O dicionário conceitua o termo "fofoca" como sendo sinônimo de bisbilhotice, intriga. Mas, na verdade, a sua conceituação torna-se mais ampla à medida que começamos a avaliar com profundidade as suas conseqüências nas relações humanas.
O hábito de fofocar - a fofoca nossa de cada dia - em princípio parece ser um hábito inofensivo e comum à maioria dos "mortais". Porém, se começarmos a analisá-la verificaremos que a extensão de seus estragos é bem maior do que imaginávamos.
Possuímos "dentro" de nós, energias antagônicas que nos acompanham na trajetória de muitas vivências. Estas energias não desaparecem com a morte do corpo, pelo contrário, seguem-nos como características do nosso caráter e da nossa personalidade.
Simplificando: a energia construtiva, a da elevação em todos os seus níveis, estimula-nos para o bem e para o crescimento pessoal e espiritual. A energia destrutiva e desequilibrada, a da paralização consciencial, estimula-nos para a agressividade em todos os seus níveis mais baixos.
No entanto, é importante o registro de que a energia agressiva e equilibrada faz parte do desenvolvimento pessoal no sentido da necessidade que temos de enfrentar desafios e situações especiais que a vida costuma oferecer. Digamos que a energia agressiva e controlada seja essencial à sobrevivência, à continuidade e à evolução da espécie humana no planeta Terra.
Contudo, o hábito ou o vício de fofocar nos mantém numa sintonia de paralisia consciencial, onde o desequilíbrio energético é direcionado para o fluir de nossa energia agressivo-destrutiva; portanto, também para as relações pessoais - familiares e sociais.
Por sua vez, a calúnia ou a infâmia já possuem um nível destrutivo superior na escala da maledicência cuja origem encontra-se em seu embrião: a fofoca. Enquanto que fofocar significa intrigar; caluniar consiste em difamar fazendo acusações falsas ou atribuindo a alguém algum fato relevante.
Na calúnia, portanto, há violência maior. O caluniador é uma pessoa que está sempre em conflito consigo mesmo. Quem está de bem com a vida não tem sequer vontade de caluniar, pois prefere apreciar as coisas boas da vida.
Por falar em vida... quantas delas foram ceifadas na guilhotina, na forca, nas masmorras ou nas fogueiras em nome da maldade humana? Quantas injustiças foram - e continuam sendo - cometidas em nome da intriga e da calúnia? São respostas que provavelmente estejam registradas no inconsciente coletivo ou nas nossas memórias cerebral e extracerebral.
O psicólogo Roque Theophilo, em seu artigo "A calúnia e a fofoca", aborda com muita lucidez este tema: "Fofoca é o mexerico, intriga, a bisbilhotice. É um mal que para muitos é divertimento sem importância, mas que é extremamente destrutivo. A vontade de passar informações faz parte do homem, é a comunicação, é uma ação natural e normal, mas na maioria das vezes esquecemos do outro e não medimos as conseqüências das nossas palavras. Quando uma pessoa não controla a cobiça, o resultado é a inveja, que desperta o instinto animal de prejudicar o próximo pela difamação. O vaidoso que é infestado pelo orgulho e pela arrogância, é muito propenso a usar a fofoca. O egoísmo é resultado da maldade, da indiferença para com o semelhante e, portanto, pela falta de escrúpulos pode-se criar as mais desalmadas mentiras com a idéia de prejudicar o semelhante.
Os homens não têm escrúpulos e por isso estão se destruindo, com mentiras, murmurações, mexericos e fofocas e em todas elas o "ingrediente" principal é a vida do próximo. Existe uma verdadeira indústria por trás da fofoca. Revistas, programas de televisão especializados em fofocas, jornais sensacionalistas que vendem isso, milhares e milhares de pessoas envolvidas na indústria milionária do mexerico. Tudo mentira, falso testemunho, afinal, o ditado não é este: "Quem conta um conto aumenta um ponto"?
E não pára por aí. Pior que estes são os que fazem isso todos os dias - de graça - por puro prazer, pendurados em janelas, nos bares, nas ruas, no trabalho. Aliás, se dedicassem em seus afazeres o mesmo tempo que gastam com mexericos, já seriam chefes. A murmuração e o mexerico nos são impostos pela carne. Qual de nós não fica com a "língua coçando" para passar para a frente uma notícia? No entanto, se vivemos com o nosso espírito em Deus, teremos um "filtro" que irá separar o que pode causar mal ao nosso semelhante".
Porque fomentar o ódio que nos escraviza, se podemos deixar fluir a energia da bondade que nos liberta?
No espiritismo, os trabalhos mediúnicos em conjunto com as equipes espirituais, têm nos mostrado o quanto sofrem estes irmãos desencarnados sintonizados na energia destrutiva do ódio e da vingança. Muitas vezes, um simples retorno a uma vivência anterior faz desabar aquela muralha de raiva e ressentimentos erguida contra determinada pessoa por ele obsediada. Fixado naquela energia deletéria, o espírito, diante de uma revivência de relação de amor com aquela pessoa em outra existência, sente-se desarmado, momento em que sua sintonia muda para a entrada de energias elevadas que o despertarão para a necessidade de aceitação do amor na relação com o outro e consigo mesmo.
O hábito da fofoca tem sido a ponta do iceberg de males maiores, sendo uma das chagas que provocam sofrimentos à humanidade, nada de positivo acrescentando à evolução do homem.
Lembrando o filósofo Sócrates, este dizia que toda informação suspeita de contaminação pela maledicência do pensamento ou da língua humana, deveriam passar pelos três filtros: primeiro, o filtro da verdade: Você têm certeza que este fato é, absolutamente, verdadeiro? Segundo, o filtro da bondade: O que você deseja informar, traz algum benefício a alguém? Você gostaria que dissessem o mesmo a seu respeito? Terceiro, o filtro da necessidade: Você acha mesmo, que há necessidade de informar o que pretende?
Jesus advertiu sobre a contaminação oriunda do mal que sai da boca humana. Quem provoca a disseminação da maledicência, invoca o distúrbio para si mesmo. Não esqueçamos que a palavra constrói ou destrói facilmente e, em segundos, estabelece, por vezes, resultados gravíssimos durante séculos.
O contrário do exercício da "peçonha da língua", a prática da caridade, lembra-nos um texto do espírito Emmanuel psicografado por Chico Xavier e muito oportuno para o desfecho deste artigo, e cuja mensagem eleva-nos à nossa verdadeira natureza em consonância com a finalidade da reencarnação:
"Recorda a caridade a irradiar-se em bênçãos do excelso amor de Cristo, para que não te faltem compreensão e força no culto edificante à caridade humana.
À vista disso, no caminho, lembra-te sempre de que a caridade pura - a que vence feliz - é sempre o amor perfeito a esquecer todo o mal e a olvidar toda a sombra, para somente amar, redimir e auxiliar na contínua extensão do bem, a se concentrar em luz".
Psicanalista Clínico e Reencarnacionista.
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