O Mito
Sérgio Biagi Gregório
1) O que é um mito?
O mito é uma narrativa que procura explicar os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis. O "mito" é todo relato sério que está em conflito com nossos conhecimentos acerca dos processos naturais.
2) Quais são os sentidos que o termo carrega?
Ao longo do tempo, o mito foi carregando outros sentidos, entre os quais, citamos:
Sociologicamente, é a narrativa imaginária de origem popular: "os mitos cosmogônicos";
Historicamente, é a exposição de uma doutrina sob a forma de narrativa alegórica: "os mitos platônicos".
Vulgarmente, é a dramatização das grandes aspirações frustradas do grupo: "mito da greve geral".
3) O que é um rito? E ritual? Há diferença entre rito e ritual?
O rito é um conjunto de atividades organizadas e institucionalizadas, no qual as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem e comportamento, transmitindo um sentido coerente ao ritual.
Ritual – conjunto de práticas consagradas pelo uso e/ou normas, e que devem ser observadas de forma invariável em ocasiões determinadas.
Há grande diferença entre rito e ritual. O rito é associado ao mito, enquanto ritual diz respeito a quase tudo que fazemos. Nesse caso, o médico procede a um ritual para fazer a sua operação. Numa Casa Espírita, há um ritual do preparo de ambiente, da prece, das vibrações etc.
4) Pode o mito viver sem o rito?
Não. O mito primordial e genuíno é inimaginável sem o rito, ou seja, sem um solene proceder e um atuar solene que elevam o ser humano a uma esfera superior. O rito não é uma mera imagem do acontecer mítico, mas sim este mesmo acontecer, no sentido pleno do termo.
5) Como se explica o sentido próprio e o sentido figurado do mito?
Em sentido próprio, o mito significa uma fábula arquitetada pela fantasia humana para personificar entidades do espírito ou da natureza. Exemplo: Zeus é Deus na mitologia grega. Em sentido figurado, o mito é a atribuição de um valor absoluto a uma entidade relativa. Exemplo: modernamente, somos impelidos a enriquecer e ter posição de destaque; caso não o consigamos, somos desprezados pelos que o conseguiram.
6) Como a psicologia profunda interpreta os mitos?
A psicologia profunda afirma que, ao analisar os sonhos e os estados oníricos similares de pessoas psiquicamente perturbadas ou enfermas, tem-se deparado com autênticas imagens míticas, capazes, de explicar a essência do mito. Essas imagens – arquétipos ou imagens primordiais – ficaram guardadas no inconsciente, prontas a ressuscitar tão logo a alma precise delas. (1)
7) Por que admiramos a filosofia, a religião, a ciência e a arte grega e desprezamos os seus mitos?
Na filosofia, na ciência, na religião e na arte há razões de procedimento; no mito, não. Há, também, a influência das religiões reveladas, que admitem um único Deus. Estas se assenhorearam da verdade; os outros modos de vivenciar o divino ficaram em segundo plano. (1)
8) Qual a principal falha na interpretação do mito?
É a nossa incapacidade de penetrar na vivência dos antigos, principalmente na sua forma de adorar a Deus. A postura – gestos, símbolos, linguagem e comportamento – tem um valor intrínseco que o homem moderno não consegue captar com a devida clareza. (1)
9) Quais são os mitos da modernidade?
Há inúmeros mitos, entre os quais, citamos: o mito da mãe-mártir, do bom velhinho, da esposa perfeita, da mulher boazinha ("minha mulher é uma santa"), da juventude como uma glória e da obtenção do êxito.
10) Há mitos no Espiritismo?
Não. Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, utilizou o método teórico-experimental para as suas análises e conclusões.
11) Há rituais dentro dos Centros Espíritas?
Sim. Há os rituais aceitáveis e os que não contribuem muito para a eficácia das sessões espíritas. Os rituais aceitáveis são: preparo de ambiente, prece, vibrações etc. Há, porém, alguns que não precisariam ser praticados: uso de túnica branca para os dirigentes, a abstinência de carnes nos dias de trabalho, a realização de casamentos, batizados e crismas "espíritas", os hinos cantados no começo de uma reunião, a obrigação de receber passes à entrada do recinto etc.
Fonte de Consulta
(1) OTTO, Walter E. Teofania: O Espírito da Religião dos Gregos Antigos. Tradução de Ordep Trindade Serra. São Paulo: Odysseus, 2006.
São Paulo, maio de 2009.
Em forma de palestra: http://www.sergiobiagigregorio.com.br/palestra/mito-mistica-e-espiritismo.htm
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