domingo, 31 de março de 2013
Casamento e divórcio - O Consolador
“Não perturbeis o que Deus harmonizou”.
Tudo o que procede de Deus é imutável no mundo. Tudo o que procede do homem está sujeito a mudanças.
Todas as Leis Divinas permanecerão sem modificações, porque são eternas, enquanto as leis dos homens não o são, pois se transformam, alteram-se, à medida que o ser humano evolui. Assim, em cada lugar e, em diferentes épocas, essas leis sofreram, sofrem e sofrerão modificações, atendendo às novas necessidades. Os ensinamentos de Jesus nos trazem esses dois esclarecimentos, mas também nos dão a certeza de que, um dia, quando essas duas leis caminharem juntas, os homens serão felizes.
Entretanto, não podemos prescindir dessas leis, porque são elas que regulam o bem-viver; são elas que estabelecem os direitos e os deveres de cada um de nós em relação aos demais; são elas que permitem a convivência social, se não fraterna, pelo menos respeitosa; são elas que regulam os interesses familiais; e são elas, por fim, que tiram o homem do estado de selvageria para a civilidade. A lei civil é útil, necessária, mas variável, enquanto a de Deus é eterna e imutável.
Isso acontece, também, em relação à união dos seres, pois os homens interpretam as palavras de Jesus, segundo seus interesses e não segundo a Lei de Deus. Jesus nos ensinou que o sentimento mais elevado que o ser humano possui é o amor e, em cada experiência evolutiva que temos mais e mais se desenvolvem os valores morais que as conquistas espirituais proporcionam nesse processo.
Assim, é com o sentimento que une dois seres: lentamente, ele vai-se afastando dos interesses da matéria, que envolvem paixões de todas as espécies, onde apenas os sentidos o movem, para um sentimento verdadeiro que não une apenas corpos, mas também almas. Nenhuma lei civil, nem os compromissos que ela determina podem suprir a lei de Amor, que deve presidir uma união, seja ela qual for. Nenhuma lei humana obrigará as pessoas a se amarem, seja entre cônjuges, entre filhos e pais, seja entre aqueles que convivem em um grupo mais amplo.
Dessa forma, a afirmação de Jesus de “não separar o que Deus uniu” só terá sentido real se juntarmos a ela a idéia de que aquilo que se uniu à força, isto é, que não procurou a satisfação do coração através do amor verdadeiro, mas somente a do orgulho, da vaidade, da ganância, da posse, do ciúme, da carência afetiva, para se livrar da família, enfim de todos os interesses pessoais, de valores ilusórios, por si mesmo se separará.
É muito importante que tenhamos a coragem de nos perguntar e responder, com total honestidade de propósitos, quais são os valores que motivam nossas escolhas afetivas, porque quando o móvel dessas escolhas é outro que não o amor, não há como sustentar essa situação. Estabelecemos, dessa forma, necessidades emocionais, sem consciência e sem responsabilidade pelas perdas futuras, que trarão, mais adiante, frustrações, desilusões quando não situações desesperadoras que podem levar, até mesmo, a atitudes criminosas.
Assim, os compromissos conjugais ou domésticos que não atenderem os desígnios superiores, ou seja, a união pelo amor, serão corrigidos e restaurados pelos princípios que equilibram a lei divina no seu devido tempo.
Há mais de mil anos essas palavras do Cristo, como tantas outras, foram erroneamente interpretadas ou interpretadas de maneira a atender apenas a interesses econômicos, políticos, financeiros ou de poder, e tudo isso ainda está gravado em nós, como se não pudéssemos, sob hipótese de estar cometendo um crime perante Deus e a sociedade, dissolver uma união infeliz que traz sofrimento para todos os envolvidos. Assim é com o divórcio que separa legalmente o que já estava separado de fato.
A idéia de que aquilo que Deus uniu não se separa é porque somente o amor verdadeiro, o afeto real de alma para alma, sobrevive à destruição do corpo, e esses seres se procuram e se encontram no mundo dos Espíritos, fortalecendo esses laços.
Isso também acontece no que diz respeito às amizades. Se, de um lado, temos as amizades interesseiras que buscam uma aproximação para usufruir as vantagens que isso possa proporcionar em que não há afinidades, espontaneidade, cujo sentimento é superficial e sem qualquer vínculo afetivo, do outro lado, temos as amizades verdadeiras, que se fortalecem com as vidas sucessivas, e que, a cada oportunidade que se apresenta, procuram reunir-se, novamente, no corpo físico, a fim de trabalharem juntas e se fortalecerem no amor, alegrando-se umas com as outras pelo crescimento que cada uma dessas almas conquistou.
Uma visão bastante interessante e que deve ser alvo de nossa reflexão é a que Emmanuel traz em Caminho, Verdade e Vida. O Instrutor Espiritual, referindo-se às palavras de Jesus: ...“Portanto, o que Deus juntou não o separe o homem”, alerta-nos para o fato de que a palavra divina não se refere apenas aos casos do coração, mas vai além. Corresponde, também, ao “não perturbeis o que Deus harmonizou”.
Assim, por mais duro que seja o dever a cumprir, ele constitui sempre a vontade do Criador e, para isso contamos com a nossa consciência, sentinela vigilante de Deus, que permanece apta a discernir o que constitui obrigação moral e o que representa, apenas, fuga disfarçada desse compromisso.
“O Pai criou seres e reuniu-os. Criou igualmente situações e coisas, ajustando-as para o bem comum. Assim, quem desarmoniza as obras divinas deve preparar-se para a recomposição”. (2)
Na Terra, hoje, existem milhões de criaturas em serviço restaurador por haverem perturbado, com o mal, o que Ele estabelecera para o bem. “Às vezes, é possível perturbar-lhe as obras com sorrisos, mas seremos, invariavelmente, forçados a repará-las com suor e lágrimas”. (2)
Bibliografia:
(1) Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Lake, Capítulos 22 e 17, item 7.
(2) Emmanuel (Espírito). Caminho Verdade e Vida, [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. FEB Editora, 17 ed., Rio de Janeiro: RJ, Lição 164.
(3) Joanna de Ângelis (Espírito). Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, [psicografado por] Divaldo Pereira Franco. 1 ed., LEAL Ed., p. 163.
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