A avareza não deve ser entendida apenas como um "defeito" ou uma "falha" humana a ser corrigida de modo compulsório, mas precisa, naturalmente, ser compreendida em sua origem mais profunda.
A falta de generosidade e a insensibilidade em relação às necessidades dos outros têm suas raízes numa defesa psicológica que desencadeia nos indivíduos uma ruptura na conexão entre o seu conteúdo emocional e o conteúdo intelectual.
A criatura sovina isola-se em si mesma. Nada tem importância para ela, a não ser a contenção doentia e generalizada em relação à sua própria vida interior, e não só em relação aos outros, como se pensa habitualmente. A mesquinhez pode manifestar-se ou não com a acumulação de posses materiais, como também pode aparecer como um "refreamento de sentimentos" ou um "auto-distanciamento do mundo". Como a matriz interior se fundamenta numa necessidade reprimida da pessoa que não consegue se relacionar com outras, nem mesmo delas se aproximar para permutar experiências e afetividade, ela se sente solitária e, assim, compensa-se, acumulando bens. Constrói torres e muralhas imensas para se proteger do empobrecimento que ela mesma vivencia, inconscientemente, há muito tempo - a escassez e a inibição da aproximação social e afetiva.
Cria toda uma atmosfera de autonomia por possuir valiosos objetos exteriores destinados a suprir a sensação do vácuo interior, existente na intimidade da alma humana, com uma reivindicação do desejo, cada vez maior; de possuir bens materiais. O grande fluxo de indivíduos que buscam os consultórios de psiquiatria e as clínicas das mais diversas especialidades médicas se deve a esse clima de insatisfação e de vazio existencial, que nada mais são que os frutos do egoísmo - incapacidade de se relacionar, repressão dos sentimentos de amor e de fraternidade e a inconsciência de uma vida interna e eterna.
A indiferença e a frieza emocional, a apatia e o apego patológico, bem como o distanciamento das privações dos outros são características marcantes das criaturas que alimentam uma paixão egoística pelos bens materiais. São conhecidas como sovinas, mesquinhas ou usurárias.
O trabalho interior sempre melhora a qualidade de nossa vida, pois passamos a conhecer a nós mesmos e o Universo como um todo, levando-nos ainda a um propósito cuja função é a de aprender a amar incondicionalmente.
Procuremos então viver, não como proprietários definitivos de nossas posses, mas apenas como usufrutuários de delas.
A técnica para aprendermos a amar, usando de generosidade e desprendimento, é empregarmos nossos sentimentos e emoções com equanimidade, o que quer dizer, dar-lhes igual importância ou utilizá-los com imparcialidade. A seguir, faremos breves anotações, cuja observação acurado poderá nos fornecer dados importantes para viverciarmos os sentimentos/emoções com racionalidade:
- caridade sem salvacionismo;
- humildade sem baixa estima;
- determinação sem atrevimento;
- obediência sem submissão;
- bondade sem anulação da personalidade;
- compaixão sem sentimentalismo;
- segurança sem impulsividade;
- perseverança sem obstinação;
A avareza é o produto de uma necessidade que se encontra na intimidade da psique humana. Ela tenta enfeitar ou distrair o conflito com a busca de bens perecíveis, mas nunca consegue suprir a sensação de carência íntima.
Em síntese, o altruísmo é o amor desinteressado, resultado do "enriquecimento da vida interior", acarretando a avareza é filha da "pobreza do mundo interior", acarretando uma desumanização e uma obstrução da capacidade de amar.
Hammed - As dores da alma
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