INVEJA E COBIÇA
“A inveja é uma das mais feias e tristes misérias do vosso globo. A
caridade e a constante emissão da fé extirparão todos esses males,
que desaparecerão, um a um, à medida que se multiplicarem os
homens de boa vontade que virão depois de vós"
(SÃO LUÍS, 1858. Revista Espírita).
A inveja é um dos tristes vícios que mais causa tristeza, especialmente, em quem sente. Inveja não é cobiça. A cobiça é o desejo de querer algo que não se tem, mas, que não se incomoda que o outro tenha. Admiração é prezar o talento do outro em conquistar algo. A inveja não é nenhuma coisa e nem outra, é não querer que o outro tenha aquilo que se deseja e, que não se tem talento suficiente para conseguir.
Não existe, assim, "inveja branca" ou "inveja boa", como se costuma acreditar. Existe sim, segundo teóricos, graus de inveja: (1) leve - quando eu gosto do que você tem; (2) médio - eu quero o que você tem, incomoda-me, mas, não vivo em função disso e; (3) grave - o outro não merece ter, então, passo a viver em função disso. Este é considerado uma patologia, a qual merece maiores cuidados. A inveja não é natural, é um vício adquirido. A fome, por exemplo, é natural, o indivíduo para sua subexistência terrena precisa alimentar-se. A gula, no entanto, é uma patologia, uma doença que precisa ser tratada, pois, tem várias causas, desde a oralidade (psicologia) e, pode acarretar sérios danos físicos ao indivíduo, como a obesidade.
A inveja e tantos outros vícios são causadores de infelicidade e sofrimento. Descartes (Paixões da Alma, art. 182) define como inveja: "uma perversidade de natureza, que faz certas pessoas ficarem contrariadas com o bem que veem acontecer aos outros homens". O filósofo romano Cícero, considerou que “a inveja é a amargura que se sofre ao ver a felicidade alheia”. Vejamos o quão profundo é o ensinamento de Jesus sobre a inveja contido na parábola que se segue:
"Ao cair da tarde disse o dono da vinha àquele que cuidava dos seus negócios: Chama os trabalhadores e paga-lhes, começando pelos últimos e indo até aos primeiros. – Aproximando-se então os que só à undécima hora haviam chegado, receberam um denário cada um. – Vindo a seu turno os que tinham sido encontrados em primeiro lugar, julgaram que iam receber mais; porém, receberam apenas um denário cada um. – Recebendo-o, queixaram-se ao pai de família – dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora e lhes dás tanto quanto a nós que suportamos o peso do dia e do calor. Mas, respondendo, disse o dono da vinha a um deles: Meu amigo, não te causo dano algum; não convencionaste comigo receber um denário pelo teu dia? Toma o que te pertence e vai-te; apraz-me a mim dar a este último tanto quanto a ti. – Não me é então lícito fazer o que quero? Tens mau olho, porque sou bom?" (Trabalhadores de Última Hora, cap. XX. E.S.E.).
Provavelmente, se o patrão tivesse pago um valor menor aos trabalhadores da última hora, os da primeira não tivessem reclamado, o que indica claramente um sentimento de inveja, ou seja, achar injusto que o outro receba.
Desde cedo somos todos propensos à inveja, apenas não entendemos ou conhecemos o seu significado. Muitas vezes, confundimos com outro sentimento negativo, que também causa tristezas, o ciúme. Os irmãos brigam entre si, em muitos casos, mais movidos pela inveja do que pelo ciúme, como gostam de acreditar as mães: "é ciúme!". Logo, as mães devem estar atentas a estes vícios (ciúme ou inveja) e buscar, como ensina o Evangelho de Jesus, "cortar o mal pela raiz", através da boa educação, não a educação que torna o homem instruído, mas, a que o torna um homem de bem. Como ensina o Espírito Fénelon, livro dos Espíritos, questão 917: "A educação se bem entendida, é a chave do progresso moral".
O progresso moral é uma virtude que se conquista pelo esforço, como nos esclarece Allan Kardec: "aquele que a possui a adquiriu pelo seus esforços nas vidas sucessivas, ao se livrar pouco a pouco de suas imperfeições" (E.S.E. - Introdução). É possível vencer a inveja através da prática da benevolência, do querer bem ao outro. Jesus ensina: "Amai-vos uns aos outros" (E.S.E.).
Esclarecem os Benfeitores: "Os Espíritos que perturbam a nossa relativa felicidade, erroneamente chamados de obsessores, a fim de nos ver nivelados ao seu estado de inferioridade moral, agem pela inveja" (L.E.). Sentir prazer quando o outro perde o que se quer ter, ou, se doer de angústia pela vitória do outro é sentir-se incapaz de viver a própria a vida, resultado do egoísmo. O egoísmo é a fonte de todos os vícios: o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme que o magoam a todo instante (L.E. Q. 917). O amor é a fonte de todas as virtudes.
Eu posso controlar a minha inveja a partir do momento que passo a admitir que aquilo me incomoda. Logo, o primeiro passo para qualquer transformação é o reconhecimento de si mesmo: "Conhece-te a ti mesmo". Muitos são capazes de dizer-se prejudicado por "olho gordo" ou "mau-olhado", poucos, porém, são incapazes de reconhecer que sofrem com a felicidade do outro. Antes de culpar os outros pelo próprio fracasso, é necessário olhar para si mesmo e perceber se não é você mesmo o causador de seus infortúnios. Para combater o "mau-olhado", Jesus ensina: Vigiai e Orai. Vigiai os próprios pensamentos e as más inclinações. Maus pensamentos atraem espíritos inferiores, o bom pensamento é oração que eleva-nos à Deus e afasta todo o mal, de encarnado e desencarnados.
É possível administrar a inveja pela medida do "suficiente", não querer mais do que se pode ter, ou do que se pode ser. Trabalhe o seu próprio talento através da generosidade. Toda conquista se dá pelo trabalho, cobiçar somente não basta, é preciso esforço para se conseguir realizar. É preciso sonhar, idealizar e realizar, ou seja, acreditar no sonho e torná-lo ideal e realizável - palpável. Deus não disponibiliza os bens senão pelas necessidades, não físicas, e sim morais, de cada ser para o seu próprio aprendizado e evolução. Todos têm talento próprio, não é preciso desejar o que é do outro. Pode-se até cobiçar algo que não se tem, mas não querer tirar o que o outro tem. "Deus é justo e não condena senão aquele cuja existência é voluntariamente inútil e vive na dependência do trabalho dos outros. Ele quer que cada um se torne útil, segundo as suas faculdade" (L.E. Q. 643). Que Assim Seja!
Luz e amor!
"Toda moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinamentos, mostra essas virtudes como sendo o caminho da felicidade eterna. Bem-aventurados, diz ele, os pobres de espírito, quer dizer: os humildes, porque deles é o Reino dos Céus; Bem-aventurados os mansos e pacíficos; Bem-aventurados os misericordiosos. Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que desejaríeis que vos fizesse; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação; julgai a vós mesmos antes de julgar os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar. Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater. Mas ele faz mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente como a condição absoluta da felicidade futura". (Fora da Caridade não há Salvação, cap. XV; 3. E.S.E.)
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