, a astronomia, a geologia vieram revelar as
leis do mundo material, o Espiritismo vem revelar outras leis
desconhecidas, que regem as relações do mundo corporal com o
mundo espiritual. Essas leis, tanto quanto aquelas do domínio da
Ciência, não são mais que leis da Natureza. Permitindo a explicação
de uma certa ordem de fenômenos, incompreendidos até agora,
essas leis acabam com o que restava ainda nos domínios do
maravilhoso.
Aquele, portanto, que se sentisse tentado a explorar os
fenômenos mediúnicos em proveito próprio, em se fazendo passar
por um messias de Deus, não poderia abusar por longo tempo da
credulidade dos outros homens e muito rapidamente seria
desmascarado. Aliás, como já se disse, esses fenômenos aparentemente
maravilhosos, não provam coisa alguma por si mesmos. A verdadeira
missão se prova por efeitos morais, que não é qualquer um que
pode produzir.
Este é um dos resultados do desenvolvimento da ciência
Espírita. Examinando a causa de certos fenômenos, essa ciência
levanta o véu que envolvia muitos mistérios, tornando conhecidas
as suas causas.
Os que preferem a obscuridade, temendo a luz, são os únicos
interessados em combater a ciência Espírita. Mas a verdade é como
o Sol: dissipa os mais densos nevoeiros.
O Espiritismo vem revelar uma outra categoria, bem mais
perigosa, de falsos cristos e falsos profetas, e que não se encontra
entre os homens, mas entre os desencarnados. Essa categoria é a dos
espíritos enganadores, dos hipócritas, dos orgulhosos e dos falsos
sábios da espiritualidade, que passaram da Terra para o mundo
espiritual e tomam nomes respeitáveis para, debaixo dessa máscara
que usam, tornarem aceitáveis as idéias mais extravagantes e absurdas.
Antes que as relações mediúnicas fossem conhecidas, esses
espíritos agiam de uma maneira menos evidente, através da
inspiração, da mediunidade inconsciente, auditiva ou psicofônica.
O número desses espíritos que, em diversas épocas, mas sobretudo
nestes últimos tempos, se apresentaram como alguns dos antigos
profetas, como o Cristo, como Maria, mãe de Jesus, e mesmo como
se fossem o próprio Deus - esse número hoje é considerável!
João, o Evangelista, nos põe em alerta contra tais espíritos,
quando diz: "Meus bem-amados, não creiais em todos os espíritos,
mas experimentai se esses espíritos são de Deus, porque muitos
falsos profetas se têm levantado no mundo". O Espiritismo nos
oferece os meios de experimentar esses espíritos, indicando-nos as
características pelas quais se conhecem os bons espíritos,
características sempre morais e jamais materiais (1). É para esse
discernimento dos bons e dos maus espíritos que podemos utilizar
estas palavras de Jesus: "Reconhece-se a qualidade da árvore pelos
seus frutos. Uma boa árvore não pode produzir frutos maus e uma
árvore má não pode produzir bons frutos".
Julgam-se os espíritos pela qualidade de suas obras, assim
como se conhece a árvore pela qualidade de seus frutos.
(1). Ver, para a distinção dos espíritos, a 2ª parte, capítulo XXIV e seguintes de O Livro
dos Médiuns.
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS:
OS FALSOS PROFETAS
8. Se lhe disserem: "O Cristo está aqui", não o procure onde
lhe indicaram. Mas, ao invés disso, ponha-se em estado de alerta,
porque os falsos profetas são em grande quantidade.
Você não vê as folhas da figueira embranquecerem? Não vê
os brotos que surgem na época da florada? Não lhe disse o Cristo
que "reconhece-se a árvore pelos seus frutos"? Se os frutos não são
bons, você considerará a árvore como má. Se, porém, os frutos
forem bons e saudáveis, você dirá: "Nada de tão puro poderia sair
de um galho enfermo".
É assim, meu irmão, que você deve examinar o que fazem os
espíritos. São as obras deles que devem ser examinadas. Se aquele
que se diz revestido de um poder, se faz acompanhado de todos os
sinais morais próprios de semelhantes missões, ou seja, se ele revela
no mais alto grau as eternas virtudes cristãs: a caridade, o amor, a
indulgência, a bondade que concilia todos os corações; se,
confirmando as suas palavras, ele junta os atos a que essas palavras
conduzem, então você poderá dizer: "Este aqui é, realmente, um
enviado de Deus".
Desconfie, porém, das palavras muito doces e suaves.
Desconfie daqueles escribas e fariseus que pregam virtudes que não
praticam, mas trazem a aparência falsa de praticá-las. Desconfie
daqueles que pretendem estar na posse exclusiva e única da verdade!
Não! Não! O Cristo não está entre esses, porque os que Ele
envia para propagar a sua santa doutrina, e ajudar a regeneração do
homem, serão, a exemplo do próprio Mestre, brandos e humildes
de coração, acima de todas as coisas. São esses os que devem, por
seus exemplos e por seus conselhos, salvar as criaturas humanas que
correm para a perdição e que levam uma vida ociosa nos caminhos
tortuosos da existência. Os que servem com Jesus são modestos e
humildes.
Diante de todo aquele que revela um grão que seja de orgulho,
fuja desse assim como quem foge de uma doença contagiosa, porque
ele torna enfermo tudo o que toca. Lembre-se de que cada criatura
traz sob a sua cabeça, mas sobretudo no que faz, o sinal de sua grandeza
ou de sua inferioridade espiritual.
Vá, pois, meu filho bem-amado, seguindo para a frente sem
vacilações e sem segundas intenções, no caminho bendito que você
tomou. Vá, vá sempre sem temor. Afaste corajosamente tudo o
que possa embaraçar a sua caminhada para o objetivo eterno. Você
está como um viajante que só por curto tempo está nas trevas e nas
dores das provações. Se você abrir o seu coração para essa suave
doutrina, que lhe vem revelar as leis eternas, você verá realizadas
todas as aspirações de sua alma diante do Infinito.
Desde já você poderá vivenciar essas paisagens celestiais vistas
nos seus sonhos e que, por serem passageiras, alegravam o seu
espírito, mas não moravam no seu coração! Agora, meu amado, a
morte desapareceu, dando lugar aos Espíritos de Luz, que você
conhece. Esse é o espírito da luz do novo encontro e da reunião
com o Plano Espiritual Superior. Agora, você que bem cumpriu a
tarefa que o Senhor lhe concedeu, você nada mais tem a temer da
Justiça Divina. É que o Pai perdoa os filhos que se desgarraram e
que rogam por misericórdia. Que a sua divisa seja, portanto, a da
evolução, da evolução contínua de todas as coisas, até que você
chegue ao final feliz, em que o esperam todos aqueles que chegaram
antes de você aos Campos da Paz. (Luís, Bordéus, 1861.)
CARACTERÍSTICAS DO VERDADEIRO PROFETA
9. Desconfiem dos falsos profetas. Esta recordação é útil em
todos os tempos. É mais útil ainda nos momentos de transição de
valores em que, como no atual, se elabora uma transformação moral
de todos os homens. É que, nestes momentos, uma multidão
de ambiciosos e intrigantes se levantam como se fossem
reformadores e messias. É contra esses impostores que devemos
estar prevenidos. E é um dever de todos os homens honestos
desmascará-los.
Vocês perguntarão, sem dúvida, como reconhecê-los.
Vou dar-lhes os sinais de identificação.
Só se confia a direção de uma grande empresa a um administrador
hábil, capaz de dirigi-la. Vocês julgam que Deus seja menos
prudente que os homens? Estejam certos de que Ele só confia missões
importantes aos que sabem que são capazes de realizá-las. É
que as grandes missões são pesados encargos que esmagariam o
homem necessitado de sabedoria para cumpri-las.
Como em todas as coisas, o mestre deve saber mais do que
os aprendizes. Para fazer os homens avançarem moral e intelectualmente
há necessidade de homens superiores em inteligência e em moralidade.
Por isso, para essas missões, são sempre escolhidos os Espíritos já
muito evoluídos, que fizeram as suas provas em outras existências,
e que reencarnam com esse objetivo. Se esses Espíritos não fossem
superiores ao meio em que eles devem atuar, a sua atividade seria
nula.
Pelo exposto, vocês deverão concluir que o verdadeiro
missionário de Deus deve provar a sua missão pela sua superioridade
espiritual, pelas suas virtudes, pela sua grandeza de alma, pelo
resultado e influência moralizadora de sua obra. Tirem, também,
esta outra conseqüência: se ele estiver por seu caráter, por suas
virtudes, por sua inteligência abaixo do papel que se atribuiu, ou
do personagem sob o nome de quem ele se apresenta, ele não passa
de um farsante de má qualidade que não sabe nem ao menos imitar
o modelo divino que escolheu.
Outra consideração a fazer é que a maior parte dos verdadeiros
missionários de Deus ignoram-se a si mesmos como tais. Eles
realizam aquilo para o que foram chamados por força de sua
determinação, secundados pelo poder oculto que os inspira e os
dirige à sua revelia, sem que premeditem o que a missão lhes pede.
Em resumo, os verdadeiros missionários se revelam pelos seus atos e
são identificados pelas outras pessoas, enquanto que os falsos missionários
se apresentam a si mesmos como os enviados de Deus.
Os verdadeiros missionários são humildes e modestos. Os
falsos missionários são orgulhosos e cheios de si, falando com
arrogância e, como todos os mentirosos, parecem sempre temerosos
de não serem reconhecidos como missionários.
Já foram vistos desses impostores, alguns querendo passar
por apóstolos do Cristo e outros querendo passar pelo próprio Cristo.
E, para vergonha da raça humana, eles encontraram pessoas bastante
crédulas para se ajuntarem nas suas indignidades. Uma ponderação
bastante simples, no entanto, deveria abrir os olhos dos mais cegos
dos homens: se o Cristo voltasse a encarnar sobre a Terra, viria com
todo o seu poder e todas as suas virtudes, a menos que se admita, o
que seria um absurdo, que Ele houvesse regredido de suas conquistas.
Ora, do mesmo modo que se vocês tirarem de Deus um só de seus
atributos vocês já não teriam mais Deus, se vocês tirarem uma só
das virtudes do Cristo, vocês não teriam o Cristo.
Esses que se apresentam por Cristo, têm todas as virtudes do
Senhor? Eis a questão! Observem-nos, examinem as suas idéias e os
seus atos, e vocês reconhecerão que, acima de tudo, lhes faltam as
qualidades que distinguem o Cristo: a humildade e a caridade,
enquanto que lhes sobram as que Jesus não tinha: a ambição e o
orgulho.
Notem, também, que neste momento existem, em diferentes
cidades do mundo, muitos pretensos apóstolos do Cristo como
também muitos pretensos Elias, João Batista ou Simão Pedro e
que, necessariamente, eles não podem ser todos verdadeiros. Tenham
por certo que essas são pessoas que exploram a credulidade dos
mais ingênuos e que querem viver às custas daqueles que lhes dão
ouvidos.
Desconfiem, portanto, dos falsos profetas e falsos missionários,
sobretudo nestes tempos de renovação moral. É que muitos desses
impostores se dirão enviados de Deus. Eles buscam uma vaidosa
satisfação na Terra mas a Justiça Divina os espera, podem estar certos.
(Erasto, Paris, 1862.)
OS FALSOS PROFETAS DA ESPIRITUALIDADE
10. Os falsos profetas não estão somente entre os encarnados.
Eles existem, e em maior número, entre os Espíritos orgulhosos
que, aparentando amor e caridade, semeiam a desunião e retardam
a obra de emancipação dos homens dos vícios morais. Para isso,
levam muitas pessoas a acreditar em princípios fantasiosos e
absurdos, através dos médiuns que lhes dão guarida. E para melhor
fascinar os que eles desejam enganar, para dar maior importância às
suas teorias, eles se disfarçam sob nomes exóticos ou que os homens
só pronunciam com muito respeito.
São eles que semeiam os fermentos das discórdias entre
agrupamentos Espíritas. São eles que sugerem que esses agrupamentos
se isolem uns dos outros e que conflitem entre si e se olhem como
concorrentes de uma missão que não existe. Bastaria isso que fazem,
de fermentar a desunião, para os desmascarar. É que, agindo assim,
eles mesmos dão o mais completo desmentido do que dizem ser.
Cegos, portanto, são os homens que se deixam prender em tão
grosseiro embuste.
Mas há, ainda, muitos outros meios de os reconhecer como
falsos profetas. Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer,
devem ser não somente bons, mas, também, muito racionais. Pois
bem! Pensem no que eles dizem, os princípios que pregam, pela
peneira da razão e do bom senso e vocês verão o que restará de joio.
Admitam, então, comigo, que todas as vezes que um Espírito
recomenda como remédio para os males morais dos homens, ou
como meio de alcançar a sua transformação moral, coisas fantasiosas,
que não sejam meios para alcançar esse objetivo, e coisas pueris e
ridículas, ou quando formula um sistema de princípios contraditório
com as mais rudimentares noções da Ciência, esse não pode ser
mais que um Espírito ignorante e mentiroso.
Por outro lado, lembrem-se bem de que se a verdade não é
entendida por uma pessoa, ela será sempre entendida pelo bom
senso da maioria dos Espíritas. Este entendimento se constitui,
também, em mais um meio de examinar a verdade. Se dois
princípios se contradizem, vocês terão a medida do valor de cada
um desses princípios, verificando qual dos dois encontra mais
simpatia entre os Espíritas de bom senso doutrinário. Seria falta de
lógica, realmente, admitir que princípios que vêm diminuir o número
de seus participantes sejam mais verdadeiros do que aqueles princípios
que vêm aumentar o número de seus adeptos.
Deus, querendo que a verdade espiritual alcance a todos, não
iria limitá-la a um círculo restrito. Ele a faz surgir em diferentes
pontos, a fim de que, por toda a parte, a luz dos conhecimentos
divinos esteja ao lado das trevas da mentira.
Repilam, sem piedade, todos esses Espíritos que se apresentam
como conselheiros exclusivos, sugerindo a divisão e o isolamento.
Esses são, quase sempre, Espíritos vaidosos e medíocres, que tentam
insinuar-se e impor-se a homens fracos de conhecimentos e de
vontade e, também, muito crédulos. Ao derramarem-lhes exagerados
elogios, querem fasciná-los e terem-nos sob o seu domínio.
Esses são, geralmente, Espíritos desejosos de poder que, tendo
sido tiranos do povo ou da família, quando encarnados, ainda
querem vítimas para tiranizar após a sua desencarnação. De um
modo geral, portanto, desconfiem das comunicações mediúnicas que
trazem uma característica de misticismo e de coisas extravagantes ou
que prescrevem cerimônias e práticas estranhas aos princípios do
cristianismo.
Há, nesses casos, motivo legítimo de suspeitas.
Lembrem-se de que quando uma verdade deve ser revelada
aos homens, ela será transmitida, ao mesmo tempo, em todos os
grupos sérios que contem com médiuns igualmente sérios. Ela não
será comunicada apenas a este ou àquele agrupamento, com exclusão
dos outros. Nenhum médium é perfeito se estiver obsidiado. E há
obsessão clara quando um médium é apto somente para receber
mensagens de um determinado Espírito, por mais importante que
esse Espírito queira se fazer.
Por conseqüência, todo médium e todo agrupamento Espírita
que se julguem privilegiados pelas comunicações que somente eles
podem receber e que, por outro lado, se sujeitam a práticas que
inclinam para as superstições e soluções mágicas - esses todos estão,
sem dúvida aprisionados a uma obsessão muito bem evidenciada.
E, mais ainda, a obsessão se evidência quando o Espírito que domina
o médium ou o grupo se pavoneia com um nome que todos,
encarnados e desencarnados, devemos honrar e respeitar e não
permitir que seja pronunciado sem um propósito nobre.
É incontestável que, passando pela peneira da razão e da lógica,
todos os conselhos e todas as mensagens dos Espíritos, será fácil
rejeitar o absurdo e o erro.
Um médium pode ser fascinado, um grupo pode ser
enganado. Mas o exame rigoroso de outros grupos, o conhecimento
Espírita já adquirido, a alta autoridade moral dos dirigentes ativos
dos agrupamentos Espíritas, as comunicações que os principais
médiuns de todos os lugares recebam, com sinais de lógica e da
autenticidade dos melhores Espíritos, desmascararão essas mensagens
mentirosas e astuciosas, emanadas de uma turba de Espíritos
mistificadores e maldosos. (Erasto, discípulo de Paulo de Tarso,
Paris, 1862. )
(Ver, nesta mesma obra, na Introdução, o item II, sob o título
"Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos" .Veja, também,
O Livro dos Médiuns, o capítulo XXIII, sob o título "Da obsessão".)
JEREMIAS E OS FALSOS PROFETAS
11. Assim diz o Senhor Todo-Poderoso: Não ouçais os palavras
dos profetas que vos profetizam! Eles vos enganam, anunciando visões
que provêm de seu coração e não da boca do Senhor. Ousam dizer aos
que desprezam a palavra do Senhor: "A paz está convosco!" e a todos
que seguem com obstinação de seu coração: "Não vos acontecerá
nenhuma desgraça" . - Quem esteve presente no conselho do Senhor
para ver e ouvir a sua palavra? Quem prestou atenção à sua palavra e
a ouviu? Eu não enviei os profetas, e eles correram! Eu não lhes falei,
e eles profetizaram! - Ouvi o que dizem os profetas que profetizam
mentiras em meu nome, dizendo: "Tive um sonho! Tive um sonho."
Até quando haverá entre os profetas os que profetizam mentiras e os
que profetizam os enganos de seu coração? - E quando este povo, ou
um profeta ou sacerdote, te perguntar: "Qual é o fardo do Senhor?" tu
lhes dirás: "Vós sois o fardo e eu vos rejeitarei". (Jeremias, capítulo 23,
versículos 16 a 18; 21; 25 e 26 e 33, no Antigo Testamento.)
É sobre essa passagem do profeta Jeremias que eu vou lhes
centralizar a atenção, meus amigos. Deus, falando pela boca do
profeta, disse: "É a visão do coração deles que os faz falar". Essas
palavras indicam claramente que, desde aquela época até esta, os
charlatães e os vaidosos abusavam do dom das profecias e exploravam
esse dom em seu proveito próprio.
Eles abusavam, por conseqüência, da fé simples e quase cega
do povo, predizendo, por dinheiro, as coisas boas e agradáveis a
seus consulentes. Esta forma de fraude era bastante comum na nação
judaica. É fácil compreender que o pobre povo, na sua ignorância,
não tinha nenhum meio de distinguir os bons dos maus profetas. E
era sempre mais ou menos enganado pelos impostores ou fanáticos
que se diziam profetas.
Nada mais significativo que estas palavras: "Eu não enviei
esses profetas e eles se fizeram por si mesmos. Eu não lhes falava e
eles profetizavam!". Mais adiante encontramos: "Eu ouvi esses
profetas profetizarem a mentira em meu nome, dizendo: 'Sonhei,
sonhei!'. Jeremias indicava, assim, os meios empregados para explorar
a confiança do povo.
A multidão, sempre crédula, não pensava em lhes contestar a
veracidade de seus sonhos ou de suas visões. Ela achava tudo muito
natural e convidava sempre os profetas a falar.
Após as palavras do profeta Jeremias, escutem os sábios conselhos
do Apóstolo João, quando diz: "Não acrediteis em todos os
espíritos, mas experimentai se os espíritos são de Deus". É que,
entre os desencarnados, há também os que gostam de enganar,
quando deparam com ocasião favorável para isso.
Os enganados são, bem entendido, os médiuns que não se
cuidam doutrinária e moralmente o bastante para não serem presas
desses espíritos. Aí se encontra, sem contradição, uma das grandes
dificuldades contra as quais muitos médiuns vêm esbarrar, sobretudo
quando são novatos no Espiritismo. Esta é, para esses novatos,
uma prova de que não podem triunfar, a não ser quando tenham
muita prudência.
Aprendam, pois, antes de tudo, a distinguir os bons Espíritos
daqueles que são falsos e mentirosos, para não virem vocês mesmos
a se tornarem outros falsos profetas. (Luís, Espírito Protetor,
Carlsruhe, 1861.)
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