“O homem tem duas almas: uma que olha de dentro para fora e outra que olha de fora para dentro”.
(Machado de Assis)
Carl Gustav Jung, médico suíço, psiquiatra e criador da Psicologia Analítica, viveu de 1875 a 1961. Possuía visão holística do homem, isto é, via a relação das partes com o todo e não só das partes entre si, visando administrar essas partes para alcançar a totalidade. Essa é a busca do que ele chamou de “processo de individuação”, que podemos ver descrito em imagens e diferentes etapas nos contos de fada, nos mitos, nos sonhos, etc. Para Jung, nascemos “self” (= totalidade), mas para nos adaptarmos socialmente vamos nos afastando dele, criando máscaras (= personas) e é no processo de individuação, que dura toda a nossa vida, que cada um pode “vir a ser o que o indivíduo é de fato”, chegando novamente à esse “self”. É no processo de individuação que nós vamos nos diferenciando e desenvolvendo.
O passo preliminar desse processo é o desvestimento das falsas roupagens da persona. A palavra “persona” significa “expressar-se através de uma máscara” e vem do teatro grego pois, para os antigos, persona era a máscara que o ator usava segundo o papel que ia representar.
Segundo Jung, para estabelecer contatos com o mundo exterior e adaptar-se às exigências do meio, assume-se uma aparência artificial que não corresponde ao ser autêntico. Esta aparência seria a persona (na verdade, usamos várias personas, segundo Jung).
Podemos ver as personas como fachadas criadas de acordo com as convenções coletivas, quer no vestir, no falar ou nos gestos: persona de professor, de médico, de militar, etc.
A persona é um sistema útil de defesa, mas, quando é muito valorizada, o ego consciente pode fundir-se com ela e o indivíduo ficar reduzido aos seus cargos e títulos, isto é, à sua casca de revestimento. Dessa forma, ele se afasta do seu “self”, que representa suas verdadeiras potencialidades.
Segundo Jung, existe uma oposição entre os arquétipos (carga com a qual nascemos) da persona e da sombra. A “sombra” representa a parte de nossa personalidade total que nos causa repugnância. O excesso de “persona” pode reprimir totalmente a “sombra” e esta, então, é projetada, gerando injustiças e preconceitos como, por exemplo, a discriminação racial (projeção da sombra coletiva).
Um exemplo da oposição Persona X Sombra, é o personagem com dupla personalidade do romance “O médico e o monstro”, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, onde o primeiro é o médico sensível e bondoso – persona - e o segundo um monstro insensível e criminoso – sombra -, representando os dois lados (polaridades opostas) da mesma pessoa.
A esse respeito, Jung dizia: “Tenha a doçura das pombas, mas também tenha a astúcia da serpente”.
Persona é:
- o falso “eu”
- máscara
- sedutora
- proteção necessária (não ter persona é ficar kamikaze na vida)
- expansão
- ferramenta na nossa estruturação egóica
- arquético da adaptação social
- pseudoego: faceta externa de adaptação do ego (no início o ego se encontra na persona, formada para atender à expectativa dos pais)
- compromisso do ego com o mundo externo (identidade social)
- como a pessoa é perante a sociedade
- desempenhar um papel social
- parecer isto ou aquilo
- compromisso entre o indivíduo e a sociedade: nome, título, ocupação, etc.
- atitudes em relação ao mundo
- imagem de si mesmo apresentada ao mundo
- mediadora entre o ego e o meio externo
- cartão de visita
“A barba não faz o filósofo”
(Plutarco)
A persona pode ser mais genuína ou pode ser pura representação e aparência (falsa e mal intencionada). A persona genuína pode ser, por exemplo, um papel que você desempenha vindo de dentro – exemplo: o de neta, o de professora etc – e, nesse caso, é sincero e pode estar ligado a um arquétipo – por exemplo: a persona de neta respeitosa diante da “velha sábia”.
A persona expressa-se em imagens de roupas, uniformes, máscaras, nudez, transparências, estar descalço, etc. Por exemplo: um professor que sonha estar dando aula nu – este sonho pode ter, a princípio, dois significados opostos: ou ele está exposto demais, precisando se preservar e firmar seu papel (persona) de professor, ou está usando máscara demais de professor e, por isso, precisa se expor mais.
O grupo social/profissional pressiona para que o indivíduo assuma valores impostos de fora para dentro. A originalidade não é bem acolhida e o padrão de normalidade pode abafar as manifestações criativas.
“Em benefício da imagem ideal, à qual o indivíduo aspira moldar-se, sacrifica-se muito de sua humanidade”.
(Jung)
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