sábado, 7 de julho de 2012
Sexualidade, uma visão de anjo ou de gente?
Sexualidade, uma visão de anjo ou de gente? - 30/05/12
“Chico: – sendo o sexo uma força criativa eu diria que talvez quem não tiver problemas de sexo está doente.”
(“A Ponte”, entrevistas de Fernando Worm com Chico Xavier)
O delicado tema da sexualidade parece cada vez mais distante de nós espíritas. Não é discutido, não é mencionado e nem se mostra interesse por ele.
Compreensível! Muito compreensível!
É difícil falar daquilo que nos embaraça e causa desconforto. Para muitos chega a ser um tema áspero, traumático.
Que fazer diante desse silêncio perigoso em um assunto de tanta relevância?
Chico Xavier em sua sabedoria afirmou que o assunto não é tratado porque faltam os “professores”, aqui simbolizando pessoas com autoridade para falar do assunto.
E ele está certíssimo. Autoridade nenhum de nós detém nesse assunto. Será que por essa razão não devemos examiná-lo?
Alguns escritores e médiuns, corajosos e desejosos a ultrapassar essa barreira do sigilo, publicaram suas ideias, experiências e produções mediúnicas no intuito de contribuir. Entretanto, muitos deles, apesar de superarem a barreira do silêncio, não conseguiram ultrapassar o muro do preconceito, deixando manifesto em seus escritos que não basta expressar opiniões sobre o tema.
Mais que discussão e debate, a abordagem da sexualidade para alcançar um objetivo terapêutico e educativo requer uma visão bem consolidada sobre a alteridade humana. Isto é, sobre as peculiaridades de cada ser, uma visão que nasça das entranhas do mais íntegro respeito aos diferentes e suas diferenças. Exige-se, para tal, uma isenção emocional, uma abertura mental.
Um dos mais costumeiros equívocos no exame da sexualidade é tratá-la com receitas coletivas, sendo essa uma questão totalmente particularizada.
Outro grave descuido é o puritanismo, ainda soberano no entendimento da grande maioria de nós. E por conta desse puritanismo, quando a sexualidade encontra espaço de debate, lhe é imputada um discurso angelical, recheado de regras e normas que se tornam decretos para todos, aumentando ainda mais a angústia e a dor de quantos procuram orientação e lenitivo diante de seus conflitos interiores à luz do Espiritismo.
Não podemos culpar a ninguém por tudo isso, é bem verdade! Sabe por quê? Porque tudo isso é apenas um sintoma da nossa condição ainda limitada diante dos temas que envolvem sexo e afetividade.
A análise desse estado de coisas na nossa comunidade espírita deve ser feita com muito carinho e com muito respeito a todos nós. As coisas não estão como se encontram por má intenção de nossa parte. Essa é a realidade de nossa condição moral e espiritual diante dessa questão.
Porém, convenhamos, precisamos fazer algo! Alguém tem que falar desse assunto! Colocá-lo na mesa de estudos!
O que fazer para trazer o assunto sexualidade à ótica humana, com enfoque em pessoas comuns e não em anjos, sem os puritanismos e preconceitos?
Eis uma reflexão que, na minha opinião, deveria estar ocupando um pouco mais a cabeça de dirigentes de centros espíritas ou de qualquer pessoa que sinta a necessidade de criar alternativas para que haja espaços para esse debate.
No livro “A Ponte”, no qual foram realizadas diversas e instrutivas entrevistas por Fernando Worm, com Chico Xavier, gostaria de destacar um trecho.
“Uma jovem estudante propõe outra questão:”
“– Você concorda que o sexo é um dos principais problemas da vida? Como devo encarar o ato da sedução?”
“Chico: – sendo o sexo uma força criativa eu diria que talvez quem não tiver problemas de sexo está doente.”
“Somo seres sexuados, está é uma das realidades humanas.”
“Aquele que nada sente neste sentido, no mínimo está com os centros genésicos oclusos. Não somos anjos e, se o fossemos, nosso lugar não seria aqui... Saibamos, porém que os anjos não podem ser ingênuos. Eles passaram com certeza por nossas experiências.”
A resposta continua tratando outros ângulos.
Eu gostaria muito de saber outras opiniões de meus leitores, mas quando Chico diz: “sendo o sexo uma força criativa eu diria que talvez quem não tiver problemas de sexo está doente.” acredito que a condição humana natural é ter conflitos com a sexualidade. E quem não olha para eles com intuitos curativos é que está doente e não quem tem os problemas a vencer.
Talvez, pior que as doenças da sexualidade, sejam as doenças do orgulho e do medo em submeter-se ao tratamento necessário de suas próprias necessidades.
Estamos reencarnados carregando os conflitos, as dores e as angústias das questões afetivas e sexuais. O corpo reclama orientação. A sensualidade pede educação. O prazer reivindica ética.
Será que abstinência e tarefa doutrinária vão curar essas necessidades? Será que negando nossos desejos estamos avançando em moralidade para canalizar de forma luminosa as expressões da sexualidade? O que é tabu e o que lucidez na conduta sexual do espírita? Quando agimos com preconceito e quando estamos sendo sensatos e coerentes com os ensinos da doutrina espírita a respeito da aplicação da energia sexual?
Quantas perguntas sobre o assunto, não é mesmo? Pergunta é coisa de gente! Quem não as tem, de duas uma: ou está doente ou é realmente um anjo.
Blog do Wanderley
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