segunda-feira, 4 de junho de 2012
Felicidade interior - Adenáuer
“...O meu reino não é deste mundo. Se o meu
reino fosse deste mundo, os meus ministros se
empenhariam por mim, para que não fosse eu
ent r egue aos judeus; mas agora o meu reino
não é daqui.” João, 18:36.
Disse o Cristo: “...mas agora o meu reino não é
daqui.” A inclusão da palavra agora pressupõe a colocação
de uma certa temporalidade na afirmação, isto é, como se
ele quisesse dizer que o reino dele será aqui, mas não
naquele momento, naquela época. O que equivale a dizer
que na Terra ainda se instalará o reino que ele pretendeu, e
ainda pretende, que aqui funcione.
Ao lado de ser uma forma de governo, o reino é o
lugar mais importante de uma região, é seu ponto principal,
onde se localiza a administração central. Do ponto de vista
psicológico podemos pensar que o reino é o foco onde
fixamos nossa atenção. É o foco no qual concentramos
nossas energias psíquicas. Pode-se dizer que o reino é o
centro das atenções da vida. O nosso reino interior é o lugar
mais precioso do mundo íntimo, onde, em nossa
singularidade, encontramos paz e harmonia.
Na consciência, ele representa um certo grau de
satisfação em viver, uma felicidade pessoal em existir. No
inconsciente, ele estará representado através de
exteriorizações que provocarão as manifestações
conscientes já ditas, bem como, simultaneamente, respostasoportunas da Vida. Isto quer dizer que, quando o reino
interno estiver bem consolidado, a vida do indivíduo será
menos árdua e mais feliz. Seu jugo será suave e seu fardo
será leve.
Todos temos uma certa parcela do reino, mesmo que
embrionária, no inconsciente. Temos que desenvolvê-la o
suficiente para que ela possa se expressar de forma a
proporcionar o bem pessoal e coletivo. Fomos criados para
a felicidade e para a eternidade. Aquilo que pensamos ser
sofrimento é apenas uma forma de enxergar a vida. Quando
nos conscientizarmos que o interior determina o exterior,
modificaremos nosso modo de sentir e perceber o mundo,
cujo sentido será o mesmo que atribuirmos à nossa
individualidade.
O ser humano ainda vive mais a vida consciente,
despreocupando-se da vida inconsciente. Vive mais a vida
material, social, que a vida espiritual. Vive mais o mundo
externo que o interno. O seu reino ainda é o externo, o
material, o consciente. Seu foco ainda não é seu mundo
interno, sua essência espiritual, onde estão inscritas as leis
de Deus. Nesse sentido há quem pense que conhecer as
coisas é o mesmo que saber sobre elas. O saber implica no
vivenciar e internalizar o que aprendeu. O desenvolvimento
espiritual passa, necessariamente, pelo domínio vivencial
das emoções e sentimentos.
Vivemos desejando, na maioria das vezes, a
construção de um reino pessoal em detrimento do reino
coletivo, quando deveríamos buscar ambos. Mais do que
isso, vivemos construindo um reino externo, esquecidos do
reino interno. Se conseguíssemos construir nosso reino
pessoal interno com a ética superior do Evangelho,
simultaneamente iniciaríamos a construção de um reino
coletivo. A reforma íntima tão pregada entre nós espíritas é
muito mais profunda que imaginávamos.Nosso processo de crescimento ainda se situa no ego,
isto é, na parte da personalidade que vive a vida externa.
Ainda nos preocupamos em ampliar o conhecimento sobre a
vida consciente, em detrimento de descobrir a nossa
essência espiritual. Nesse sentido, nos enchemos de
informações, de poder, a fim de não perdermos o domínio
sobre o mundo externo, já que não o temos sobre o interno.
Com isso ampliamos nossa vaidade, nosso orgulho, nosso
egoísmo, enfim, tudo aquilo que contribui para o
atendimento às necessidades artificiais.
Por ainda não estar suficientemente seguro da vida
espiritual, que no momento lhe é inconsciente, o ser
humano se centra na vida presente e, particularmente, nas
preocupações materiais conscientes. Porém, é na vida
inconsciente que se situam as experiências reencarnatórias e
tudo aquilo que representa o nível de evolução espiritual do
ser humano. É mais fácil, por enquanto, para ele, ater-se à
vida presente do que atender aos reclames da vida
inconsciente, onde, dentre outros conteúdos, localizam-se os
conflitos das vidas passadas, exigindo solução.
Podemos entender também que a palavra mundo
poderia significar:
– a forma como o ser humano entende a vida, no que
diz respeito à sociedade e seu futuro;
– seu mundo interno, ou seja, como ele próprio se
explica, sob que crenças e valores vive.
No primeiro caso, trata-se do significado e sentido
que damos à nossa vida, como objetivamos o viver, quais
nossas aspirações. A depender desse sentido poderemos ser
éticos ou não, otimistas ou pessimistas, crentes ou
descrentes de um futuro melhor, confiantes ou tementes,
ativos ou passivos em relação à vida, progressivos ou
regressivos, determinados ou retraídos, etc.O segundo caso diz respeito à parte emocional e
psicológica do ser humano, isto é, se ele se ocupa de
perceber-se mais que ao mundo, isto é, se ele se ocupa mais
do que percebe internamente ou externamente a si mesmo.
Há, nesse caso, um investimento em sua vida subjetiva, em
sua vida emocional e afetiva, em lugar de atuar
externamente.
Nesses dois sentidos, a sociedade em que o Cristo se
inseriu, como também, em menor intensidade a que
vivemos hoje, carece de uma melhor visão de mundo.
Talvez, nesse aspecto, o Cristo, se voltasse a ter conosco,
continuaria dizendo que seu reino ainda não seria deste
mundo, isto é, os seres humanos ainda não estão
psiquicamente maduros para a instalação de seu reino.
O reino do Cristo ainda não era daquele mundo,
daquela visão ainda incipiente do próprio mundo interno e
externo. A sociedade, mesmo sendo aquela que ele escolheu
para dar o exemplo de sua mensagem renovadora, não tinha
suficiente maturidade para investir mais no subjetivo do que
no objetivo. A vida material era mais importante do que os
convites que o Cristo fazia para que cada um tomasse sua
cruz e o seguisse.
Sua afirmação quanto ao reino pode ser entendida
como um apelo para melhorarmos nosso mundo interior, a
fim de merecermos viver de acordo com seus princípios.
Para tanto, nossa visão de mundo necessita transformar-se, a
partir da focalização do mundo interno na mesma
intensidade com que o fazemos em relação ao mundo
externo. Não se deve pensar que basta voltar-se
exclusivamente para o mundo interno, esquecendo-se do
externo. É preciso dar atenção a ambos, buscando viver
externamente o que vive internamente.
Dar um sentido para a Vida, ou ter uma visão de
mundo adequada à instalação do reino do Cristo na Terra, é fazer uma nova leitura da Vida como um bem preciosíssimo
pelo qual nos cabe zelar. É, também, confiar em Deus, ter
consciência de sua própria imortalidade e de seu retorno
reencarnatório para aprender a vivenciar o que ignorava
como fazer. É ter consciência de que sua vida na Terra tem
um propósito mais amplo do que imagina. É saber que Deus
nos deu o livre-arbítrio como forma de estabelecermos
escolhas. É nos libertarmos das culpas e medos a fim de
prosseguirmos seguros e firmes na busca da evolução
espiritual.
A afirmação do Cristo coloca o ser humano na
responsabilidade de tornar sua vida presente digna do reino
que ele pregou. Dizer-se cristão e espírita, é preparar-se
interiormente para construir esse reino externo a partir do
interno.
Passa a ser meta do candidato a seguidor do Cristo,
transformar sua vida interior e exterior, adequando-as ao
reino dele. Seus seguidores, aqueles que pregam sua
mensagem, bem como todos os simpatizantes, não se
podem descurar desse objetivo.
Os que divulgam, sob as mais variadas formas,
necessitam, com maior obrigação, instalar o reino interno,
ao mesmo tempo que devem procurar realizar o externo.
A afirmação do Cristo nos dá segurança quanto à vida
futura. Ao dizer que seu reino ainda não era daquele mundo,
deixa-nos confiantes em relação à existência de um futuro.
Essa tranqüilidade atua psicologicamente, fomentando o
bem estar e o equilíbrio entre a psiquê e o corpo.
Inconscientemente ou conscientemente, sua mensagem
calça nossa mente harmonizando-a, com a certeza de que há
algo ditoso à frente, o qual alcançaremos.
Nesse sentido, podemos também entender que o reino
é uma espécie de voz interior, que sinaliza a cada momento
a necessidade de considerarmos nossa singularidade eelaborarmos um modo de conciliar a dualidade
característica de nossa existência. Viver seria o desafio
entre ter que movimentar-se entre dois reinos: o externo e o
interno, o físico e o espiritual, o concreto e o subjetivo.
Viver no mundo sem ser do mundo. Desenvolver-se
espiritualmente, aprender a ‘ouvir’ o inconsciente e manterse adaptado e atuante nos aspectos objetivos da Vida.
Ao assegurar um reino futuro, o Cristo fortaleceu no
ser humano a certeza inconsciente da imortalidade da alma.
Ao garantir sua existência, ele deixava nas entrelinhas uma
vida futura melhor do que aquela que o ser humano
enfrentava.
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