terça-feira, 19 de agosto de 2014

O Limãozinho

O Limãozinho

Cláudia era uma menina sempre mal-humorada que reclamava de tudo. Na escola, era chamada de Limãozinho, sem que ela soubesse. Caso contrário, ficaria ainda de pior humor.
Certo dia, na escola, suas amigas estavam sentadas à sombra de grande árvore, e uma delas perguntou:
— O nosso “Limãozinho” ainda não chegou?
— Cláudia? Ainda não! Mas com certeza vai chegar reclamando de algo — disse outra.
Deise, uma aluna nova estranhou, perguntando:
— E por que a chamam de Limãozinho?
As demais caíram na risada, e Márcia explicou:
— É que ninguém pode ser mais azeda do que Cláudia. Nada está bom para ela!
Conversando, as colegas não viram Cláudia se aproximar, e ao ouvir que falavam dela, escondeu-se atrás da árvore para escutar. Por sorte, tocou o sinal e elas correram para a classe, enquanto ela chorava.



Cláudia ficou ali, triste por saber o que as amigas pensavam dela. Uma funcionária viu-a no pátio e quis saber o motivo.
— Estava com dor de cabeça, mas já passou. Vou já para a classe — ela respondeu.
Cláudia pediu licença à professora e entrou. Caminhou até sua carteira sem olhar para os lados e sentou-se. No final da aula, as amigas foram conversar com ela.
— Você está doente, Cláudia?
— Não. Estou bem. Tive dor de cabeça, mas já passou.
— Ah! Ficamos preocupadas com você!
Séria, Cláudia agradeceu e despediu-se delas sem dar-lhes muita atenção, o que as amigas notaram. O que teria acontecido com Cláudia?!... — pensaram.
Ao ver a filha chegar, a mãe notou-lhe a tristeza e os olhos vermelhos. Perguntada, ela disse que tudo estava bem. Almoçaram. Cláudia comeu pouco e foi para o quarto. A mãe seguiu-a e viu que estava chorando. Sentou-se no leito ao lado da filha e, abraçando-a com amor, pediu:
— Conte-me por que está tão triste, filha.
— Mamãe, eu sou muito chata? Reclamo de tudo? Estou sempre azeda? — a menina perguntou.




A mãe pensou um pouco e respondeu com outra pergunta:
— O que você acha, Cláudia? Procure lembrar como tem agido, sobre os comentários que faz e suas reações com outras pessoas.
A mãe deixou a filha no quarto refletindo e foi arrumar a cozinha. Logo Cláudia levantou-se para fazer os deveres da escola. O irmão Breno comentou que o Sol estava ótimo, e que ele ia sair para brincar com os amigos.
— Deus me livre! Não suporto tanta claridade! — respondeu ela, azeda.
A mãe trocou um olhar com o filho e Cláudia percebeu. A senhora comentou:
— Então não se preocupe, filha. O noticiário avisou que vai chover amanhã.
— Também não gosto de chuva, mamãe! Fica tudo molhado e a gente não consegue nem sair de casa!  — exclamou, fazendo uma careta.
A mãe ouviu calada, depois indagou:
— Então do que você gosta, filha?
Cláudia ficou pensativa, e a mãe insistiu para saber do que ela gostava.
— Na verdade eu não sei, mamãe. Por que me fez esta pergunta?
— Reparou que está sempre desgostosa, incapaz de um comentário agradável? Não gosta de Sol, de calor, de chuva, de frio. Bem. Talvez você goste da primavera. Logo teremos as flores brotando e tudo fica mais bonito e alegre! — a mãe considerou sorrindo.
— Na primavera existe muito pólen no ar e tenho alergia, mamãe. Esqueceu?
A mãe sugeriu o outono, com suas frutas deliciosas, porém ela lembrou que nessa época havia muitas moscas e abelhas em busca das frutas. A mãe respirou fundo, e disse:
— Cláudia, o problema não está nas estações, no calor ou no frio, na chuva ou no Sol, está em você. Não está contente consigo mesma e por isso não gosta de nada. Precisa melhorar sua autoestima.
— Autoestima? O que é isso?!...
— Quando a gente se ama, se valoriza, diz-se que tem elevada autoestima.
— É que sou diferente das outras meninas, mãe.
— Claro que é! Somos criaturas únicas no Universo! Deus não criou ninguém igual a você, minha filha! Já pensou nisso? Você é única e cheia de qualidades, além de ser linda!  
— Acha mesmo, mamãe? Sempre me achei tão feia — disse a menina, surpresa, como se despertasse de um sonho ruim.
— Venha. Olhe-se no espelho, minha filha!
Cláudia olhou e abriu um lindo sorriso. Abraçou a mãe com olhos brilhantes:
— Tem razão. Eu vou mudar, mamãe! Acho que não sou boa companhia para ninguém.
No dia seguinte, Cláudia chegou sorridente e as amigas estranharam, sem entender. Márcia perguntou o que tinha acontecido, e Cláudia abriu novo sorriso; depois olhou para o alto, animada, e disse:




— Acordei e vi que o dia está lindo, ensolarado. Tudo está florido e os passarinhos cantam nas árvores. Tudo isso graças a Deus, que nos criou!... Não é ótimo?!... Então por que estão tão sérias e preocupadas?!... Ânimo, minhas amigas!   
                                                                  MEIMEI

(Recebida por Célia X. de Camargo, em 2 de setembro de 2013.)

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