Amor obsessivo
por Flávio Bastos - flaviolgb@terra.com.br
"O amor é leveza, identidade, silêncio. A paixão é incêndio, instante, furacão. A obsessão é medo, algema, solidão. O amor permite paixão. A paixão pensa que é amor. A obsessão mata os dois". (Sandra Rodrigues)
O processo obsessivo é conhecido dos espíritas em geral, e origina-se através do pensamento fixo direcionado a outro indivíduo, mesmo que este não sintonize com a energia de origem.
Os espíritas chamam a esse processo de "obsessão de encarnado para encarnado", e esse vínculo energético pode ocorrer por aceitação mútua de forma consciente, semi ou inconsciente, ou ainda, como vimos nos parágrafo anterior, de um indivíduo para outro sem que haja a sintonia propriamente dita.
É nesse último caso que ocorrem, geralmente, os processos obsessivos por amor. "Amor" em que o tempo da relação passional não se esgota em si mesmo e torna-se, com o assédio de uma das partes, uma relação doentia tanto do ponto de vista psicológico, quanto do ponto de vista espiritual.
Se nos reportarmos ao amor obsessivo - ou possessivo - por outra pessoa, encontraremos no passado, sempre as mesmas motivações do espírito-criança que não amadureceu emocionalmente e que apresenta consideráveis desequilíbrios na área da afetividade, encontrando-se ainda, fixado em traumas psíquicos do passado recente e remoto, experiências de rejeição, abandono e perdas afetivas. Sentimentos que não desaparecem com a "morte" do corpo físico e permanecem latentes no inconsciente do indivíduo, emergindo para o mental e o emocional a cada nova experiência no âmbito passional-afetivo em outra vida.
Em psicanálise, "obsessão é a idéia, afeto ou tendência frequentemente absurdas e incongruentes que irrompem na consciência e nela se instalam, ainda que o sujeito esteja ciente de seu caráter mórbido e perceba como estranhos". Portanto, sob o sígno da morbidez, tanto na visão psicanalítica como na visão espírita, instala-se no obsessor de caráter afetivo, o resultado dos sentimentos não resolvidos de seus relacionamentos no âmbito da paixão afetiva.
Diante de uma nova frustração amorosa, o indivíduo revive situações do passado, ou seja, experiências de dor e sofrimento que tenta evitar a qualquer custo... nem que este "custo" interfira no direito à liberdade de opção e até à vida da pessoa obsessivamente desejada.
Os filmes "Atração Fatal" e "Dormindo com o inimigo", conhecidos do público brasileiro, abordam com alguma dose de sensacionalismo o que ocorre nos bastidores de um relacionamento marcado pela obsessão - ou dependência - de origem afetiva.
O tratamento para este tipo de caso, que provoca sérios transtornos na vida da pessoa, deve associar o psicológico ao espiritual, com a regressão de memória como técnica investigativa para tentar interligar as experiências intervidas como fator de elaboração e consequente conscientização por parte do paciente. Portanto, jamais deve-se descartar a regressão de memória como técnica de investigação e interligação, porque o tratamento torna-se incompleto e as prováveis recaídas do paciente, uma amostra de que o processo obsessivo continua em curso pela falta de um imprescindível instrumento no método terapêutico aplicado.
As experiências passionais com prazo de validade garantido, isto é "que seja eterno enquanto dure" como sábiamente referiu-se o poeta Vinicius de Morais, servem para que o espírito vibre numa energia de nível mais intenso. E, dessa forma, desenvolva equilibradamente a sua energia passional direcionada para o potencial criativo e para o necessário estímulo na prática da caridade e do amor abrangente que eleva o espírito e apura a sensibilidade humana.
Como registrara Siddartha Gautama, o Buda, precisamos vivenciar o amor... mas jamais pelos extremos que aprisionam, e sim, pelo Caminho do Meio que liberta.
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