segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SEDE PERFEITOS


Fonte: O Mestre na Educação - FEB - 6ª Edição

“Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”.

Senhor! Quão forte é esse teu imperativo! Pois, então, ser-nos-á dado almejar semelhante perfeição? Não indagas se podemos ou não podemos, se queremos ou não queremos, se a achamos viável ou inviável... Ordenas: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.
Dar-se-á, acaso, que desconheças nossa fraqueza e nossas condições de inferioridade? Tu, que és o guia e o pastor deste rebanho; que és Mestre dos ignaros pecadores; que deste provas inequívocas de conhecer o homem em todas as suas mais íntimas particularidades, certamente não te poderias enganar ao proferires aquela sentença, dando-lhe o relevo com que costumas assinalar os teus mais transcendentes ensinamentos.
Tu, que és a luz do mundo, que disseste com a força de uma convicção e de um valor que te são intrínsecos – eu sou o caminho, a verdade e a vida – frase que, no dizer de Wagner, significa – eu sou o caminho da verdadeira vida – tu não podes errar, teu verbo não tem lacuna, tua palavra não tropeça.
Não obstante, Senhor, não posso conceber que a meu Espírito seja dado conquistar a perfeição suprema; e, contudo, tu disseste: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito!
***
O espírito do homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Por isso, sempre que lhe sondamos os arcanos profundos, vamos encontrá-lo almejando o melhor. O espírito não se acomoda com o menos: quer, invariavelmente, o mais. O sofrível, o regular e o bom não lhe satisfazem às aspirações: ele deseja a perfeição. Essa sede do melhor é o incentivo que o concita à luta sem tréguas pela aquisição do bem e do belo, infinitos.
A sede insaciável de perfeição, que o espírito experimenta, constitui a prova de sua origem divina. Deus está no homem. A mediocridade jamais o contentará, quando consciente de sua própria natureza. Ele anseia pela perfeição. E, na esfera em que se agita, sente e goza os prenúncios dessa perfeição, desse ideal que o atraí como ímã irresistível, norteando-lhe o rumo majestoso da vida.
O espírito, em sua íntima natureza, é incompatível com o mal. Daí a luta com a consciência, o que vale dizer a luta consigo mesmo, luta que pôs na boca do grande Paulo de Tarso estas memoráveis palavras: “Que infeliz homem que eu sou! Aquilo que não quero, faço; aquilo que quero, isso não faço”.
A felicidade que o espírito anela só lhe pode advir da harmonia entre os seus sentimentos, vontade e ações. Sentir, querer, agir – em perfeita afinação, tal o segredo da felicidade.
Sempre que se verifica desacordo entre aquelas manifestações do Espírito, ele se sente angustiado. E donde provém a desafinação? Provém, precisamente, de ele sentir em si mesmo o reflexo da suprema bondade e da infinita beleza que ainda não possui.
A vida do Espírito transcorre através dessa porfia. Viver é lutar; vencer é gozar. A última vitória marca o inicio de uma campanha na conquista de outro ideal, algo mais nobre que o já conquistado.
E assim, sempre em novidades de vida, o Espírito marcha, impávido e radiante, de etapa em etapa, de estágio em estágio, ascendendo continuamente pela senda intérmina da perfectibilidade, em obediência ao sublime imperativo do maior expoente da verdade neste mundo: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.

***
“Tendes ouvido o que fora dito aos antigos: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se só amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem os gentios também o mesmo? Sede, pois, perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito”.
Corresponder às simpatias que nos votam, retribuir o bem que nos é feito, amar os que nos dedicam amor, é humano. Mas, Jesus jamais se conformou com o humano. De todos os seus ensinos e exemplos se conclui que ele quer o divino. E o divino manda que se ame o inimigo, que se ore pelos perseguidores, que se retribua com o bem todo o mal recebido. Procedendo assim, tornar-nos-emos filhos de nosso Pai que está nos céus, o qual derrama suas chuvas para fertilizar os campos dos justos e dos injustos e envia os raios benfazejos do seu sol para aquecer, iluminar e vitalizar os bons e os maus.
Tal o vínculo da perfeição: amor incondicional, amor como estado imperturbável do Espírito. Somos filhos de Deus. Do nosso Pai celestial temos que haver uma herança, temos que apresentar certo traço de caráter que ateste nossa filiação. Esse cunho é o amor sem intermitências e sem restrições.
“Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito” – eis o senso máximo da vida!

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