terça-feira, 18 de setembro de 2012

Individuação - Clínica PSIQUÊ


Individuação - É um dos conceitos centrais da Psicologia Analítica de
Jung. É o processo de desenvolvimento da personalidade pela diferenciação
psicológica do eu. É um processo no qual o  ego visa tornar-se diferenciado da
coletividade, embora nela vivendo, ampliando suas relações. Para se alcançar
a individuação é necessário se evitar as tendências coletivas inconscientes. A
individuação respeita as normas coletivas e o individualismo as combate. O
contrário à individuação é ceder às tendências egocêntricas e narcisistas ou à
identificação com papéis coletivos. A individuação leva à realização do  Self,
e não simplesmente à satisfação do  ego. É um processo dinâmico que passa
pela compreensão da finitude da existência material, objetiva, face  à
inevitabilidade da morte física.
Sonhos no processo de individuação
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Para Jung,  “a individuação, a realização própria, não é apenas um problema
espiritual, e sim o problema geral da vida.”
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Sem sombra de dúvida esse é o grande
objetivo do sonhar. É uma tendência arquetípica do Self, o processo de diferenciação
do coletivo. O sonho está a serviço desse processo. Por mais fragmentário que seja,
ele representa uma via de acesso às etapas daquele processo.
Os sonhos referentes ao processo de individuação geralmente ocorrem em
séries conectadas entre si, cuja interpretação isolada seria um equívoco. Eles trazem,
inicialmente, a consciência e o inconsciente em integração, sendo este alcançando
aquela, isto é, conteúdos inconscientes tornando-se conscientes. Mostram, muitas
vezes, uma situação de crise (ou lesão do  ego) e início de um processo penoso que
envolve o confronto entre o  ego e sua  sombra. Figuras bizarras e ameaçadoras são
exemplos dos receios do  ego em continuar esse processo. Símbolos da resistência  ao
confronto e dos mecanismos de defesa do  ego, surgirão como confirmação do que é
negado por ele, centro da consciência que, historicamente, tende a desenvolver-se
separada do inconsciente. Figuras do sexo oposto ao sonhador tendem a surgir como
uma necessidade de integração com a polarização oposta à consciência.
Na série de sonhos do processo de individuação não é raro o surgimento de
escadas como a simbolizar os degraus em que se dá o processo de transformação e
suas peripécias. Às vezes, a escada possui sete degraus, numa referência aos
processos alquímicos antigos.

Nos sonhos ocorrem imagens de natureza arquetípica que surgem como a
descrever o processo de desenvolvimento da personalidade, muitas vezes mostrando
a tomada de consciência da aproximação do ego com o  Self. Para alcançar esse fim,
o inconsciente produz sonhos mostrando a necessidade de lidar com conteúdos do
inconsciente pessoal primeiro, para depois se ir ao coletivo. Os sonhos onde se
atinge um ápice, um último degrau, podem significar a  necessidade de sair do
processo de conscientização do inconsciente pessoal e sinalização para o início de
uma nova etapa. Ver-se em sonhos, nos primeiros degraus da escada, significa a
necessidade de integrar alguns conteúdos infantis.
Nesse processo, é comum surgirem imagens oníricas personificadoras da
racionalidade e do intelecto, a assumir posição secundária, solicitando ao  ego dar
lugar à emoção, ao sentimento, à intuição, enfim, à função inferior da consciência.
Elas também costumam ajudar o  ego no processo de individuação, o que não deve,
porém, ser motivo para que se confie a vida aos sonhos.
O símbolo da mandala representa o novo centro deslocado do  ego, o Self. Ela
se reveste de várias formas nos sonhos: o círculo, a esfera, o quadrado, a flor, a
quadratura do círculo, etc., ou objetos que se lhes assemelhem. A mandala,
enquanto símbolo onírico,  impõe um padrão de ordem ao caos. Nos sonhos ela
representa a tentativa da psiquê de organizar os opostos irreconciliáveis. O
aparecimento de um símbolo que  represente o  Self nos sonhos, como por exemplo
uma  mandala, certamente estará trazendo à consciência algo que diga respeito ao
ego, por este ter se originado por uma necessidade daquele núcleo arquetípico. Ao
ego desestruturado, surge nos sonhos um símbolo do  Self perfeitamente definido e
constituído.
O indivíduo, enquanto vivendo o processo de individuação, terá sonhos
significativos em relação a orientação que precise. As imagens procurarão mostrarlhe a necessidade de:
1. Tornar consciente o inconsciente;
2. Dar menor poder ao ego;
3. Desligar-se das influências psicológicas parentais;
4. Tornar-se independente;
5. Diferenciar-se do coletivo aprendendo a conviver com tendências opostas e
precavendo-se das arquetípicas;
6. Eliminar projeções e enxergar as  transferências, bem como reconhecer as
personas de que se utiliza para conviver socialmente e sua excessiva valorização;
7. Perceber seus mecanismos de defesa que tentam evitar a aproximação dos
conteúdos inconscientes;
8. Aceitação de sua sombra;
9. Confrontação com a ânima/ânimus e percepção de suas projeções;
10. Dissolução dos complexos para enxergá-los e trabalhá-los;
11. Deslocar o centro orientador da personalidade do ego para o Self ;
12. Estabelecer o encontro com o Self.Os sonhos iniciais do processo costumam causar certo incômodo natural para o
sonhador. Posteriormente, passam a trazer-lhe relativa segurança.
Singularidade
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“Portanto, sede vós perfeitos como
perfeito é o vosso Pai celeste.”
Mateus, 5:48.
A busca de um significado para a Vida sempre foi a meta do ser humano. Um
sentido que lhe dê motivação e que lhe explique o porquê e para quê vive, constituise em sua maior aspiração. O Cristo assinala que ser perfeito é regra sem exceção
para todos os seres na natureza. Mas qual o sentido psicológico desse imperativo?
Estaria ele falando ao ego ou ao Espírito?
Descobrir sua própria singularidade representa uma importante aquisição na
evolução do Espírito, pois quando isto se dá, ele se depara com a liberdade de
escolha e com a certeza de que não existe bem nem mal, mas apenas aquilo que lhe
convém ou não. Até chegar a esse ponto, por força de sua imaturidade, o ser humano
comete muitos equívocos, pois não sabe efetivamente o que lhe convém ou não, para
a própria evolução.
A perfeição na Terra é fruto do consenso de conceitos entre os seres humanos.
As qualidades que ele atribuiu a Deus são fruto da percepção de si mesmo,
constituindo-se naquilo que ele sabe não possuir, mas que poderia alcançar ao longo
da sua evolução. O que Deus é, em realidade, o ser humano ainda não o sabe.
Apenas ele Lhe atribui qualidades superlativas. A perfeição, vista dessa maneira, é
uma criação humana. Isso não invalida a visão de perfeição divina que temos. Deus
é, independente de nossas pobres concepções e adjetivos.
Muitas vezes, por atribuir qualidades superlativas à perfeição, o ser humano se
frusta por não obtê-la. Persegue-a, mas não a alcança. Certamente que, além do
espaço exíguo de uma vida não ser suficiente, ele simplesmente se contenta com
poucas qualidades conquistadas, abandonando seu propósito máximo. Assim ocorre
com muitos indivíduos, nas diversas religiões e filosofias, que buscam uma
espiritualização antes de viver sua própria humanização. Pensam que, por realizar
algumas práticas religiosas ou por estar a serviço de seu credo, não necessitam viver
sua humanidade. Antes de atingir o estado que considera de perfeição, o ser humano
deve aprender a viver e conviver bem com seus semelhantes.
A muitos parece que esse estado deve ser alcançado com o objetivo de se viver
bem após a morte, isto é, na espiritualidade, esquecendo-se de que o retorno à Terra
é uma oportunidade de aprendizado. É exatamente o viver equilibradamente aqui na
carne, que capacita o Espírito para a vida espiritual. De que vale viver para ser bom


no futuro se no presente não se valoriza essa possibilidade? Seria realmente possível
ser bom após a morte se não conseguiu tal proeza enquanto encarnado?
Evidentemente que a resposta é negativa. Um dia a máscara cai e o Espírito se verá
como realmente é.
A perfeição é uma meta cujo ápice é inalcançável. Constitui-se numa busca
arquetípica do ser humano e como tal sua realização é inimaginável. Por ser uma
tendência arquetípica não é possível materializá-la, mas apenas representá-la.
O imperativo de ser perfeito nos leva a entender que se trata de algo que se
encontra como tendência a ser vivida pelo ser humano. O Cristo falava com
conhecimento de causa de quem sabia da existência psíquica das tendências
arquetípicas no ser humano. A tendência à perfeição é uma espécie de presença do
Criador na criatura. Psiquicamente, todos a temos, e ela nos exige materialização.
Realizar, ou tentar realizar a perfeição, possibilita ao Espírito, atravessando as
diversas circunstâncias e vivendo as experiências da Vida, conhecer as leis de Deus.
O Cristo falava ao Espírito. Pode-se traduzir o sede perfeitos por:  não deixe de
viver sua Vida, viva sua humanidade, viva seu processo, comprometa-se com
seus princípios, siga sua tendência divina, busque sua essência espiritual, torne -
se consciente de sua evolução, realize seu Self.
A espiritualização deve se processar enquanto vivemos a humanização. Não é
um processo isolado ou que, necessariamente, se deva vivê-lo fora do contato com a
sociedade. Pode-se, por algum período, buscar o recolhimento, o estar consigo
mesmo, para depois de refazer-se, voltar ao convívio com o semelhante, a fim de
pôr-se em prova.
O  sede perfeitos foi tomado equivocadamente como uma ordem para ser
cumprida imediatamente, no espaço restrito de uma  encarnação. É preciso que se
atente para o fato de que são necessárias muitas vidas até que se atinja a percepção
do processo psíquico que envolve a evolução. Esse processo deve ser
conscientemente vivido e compartilhado.
Precisamos ter calma em relação a  nós mesmos. Ter paciência para com as
imperfeições, sem nos acomodarmos quanto à necessidade de evoluir. Ser  perfeito,
dentre outros aspectos, é autodeterminar-se a espiritualizar-se.
Ninguém cresce sem atravessar obstáculos, nem evolui sem administrar perdas
e submeter-se ao atrito da convivência com seu semelhante, que se constitui num
espelho vivo do nosso mundo interior. Precisamos do outro tanto quanto os outros
precisam de nós. A evolução é um processo individual e coletivo ao mesmo tempo.
É um paradoxo solúvel, na medida em que percebemos a complexidade e
simplicidade simultâneas do evoluir.
A individualidade ou singularidade é a marca do Criador na criatura. A
construção da personalidade, que envolve a real percepção dessa individualidade, é
tarefa  do indivíduo juntamente com a sociedade da qual ele faz parte a cada
encarnação, com o contributo que recebe nos intervalos entre elas. A descoberta
dessa individualidade se dá na medida em que o ser humano vive no coletivo
(família, sociedade, etc.). O processo de tornar-se perfeito, em verdade, envolve o individualizar-se sem a necessidade de isolamento. C. G. Jung chamava esse
processo de  individuação, que é, dentre outras definições, o viver a sua própria
individualidade no coletivo.
O processo de individuação não se confunde com o que se chama de perfeição,
pois não pressupõe a aceitação de regras religiosas ou de uniformização de atitudes
externas. Individuar-se é realizar sua própria individualidade enquanto em
sociedade. Nesse sentido, sede perfeitos também equivale a: realize sua
individualidade, verdadeira essência divina.
Para se buscar essa individualidade deve-se discriminar primeiro tudo aquilo
que o mundo colocou em nós, isto é, o que faz parte da personalidade, mas que serve
apenas como meio de adaptação à convivência social. Após essa identificação devese buscar retirar aquilo que nos atrapalha a evolução. O que restar é nossa essência.
É trabalho laborioso e difícil de se fazer, não raro requer ajuda e, de tempos em
tempos, avaliação do processo.
Os cristãos, na sua maioria, perseguem a perfeição acreditando que ela é
alcançável após algumas práticas religiosas de fácil realização. Acreditam que, se
não a alcançam, é porque são pecadores ou imperfeitos. Justificam seus insucessos
através de sua própria condição, sem perceber que, talvez, o equívoco esteja em sua
interpretação da mensagem cristã. O Espiritismo vem propor uma nova visão do
significado da palavra perfeição, diferindo da exigência radical de tornar-se perfeito
sem o trabalho de construção interior. O Espiritismo é uma doutrina cristã mas não
adota as práticas exteriores das religiões cristãs.
Sou uma individualidade eterna responsável por tudo que me acontece e devo
aprender a viver coletivamente
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Minha felicidade se dá na convivência social, no atrito com meus semelhantes.
Sou uma singularidade eterna responsável por tudo que me acontece e encontro essa
certeza aprendendo a viver coletivamente. O ser humano só encontra sua
singularidade conscientizando-se de sua natureza coletiva.
Como vimos antes, são quatro as fases de desenvolvimento psíquico e
espiritual do ser humano: o autoconhecimento, o autodescobrimento, a
autotransformação e, por fim, a auto-iluminação. São processos, aos quais estão
sujeitos encarnados e desencarnados, independentes do grau de evolução em que se
encontrem, exceção feita aos Espíritos puros. Esses processos ocorrem ao longo das
sucessivas encarnações do espírito, porém, em escala menor e de forma embrionária,
podem ocorrer numa única existência, ainda que incompletos.
Não basta portanto autoconhecer-se e autodescobrir-se. Deve-se buscar a
autotransformação e a auto-iluminação. As duas últimas fases pressupõem a
aplicação constante de suas próprias convicções à vida social, sem impô-las aos

outros. Nelas, a sociedade passa a ser, concomitante com o próprio indivíduo, o alvo
das transformações necessárias ao progresso.
Encontrar sua própria maneira de ser, ou seja, ter uma identidade psicológica,
faz parte da evolução do indivíduo quer esteja encarnado ou desencarnado. A vida
continua e sempre exigirá o encontro do ser consigo mesmo, no corpo físico ou fora
dele. Os espíritos desencarnados, mesmo aqueles que supervisionam tarefas
espíritas, se encontram em regime de aprendizado, buscando o autoconhecimento,
bem como as demais fases evolutivas. Essa procura ao encontro do si mesmo requer
percepção do processo de evolução espiritual e de suas fases. Autoconhecer-se não
basta, pois, muitas vezes, atende-se às exigências do ego em conhecer-se e em tomar
consciência  das coisas pelo seu desejo de permanente controle. A essa fase inicial
assinalada por Sócrates no seu conhece-te a ti mesmo, do oráculo de Delfos, no
templo do deus Apolo, deverá suceder a fase das descobertas sobre os aspectos
inconscientes da própria natureza interior. Esse processo se dá necessariamente no
convívio com os semelhantes.
Imprescindível a percepção desses conteúdos íntimos, oriundos das
experiências relacionais nas sucessivas encarnações, guardados cuidadosamente por
mecanismos psíquicos importantes. Autodescobrir-se não se confunde com a mera
lembrança, mesmo que completa, de situações vividas no passado, quer de forma
espontânea ou pela regressão induzida de conteúdos reencarnatórios. É a consciência
de sua própria personalidade como resultante daquelas vivências arquivadas, o que
dispensa a exigência de relembrá-las detalhadamente.
A vida ascética, ou o isolamento social, não representa garantia de felicidade
ou de crescimento espiritual. O necessário confronto com os opostos de sua própria
personalidade se dá no convívio com os semelhantes. O indivíduo pode se isolar
para adquirir energias e disposição para aquele confronto imprescindível, como um
meio, mas não um fim. Em outras palavras, não se deve fugir do mal que percebe
em si, muito menos do que acredita existir no mundo, mas reconhecê-lo e integrá-lo
à própria vida, dada sua relatividade e inexistência absoluta.
As proibições medievais não encontram mais lugar na sociedade que aspira
crescer e evoluir, muito menos no Espiritismo que liberta. Assumir a
responsabilidade pelos próprios atos toma o lugar das proibições e vetos no
comportamento humano. Proibir é deseducar, é alienar. Estabelecer
responsabilidades é ensinar, é educar para a Vida.
As imitações de comportamentos não são mais cabíveis; o Cristo, muito menos
alguém encarnado ou desencarnado, não deve ser imitado em seus gestos e ações,
sob pena de viver-se uma vida alheia a si mesmo. Os comportamentos alheios
devem ser percebidos quanto às suas conseqüências e conveniência de serem
aplicados a quem os vê. Imitar é alienar-se; verificar sua conveniência é aprender.
Deve-se buscar a mensagem que é subjacente ao comportamento observado e, de
acordo com sua própria personalidade, exercitá-la.
O espírito encarnado, na busca de sua própria evolução, não deve prescindir de
encontrar sua autonomia no pensar, no falar e no agir. Quando agimos ou atuamos por uma imitação ou sob o comando de alguém, presente ou ausente, não devemos
pensar que já adquirimos aquela experiência em nós. Estamos apenas fazendo algo
sob a influência de condições externas. Encontrar suas motivações pessoais e agir de
acordo com os próprios princípios, é evoluir.
Cada ser humano é responsável direto e indireto pelos seus atos. Ninguém
sofre por ninguém nem atravessa processos  cármicos educativos por
responsabilidade de terceiros. Somos responsáveis diretos pelo exercício de nossa
própria vontade e indiretos pelas influências inconscientes que recebemos. A
responsabilidade individual nos coloca diante da necessidade de  adquirirmos a
maturidade e agirmos com um apurado senso de autoria de nosso destino.
Os acontecimentos de nossa vida são, em realidade, atraídos por nós, em face
da exigência da lei de Deus a que todos estamos sujeitos, no constante aprendizado
visando a evolução espiritual. Só nos acontece aquilo que precisamos atravessar para
conhecer as leis de Deus. Nesse sentido, não há acaso nem determinismo, pois tudo
passa pela escolha do próprio indivíduo de qual caminho queira trilhar, sabendo que
este lhe trará sempre aquilo de que necessita para evoluir como também por
experiências típicas do nível humano. Passamos na vida pelas provas
correspondentes ao que somos. Só conseguimos resolver algo externamente quando
internamente já estiver solucionado.
Instituições,  grupos ou mesmo a família, com lideranças autocráticas e
seguidores fiéis, se aproximam em semelhanças, àquelas que instituíram religiões
dogmáticas, que criaram uma casta de doutores e um numeroso grupo de ignorantes
ou alienados. Os dirigentes de grupos (religiosos ou familiares) devem possuir
habilidade para, por um lado, propagar a verdade coletiva entre seus liderados e, por
outro, permitir que cada um se aproprie dela, favorecendo seu desenvolvimento
psíquico e espiritual.
Quando numa família ocorre o comando autocrático por um dos cônjuges,
muitas vezes os filhos necessitarão, mais tarde, aprender por si sós, aquilo que lhes
foi imposto fazer ou pensar. A rebeldia, muitas vezes presente na adolescência, pode
decorrer, dentre outros fatores, do modelo estrutural calcado na imitação de
comportamento, inerente à forma como foram educados.
A construção do próprio eu maduro é tarefa árdua e se processa na intimidade
da consciência de cada um, constituindo-se num aprendizado inalienável e sujeito a
percalços diversos. O grande rival é o próprio indivíduo com sua tendência imitativa
de igualar-se ao senso comum.
Encontrar sua própria essência singular vivendo em sociedade e
compartilhando com seus pares suas descobertas interiores, é fundamental para se
alcançar a felicidade. Essa singularidade é, na realidade, a essência divina em nós.
A personalidade humana é dotada de um núcleo singular, que é sua
individualidade, e de aspectos plurais oriundos de sua convivência social. O
primeiro é natural e representa o selo de Deus no ser humano. Os aspectos plurais
são adquiridos e se prestam, no decorrer da evolução, a fazer chegar ao núcleo, as leis de Deus. Descobrir essa singularidade já acrescida parcialmente das leis
universais, representa um grande marco na evolução pessoal.
Mesmo aquelas ocorrências da vida que vêm de retorno por atitudes passadas,
obedecendo a necessidades evolutivas, devem ser encaradas de forma positiva, numa
perspectiva otimista. Por mais que pareçamos inocentes demais diante da vida, é
importante que sejamos otimistas e que sempre consideremos que, qualquer que seja
o resultado de uma ação consciente que vise nosso bem estar sem agredir a ninguém,
resultará num benefício para nós.
Identidade, Individualidade e Personalidade
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Podemos pensar que o espírito, o ser humano, é algo incognoscível em si,
porém quando ele se expressa (se manifesta) ele é e será sempre algo de si mesmo e
do meio no qual se apresenta. Em suas manifestações externas ele sempre revela
aspectos de sua essência mesclados a  outros do meio no qual se apresenta. Sempre
que se expresse será individual e coletivo ao mesmo tempo.
Sua identidade estará condicionada ao momento, ao resultante do acúmulo de
suas experiências reencarnatórias e à sua singularidade. Os Espíritos são distintos
não só pelas diferentes experiências ao longo da evolução como também pela
singularidade que o Criador imprimiu em cada um, no ato da criação. Naquele
momento, o Criador, sem estabelecer hierarquia ou injustiça, estabeleceu a unidade
de cada ser.
O Espírito logicamente é único em si. Não é possível haver duas coisas iguais,
pois a unidade é o fundamento do universo. A diversidade de unidades constitui uma
Unidade.
Nossa identidade se faz não apenas pelas aparências ou pelas características
intelectuais, emocionais ou sociais adquiridas ao longo da evolução, mas
principalmente pelo sentido pessoal de existir. Cada um é o que lhe constitui o
mundo íntimo, construído por sobre a base da singularidade gerada pelo Criador.
Buscar reconhecer em si a própria  individualidade, isto é, aquilo que em nós difere
dos outros, é fundamental para o crescimento espiritual.
O que distinguiu um Espírito de outro no ato da criação? A resposta não deverá
contradizer o princípio da igualdade em Deus. Ele não nos fez em série ou em
duplas. Somos singularidades divinas a serviço do próprio processo de autoiluminação.
A personalidade é a maneira singular pela qual o indivíduo responde ao meio.
A personalidade não se resume em atos comportamentais, pois é também e
principalmente a estrutura que os modela e que decide sobre as respostas a serem
dadas. Alguns atributos do espírito antes de reencarnar serão privilegiados em face


das provas a que ele se submeterá. O conhecimento prévio das provas e o meio em
que encarnará permitirá que tais atributos sejam discriminados.
O comportamento não define nem resume a personalidade humana. Ele é tão
somente um de seus componentes, visto que boa parte do que se pensa e sente não se
expressa nas atitudes. Não se pode desprezar a necessidade de estabelecer um
conceito dinâmico para a personalidade. Não só pela condição essencial do Espírito
como elemento oriundo da força criadora divina, como pela necessidade de
entendermos como resultante também da dinâmica da relação com um outro. Por si
só o Espírito não se define, visto que sua existência está atrelada à de Deus, e sua
personalidade está à de outro ser.
O desenvolvimento da personalidade, a partir da infância, refere-se à retomada
do  ego, ou melhor, à formação de um novo ego. É comum se confundir
personalidade com ego. A estruturação ou consolidação do ego  se dá por uma
integração contínua de fatores motivacionais, emocionais e cognitivos internos. As
características do  ego não englobam os aspectos pertencentes à personalidade. A
formação dela  transcende os limites de uma existência e nela estão inclusos os
conteúdos inconscientes. O ego é apenas uma forma dinâmica e funcional da
personalidade se manifestar.
O que chamamos de personalidade não é o Espírito em si, visto que ele não
apresenta a gama de sensações, emoções, pensamentos, idéias e sentimentos
existentes na totalidade que engloba também o corpo e o perispírito.
Muitas são as possibilidades da personalidade encarnada. Em si, o ser contém
as potencialidades divinas e a capacidade de desenvolvê-las. Por conta da cultura e
da sociedade nos privamos de manifestar tudo de bom que encerramos em nós
mesmos. Acostumamos a projetar nossas melhores qualidades e potenciais em
figuras que as apresentaram, acreditando, por vezes, que só elas as possuem. O que o
outro possui existe potencialmente em nós. É dever de todo ser humano ir à busca do
que realmente é.
A individualidade é o próprio Espírito com suas aquisições das leis de Deus.
Ela independe do corpo físico e do perispírito, pois é o rótulo de Deus na Natureza.


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