segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
O Espiritismo e a fé
Artigos Revistas
Octávio Caúmo Serrano
Convidados a falar sobre o tema acima na AME-PB, dissemos que quando nos perguntam o que de mais precioso o Espiritismo legou à humanidade respondemos que foi o conhecimento.
O Espiritismo não veio ao mundo, no tempo devido, para aplicar passes. A imposição de mãos para abençoar ou provocar a cura é uma prática bastante antiga; Jesus já a usava.
O Espiritismo não veio para combater a obsessão, porque esse trabalho é executado há séculos, com o nome de exorcismo, pela igreja católica.
O Espiritismo não veio para distribuir água fuidificada (também chamada água fluída), porque a água benta sempre esteve disponível nas igrejas.
O Espiritismo não veio para cantar, ou fazer reuniões inócuas, porque os cultos e as missas já fazem isso há séculos.
O Espiritismo também não veio para dar sopa, distribuir roupas ou alimentos, porque as assistências sociais dos governos ou particulares já se dedicam a isso há muito tempo.
O que o Espiritismo nos dá, pelo conhecimento que nos trouxe, é o entendimento de como tudo isso funciona e porque muitas vezes um exorcista não consegue êxito enquanto um passista ou um doutrinador consegue convencer um espírito a afastar-se da pessoa que sofre o assédio.
O processo obsessivo segundo o Espiritismo dá-se por uma estrada de mão dupla. Obsessor e obsesso são geralmente culpados por atos do passado que os deixam ligados por lembranças amargas. Mas aquele espírito maldoso nada mais é do que um irmão atrasado, magoado, ferido, que cultiva ressentimentos e desejo de vingança. Com a recuperação da “vítima” e sua iluminação interior ela se livrará do problema e poderá ajudar o outro a crescer também. Logo não é como o próprio dicionário Aurélio diz: “Obsesso - Indivíduo que se crê atormentado, perseguido pelo Demônio”.
No exorcismo, trata-se de simplesmente expulsar um demônio, que para a igreja é um espírito irrecuperável. Quando Sócrates, o que foi repetido por Jesus, falava de demônios é porque a palavra significava espírito e não satanás como depois a igreja convencionou chamar esses irmãos necessitados.
Quando recebemos ou aplicamos o passe e quando tomamos a água fluída, somos informados que existe um fator preponderante para que o sucesso se estabeleça. Chama-se merecimento. Curar alguém que precisa da dor ainda por mais um pouco não cumpre a finalidade. Muitos precisam do sofrimento para crescer. Só o conhecimento espírita, com base na Lei da Reencarnação, pode explicar essa faceta das misérias humanas.
Quando as casas espíritas convidam seus trabalhadores para serviços de assistência social – distribuição de alimentos, enxovais para gestantes, ajudar em abrigos para velhos, crianças e doentes desamparados – explica que o grande beneficiado é quem faz a doação e dá do seu carinho para os assistidos. Evita ter de viver na pele os mesmos problemas, o que fatalmente ocorre com aqueles que se mantêm omissos diante do sofrimento do próximo.
Por isso, desejamos lembrar que o Espiritismo, doutrina que está na Terra há pouco mais de cento e cinquenta anos, renovou os conceitos de fé fazendo-os muito diferentes dos que existiam antes dele.
Não significa que todos nós já tenhamos assimilado essa mudança. Refiro-me inclusive a nós, os espíritas, porque ao longo do tempo a fé foi confundida com religiosidade. Diz-nos O Evangelho Segundo o Espiritismo no seu capítulo XIX, item 12, que “a fé até o momento só foi compreendida no seu sentido religioso, porque o Cristo a revelou como poderosa alavanca, mas os homens só viram no Cristo um chefe de religião”.
Para o comum dos mortais, tem fé a pessoa que vai ao templo, seja qual for a sua doutrina, reza e cumpre seus deveres segundo os postulados que segue. Os espíritas fazem o Evangelho no Lar, tomam passes e usam água fluída, assistem às palestras, como diferentes manifestações de fé.
Consultando ainda o capítulo XIX acima referido, temos um comentário de Allan Kardec com base no enunciado de Mateus XVII-14 a 19. Nessa passagem, Jesus pratica um ato de desobsessão e aproveita para ensinar aos discípulos que eles não puderam fazer o mesmo devido à pouca fé que tinham. Convencemos um espírito a seguir novo caminho pela autoridade moral que mostramos e não pelas palavras que falamos. E pereniza a passagem de que basta a fé do tamanho de um grão de mostarda – dos menores que existem - para mover uma montanha. Kardec nos ensina que os grandes obstáculos para que tenhamos fé estão no campo material, quando não basta termos confiança em nós se priorizamos os interesses do mundo.
O Espiritismo nos ensina que não basta crer; é preciso, sobretudo, compreender. E a lei da reencarnação é a chave para todo esse entendimento.
Se fizermos um enquete entre cem pessoas religiosas e lhes perguntarmos se elas têm fé, todas dirão que sim. Que assistem à missa ou ao culto ou à palestra. Que oram diariamente, praticam a caridade. Mas nenhuma só se manterá firme na sua fé se um sofrimento imprevisto chegar como doença, debacle financeira, abalo do lar ou qualquer outro.
A melhor definição de fé, portanto, seria que tudo o que nos acontece está autorizado por Deus e, portanto, é bom para nós. Um cataclismo que destrói cidades e vidas atende à lei de Deus para o progresso do homem. Não acontece por acaso sem que Deus pudesse impedir. Quem compreende, resigna-se diante dos problemas, apesar de continuar sua luta; mesmo ocorrendo a morte. Afinal, o que é ela diante da vida? A vida verdadeira é eterna e nela, portanto, somos imortais!
Só o Espiritismo, entre as doutrinas cristãs, nos dá esse entendimento. Por isso dissemos no início que a maior herança que ele nos deixou foi a possibilidade de adquirirmos conhecimento. E conhecendo a verdade, como já informou Jesus, seremos livres!
Revista RIE - Setembro de 2009
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