quinta-feira, 19 de maio de 2011
A homossexualidade
por Flávio Luiz Gomes Bastos - flaviolgb@terra.com.br
O tema homossexualidade é sempre um tema polêmico, controverso. É difícil analisar o comportamento homossexual somente através da ótica científica, ou até mesmo pelas visões filosófica e religiosa. Porque, normalmente, o conceito vem acompanhado de estígma ou de preconceitos historicamente culturais.
No entanto, não podemos fugir a essa pequena verdade inserida em um oceano de outras pequenas verdades que formam o complicado universo do comportamento humano. Não podemos, simplesmente, esconder a cabeça em um buraco e não "ver" que, para muitos indivíduos, a tendência homossexual representa um drama íntimo carregado de conflitos e incertezas.
Tenho, ultimamente, recebido alguns e-mails que abordam esse tema. São pessoas que, aflitas, buscam esclarecimento para as suas dúvidas ou conselhos que possam ser-lhes úteis. Escolho uma mensagem que chamou-me especial atenção pelo seu conteúdo revelador de grande sensibilidade humana: "Espero receber conselhos..." Ao responder-lhe, pela proposta de estudo a seguir, respondo também a todos aqueles que me escreveram.
Meu amigo, comecemos o nosso estudo com um longo questionamento: Quantas são as combinações possíveis entre um homem e uma mulher? O que é que pesa em nossas trocas? Na verdade, o que é ser homem ou mulher? Será que as relações entre as pessoas não valem mais do que o cumprimento dos papéis sexuais pré-estabelecidos?
E busquemos as respostas, a começar pela psicologia através da visão da psicóloga clínica Rosa Helena Azeredo, em "Identidade Sexual". Ela nos diz: "Influenciados que somos a nos comportar conforme o padrão homem ou mulher, desprezamos a riqueza de nosso mundo interior. Negamos o nosso "eu" genuíno, a nossa verdade, na qual "ser" é poder coexistir homem ou mulher em nuances harmoniosamente conjugadas. Abandonamos nosso ser-pessoa para vivermos os modelos impostos de homem e de mulher. Sofremos diante do abismo que se cria entre o ser interno e o ser externo, e nos torturamos quando percebemos que nosso mundo interno não se identifica com os modelos aceitos pela sociedade.".
E continuamos a questionar: Podemos mudar alguma coisa? Se podemos, por onde começar? Será que esses papéis sexuais, que acabam expressando a identidade pressupostamente assumida pelo indivíduo, podem ser diferentes? Rosa Helena responde: "Os papéis sexuais vêm se modificando, assim como a sociedade e seus valores, a cultura, o ser humano e suas necessidades. As transformações são evidentes e somos ao mesmo tempo agentes e pacientes dessas mudanças. Tudo muda, tudo se transforma, e ninguém consegue permanecer estático no transcorrer do tempo. Os estereótipos têm se modificado, como também a força que exercem sobre as pessoas".
Contudo, os estereótipos são importantes e têm uma função. Eles podem ser considerados um fator de manutenção da sociedade: "Os estereótipos culturais, inclusive os sexuais (as definições da sociedade acerca do que significa ser homem ou mulher), constituem a cola que mantém junta a sociedade. São esses estereótipos que personificam os acordos gerais que possibilitam a cooperação entre um grupo de pessoas". (John Money)
E continua com uma constatação: "Com isso, não estamos afirmando que devemos mantê-los intactos e rígidos. Os estereótipos são necessários, mas como tudo muda, eles também devem mudar. Nossa época, mais do que nunca, exige maior abertura e flexibilidade. Vivemos um momento em que as transformações acontecem muito rapidamente e padrões rígidos nos distanciam da evolução dos tempos".
E conclui com uma certeza: "Nosso grande desafio é ajudar nossas crianças a entender e construir suas identidades sexuais. Para isso é preciso manter o mais elástico possível os padrões culturais desse processo de construção de identidade. Agindo dessa forma, poderemos construir uma sociedade mais humana e íntegra, na qual as pessoas poderão ser aceitas em suas singularidades. Dessa forma, estaremos valorizando o que nos deve ser mais caro: as trocas entre as pessoas, as relações de afeto e a complementaridade entre os seres".
Por outro ângulo de visão da sexualidade humana, pela ótica espírita, a segunda referência para o nosso estudo, a energia sexual jamais deverá ser aniquilada, seja por imposição religiosa, seja por trauma psicológico, podendo, contudo, ser transmutada agenciando as grandes construções do espírito na escalada da evolução.
O espiritismo apresenta a sexualidade despida da conotação religiosa dogmática que consagrou o sexo pecaminoso, sujo, proibido e demoníaco; todavia também não legitima a postura da sociedade comtemporânea que forjou o sexo objeto de consumo vulgar. A perspectiva espiritista é da energia criadora, que necessita estar balizada pela razão e sentimento, pelo respeito e entendimento, pela fidelidade e amor, a fim de engendrar a plenitude e a paz. Um sexo para a vida e não uma vida para o sexo.
Segundo Emmanuel, fora disso é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra de sublimação pessoal tantas vezes quantas se fizerem necessárias, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um.
O espiritismo resgata a visão crística da sexualidade bem definida no célebre encontro com uma mulher: "...disseram a Jesus: Mestre, essa mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Jesus levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a pedra. Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém senhor? Então lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno, vai e segue o teu caminho".
Cristo, ao indagar por três vezes se Pedro o amava, nos permitiu refletir simbolicamente sobre o amadurecimento do nosso potencial afetivo-sexual. E, conforme o médico e terapeuta Alberto de Almeida, didaticamente situaríamos em três níveis esse crescimento:
a) O primeiro traduz um amor infantil caracterizado pelo apego, desejo e posse; é a paixão egóica; o sexo é instintivo, egoísta, "para mim".
b) O segundo revela um amor adulto que experimenta o carinho, a solidarização; o ego está bem estruturado; o sexo é sentimento, partilha, "comigo".
c) O terceiro descortina um amor sábio, expressando desapego, renúncia, sacrifício; há a transcendência do ego; o sexo é sublimação, doação, "a partir de mim".
Concluindo o nosso estudo, chegamos à síntese de que a proposta da moderna sexualidade é a da compreensão amorosa e educativa do ser humano, ou seja, nem apedrejamento, nem conivência culposa; nem julgamento arbitrário, nem a omissão da indiferença. Buscamos, simplesmente, através da compreensão do direito à liberdade de escolha sexual de cada ser, a aceitação de sua verdade interior genuinamente manifesta.
Fraterno abraço!
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