domingo, 16 de setembro de 2012
Eu ou Ego - texto da Clinica Psiquê
ÿ Ego
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. É o sujeito da ação consciente. Num certo sentido é o primeiro
complexo a se formar na consciência, sendo seu centro. Estrutura-se a partir
do inconsciente e é, muitas vezes, confundido com o centro organizador e
diretor do aparelho psíquico. Conhecer a si mesmo não é conhecer o eu ou
ego, que só conhece seus próprios conteúdos, mas, também, aquele centro
organizador. O processo de desenvolvimento da personalidade, a
individuação, consiste em diferenciar o ego de suas estruturas arquetípicas
auxiliares. O ego, o Self (centro organizador da psiquê) e o ego onírico (o eu
dos sonhos) são instâncias psíquicas diferentes. O ego se baseia no arquétipo
do Si-Mesmo, sendo, de certa forma, seu agente no mundo da consciência.
Desarme do ego
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“Senhor, quando foi que te vimos com
fome, com sede, forasteiro, nu,
enfermo ou preso, e não te
assistimos? Então lhes responderá:
em verdade vos digo que sempre que
o deixastes de fazer a um destes mais
pequeninos, a mim o deixastes de
fazer.” Mateus, 25:44 e 45.
A palavra salvação, colocada por Allan Kardec, como título do capítulo XV de
O Evangelho Segundo o Espiritismo, merece uma interpretação adequada ao que
queremos demonstrar, pois ela tem um sentido mais psicológico que religioso.
Salvar-se não se refere, necessariamente, a uma ameaça externa, nem tampouco a
uma atitude para com o semelhante. Não há ameaça grave nem abismo a que o ser
humano esteja ameaçado de cair, muito menos um inimigo contra o qual deva se
precaver sob pena de perder a Vida. A salvação compreende a adoção de um estado
de consciência que disponibilize a mente para a captação do mundo como ele se
apresenta, isto é, sem os filtros impeditivos das defesas do ego. Salvar-se é
predispor-se a viver a Vida sentindo suas conseqüências com maturidade e
equilíbrio, quaisquer que sejam elas.
A salvação diz respeito a uma mudança de atitude psíquica. Trata-se de
estabelecer um estado de espírito que possibilite a apreensão das leis de Deus sem os
1
NOVAES, Adenáuer. Mito Pessoal e Destino Humano. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2005,
p. 251.
2
NOVAES, Adenáuer. Psicologia do Evangelho. 2. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 1999, p.
90-93.medos e os receios impregnados nos mecanismos de defesa que normalmente o ser
humano adota frente à Vida e perante aquilo que desconhece. O ‘inimigo’, por assim
dizer, é oculto, interno, inconsciente, e age sutilmente nos escaninhos da mente
humana. A salvação compreende a necessidade de aprender a lidar com esse inimigo
interno, correspondente à sombra pessoal.
Por outro lado, a afirmação de que fora da caridade não há salvação supõe que
não existe outro estado possível. É determinante que se aja daquela forma sem a
qual não se alcança o que se pretende. Nesse sentido, a caridade não é tão somente
uma atitude externa ou um ato isolado. É também um estado de espírito, uma atitude
psíquica. Uma predispõe a outra atitude mais elevada.
A caridade é um meio, como uma ponte que nos leva de um lugar a outro, sem
os perigos de se cair no abismo. Não se trata de uma atividade externa, como um
compromisso social ou uma regra decorrente de um preceito religioso. Pode-se até
iniciar-se a compreensão de seu significado pela prática externa, mas isso não
garante alcançar seu sentido real. O exercício da caridade, como de qualquer
atividade humana, leva à consolidação de seu sentido oculto. Em paralelo à prática,
deverá ocorrer a internalização da mensagem significante, intrínseca à experiência.
Num sentido psicológico, a caridade elimina as projeções, pois me possibilita
enxergar o outro naquilo em que ele necessita e não no que desloco de minha
personalidade e projeto nele. Doar algo a alguém é desprender-se de si mesmo
vendo o outro como ele é. É não projetar sua sombra no outro. Ela, a caridade, leva
o indivíduo a sair de si e a perceber o outro no momento evolutivo em que se
encontra, permitindo que aquele que a exerce saia dos limites de seu ego e vá na
direção do Self próprio e do outro.
Esse deslocamento na direção do outro não se trata apenas de uma ação, mas,
principalmente, de um sentimento; um estado de ser interior, de sentido de
desprendimento. Esse estado psicológico predispõe o indivíduo à percepção de si
mesmo, pois o coloca em contato com a sombra do outro e, conseqüentemente, com
a sua própria, face à vontade de prestar auxílio.
Praticar a caridade pode ser apenas estar caridoso, isto é, realizar uma tarefa
como outra qualquer. Quando se trata de um estado de espírito, o indivíduo é
caridoso, isto é, trata-se de um traço de sua personalidade. Passar de um estado a
outro requer, além de outros aspectos, conhecimento de si mesmo. Ser caridoso é
entrar em contato com sua essência divina, com o Self, cujo sentido básico é a
organização psíquica para o contato com Deus.
Aquele estado favorece o caminho para a dissolução dos complexos enraizados
no inconsciente, pois inibe as reações defensivas do ego. Quando se atua
caridosamente, de acordo com um sentimento interno, vence-se a barreira que
impede a conscientização dos complexos. O sentimento de caridade permite o
desarme defensivo do ego e a utilização demasiada das personas, isto é, das
máscaras.
A atitude caridosa que atende somente a regras externas atua de modo
contrário, ou seja, inflacionando o ego com sentimentos de vaidade e orgulho. Por mais que ajude o outro, a caridade aparente pode funcionar como um disfarce para a
satisfação dos desejos de reconhecimento e destaque daquele que a pratica. Por
outro lado, ser caridoso para com os demais pode significar uma fuga das próprias
questões, de modo a não entrar em contato com sua sombra, evitando curar-se a si
mesmo.
O sentimento de caridade, complementado pela ação caridosa, diminui o poder
do ego estimulando o processo de desenvolvimento espiritual. Psiquicamente, o
indivíduo consegue melhor elaborar seus conteúdos inconscientes bem como
aqueles conscientes que impedem a percepção de si mesmo. Esse sentimento
provém do Espírito e se torna consciente com o exercício constante e persistente da
ação caridosa.
Somos naturalmente condicionados a atitudes externas de acordo com o senso
comum oriundo da educação, da cultura e da convivência, o que nos torna seres de
ação movidos pelo coletivo. É possível perceber que, face à existência da
individualidade, há motivações singulares, nascidas da essência espiritual de cada
um, porém as tendências coletivas são poderosos guias da Vida do ser humano. O
exercício da caridade, bem como o cultivo do sentimento da caridade, conseguem
reduzir o efeito dessa tendência natural a viver o coletivo. A caridade inibe as
tendências coletivas, arquetípicas, que nos impulsionam para longe de nós mesmos.
Essas tendências não são de todo prejudiciais. Se de um lado, nos distanciam do
alcance da nossa realização pessoal, de outro, porém, nos colocam em condições de
viver em sociedade.
As relações sociais naturalmente geram tensões, disputas e diferenças,
colocando o ser humano em constante embate entre sua individualidade e as
exigências do mundo. Ora ele afirma sua individualidade, ora ele busca sua
identidade com o grupo social de que faz parte. O alívio dessas tensões significa o
encontro consigo mesmo e a paz com o mundo. A caridade proporciona a necessária
identidade com o mundo por trazer consigo a empatia nas relações com o próximo.
Ela permite a identidade com o semelhante de tal forma que o indivíduo se sente uno
com o outro, igualando-se a ele na sua necessidade. Psiquicamente diminui as
barreiras que provocam tensões e elimina as vaidades do ego, aproximando as
pessoas umas das outras.
Estar em paz é garantia para o equilíbrio psíquico, previne os acessos abruptos
do inconsciente e inibe as obsessões. Nesse estado, o indivíduo entra em contato
com os Bons Espíritos, favorecendo sua motivação para viver. Semelhante estado se
alcança com a vivência da caridade. Ela promove o bem estar psíquico preparando a
mente para vencer as investidas persistentes dos conflitos oriundos das vidas
passadas enraizados no inconsciente. A “fina camada” que separa a vida consciente
da inconsciente, onde se encontram as experiências esquecidas da atual encarnação e
das vidas anteriores, permite a passagem, para o aprendizado do Espírito, dos
complexos afetivos oriundos de antigas situações dolorosas. Essa influência
constante do passado sobre o presente é amenizada pelo sentimento de caridade, que
age como um filtro, atenuando os efeitos sobre a vida consciente.A ação da caridade sobre o próximo é uma terapia fundamentada no amor que
atinge principalmente aquele que a executa.
Eu ou ego
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Chamo de eu ou ego a representação do Espírito no mundo externo. Ele é, de
um lado, a síntese momentânea da personalidade integral, do outro, uma função que
permite a ligação da consciência com os conteúdos conscientes. Através dele o
Espírito se realiza, transformando milhões de anos de evolução na efemeridade de
um instante. A existência do ego é fundamental ao Espírito, visto que sua
manifestação direta no mundo sem esse intermédio tornar-se-ia impossível dada a
natureza de sua essência.
Segundo Jung, o ego é o sujeito da consciência e surge constituído de
disposições herdadas e de impressões adquiridas inconscientemente. Jung também
considerava o ego um complexo. Creio também que o ego, por representar o Self,
também traz um modelo dele oriundo.
É a consciência emprestada ao mundo pelo Espírito, dando-lhe a feição
material. Torna-se sua manifestação de identidade ao se apresentar ao mundo.
Mesmo durante o sono, nos estados de coma, na idade infantil, ele está
presente, ainda que temporariamente inibido. No sono, face ao entorpecimento do
corpo, ele se encontra mais livre dos condicionamentos da matéria carnal. Nos
estados de coma, bem como no período de preparação reencarnatória permanece
vigilante em face da possibilidade de deixar ou entrar no corpo. Na criança, logo
após o nascimento, inicia-se nova fase de agregação de valores, emoções,
conhecimentos e experiências para a estruturação de um novo ego.
A formação do eu ou ego é uma exigência evolutiva imprescindível à aquisição
das leis de Deus. Sem essa estrutura funcional é impossível a percepção da
singularidade do Espírito. É com o ego que o espírito se realiza e apreende as leis de
Deus.
A cada nova experiência reencarnatória, quando ainda criança, por força da
convivência social, a psiquê vai formando uma identidade pessoal que permite o
aparecimento do ego. As fases estabelecidas por Piaget para o desenvolvimento
cognitivo, sinalizam para a maturação de estruturas psíquicas, portanto
perispirituais, no processo de aprendizagem. A primeira fase é a sensório-motor, na
qual há o predomínio das sensações e imagens e pressupõe a assimilação por
repetição dos estímulos ambientais. A segunda fase é a pré-operatória, na qual há o
domínio dos símbolos e o desenvolvimento da linguagem e dos sentimentos
interpessoais. A terceira fa se é a operatório-concreto na qual há o domínio de
classes, de números e o pensamento lógico se estrutura. E, por último, a fase
operatório-formal, na qual estrutura-se o pensamento abstrato. Essas fases
3
NOVAES, Adenáuer. Psicologia do Espírito. 2. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2004, p.
99-101.descrevem de forma lógica como as capacidades latent es do Espírito, já estruturadas
no perispírito, alcançam a vida consciente, porém se referem necessariamente à
formação do eu. Elas não se referem às capacidades do espírito.
Sua estruturação se inicia a cada nova encarnação e desencarnação, visto que,
sempre que a realidade externa muda radicalmente, ele se apresenta como recurso do
Espírito para o necessário aprendizado.
O corpo faz parte do eu ou ego enquanto este se sentir identificado com aquele.
Por conseguinte o ego se auto-estrutura contraindo-se ou se expandindo. Pode-se
afirmar que o corpo é uma extensão da consciência.
Antes de transcender o ego ou mesmo de tentar anulá-lo, devemos pensar em
conhecê-lo, estruturá-lo, e, se for o caso, redefini-lo. É equívoco pensar em
renúncias e desapego para quem ainda não conseguiu, por motivos diversos, da atual
ou de outras encarnações, estruturar adequadamente seu ego.
O ego estabelece o domínio do tempo e do espaço. Por causa dele existe
passado, presente e futuro. Não há tempo no domínio do Espírito. Da mesma forma,
o ego delimita um espaço. Para o Espírito não há espaço, mas apenas existência.
A entrada no corpo, físico ou perispiritual, desloca a consciência do Espírito
para o ego. A matéria atrai o Espírito à semelhança de um imã sobre um metal.
O ego é um portal de acesso à zona consciente e elo de ligação psíquica da
matéria com o perispírito. Por ele transitam experiências do campo da consciência,
desde aquelas que são captadas diretamente pelos sentidos até as que são devolvidas
do inconsciente.
O acesso do ego aos conteúdos do inconsciente gravados no perispírito, bem
com às leis de Deus já conquistadas pelo Espírito é automático e não depende da
suspensão da consciência, porém nunca é direto, visto que eles são guardados no
formato de símbolos conectados emocionalmente. O ego trabalha de forma linear e
seqüencial, portanto numa freqüência incompatível à existente no perispírito. O que
ocorre é que o acesso nem sempre é desejado, porém a influência dos conteúdos é
constante.
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