Todos nós somos águas da mesma Fonte, mas corremos momentaneamente em leitos diferentes.
Infelizmente, a maioria de nós porta-se como um barco desgovernado, à mercê dos vendavais e dos rochedos, por não ter a âncora necessária quando os ventos sopram e as ondas se avolumam.
Não acreditamos estar nas mãos de Deus. Sentimo-nos isolados, fora do contexto universal. Não acreditamos que cada coisa permanece em seu devido lugar e que tudo tem um fim providencial. Não possuímos uma visão detalhada da sequência do desenvolvimento da vida sobre a Terra; vemos o mundo desconectado do todo, porque nossa percepção interior está desmembrada da Inteligência Cósmica.
No Universo, não há nada que esteja desvinculado da sabedoria das leis divinas ou naturais. Tudo que existe está de acordo com a Ordem Celestial, e cada um de nós faz parte de um plano específico de Deus.
Em tudo existe uma relação de coerência, uma conexão ou união; são texturas de uma única rede universal. Os fios dessa rede astral são tecidos e revigorados pela energia divina, que está em nós e em todos os lugares. Somos ainda impotentes para perceber todas as linhas invisíveis que tecem a nossa existência.
A ilusão de que vivemos separados afasta-nos da cosmovisão e nos transforma nos principais adversários da vitalidade do planeta. A separação e a fragmentação de tudo e de todos são crenças distorcidas que se disseminaram como "verdades" no seio da humanidade. Todos somos filhos da "Alma do Universo"; fazemos parte de um maravilhoso entrelaçamento divino.
Tudo é transição na Natureza, pelo fato mesmo de que nada é semelhante e que, todavia, tudo se liga. As plantas não pensam e, por conseguinte, não têm vontade. A ostra que se abre e todos os zoófitos não pensam: não têm senão um instinto cego e natural."¹
Observemos a expressão acima - "tudo se liga"; ela nos dá exatamente a ideia do Uno que se revela - o Ser, nos seres; o Invisível, no visível; o Criador, nas criaturas.
Ninguém hoje ignora que o homem é um mamífero, nem que possui um parentesco milenar com a denominada "criação animal". Até um século atrás, seria uma imperdoável heresia incluir os seres humanos na teoria da evolução das espécies.
As semelhanças entre o homem e outros mamíferos tornam-se cada vez mais evidentes à medida que a ciência os estuda e os compara com diferentes espécies. A maioria dos intelectuais reconhece hoje que somos o resultado de uma secular cadeia evolutiva que também deu origem aos demais seres vivos - animais e vegetais.
Se bem que, na atualidade, muitas pessoas ainda creiam que a Terra foi criada em seis dias e que toda a flora e toda a fauna foram feitas por Deus, em benefício físico, entretenimento e deleite espiritual da espécie humana.
No mar, podemos reconhecer a imensa "pirâmide da vida", o fio místico ou o elemento misterioso que nos envolve amorosamente com tudo. Não estamos sozinhos! Debaixo da agitada e constante movimentação do oceano reina em suas profundezas uma serena tranquilidade. É possível dirigir-nos para lá, de forma silenciosa, usando nossa vontade e nosso pensamento, a fim de restabelecermos nosso "elo perdido" ou buscarmos a nossa tão almejada paz interior. Por meio desse constante exercício de reflexão ou meditação, abandonamos a turbulenta superfície do mundo exterior e reencontramos a "ligação" com a Natureza.
Os escritos místicos de todas as eras sempre nos alertaram de que a humanidade fracassaria se não compreendesse essa realidade - somos unos, somos todos irmãos. Todos nós somos águas da mesma Fonte, mas corremos momentaneamente em leitos diferentes.
De todas as criaturas da Natureza, o ser humano é o único que se questiona ininterruptamente sobre a própria identidade. De fato, pertence à humanidade - gerada há milênios na noite dos tempos - a destinação de reconhecer a si mesma, emergindo gradativamente da inconsciência em que se encontra para a elaboração da própria consciência. Dessa forma, o grandioso destino do homem é desvendar pouco a pouco a perfeição dos ciclos naturais dos quais ele faz parte, desenvolvendo seus dons intransferíveis e tornando-se cada vez mais consciente de que não está desligado da destinação de seus semelhantes. Todas as existências são interligadas, tendo como desígnio o progresso e o bem de todos nós.
Certas plantas, tais como a sensitiva e a dionéia, por exemplo, têm movimentos que acusam uma grande sensibilidade e, em certos casos, uma espécie de vontade, como a última, cujos lóbulos apanham a mosca que vem pousar sobre ela para sugá-la, e à qual parece armar uma armadilha para em seguida matá-la. Essas plantas são dotadas da faculdade de pensar? Elas têm uma vontade e formam uma classe intermediária entre a natureza vegetal e a natureza animal? São uma transição de uma para outra?
"Tudo é transição na Natureza, pelo fato mesmo de que nada é semelhante e que, todavia, tudo se liga. As plantas não pensam e, por conseguinte, não têm vontade. A ostra se abre e todos os zoófitos não pensam: não têm senão um instinto cego e natural."
Nota - O organismo humano nos oferece exemplos de movimentos análogos sem a participação da vontade, como nas funções digestivas e circulatórias. O piloro se contrai ao contato de certos corpos para lhes negar passagem. Deve ser como na sensitiva, na qual os movimentos não implicam, de modo algum, na necessidade de uma percepção e ainda menos de uma vontade.
Hammed;
Psicografia: Francisco do Espírito Santo Neto;
Do Livro: Os prazeres da Alma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário