terça-feira, 22 de janeiro de 2013
A SOLIDÃO DOS BONS
Reflexão...
O exercício da bondade é comportamento que gera mudança na vida de relações. Não é necessário ser Bom na verdadeira acepção da palavra, o mero treino das atitudes boas, o ser "bom", já é suficiente para entender como nasce essa solidão.
Quando alguém passa a dedicar-se a muitos, dificilmente tem tempo para poucos, as vezes não tem tempo nem para si. Passam a ser raros os que aparecem para saber como estão, pois sendo a vida feita de afinidades e os "bons" (que raramente procuram os outros para um olá) com o tempo são substituídos ainda que o afeto se mantenha. Tal resultado não merece nenhuma crítica, surge das situações.
Paralelamente aumentam, graças a Deus, as pessoas que os procuram para perguntar algo, pedir uma orientação, solicitar uma prece, compartilhar seus medos, dúvidas, problemas. Foi para isso que eles se disponibilizaram e, obviamente, tal procura exige resposta pautada nos conceitos que trouxeram essas pessoas para perto, em geral motivadas pela necessidade e fé.
O tempo do "trainee da bondade" é cada vez mais aproveitado em fazer e ser, e menos em ter, e como a sociedade atual exige "ter" (ter amigos, ter dinheiro, ter tempo para diversão...), esse tipo de pessoa passa por um processo interessante: entre muitos, está quase sempre só.
Recordo-me de uma experiência que talvez exemplifique: fiz parte de um centro espírita onde um médium vinha de outra cidade, uma vez por mês, fazer atendimento de cura. Casa sempre cheia, o médium sempre muito assediado (todos faziam tudo para estar com ele alguns minutos - ele tinha uma energia boa que fazia querer estar perto). Um dia esse médium decidiu que não mais atenderia naquela cidade. O CE, sempre cheio, estava lotado no primeiro mês, esperando-o voltar. No segundo mês também. No terceiro começou a diminuir os assistidos que iam à casa. No quarto mês, idem. No quinto mês alguns trabalhadores do CE se ausentaram. No sexto mais pessoas abandonaram o trabalho e assim continuou acontecendo. No final de um ano sem o médium que só fazia um trabalho na casa, embora tivéssemos estudos, evangelho de salão, passes, reuniões com a comunidade para distribuição de mantimentos, só ficaram na casa o Presidente e eu... esse centro espírita fechou.
Ressalvadas as diferenças, é assim a vida de relação dos bons. Enquanto têm algo a oferecer, enquanto precisam deles e eles ajudam, não estão fisicamente sós. Mas ai se precisarem de ajuda! A existência serve para que nos tornemos pessoas independentes e o "bom" trabalha para que o próximo não precise mais dele, sendo capaz de realizar sozinho - é assim que deve ser.
O comum é que enquanto necessitadas e não saciadas as pessoas fiquem perto. Mas, quando ocorre a cura do corpo ou da alma, ou quando não há mais o que oferecer, quase todos partem. E como os "bons", muitas vezes, não foram capazes de sustentar as amizades reais por falta de tempo, optando por dedicarem-se à efemeridade das relações geradas pela necessidade, acabam convivendo com os que querem deles algum benefício. Eles são seres invisíveis em sua essência, por isso tão sós.
Isso indica que as razões pelas quais as almas realmente boas e que dedicam suas vidas verdadeiramente ao próximo, raramente formam família, pois é incompatível ser tudo na intimidade precisando ser tudo na coletividade.
Acredito que houve muita solidão na vida de Chico Xavier, de Irmã Dulce, de Madre Teresa, de Gandhi e tantos outros, ainda que sempre tenham tido à sua volta, muitas, muitas pessoas... Não darei uma sugestão de solução para isso. Meu coração diz o que seria certo cada um fazer, mas há coisas que não se ensinam, sente-se, percebe-se a partir do discernimento e da própria compreensão de caridade.
By Vania Mugnato de Vasconcelos
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário