Para nos libertarmos, tanto da culpa, quanto da desculpa, necessitamos cultivar o processo da ação responsável. Ele é fruto da observação amorosa, tanto de nós mesmos, quanto dos outros, pela qual nos responsabilizamos pelos nossos atos. Somente através do amor é que podemos nos libertar da culpa e da tentativa de fugir dela.
A ação responsável é um processo de autoconsciência composto das seguintes atitudes: responsabilização, arrependimento, auto-análise, aprendizado e reparação.
Todo ser humano ainda é imperfeito e, por isso, quando for realizar uma ação, sempre terá dois resultados possíveis: o acerto ou o erro. O acerto, dentro da visão transpessoal, será sempre um ato de amor diante da vida. O erro é um ato de desamor, evidente ou oculto. O culpismo é um processo de se tentar substituir um ato de desamor por outro ato de desamor. O desculpismo é a tentativa de substituir o desamor pelo pseudo-amor. Em ambos os movimentos, a conduta é pseudoconsciente e irresponsável.
A ação responsável é um processo de auto-exame consciente de si mesmo, propiciador do autoperdão. Inicia-se com a autoconsciência, na qual a pessoa irá perceber os seus atos, classificando-os em acertos, quando estiverem em conformidade com a lei do amor e erros, quando forem provenientes do desamor e pseudo-amor. Ao se perceber em erro, ao invés de entrar no julgamento gerador do remorso ineficaz, proveniente da consciência desculpa, ou na tentativa infrutífera de fugir dela, o indivíduo tem uma atitude responsável, não de auto-acusação, mas de perceber que foi ele que cometeu aquele ato e somente ele poderá repará-lo. Após assumir a responsabilidade, segue-se o arrependimento, pois o erro praticado é um ato de desamor, portanto contrário às leis Divinas e, por isso, é necessário se arrepender de tê-lo cometido.
Após se arrepender, inicia uma auto-análise do erro, buscando examiná-lo, isto é, refletir sobre o motivo pelo qual cometeu aquela ação equivocada, o que o levou a agir com desamor, para poder aprender com o erro. Percebamos, com isso, que o erro faz parte da pedagogia divina, pois, do contrário, Ele teria nos criado perfeitos para não errarmos. Se buscarmos sempre no erro cometido um aprendizado, estaremos evoluindo, tanto com os acertos, quanto com os erros. No final, o que conta sempre, é a evolução do ser humano na busca da sua iluminação.
Após buscar aprender com o erro, é necessário iniciar ações de reparação. A ação responsável diante da vida, exige que reparemos o desamor, transformando tais atitudes, em atos de amor. Portanto, o autoperdão não é uma simples anulação do erro, de forma fácil, como muitos pensam, mas uma ação consciente que requer responsabilidade, arrependimento, muita auto-análise, aprendizado e reparação, buscando praticar ações amorosas diante da vida, que vão substituindo o desamor e pseudo-amor, que existem em nós, por amor, transformando as energias egóicas em energias essenciais. Este é o movimento interno que propicia o autoperdão.
Quem não se perdoa, carrega o fardo pesado da culpa desnecessariamente, como também, se não perdoa os outros, carrega o fardo pesado do ressentimento, da mágoa e do ódio, inutilmente. A vida se trona insuportável. No entanto, se o indivíduo assume a mansuetude e a humildade, poderá se dar oportunidade de refazer o caminho, através do autoperdão.
“Autoperdão significa dar-se oportunidade de crescimento interior, de reparação dos prejuízos, de aceitação das próprias estruturas, que deverão ser fortalecidas. Graças a essa compreensão, torna-se mais fácil o perdão aos outros, sem discussão dos fatores que geraram o atrito, com olvido do incidente.”
Somente cultivando o auto-amor é que iremos evoluir, e não odiando a nós mesmos, no processo de culpa. Quem se auto-ama, se enche de felicidade.
Esta proposta dá trabalho. Ser feliz é trabalhoso, por isso a maioria das pessoas cultiva a culpa e a desculpa. Mas, cedo ou tarde, todos despertaremos para esse mecanismo produtivo de auto-renovação, buscando com o cultivo do amor e da felicidade, auxiliar o universo a crescer.
Do livro: PSICOTERAPIA À LUZ DO EVANGELHO DE JESUS
Alírio de Cerqueira Filho
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