segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sentimento de culpa

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

Sentimento de culpa

A ascensão é experiência grave que exige esforço e
decisão imbatíveis

“(...) Chegarás à honra da paz, após a consciência liberada dos débitos e culpas.”- Joanna de Ângelis [1]


O sentimento de culpa é um ótimo “plug” para as incidências obsessivas, uma vez que ele é muito bem manipulado e dinamizado pelos agentes das trevas, causando graves prejuízos à nossa economia espiritual, além de tolher os passos de quem o acoroçoa, provocando quadros de pessimismo, desânimos e desconforto íntimo, podendo mesmo, em casos mais graves e crônicos, levar à loucura ou até ao decesso físico.

A nobre Mentora Joanna de Ângelis chega mesmo a afirmar[2] que “(...) entre os flagelos íntimos que vergastam o ser humano, produzindo inomináveis aflições, a cons­ciência de culpa ganha destaque, pois se instala insidiosamente e, qual ácido des­truidor, corrói as engrenagens da emoção, facul­tando a irrupção de conflitos que enlouquecem... Decorrente da insegurança psicológica no jul­gamento das próprias ações abre um abismo entre o que se faz e o que não se deveria haver feito, supliciando, com crueza, aquele que lhe sofre a pertinaz perseguição.

A culpa sempre deflui de uma ação física ou mental portadora de carga emocional negativa em relação a outrem ou a si mesmo.
Considerando a própria fragilidade, o indiví­duo se permite comportamentos incorretos que lhe agradam às sensações, para, logo cessadas, entregar-se ao arrependimento autopunitivo, com o qual pretende corrigir a insensatez.  De imedia­to, assoma-lhe a consciência de culpa, que o perturba.   Perversamente, ela pune o infrator perante si mesmo, porém, não altera o rumo da ação desen­cadeada, nem corrige aquele a quem fere. Ao contrário, embora sendo cobradora inclemente, desenvolve mecanismos inconscientes de novos anseios, repetidas práticas e sempre mais rigoro­sa punição...

Atavismo de comportamentos religiosos, morais e sociais hipócritas, que não hesitavam em fazer um tipo de recomendação com diferente ação, deve ser eliminado com rigor e imediatamente”.

Em outra excelente obra, a Mentora explica[3]: “(...) a vida, em toda forma como se expres­sa, originalmente, é um conjunto que transpira harmonia. Desde as complexidades do macrocosmo como nas extraordinárias organizações microscópicas pode-se percebe o equilíbrio que a tudo comanda, estabelecendo ordem, discipli­na e beleza. Mesmo quando o aparente caos sur­ge em a Natureza, percebe-se um trabalho grandioso gerando renovação e produzindo estesia.

Desenvolvem-se os programas estabele­cidos dentro de Leis que regem os acontecimen­tos universais de maneira providencial, dando campo à perfeição, que é a meta a ser alcançada, e só o ser humano, porque pensa e dispõe do livre-arbítrio, se permite a rebeldia, o atenta­do ao estabelecido, a audácia do erro, delinquindo quando contrariado, afrontando a própria Consciên­cia Cósmica. Por efeito, sofre, tornando-se vítima de si mesmo tendo que recompor a experiência, a fim de aprender obe­diência, sensatez, direcionamento correto, e, por fim, conquistar a paz.

Desarmonizando o conjunto em que a vida se ex­pressa, é convidado a reparar, devolvendo a estabilidade que foi atingida. A sua própria consciência, que des­perta, encarrega-se de reexaminar a ação maléfica e, auto­maticamente, impõe-lhe o dever de resgatar, programando o roteiro reparador. Mesmo quando pessoa alguma tomou conhecimento do erro, ela o sabe e, porque está em sintonia com a Divindade, expressando as Leis de Deus que conser­va inscritas, somente se harmoniza quando se desobriga do compromisso elevado, retificador.

Quando o tempo urge e não pode ser reparado, o prejuízo causado a si mesmo e ao próximo, à ordem geral e à vida, transfere de uma para outra existência, insculpido em forma de culpa e revela-se em manifestações psicológicas de com­portamento inseguro, agindo de maneira receosa, sempre esperando enfrentar a realidade, a verdade de que se evadiu.   Reencarnado, o Espírito culpado sofre-lhe a injunção, amargurando-se, embora o aparente êxito que esteja desfrutando, autoacusando-se e sempre ciente de que nada merece, inclusive, não pode ter o direito de ser feliz. E se não possui uma estrutura emocional forte ou razoável, derrapa no pessimismo e foge da realidade medi­ante a usança de alguma droga, pelo alcoolismo ou por aque­las de natureza aditiva, alucinógenas, embriagadoras, que mais complicam o quadro aflitivo.

(...) A ascensão é experiência grave que exige esforço e decisão imbatíveis. Qualquer desalento ou incerteza frus­tra o programa de crescimento íntimo, conspirando contra o prosseguimento da marcha...  Não há, na Terra, pessoa alguma que se encontre sem haver passado pelo caminho do erro para acertar, da sombra para alcançar a luz, do sofrimento para melhor amar...
Consciência de culpa é porta aberta para a repara­ção e não para a descida ao abismo do sofrimento”.

Joanna de Ângelis, nas obras acima assinaladas, oferece-nos orientações para a PROFILAXIA E COMBATE AO FLAGELO DA CULPA:

“(...) Somente um meio existe para alguém liberar-se da consciência de culpa: é o trabalho de dedicação ao dever, de reconstrução interior mediante o auxílio a si mes­mo e à sociedade, na qual se encontra. (...) Seja qual for o tipo de consciência de culpa que se apresente no ser, cumpre-lhe o dever inadiável de continu­ar a marcha, superando o conflito e permitindo-se o direito de haver errado, assim como agora desfruta a oportunidade feliz de reparar o equívoco”.

Portanto, podemos deduzir com a nobre Mentora que a atitude correta ante o sentimento de culpa é não nos utilizarmos de subterfúgios para escamotear a sua realidade dolorosa e afligente, uma vez que não é possível encobrir o Sol com peneira.  Há que se ter a coragem da humildade para, em primeiro lugar, admitir o erro que, uma vez cometido, gera consequências que não podemos impedir. É, portanto, justo e oportuno o aconselhamento de Joanna de Ângelis quando nos conclama a que avaliemos adequadamente os efeitos do equívoco e que o reparemos quando negativo.  E completa: “(...) Se a tua foi uma ação reprochável, corrige-a, logo possas, mediante novas atividades reparadoras. Se resultou em conflito pessoal a tua atitude, que não corresponde ao que crês, como és, treina equilíbrio e põe-te em vigília.

Quando justificas o teu erro com autoflagelação reparadora, logo mais retornarás a ele.  Assim, propõe-te encarar a existência conforme é e as circunstâncias como se te apresentam; erradica da mente as ideias que consideras impróprias, prejudiciais, conflitivas e substitui-as vigorosamente por outras saudáveis, equili­bradas, dignificantes...  Pensa, portanto, com correção, liberando-te das ideias malsãs que te gerarão consciência de culpa e sempre que errares, recomeça com o entusiasmo inicial. A dignidade, a harmonia, o equilí­brio entre consciência e conduta têm um preço: a perseverança no dever. Se, todavia, tiveres dificuldade em agir corretamente, em razão da atitude viciosa encontrar-se arraigada em ti, recorre à oração com sinceridade, e a Consciên­cia Divina te erguerá à paz”.

Por último, a Mentora ensinou[4]: “(...) O conhecimento dos postulados espíritas, notavelmente terapêuticos, por explicar as causas de todos e quaisquer acontecimentos, a responsabilidade que sempre decorre de cada ação praticada, eliminam a culpa e a necessidade de autopunição, desde que exista a consciência de si”.

Pedimos vênia ao confrade Gibson Bastos para terminar este artigo com as mesmas palavras que ele terminou o seu excelente e corajoso livro “Além do Rosa e do Azul”, levado a lume pela editora do C.E. Léon Denis do Rio de Janeiro: “(...) Conforme nos ensina o Espírito Hammed, no livro Dores da Alma, ‘os erros são quase que inevitáveis para quem quer avançar e crescer. São acidentes de percurso, contingências do processo evolutivo que todos esta­mos destinados a vivenciar’. Mas caso isso ocorra, não devemos estacionar na estrada e perder o tempo com lamentações infrutí­feras. E para não nos deixarmos arrastar pelo desânimo, ouçamos a palavra enérgica daqueles que estão mais à frente: "Oh! Alma levanta-te e anda!". E assumindo com humildade e coragem as consequências de nossas decisões equivocadas, busquemos repa­rar nosso débito para com a lei e o nosso próximo, e sigamos em frente, com determinação, em direção ao nosso destino, que é SER FELIZ” e perfeitos como perfeito é o Pai Celestial.


[1] - FRANCO, Divaldo. Após a tempestade. 3. ed. Salvador: LEAL, 1985, cap. 12, p. 70.

[2] - FRANCO, Divaldo. Momentos de saúde. Salvador: LEAL, 1993, cap. 9, p.p. 62-65.

[3] - FRANCO, Divaldo. Sendas luminosas. E. ed. Votuporanga: Didier, 2002, cap. 11, p.p. 71-75.

[4] - FRANCO, Divaldo. Encontro com a paz e a saúde. Salvador: LEAL, 2007, cap. 3, p. 73.

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