domingo, 9 de dezembro de 2012

SALVAÇÃO DOS RICOS



A riqueza, em si mesma, não é um mal; pelo contrário, pode ser uma bênção. Considerando-se os povos, basta-nos observar a situação dos países pobres em relação aos países ricos. É interessante observar que os países pobres mal cuidam de si mesmos e não têm como interferir nos assuntos alheios. Inversamente, alguns paises ricos interferem nos assuntos dos outros, face aos interesses econômicos e políticos; em razão disso (imperialismo), ocorreram, no passado, as guerras de conquistas territoriais. O continente africano, por exemplo, foi retalhado em colônias; mais recentemente tivemos as ingerências e conseqüentes guerras da Coréia, Vietinan e, atualmente, a invasão e ocupação do Iraque e daí temos o caos reinante... Tudo isso é o aspecto material, importa-nos o moral e espiritual.
Temos um trinômio: trabalho, progresso e riqueza. Numa seqüência, um leva ao outro e importa considerarmos o indivíduo inserido neste contexto.
Primeiro, o trabalho - lei natural - não é apenas imposto ao homem. "É uma conseqüência da sua natureza corporal; é uma expiação e, ao mesmo tempo, um meio de aperfeiçoar sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância da inteligência. Por isso, ele não deve seu sustento, sua segurança e seu bem estar senão ao seu trabalho e a sua atividade." (...) (1)
Segundo, o progresso - lei natural - é o resultado do trabalho, pois o homem, a rigor, não fica na inércia, consoante o movimento molecular constante em todos os corpos da natureza. "(...) O homem se desenvolve, ele mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma forma; é então que os mais avançados ajudam o progresso dos outros, pelo contato social." (2)
Terceiro, a riqueza, que normalmente é a conseqüência do trabalho e do progresso, pelas considerações iniciais, é uma bênção, porquanto, evidentemente, não fomos criados para a penúria e o sofrimento, estas são o resultado do que merecemos e podemos afirmar que ninguém está no lugar errado; ao contrário, está no lugar merecido, isto é, numa das posições sociais que merecemos ocupar.
Existem dois tipos de riqueza: de berço é aquela que o indivíduo a possui por sucessão legítima ou testamentária e de conquista, em que o indivíduo a conquistou pelo trabalho honesto ou desonesto...
"A desigualdade das riquezas não tem sua fonte na desigualdade das faculdades que dá a uns maiores meios de aquisição que a outros? Sim e não; e a velhacaria e o roubo, que dizes deles?" (...) (3)
A riqueza se traduz na propriedade de bens móveis e imóveis, enfim, tudo quanto é capaz de satisfazer às necessidades humanas; porém, somos meros depositários dos bens materiais e de nada adianta o cofre cheio e o coração vazio, visto que a verdadeira propriedade é composta pelos bens morais ou espirituais que levaremos conosco, quando partirmos para outra dimensão da vida.
O direito de propriedade - causa de dissidências sociais, políticas e econômicas - é, contudo, desde que adquirido pelo trabalho honesto, legítimo e "(...) um direito natural tão sagrado como o de trabalhar e de viver." (4)
Acrescenta-se ao direito de propriedade o seguinte:
"(...) Não há propriedade legítima, senão aquela que foi adquirida sem prejuízo para outrem." (5)
O nosso mundo, ainda, é de provas e expiações. As provas, excluindo-se as reencarnações compulsórias, nós as escolhemos objetivando o nosso progresso e, muitas vezes, a nossa escolha se torna inábil, consoante a recaída nas mesmas faltas. Parece-nos que o que mais ressalta na escolha, são as provas da riqueza e da pobreza, duas situações diametralmente opostas: daí a maior extensão do erro...

"(...) Há ricos e pobres porque Deus, sendo justo, cada um deve trabalhar a seu turno; a pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a riqueza é para outros a prova da caridade e da abnegação." (6)
Continuando com a escolha das provas, parece-nos, a priori, que a escolha da riqueza seria a melhor, porquanto vislumbramos somente o aspecto material em que nos sentimos plenamente realizados, segundo o adágio popular: "o dinheiro resolve tudo"; porém, ela é igualada à prova da pobreza, pelo seguinte:
"Qual das duas provas é a mais terrível para o homem, a da infelicidade ou da fortuna?Tanto uma quanto outra o são. A miséria provoca o murmúrio contra a Providência, e a riqueza leva a todos os excessos." (7)
A parábola do rico e Lázaro (Lucas 16: 19 - 31), magistralmente interpretada pelo nosso Cairbar Schutel, ilustra perfeitamente as provas da riqueza e da pobreza.
"Este rico (...) é o símbolo daqueles que querem tratar da vida do corpo e esquecem da vida da alma. (...) é a personificação daqueles que são escravos do reino do mundo, (...) Lázaro representa os excluídos da sociedade terrena, (...) Os Lázaros não são esses pobres orgulhosos do mundo, que não têm muitas vezes o que comer e o que vestir, mas estão cobertos com a púrpura do orgulho; não é essa gente que não tem dinheiro, mas tem vaidade; não tem palácios, mas tem egoísmo; (...) os pobres, de que Lázaro serviu de símbolo na parábola, são os que sofrem com resignação, (...) (8)
Pelos excertos acima, o rico da parábola fracassou na prova da riqueza e deu mau exemplo aos ricos; ao passo que o pobre (Lázaro) saiu vitorioso da prova da pobreza e serviu de bom exemplo aos pobres que, pelo visto, também podem fracassar como pobres...
Assim, podemos colocar a seguinte proposição em termos dicotômicos:
Temos o "rico-rico", isto é, rico de bens materiais e espirituais e o "rico-pobre", isto é, rico de bens materiais, mas pobre espiritualmente; em contrapartida, temos o "pobre-pobre", isto é, pobre de bens materiais e espirituais e o "pobre-rico", isto é, pobre de bens materiais, mas rico espiritualmente.
Sobre o dinheiro, após vários itens considerados, Bezerra de Menezes terminou a sua mensagem, dizendo:
"(...) Em suma, o dinheiro, associado à consciência tranqüila, alavanca do trabalho e fonte de beneficência, apoio da educação e alicerce da alegria, é uma bênção do Céu que, de modo imediato, nem sempre faz felicidade, mas sempre faz falta." (9)
Pelo exposto, os ricos, que observarem o proposto na presente lição, "estão salvos", desde que, também, tenham em mente o seguinte ensino de Jesus:
"(...) Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (10)

(1) O Livro dos Espíritos, questão 676;
(2) Idem, 779;
(3) Ibidem, questão 808;
(4) Ibidem, questão 882;
(5) Ibidem, questão 884;
(6) O Evangelho Seg. o Espiritismo, Cap. XVI, nº 8;
(7) O Livro dos Espíritos, questão 815;
(8) Parábolas e Ensinos de Jesus, Cairbar Schutel, págs. 105/106, 13ª Ed. O Clarim;
(9) Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier; e
(10) O Evangelho de Mateus, cap. 6, v. 21.

(as.) Julio Laurentino de Lima - juliollima@gmail.com

(Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, Dez/2007, pág. 596 - Editora O Clarim)

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