Vícios: instrumentos das trevas
“Nunca te permitas a assimilação do vício, na suposição de que dele te libertarás quando queiras, pois que se os viciados pudessem querer não estariam sob essa violenta dominação.” 1
Vício: “s.m. deformidade, imperfeição, defeito físico ou moral.” (Caldas Aulete). Já o Aurélio, o define também como “(...) inclinação para o mal (Nesta acepção, opõe-se a virtude)”.
Os vícios podem ser físicos ou morais. Entre os primeiros estão: fumar, beber, usar drogas, a gula, o jogo, o sexo. Entre os segundos, egoísmo, orgulho, vaidade, inveja, ciúme, avareza, ódio, personalismo, maledicência, intolerância, impaciência, negligência, ociosidade.
Muitos, tidos por virtudes, são tolerados e estimulados pela sociedade, tal o atraso moral em que nos encontramos. No livro “Cartas e Crônicas” (capítulo 18), o Espírito Irmão X, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, fala-nos da bebida como VENENO LIVRE. A cobra é perseguida por todos os meios, mas o álcool...2
Aos domingos e feriados, ou em certas horas da noite, não conseguimos adquirir leite ou medicamentos, por não encontrarmos padarias e farmácias abertas, mas um bar... sempre o achamos rapidamente.
Estes fatos corriqueiros dizem da miséria moral de nossa sociedade dita “civilizada”.
Outro exemplo gritante: para o carnaval há recursos imensos (até governamentais, das três esferas), enquanto que para habitações, escolas e hospitais escasseiam as verbas...
Muitos passam fome, por não encontrarem quem lhes dê trabalho ou alimentos. Mas, para que outros tantos saciem suas paixões pelos vícios, há sempre quem lhes favoreça a aquisição da bebida, do fumo, do tóxico. Para o mal, há conivente condescendência. E quem não aceita o trago, o cigarro, é malvisto e ironizado, como se anormais fossem os abstêmios, os que cultivam hábitos saudáveis, numa incrível inversão de valores.
O papel do materialismo nos vícios
Daí a superlotação nas penitenciárias, nos sanatórios, nos hospitais... Além da agressão ao próprio corpo, ensejam os acidentes no trabalho, no trânsito; as enfermidades crônicas; os maus exemplos; as humilhações e sofrimentos atrozes; a desonra; o embrutecimento; as privações próprias e de familiares; a desestruturação dos lares; o abandono do lar, dos filhos; a perda do emprego, se empregado; a dificuldade em obter outro trabalho; as sequelas para os descendentes (sobretudo no caso das mães); o elevado custo para a sociedade; os roubos e os assassinatos...
É um rosário interminável de angústias. Sem falar no crime organizado, nas quadrilhas que se entredevoram e nos negócios escusos que movimentam bilhões pelo mundo afora, pois o mal é universal e o homem é o mesmo em toda a parte.
A dolorosa enumeração contém razões suficientes para que se eduque o homem, para libertá-lo de todos os vícios que o escravizam à dor, à penúria material e moral. E ninguém o fará por nós. É tarefa da sociedade como um todo. Mas aos pais e aos educadores cabe a parcela maior, pois a eles compete moldar-lhes o caráter.
O materialismo favorece a disseminação dos vícios, quer pela ignorância das responsabilidades pessoais e coletivas que geram, quer pelo atraso moral das criaturas. As consequências daí advindas recaem sobre a sociedade como um todo, por muitas gerações, cobrando elevados custos, sejam financeiros, sejam de dores morais inenarráveis, não só para as vítimas, mas para familiares e amigos.
Muitos deles levam à prisão, à sarjeta, à morte prematura, à perda da dignidade, às tragédias. Mas todos, sem exceção, conduzem suas vítimas à infelicidade, à doença, ao sofrimento, à angústia, à amargura. E, quase sempre, aos familiares, eis que alguns seguem os maus exemplos observados. Há, no caso, um processo de deseducação, ainda que inconsciente. O egoísmo de quem busca saciar suas paixões não o deixa perceber os danos que causa aos circunstantes.
Quando o exemplo vem dos pais
Há pais que dão bebidas aos filhos, muitos deles alcoólatras em outras vidas e que retornaram ao campo físico em busca de regeneração... e são empurrados para a queda, ainda na infância, e, o que é mais grave, pelas mãos daqueles que se propuseram recebê-los no lar, para reeducá-los. E há pais que os põem a acender cigarros, viciando-os pouco a pouco. Além do mau exemplo, o incentivo ao erro.
Os obsessores, que os querem perder, para mantê-los sob o domínio do mal, contam, nesses casos, com a colaboração de pais ignorantes ou invigilantes.
Os pais, nesses casos, assumem responsabilidades gravíssimas e pagarão imensa cota de dores por essas falhas clamorosas. Para outros, a escravização ao vício supera o amor aos próprios filhos: sabemos de pais que os privam de alimentos, para comprar o cigarro ou a aguardente. E há outros que vendem os alimentos que lhes são doados por instituições beneficentes, para obterem o recurso que lhes satisfaçam os desejos malsãos.
Soubemos de um caso em que os rebentos dormiam no chão úmido, porque a cama fora alienada, para saciar a torpeza dos pais. Quantos móveis ganhassem, quantos vendiam, para o mesmo fim. E as crianças, no chão molhado, sujeitas às enfermidades e ao ataque de vermes e de outros insetos.
Os Espíritos nos advertem e orientam em muitas obras, nas quais se narra o trabalho de socorro que desenvolvem em favor dos sofredores. Algumas passagens:
HEREDITARIEDADE:
“O dipsômano não adquire o hábito desregrado dos pais, mas sim, quase sempre, ele mesmo já se confiava ao vício do álcool, antes de renascer. E há beberrões desencarnados que se aderem àqueles que se fazem instrumentos deles próprios.”
RECUPERAÇÃO:
Na questão 909 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec propõe aos Espíritos: “Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações? – Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!” (Grifamos).
E na questão 913: “(...) Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que luteis contra eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade.” 4
André Luiz informa-nos que “(...) o álcool (...) embriaga e aniquila os centros da vida física.” 5 E acrescenta que a Natureza esvaziará o cálice das ilusões das criaturas, pois há mil processos de reajuste para todos: a aflição, o desencanto, o cansaço, o tédio, o sofrimento, o cárcere e outros.
Quando não surtem efeitos, há “a prisão regeneradora”: “Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício. Temos, por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem (...)”
VÍCIOS E OBSESSÃO:
Desencarnados, escravos dos mais variados tóxicos, saciam seus desejos através dos encarnados, vampirizando-os, quando estes acham que estão a beber, a fumar, ou a usar drogas só para si. Fazem-no para multidões invisíveis aos nossos olhos: “Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Alguns sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar (...) Outras aspiravam o hálito de alcoólatras impenitentes.” 6
FUGA:
Falando de Espíritos desencarnados perturbadores que vampirizam as criaturas invigilantes que se entregam às mais extravagantes paixões e viciações, André Luiz registra o que diz o mentor Calderaro: “Quanto a estes infortunados, que fazer senão recomendá-los ao Divino Poder? Tentam igualmente a fuga impossível de si mesmos. Alucinados, apenas adiam o terrível minuto de autorreconhecimento, que chega sempre, quando menos esperam, através dos mil processos da dor, esgotados os recursos do amor divino, que o Supremo Pai nos oferece a todos. A mente deles também está apegada aos instintos primitivos, e, frágeis e hesitantes, receiam a responsabilidade do trabalho da regeneração.” 7
“Diante dos próprios conflitos, não tente beber ou dopar-se, buscando fugir da própria mente, porque de toda ausência indébita você voltará aos estragos ou necessidades que haja criado no mundo íntimo, a fim de saná-los.” 8 (Destacamos.)
A oração e sua importância
O consumo de drogas assume proporções gigantescas, nos dias atuais. O vício grassa tanto em países ricos quanto nos pobres; no meio das mais diversas camadas sociais. Parece não haver fronteiras para o mal, que mobiliza recursos vultosos, em todo o mundo. A insensatez e a ousadia de traficantes não têm limites. Diariamente jornais e noticiários da televisão focalizam suas ações e as da polícia. E a essa tragédia humana, veio somar-se a Aids.
Só a conscientização, sobretudo dos jovens, pode libertá-los desse flagelo, mal aparentemente indomável.
A oração é outro meio eficaz, embora lento – na avaliação de nosso imediatismo – para a cura de todos os vícios. Não só beneficia as vítimas, como fortalece as famílias, seja concedendo-lhes paciência, seja inspirando-as nos caminhos a seguir, no dia-a-dia, para que se tornem arrimo dos caídos, a elas vinculados.
No livro “Vozes do Grande Além”, no capítulo intitulado Alcoólatra, um Espírito compara o alcoolismo a um incêndio devastador e dá seu depoimento das tragédias que vivenciou, dos sofrimentos que experimenta na própria recuperação, e fala das preces, recursos extraordinários que lhe permitiram despertar para a vida:
“(...) até que mãos fraternas me trouxeram à bênção da oração (...) (...) pelos talentos da prece, aplacaram-me a sede, ofertando-me água pura (...)”.
E diz ainda:
“(...) ofereço-vos o triste exemplo de meu caso particular para escarmento daqueles que começam de copinho a copinho, no aperitivo inocente, na hora de recreio ou na noite festiva, descendo desprevenidos para o desequilíbrio e para a morte (...)” 9
O Evangelho no Lar é outro recurso valioso
O estudo do Evangelho no Lar é recurso importante nessa campanha em favor da liberdade espiritual, pelos reconhecidos benefícios que dele resultam para Espíritos dos dois planos da vida. A ele se deve somar outras ações que objetivem recuperar os caídos.
A ação educativa e moralizadora que a Doutrina Espírita pode exercer sobre as famílias, máxime sobre a juventude, é instrumento libertador que está nas mãos do Movimento Espírita. E o Centro Espírita, como célula viva desse movimento, detém a parcela maior dessas responsabilidades. E a nós, que muito temos sido beneficiados por essa Doutrina de Amor, cabe-nos atitude vigilante de esclarecimento permanente à comunidade, sobretudo da mocidade, além de apoiar as famílias que já sofram os efeitos maléficos de todas as drogas.
Essa tragédia que ora envolve parcela elevada dos Espíritos vinculados à Terra é fruto da poluição invisível aos olhos desatentos, provocada por mentes enfermas de encarnados e desencarnados, a prender em seus horríveis tentáculos criaturas invigilantes, inconscientes dos efeitos perversos de suas ações, sobretudo do elevado preço a pagar, no longo caminho da volta ao reequilíbrio, que um dia, cedo ou tarde, a custo de muitas lágrimas, terão todos que percorrer.
Referências bibliográficas:
1. Repositório de Sabedoria, do livro Após a Tempestade, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco, 57, 1ª ed. Livraria Espírita Alvorada, Salvador, 1980.
2. Cartas e Crônicas, Irmão X/Francisco C. Xavier, 7ª ed. FEB, Rio, 1988.
3. Entre a Terra e o Céu, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 78, 6ª ed. FEB, Rio, 1978.
4. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 50ª ed. FEB, Rio, 1980;
5. Missionários da Luz, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 102, 12 ed. FEB, Rio, 1979.
6. Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz/Francisco C. Xavier, págs. 139/40 e 138, 9ª ed., FEB, Rio, 1979.
7. No Mundo Maior, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 195, 8ª ed. FEB, Rio, 1979.
8. Coragem, André Luiz/Francisco C. Xavier, pág. 52, 19ª ed. CEC, Uberaba, 1990.
9. Vozes do Grande Além, Diversos Espíritos/Francisco C.Xavier, pág. 125, 2ª ed. FEB, Rio, 1974
José Gebaldo de Sousa
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