Conclave de
líderes espíritas
Conforme
narrado pelo espírito Ermance Dufaux no livro Reforma Íntima sem Martírio,
psicografado pelo médium Wanderley Soares de Oliveira (MG), houve na dimensão
espiritual, nas dependências do Hospital Esperança, situado no ambiente astral
de Minas Gerais, um conclave de líderes espíritas para importantes assertivas e
orientações, tendo em vista o terceiro período do Espiritismo, a iniciar-se com
o novo milênio.
Para podermos repassar com mais
fidelidade o que foi dito nessa reunião, vamos transcrever alguns trechos do
livro acima citado:
“Faltavam
apenas dez minutos para as duas horas. A madrugada revestia-se de intenso
trabalho. Era a última semana do segundo milênio da era cristã. As expectativas
criavam um clima psicológico na Terra de rara amplitude – uma “virada” na qual
as esperanças se renovavam coroadas de júbilo e fé.
Cumprindo mais
uma de nossas programações no Hospital Esperança, reunimos influente grupo
encarnado de pouco mais de mil formadores de opinião no movimento espírita.
Trouxemo-los para uma breve e oportuna advertência. Radialistas, unificadores,
médiuns, escritores, oradores, dirigentes, apresentadores, jornalistas,
expositores, diretores, estudiosos e muitos presidentes de centro espírita
estavam sendo devidamente preparados há quase três dias para que pudessem
cooperar com o desligamento perispiritual e ampliassem sua lucidez quanto ao
tentame.
O professor
Cícero Pereira foi encarregado a fazer os comentários em nome de Bezerra de
Menezes e Eurípedes Barsanulfo.
Observávamos a
chegada de cada um dos membros, todos em estado de emancipação e acompanhados
de pelo menos três cooperadores que se revezavam em várias tarefas, junto a
cada um deles. Alguns ofereciam dificuldade até para se assentarem nos lugares a
eles reservados no salão, contudo, no horário previsto, tudo era calmaria e
prontidão para o serviço da noite.
Aos dois para
as duas horas, entraram Eurípedes e dona Maria Modesto Cravo, ladeando o amado
Bezerra e o professor.”
(...) Dona
Maria Modesto fez um sinal ao professor, o qual assumiu a tribuna:
- Declinarei
de quaisquer detalhes que nos desaproximem do tema. Desejo que todos enriqueçam
as almas nesse conclave com a paz e a esperança.
Constatamos um
ascendente número de adeptos que têm desistido dos ideais de melhoria, em razão
do ônus voluntário que carreiam para si mesmos ao conceberem reforma íntima
como um compromisso de angelitude imediata. O momento exige autocrítica e
vigilância. Além do ônus do martírio a que se impõem, ilusões lamentáveis têm
povoado a mente de muitos espíritas sobre o porvir que os espera para além dos
muros da morte, em razão dessa angelitude de adorno.” (Reforma Íntima sem Martírio, pág. 175, 176 e 177)
Essas palavras
refletem a exata realidade, porque encontramos a cada passo companheiros muito
preocupados com essa “angelitude de adorno”, ao entenderem que dirigentes,
expositores, médiuns ou quaisquer trabalhadores da seara espírita precisam
mostrar ao mundo que são melhores que os outros, em razão da doutrina esclarecedora
que professam, ou que necessitam vestir-se com as vestes da santidade para
serem recebidos nos planos superiores após a morte. Então, ouvimos nos meios
espíritas frases assim: “Um espírita não pode ter raiva”; “O espírita tem que
ser paciente, manso, humilde e perdoar sempre”; “O espírita não pode ter medo
de morrer”; “não pode isso, não pode aquilo... tem que ser assim ou assado...”
e por aí afora.
Mas será que
alguém, pelo fato de ser espírita, é capaz de passar pelas injustiças que a
vida muitas vezes impõe, pelas agressões, humilhações e demais situações
revoltantes sem sentir raiva, embora possa controlá-la e livrar-se dela em
maior ou menor espaço de tempo? Será que a maioria de nós é formada por pessoas
pacientes, mansas, humildes e que sempre perdoam, sem restrições? Será que
nenhum de nós sente medo de morrer?
Por que então
ostentarmos qualidades que ainda não alcançamos, passando uma falsa idéia sobre
nós mesmos?
Lembremos que,
na codificação da Doutrina Espírita, se diz que é possível conhecer-se o
verdadeiro espírita pelo esforço que faz em melhorar-se. (Item 4 do
capítulo XVII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”). E esse esforço é que
deve ser a nossa bandeira, assim como os valores que já conseguimos vivenciar
em profundidade.
Na verdade, as
posturas delineadas para o espírita são muito difíceis de ser desenvolvidas e
mantidas. Somos seres egressos de longos percursos através dos milênios, nos
quais fomos aprendendo e vivenciando alguns valores positivos, mas também
negativos, muitos deles completamente enraizados em nosso psiquismo. Quem
cultivou a violência, o orgulho, a prepotência, o desamor, a vaidade e demais
atitudes e ações negativas em suas jornadas reencarnatórias (e certamente todos
nós já desenvolvemos essas culturas) precisará de muita força de vontade,
esforço e persistência para transmutá-los definitivamente em valores
positivos, e isto certamente demandará muito tempo, provavelmente várias
encarnações. Assim, com um mínimo de reflexão, podemos perceber o quanto é
utópico esse enfoque da “angelitude imediata”. No mínimo, será apenas de
fachada, sem a profundidade necessária para enfrentar incólume as intempéries
da vida e as situações adversas ou estimuladoras dos valores negativos
enterrados no inconsciente e não completamente transmutados em positivos.
Essas posturas
que foram erigidas como padrões de comportamento, conduzem muitos companheiros
à acomodação, bastando-lhes aparentar as virtudes solicitadas por esses padrões
para se sentirem quites com a doutrina que professam. Com isso, furtam-se às
devidas avaliações de si mesmos, do que lhes vai no íntimo, perdendo valiosas
oportunidades de crescimento. Essa é uma característica herdada das religiões
tradicionais que se ocupam com o exterior, sem maiores compromissos com o interior,
onde reside a verdade de cada um.
Nessa
passarela de perfis adotados dentro da seara, além de uma “angelitude de
adorno”, que agrega admiradores incautos em torno de quem a ostenta, ocorre
também, com grande freqüência, o oposto, a marginalização daqueles que não
conseguem dominar seus impulsos, não se adequando ao modelo que foi criado para
um “verdadeiro espírita”. Quem se encontra em situação dessa natureza precisa
de fraternidade e compreensão (não conivência), além do auxílio dos
companheiros para não arrefecer em seus ideais, ante as dificuldades que
enfrenta. Com poucas exceções, isso não acontece, ao contrário, tal pessoa
vê-se logo excluída, tachada de obsediada e relegada ao abandono.
Formadores de opinião
Mas vejamos o
que é um formador de opinião, tendo em vista que o conclave em referência foi
realizado para os formadores de opinião espíritas. Trata-se das pessoas que
desenvolvem e passam, ou repassam, idéias capazes de influenciar outras
pessoas, e cujas posições ou atividades as credenciam à confiabilidade, seja
esta real ou fictícia.
No contexto
espírita ocorre com freqüência que um escritor, orador, ou outro formador de
opinião tem uma idéia cujo conteúdo lhe parece adequado para ser inserido num
livro, numa palestra ou em outro veículo, dentro da sua área de atuação. Essa
idéia pode ter surgido de suas reflexões, ter-lhe sido inspirada por espíritos,
ou pode ter sido ouvida ou lida em alguma parte, e ele a desenvolve de acordo
com seus próprios conteúdos e/ou interesse, visando incluí-la no livro que está
escrevendo, em suas palestras, em conversas habituais, ou em algo relacionado a
suas atividades em prol do Espiritismo.
Acontece muito
freqüentemente que aquela idéia lhe chegou (ou lhe foi enviada) visando a seu
próprio enriquecimento espiritual, seu crescimento interior, mas raras vezes
ela é utilizada para esse fim.
Quantos de nós
que somos “passadores de idéias” estamos sempre atentos ao que nos chega, no
intuito de nos apropriarmos do aproveitável, visando apenas a esse repasse, sem
a preocupação de utilizá-lo em primeiro lugar para nossa própria edificação?
Nosso foco está no repassar, não no apropriar. Quando nos chega
alguma advertência, em vez de olharmos para nosso próprio interior à procura de
identificar onde ela se encaixa, cuidamos de olhar em torno, para verificar a
quem ela pode estar sendo dirigida.
Com isso
perdemos as melhores oportunidades que o Alto nos dá para nossa própria
edificação e, então, ao retornarmos ao mundo espiritual, a decepção e a
amargura serão as nossas anfitriãs e o arrependimento tardio, o nosso
companheiro de todas as horas. Tivemos sim merecimento pelo que fizemos na
qualidade de formadores de opinião, mas não construímos a ponte que nos poderia
elevar a planos melhores, a dimensões mais felizes. Sabemos que, para ter
acesso a essas dimensões de luz, não basta o merecimento, é necessária a
vivência, pois é por essa via que elevamos nossa freqüência vibratória,
tornando-nos mais “leves”, ou seja, compatíveis com aquelas faixas onde a
felicidade reside.
Também é
importante perceber que a responsabilidade de um formador de opinião é
muitíssimo maior do que a das demais pessoas, porque ele é um condutor de
almas. Na seara espírita, assemelha-se ao Sacerdote, ao Pastor... É sempre
responsável pelo que passa àqueles que são alcançados pelas suas palavras.
Quanto maior o âmbito da sua influência ou do alcance das suas palavras, maior
a sua responsabilidade.
Será que temos
nós procurado refletir profundamente sobre o teor do que passamos? Ocupamo-nos,
porventura, em edificar nosso interior com a argamassa dos ensinos de Jesus, a
fim de podermos passar a mensagem que se desenvolve em nossas mentes, ou nos
vem do Mais Alto, perfumada com o aroma da nossa realidade mais íntima? Ou será
essa “nossa realidade” apenas uma aparência, um “sepulcro caiado”?
Se exercemos
influência sobre outras pessoas, urge encetarmos avaliações constantes,
sinceras e profundas sobre nós mesmos e retirarmos nossas máscaras, aquelas que
fomos construindo ao longo dos elogios que recebemos e da admiração que
possamos ter percebido nos circunstantes, porque os elogios e a admiração
refletem aquilo que os outros vêem em nós, raramente a nossa realidade.
Da mesma
forma, cabe-nos sempre reciclar nossos discursos, aqueles que estão nos arquivos
sempre abertos da nossa mente e de onde fluem para a palestra, a conversa ou a
resposta a quem que nos faz uma pergunta.
Nos meios
espíritas é grande o número de formadores de opinião que sempre têm uma
resposta para tudo “na ponta da língua”. Percebe-se que não refletem se aquela
resposta é adequada, atual, oportuna, ou mesmo se deve ser dita. Na verdade,
está-lhes faltando humildade e sabedoria: humildade para se declararem
momentaneamente incapazes de responder, quando não têm certeza da resposta a
ser dada, e sabedoria para dizer com acerto o que deve ser dito, ou calar o que
não deve ser dito.
A reflexão
constante e o constante questionamento devem fazer parte do cotidiano dos
formadores de opinião, face à sua responsabilidade pelas idéias que passam ou
repassam. Nos meios espíritas deparamo-nos constantemente com slogans, cujo
conteúdo repassamos sem maiores avaliações sobre seu significado, como: “O
silêncio é uma prece”, “Não critique, coopere” ou “O mal não merece comentário
em tempo algum”. O primeiro é inverídico, porque o silêncio apenas favorece a
prece. Os outros dois, interpretados de forma equivocada, têm paralisado o
movimento espírita pela falta de autocrítica e de crítica construtiva. Cabe aos
formadores de opinião refletir e esclarecer questões como essas, mostrando como
se pode atuar construtivamente, utilizando a ferramenta da crítica com
fraternidade e alteridade, sempre seguida de sugestões de melhoria. Quanto ao
mal, certamente não merece comentários, quando estes nada possam acrescentar ou
construir de bom, mas seremos cegos tentando conduzir outros cegos se
restringirmos nossa visão apenas ao bem que encontramos em nossos caminhos.
Envergonhados e atormentados
E Cícero Pereira continua,
esclarecendo:
“Aqui mesmo
nesse nosocômio enfrentamos situações severas da parte de homens e mulheres, os
quais foram agraciados com o conhecimento e o trabalho nos campos educativos da
seara espírita e que, a despeito de suas honrosas fichas de prestação de
serviços, encontram-se envergonhados uns e atormentados outros, porque
descuidaram do erguimento dos valores eternos na sua intimidade. Muitos deles,
aliás, não esqueceram a reforma íntima, mas não souberam edificá-la.” (Idem pág. 177)
Vemos nessas
palavras um fato comum nos meios espíritas; percebe-se que não há muita clareza
nas definições, misturando-se muitas vezes a idéia de merecimento com a de
evolução, quando as duas refletem situações bem diversas.
Merecimento é
resultado de ações exteriores e evolução é algo que se processa na
intimidade da alma.
Mas se as ações meritórias são
movidas pelo amor, ou seja, se são atos de amor, então são duplamente
proveitosas, porque quem assim age está ganhando méritos que representam
créditos para quem as pratica, e são importantes para quem as recebe. Ocorre,
no entanto, que quem amealha apenas merecimentos, sem desenvolver os valores da
alma, assemelha-se a um pássaro com uma só asa. Não conseguirá alçar vôo
elevando-se aos altiplanos de luz, onde a felicidade habita.
Ocorre também
que pelo fato de as ações exteriores que proporcionam merecimento serem bem
mais fáceis e ficarem mais à vista que a construção dos valores da alma, a
tendência é optar pelas primeiras, empurrando-se a segunda para um futuro
qualquer, talvez para depois do retorno ao mundo espiritual, quem sabe, com a
errônea idéia de que lá seja mais fácil cultivá-las.
Mas, pelo que
dizem os espíritos, o número de decepcionados na dimensão espiritual é muito
grande. E eles não se sentem apenas decepcionados, mas também profundamente
arrependidos e amargurados por causa das oportunidades perdidas.
Maioridade
do Espiritismo
Cícero Pereira
continua:
“Tivemos três
fases bem marcadas e entrelaçadas no movimento humano em torno das idéias
espíritas: o fenômeno, a caridade seguida da difusão e agora,
mais que nunca, a interiorização. Estamos no período da maioridade,
preparando-nos para a aquisição de valores incorruptíveis. Nossa meta é o
Espiritismo por dentro, o intercâmbio de vivências morais à luz das bases que
consolidam a lógica do pensamento espírita.” (Idem pág. 178)
Esse período
da maioridade do Espiritismo ao qual se refere Cícero Pereira, foi
anunciado por Bezerra de Menezes num discurso que fez para mais de 5.000
espíritos desencarnados e encarnados num encontro na dimensão espiritual, ao
término do Congresso Espírita Brasileiro de 1999, ocorrido em Goiânia-GO, e
narrado no livro Seara Bendita, psicografado pelo médium Wanderley S. de
Oliveira. Nesse discurso Bezerra informou que o Espiritismo está entrando em
sua terceira fase, esclarecendo que a primeira, de 70 anos, representara a
legitimação da ciência e da filosofia espírita; a segunda, com idêntica
duração, fora a da proliferação do conhecimento espírita e a terceira, a
iniciar-se com o novo milênio, daria lugar à maioridade das idéias espíritas.
Será, conforme afirmou, o período da atitude, quando a essência da doutrina, os
seus ensinamentos éticos, deverão ser vivenciados e não apenas falados.
Santificação
de adorno
Cícero Pereira
continua, esclarecendo:
“Inspirados em
padrões de comportamentos rígidos da religião organizada, muitos discípulos da
“boa nova espírita” asseveram seguir os exemplos de Jesus e de Kardec guardando
cenho carregado e distância das atitudes espontâneas de alegria e afeto,
alegando seguir as orientações doutrinárias como se houvesse um estilo exterior
e predefinido de reconhecimento dos espíritas. A grandes malefícios tem levado
essa cultura de “santificação de adorno” por impedir as criaturas a uma
incursão nas profundezas de si mesmas, objetivando identificar as necessidades
individuais de aprimoramento. Cada espírito tem imperfeições próprias, únicas,
e, também, qualidades em diversificada intensidade e característica, não sendo
útil e nem sensato a adoção de um elenco de convenções religiosas de fora para
dentro para serem seguidas.” (Idem pág. 178)
“Santificação
de adorno...” Reflitamos por instantes. Percebe-se que esse tipo de
“santificação” está no nosso exterior, como mera vestimenta ou adorno a ser
mostrado aos outros, principalmente aos companheiros da seara, por receio de
sermos por eles julgados e tidos como “maus espíritas”, ou seja, de cairmos no
conceito da comunidade em que estamos inseridos. Mas lembremos que Jesus
enfatizou muito essa questão das aparências e a própria lógica nos diz que ela
não tem qualquer consistência. Ao contrário, é muito prejudicial à nossa
evolução porque nos leva, ao longo do tempo, a acreditar que realmente somos o
que aparentamos, engano que nos custará muitas dores, tristezas e
arrependimento após ingressarmos no reino da verdade pelas portas da
desencarnação.
Então
pergunto: o que é mais importante? crescer no conceito da nossa comunidade, mas
sofrer no além-túmulo, carregando seqüelas para as futuras encarnações? ou conduzir-nos (nos pensamentos, atitudes,
palavras, sentimentos e ações) visando tão somente buscar nosso crescimento
interior, apoiando-nos, inclusive, uns nos outros, para mais facilmente
podermos alcançar nossas metas, sem recear julgamentos humanos, nem mesmo
discriminações?
Essa segunda
opção certamente é bem mais difícil, mas de que vale caminhar por caminhos mais
fáceis quando encarnados, para depois sofrer no mundo espiritual e ter de
recomeçar tudo em futuras encarnações? Aqui cabe lembrar aquela conhecida
exortação de Jesus: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta que
leva à perdição”.
Gostar das pessoas
Voltemos a
Cícero Pereira, que conclama:
“Motivemos os
núcleos espiritistas a uma campanha de esforços pela implantação da noção de
“escola do espírito”, erguendo trincheiras seguras e generosas para o
entendimento mais consistente do ato de educar a si mesmo.”
(...) Nessa
“escola da alma” pensemos os valores humanos como metas possíveis e não como
virtudes angelicais, das quais permanecemos muito distantes da possibilidade de
experimentá-las.”
(...) Mais do
que práticas e instituições é necessário preparar o seguidor da doutrina para
aprender a gostar de relacionamentos. Com raríssimas exceções, o espírita,
assim como a maioria dos homens reencarnados, não aprendeu a gostar das pessoas
com as quais convive, descobrir-lhes as virtudes, encantar-se com suas
diferenças, cultivar a empatia. Muitos agem como se pudessem beneficiar-se das
práticas que tanto amam sem ter que suportar o “peso” das imperfeições alheias
– o que muito lhes agradaria. Ama-se muitas vezes com mais alegria o Centro,
suas dependências e tarefas, que aqueles que nele transitam... Há companheiros
com mais cuidado com seus livros espíritas que com os amigos de tarefa...”
(Idem pág. 180)
Sentir
amizade, gostar das pessoas com as quais se convive, cultivar a empatia, são
conselhos extremamente importantes, e em se tratando de assim proceder na
instituição espírita, tornam-se essenciais. Lembremo-nos das afirmativas do
Mestre: “Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem”. A constante
prática da afetividade, do cultivo da amizade, da empatia, mesmo de maneira
forçada, como obrigação que alguém se impõe, leva essa pessoa, pouco a pouco, a
desenvolver amor, a maior e mais plena das virtudes. Nos locais onde se cultiva
a afetividade é possível senti-la no próprio ambiente. Quando isto ocorre num
centro espírita este se torna muito mais agradável e mais propício a oferecer
melhor auxílio a quem o procura, necessitado de ajuda. Torna-se também mais
capacitado a mais plenas manifestações espirituais.
Quando
ingressamos num local onde as pessoas desenvolvem a afetividade, podemos
facilmente percebê-la pelas sensações e pelos sentimentos que passamos a
nutrir. Por vezes essas sensações são tão fortes que podem até levar pessoas
sensíveis às lagrimas.
Se você é
dirigente espírita, ou se tem alguma influência no centro que freqüenta ou onde
trabalha, pense na importância de incentivar os trabalhadores da casa, e também
os freqüentadores, a desenvolverem sentimentos de amizade, de amor fraterno.
Isto pode ser viabilizado pelas mais diversas formas: campanhas com a colocação
de cartazes e distribuição de folhetos incentivando à vivência do afeto;
criação de slogans; rápida abordagem desse tema antes e/ou após as palestras públicas;
promoção de reuniões específicas visando desenvolver a afetividade, estimulando
sempre os companheiros nesse sentido, e outras ações semelhantes.
Vivência
Voltemos à
palestra de Cícero Pereira:
(...) O espírita passou a ser um conhecedor da
vida espiritual e suas leis, mas continua ignorante sobre si mesmo, o
autoconhecimento. Temos aqui mesmo no Hospital Esperança muitos devotos que
detinham toda a história do Espiritismo na memória, conheciam bem todos os
clássicos da Doutrina, contudo, não se esforçavam para estampar um sorriso aos
companheiros de grupo.” (Idem pág. 181)
Essas palavras
dão o que pensar. De que vale uma cabeça repleta de conhecimento superior sobre
um coração vazio de amor?
Foi por muito
refletirmos nessas questões que em nosso último livro, A TRANSIÇÃO está
pedindo mudanças, sugerimos aos dirigentes espíritas algumas mudanças em
algumas metodologias, como a inclusão de atividades dedicadas à vivência
espírita nas reuniões de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – ESDE, ou
de quaisquer outros modelos de estudos doutrinários. A idéia é a de intercalar
estudo com vivência, ou seja, uma reunião doutrinária e outra de vivência, ou
crescimento interior, porque, se não conseguimos vivenciar o que estudamos e
pregamos, seremos como balões vazios que não sairão do chão, em busca das
alturas. Nessas condições, como poderemos pretender melhorar o mundo, ou
minimamente nosso próprio âmbito de influência? De que vale conhecermos
profundamente a Doutrina Espírita, nos extasiarmos ante a perfeição das leis
maiores que vamos descortinando através desse conhecimento, se em nossos
espaços interiores não conseguimos desenvolver o amor, a humildade e demais
valores?
Ora, se a
vivência desses valores é tão difícil que preferimos relegá-la a segundo plano,
ou “empurrá-la com a barriga” e, por outro lado, sendo ela o aspecto mais
importante do Espiritismo..., o que nos poderia dizer o bom senso? Que faríamos
se enfrentássemos situação semelhante em nossa vida material? Certamente
iríamos priorizar a busca de soluções. Quando uma pessoa ou um grupo deseja
real e decididamente ganhar pontos em sua evolução, saberá encontrar meios para
tanto.
Refletindo
sobre tudo isso, concluímos que há uma forma bem mais fácil e proveitosa para
evoluir e que poderia ser adotada nos centros espíritas, como orientação
primordial, tanto para os trabalhadores, quanto para os freqüentadores. Ela
está num contínuo ocupar-se em desenvolver sempre em todo o ser um sentimento
de fraternidade ou de amor universal, dentro de um enfoque alteritário, porque
o amor, quando vivenciado junto com a alteridade, representa uma extraordinária
força de crescimento em nossa evolução espiritual.
No amor estão
embutidas todas as demais virtudes, e na alteridade encontramos o melhor
instrumento para uma convivência fraterna e harmoniosa.
O amor inclui
a solidariedade, a compreensão, o perdão, a ajuda mútua, a humildade...
O amor exclui
o despeito, a maledicência, os melindres, as fofocas, as críticas negativas, as
malquerenças, o orgulho, a vaidade, a ambição...
Imagine-se a
seguinte situação:
“Alguém faz
uma auto-avaliação e conclui que está precisando corrigir-se do melindre, da
vaidade, do egoísmo, da prepotência e do rancor, entendendo que deve priorizar
o combate ao egoísmo, seu valor negativo mais forte, para depois passar aos
demais, cinco ao todo”.
Mesmo que
fique atento, tempo integral, à determinação de liberar-se do egoísmo, quanto
tempo levará para consegui-lo?
E os outros
quatro valores negativos restantes?
Mas se essa
pessoa se fixa em apenas uma ação constante, a de imprimir em seus sentimentos
o amor pleno, com essa única ação, estará transmutando aqueles cinco valores
negativos em positivos. A contínua prática desse exercício acaba
transformando-se em hábito, criando raízes, implantando-se no subconsciente ou
no inconsciente, passando, com o tempo, a fazer parte da personalidade. E se
acrescentar a esse foco a alteridade, com essa ação dupla – imprimir em todo o
ser o amor e a alteridade – estará trabalhando intensa e proveitosamente pelo
ganho e fixação de valores morais e espirituais, ou seja, pela sua reforma
íntima.
Os sentimentos
de amor e fraternidade no âmbito físico têm o poder de relaxar, eliminar
estresse e possibilitar melhor circulação de energias no organismo, além de fortalecer
o sistema imunológico. Equivalem à saúde e ao bem-estar.
No âmbito
espiritual, são o melhor antídoto para o orgulho, o egoísmo, a ambição, a
ganância, a agressividade e tantos outros valores negativos. Predispõem à paz,
à brandura, ao bom relacionamento, à compreensão, à tolerância, ao equilíbrio e
a diversos outros valores positivos, abrindo caminhos para a sabedoria.
O amor é um
estado de espírito. A alteridade representa um elevado nível de compreensão.
Os sentimentos
fraternos e alteritários, envoltos em júbilo, refletem o esplendor das leis de
Deus. Imprimi-los continuamente nas próprias emoções é caminhar nessa luz.
Esta é uma das
maneiras mais fáceis de crescer interiormente. Basta querer.
Pensemos então
nos extraordinários ganhos dos centros que adotarem como bandeira a exortação
constante para a aplicação dessa simples fórmula: um contínuo ocupar-se em
desenvolver sempre em todo o ser um sentimento de fraternidade ou de amor
universal, dentro de um enfoque alteritário.
Alteridade
Para melhor compreensão sobre
alteridade, vamos nos valer da explicação dada por Marcelo Henrique Pereira,
Diretor de Política e Metodologias de Comunicação da Associação Brasileira de
Divulgadores do Espiritismo (ABRADE), a um participante de uma das listas dessa
entidade na Internet:
O “movimento
alteridade na seara espírita” consiste numa proposta clara de entendimento
entre os espíritas, com base no respeito recíproco.
A bandeira da
alteridade vem sendo defendida por nós, da Associação Brasileira de Divulgadores
do Espiritismo (ABRADE), como uma proposta de entendimento interpessoal, à luz
da filosofia espírita.
A postura ou
comportamento alteritário pressupõe “colocar-se no lugar do outro”, aprender
com ele, com suas experiências, princípios e teorias.
Num diálogo,
não devemos estar preocupados em “convencer” o outro sobre nossas verdades
pessoais. Pelo contrário, é preciso aproveitar a rica ocasião do convívio para
crescer enquanto pessoa e permitir o crescimento do outro.
Comumente, em
diversas situações de nossa existência, quando travamos contatos, sobretudo nos
ramos diversos de nossa participação na vida, temos a intenção de convencer os
outros sobre nossos argumentos.
No movimento
espírita – e, conseqüentemente, na vida – percebemos, nós, a necessidade de humildade
e fraternidade, abrindo possibilidades de aprendizado e crescimento a partir
das informações e comportamentos do outro, com quem estabelecemos relações.
Esta atitude
de “desprendimento”, de “abertura”, de “conviviabilidade”, acaba sendo
importantíssima para a formação do “conhecimento coletivo”, em que as soluções,
as alternativas, as propostas, surgem do amadurecimento coletivo.
Evidentemente,
o processo é a médio e longo prazos, pois não se trata de uma “fórmula”, uma
“bula” de posicionamento, mas uma conquista, uma conscientização, paulatina e
constante.
É importante,
nos núcleos de filosofia espírita, que possamos exercitar a convivência e a
ambiência democrática e participativa, sem nos esquecermos, é claro, das
balizas que norteiam qualquer associação e/ou trabalho.
Não se trata,
pois, da pregação da “anarquia”, nem da ruptura total de condicionantes e
regulamentos.
É, acima de
tudo, uma vivência espírita, que se torna natural na medida em que, individual
e coletivamente, invistamos no processo.
Em nossa
homepage (www.abrade.com.br), temos
material sobre a alteridade.
Recomendamos,
ainda, a leitura de alguns livros que têm sido lançados, que traduzem o
pensamento e os ideais da espiritualidade e do próprio movimento espírita, para
estes novos tempos.
Entre eles,
citamos: “A transição está pedindo mudanças” (Saara Nousiainen, Ed. Caminhos de
Harmonia/ABRADE), “Seara bendita” (Diversos Espíritos/Maria José e Wanderley
Soares de Oliveira/INEDE) e “Nosso endereço de luz pede mudanças” (Saara
Nousiainen, Ed. Caminhos de Harmonia).
Importante é
destacar que o comprometimento dos espíritas interessados é a necessária
alavanca para a construção de novas relações humanas, tanto no cenário espírita
como fora dele.
Você é nosso
convidado para fazer parte deste movimento.
Venha
conversar conosco (abrade@abrade.com.br)!
Um novo tempo
começa a ser construído.
Paz e
Alteridade.”
Como
vemos, alteridade pode ser assim resumida:
1 - disposição
para aceitar e aprender com os que são diferentes e pensam diferente de nós;
2 - construção
da fraternidade apesar das divergências, respeitando-as e procurando aprender
com as diferentes opiniões, entendendo-se que vivenciar o valor da alteridade
não quer dizer deixar de discutir, debater, questionar. A discussão, o debate e
o questionamento são saudáveis quando se respeita a maneira de ser e de pensar
do outro.
As idéias
alteritárias também alicerçam a Política de Comunicação Social Espírita (PCSE)
que a ABRADE vem discutindo junto ao movimento espírita, e que pode ser
sintetizada em dez pontos principais:
1. Aceitar
as participações para o debate, mesmo que elas sejam divergentes da maioria;
2. Valorizar o
diálogo, o intercâmbio e a liberdade de pensamento;
3. Disseminar
a idéia da fraternidade como relação de alteridade;
4. Valorizar a
relação com outras identidades culturais;
5. Priorizar as
pessoas acima da instituições;
6. Estabelecer
a ética da fraternidade como critério de união inter-institucional;
7. Inserir
o sujeito não espírita, em regime de diálogo, no debate espírita;
8. Gerar benefícios
sociais pela participação em parcerias nas campanhas públicas;
9. Superar quaisquer
barreiras discriminatórias e compreender as diferenças;
10. Reconhecer
a legitimidade do outro e de sua autonomia.
Crescimento
interior
Muitos
espíritas entendem que o mero estudo doutrinário dará subsídios para a reforma
íntima, ou crescimento interior, e que não são necessárias ações mais objetivas
nesse sentido, mas a realidade nos mostra que não é assim. Essa reforma, ou
crescimento, pelas imensas dificuldades que apresenta, requer esforços
dirigidos, organizados e permanentes. Também não pode ser relegada ao tempo, ao
crescimento natural do ser, nem mesmo aos auxílios decorrentes do estudo
doutrinário. O estudo esclarece, mas para alavancar a reforma, ou o crescimento
interior do ser, em razão das grandes dificuldades que apresenta, é preciso
mais que esclarecimentos e conhecimento. É preciso ação, uma ação organizada,
roteirizada, priorizada. E é ai que entra a responsabilidade dos dirigentes
espíritas, porque tais ações dependem deles. A implantação de reuniões e/ou
“oficinas” voltadas ao crescimento interior está nas mãos dos dirigentes. A
viabilização de campanhas dirigidas à reforma íntima também está em suas mãos.
O dirigente
espírita é alguém que detém graves responsabilidades, e uma delas é conduzir o
“seu rebanho” pelos melhores e mais adequados caminhos, visando sempre a sua
evolução. Assim, se você é dirigente espírita ou detém influência em qualquer
área da seara que freqüenta ou na qual trabalha, pode simplesmente omitir-se,
tornando-se responsável por essa omissão. Mas pode também começar a refletir
detidamente sobre essas questões e, acima de tudo, arregaçar mangas,
juntando-se aos que já se mobilizaram visando a essa meta.
Talvez você
diga que não tem “poderes” para implementar campanhas, mudar metodologias ou
promover quaisquer outras ações relacionadas ao crescimento interior do grupo,
ou grupos, de que participa. Ocorre que SEMPRE é possível fazer-se algo, nem
que seja assimilando idéias e passando-as adiante, conversando com uns e
outros, principalmente com aqueles que detêm os “poderes” em referência. Por
mais que alguém se ache insignificante, sempre poderá exercer influência, boa
ou má, nos ambientes em que estagia ou por onde circula.
Fantasias
Mas voltemos a
garimpar algumas valiosas pepitas da palestra de Cícero Pereira:
(...) Assim
expressamos com rigor, para que não estimulem em suas fainas de formação de
opinião as expectativas de angelitude após a morte corporal. Por mais nobres
sejam as obras que ergamos, por mais devoção a elas ofereçamos, torna-se
imperioso o desapego de fantasias de merecimento em torno de supostas honrarias
no reino dos espíritos. Adotemos a condição de aprendizes e servos, pelo bem de
nossa paz. Nossas atividades, por mais nobres, não passam de frutos da
boa-vontade de quem está recomeçando.” (Idem pág. 181)
Qual de nós,
que nos dedicamos à faina nos arraiais espíritas, pode olhar para trás, fazendo
inventário de tudo que conseguiu realizar, e não nutrir a expectativa de um
retorno glorioso à dimensão espiritual após sua desencarnação, ou, no mínimo, a
de receber algumas honrarias, ou pelo menos louvores e agradecimentos pelo que
realizou na Terra? Quantas reportagens nos chegam do outro lado da vida,
através da psicografia e da psicofonia, narrando as desventuras de espíritos
que partiram daqui na doce expectativa de grandiosas recepções no mundo
espiritual e acabaram sofrendo terríveis decepções. Na verdade, dar o melhor de
nós mesmos pela doutrina que esposamos, certamente gera merecimento, mas também
reflete a oportunidade de resgates e de reajuste com as leis maiores. E mesmo
que não haja erros do passado a resgatar, se o móvel de alguém, ao desenvolver
atividades no âmbito espírita, é tornar-se merecedor de aplausos e honrarias, o
valor da obra se esvai na vaidade. Portanto, o espírita esclarecido trabalha
apenas por amor, por um impulso interior a fim de fazer o bem, entendendo que
esta é a parte que lhe cabe na divina tarefa da evolução. Seu salário não será
pago com qualquer tipo de honraria, nem em vantagens adicionais, mas com o
júbilo que advém da própria realização e da consciência em harmonia com as leis
de Deus.
Reforma íntima X policiamento
Voltemos a
Cícero Pereira:
(...) Nosso apelo a todos que aqui se
encontram, perante a toga da responsabilidade de serem influentes líderes da
comunidade doutrinária, é a de que debrucem sobre o tema pouco devassado da
conquista de si mesmos e nos auxiliem a estender um “programa de moralização
dos conceitos espíritas”, promovendo a casa espírita ao ideário de ser uma
autêntica “escola do espírito”. A reforma íntima, tão decantada, não tem sido
devidamente aplicada.” (Idem pág. 183)
Observe, caro
leitor, a importância desse apelo para os líderes da comunidade doutrinária
espírita buscarem a conquista de si mesmos, a sua edificação interior, a fim de
se tornar aptos a ajudar os espíritos benfeitores a desenvolverem um programa
de “moralização dos conceitos espíritas”, visando transformar os centros em
autênticas “escolas do espírito”, indicando que isto se faz a partir da reforma
íntima.
Mas o que é
exatamente uma reforma íntima? Parece-nos imperioso fazer-se uma análise mais
abrangente sobre o que ela realmente significa, porque muitos a confundem com
policiamento e cobrança. Há companheiros que, policiando a si próprios, ao
perceberem que “resvalaram”, descumprindo algum ponto do que entendem como
“conduta espírita”, passam a cobrar de si mesmos, às vezes com excessivo rigor
e de forma até prejudicial. Diria mesmo que esse excesso de zelo e cobrança
refletem amiúde a vaidade de quem não aceita sua condição de criatura
imperfeita, em fase evolutiva não muito avançada. Essa cobrança, quando
excessiva, prejudica a auto-estima e pode levar a um estado negativo de
desânimo, de estagnação, ao catalogar a condição de verdadeiro espírita
como algo inalcançável. Quando equilibrada, é fator de crescimento. Mas há
também os que vivem policiando os outros, exortando-os continuamente quanto às
tais normas de conduta que devem ser seguidas pelos “verdadeiros espíritas”,
numa sucessão de cobranças que podem prejudicar seu livre crescimento e a
alegria de ser, viver e evoluir, levando-as, conforme o caso, a desenvolverem a
tal “santidade de adorno”. A cobrança, conforme Cícero Pereira, gera angústia e
somente o esforço sereno leva à libertação.
Portanto, pela
dificuldade em se definir o que realmente significa reforma íntima e como realizá-la,
vemos a necessidade de o movimento espírita debruçar-se intensamente sobre esta
questão, tornando-a tema de debates, além de desenvolver atividades destinadas
a facilitar e/ou promover o crescimento interior daqueles que militam em seus
arraiais.
Temos dado
preferência ao termo crescimento interior, em vez de reforma interior,
porque a palavra reforma indica uma ação, a de reformar e, depois, a
estagnação. Já o crescimento implica em aquisição de valores em todos sentidos
das necessidades humanas, não apenas das virtudes, mas também de tudo o mais
que possa levar a pessoa a sentir-se plena, feliz, com equilíbrio e bem-estar,
capaz de interagir de forma benéfica com tudo que o cerca, desde a comunidade
em que está inserido, até a própria natureza. É uma ação contínua.
Esse
crescimento pode ser natural, desenvolvendo-se no bojo do tempo e das
experiências reencarnatórias. Mas também pode ser consciente, ou seja,
planejado, organizado e autocomandado.
Crescer
interiormente equivale a:
a) desenvolver
virtudes;
b) assimilar
aprendizados diversos;
c) adquirir
equilíbrio mental, psíquico e emocional;
d) conquistar
bom relacionamento consigo mesmo e com os outros;
e) amadurecer;
f) desenvolver
maior comando consciente de si mesmo (orgânico, mental e psíquico);
g) desenvolver
contentamento;
i) liberar-se
de traumas, fobias, medos, ansiedades, frustrações...
Auto-suficiência
espiritual
Diz ainda
Ermance Dufaux que, ao final do conclave, vários trabalhadores do Hospital
Esperança aproximaram-se dela e de dona Maria Modesto com perguntas. Uma delas
referia-se a um certo estado de desagrado que haviam percebido em vários
companheiros reencarnados, ao ouvirem certas passagens da fala de Cícero
Pereira. A esta indagação D. Maria Modesto respondeu:
“São almas que
lutam tenazmente com suas tendências. (...) são os mil líderes espíritas
encarnados que mais padecem de um terrível mal, o qual assola a maioria das
leiras do serviço do Cristo nas expressões religiosas de todos os tempos.”
(...) É a doença da auto-suficiência espiritual ou o fascínio com a importância
grandiosa que muitos corações supõem possuir nos serviços de Jesus. Os amigos
espíritas, especialmente os mais experimentados na arte de liderar, precisam
vigiar com muita cautela o encanto que têm devotado a suas “folhas de serviço”.
Bastas vezes confundem quantidade de tarefas e realizações com ascensão
evolutiva, como se fizessem carreira nos ofícios de sua espiritualização. (...)
Temos por aqui vastos pavilhões de médiuns, divulgadores, escritores, evangelizadores
da juventude, presidentes de centros espíritas, dispensadores da caridade
pública, todos abençoados com as luzes da Doutrina Espírita, entretanto, sem
conquistarem sua luz própria. Sufocaram-se no orgulho com a cultura e a
experiência doutrinária e negligenciaram o engrandecimento moral de si mesmos
através da reeducação dos hábitos e da aquisição de virtudes essenciais.” (Idem pág.
184 e 185)
Essas
explicações de dona Maria Modesto certamente serão matéria para muita reflexão
da parte daqueles que se interessam pela própria evolução e futuro espiritual,
particularmente no que tange às agruras daqueles internos do Hospital Esperança
que foram espíritas, influentes ou não, quando encarnados, e não souberam ou
não quiseram encetar a maior das empreitadas, o desenvolvimento dos valores da
alma. Nada nos fala tão forte quanto a mostragem da situação daqueles que
jornadearam pelos caminhos por onde andamos agora.
Felizes
aqueles que aprendem com as experiências alheias.
Respondendo a
outra pergunta sobre quais as chances de sucesso daquele conclave, dona Maria
Modesto responde:
“Apesar do
êxito deste momento, as chances são muito reduzidas de que nossos irmãos
aproveitem a ocasião tanto quanto necessitam. Eles já perderam o gosto de
ouvir, adoram mesmo é falar muito. Seus ouvidos não estão conforme a assertiva
evangélica, ouvidos de ouvir.” (Idem pág. 187)
É triste
termos que concordar em que há infinito número de companheiros espíritas,
particularmente formadores de opinião, que se ocupam tanto em falar, falar...
sempre falar, que não assimilam o que lhes é dito. E quando alguém intenta
dizer-lhes algo, é logo cortado, e mesmo que seja escutado, percebe-se
claramente que o “falador”, quando ouvinte, nada apreende. Sua mente está
ocupada em pensar no que irá continuar dizendo, completamente desinteressado do
que ouve, como se fosse ele o dono e senhor do conhecimento e da verdade, e
todos os demais nada soubessem que lhe pudesse ser de utilidade.
Dona Maria
Modesto continua:
“(...) Não
somente esses mil. Mas uma infinidade de homens e mulheres da direção nos
arraiais espiritistas se encontram nas garras da auto-suficiência, fascinados
por seus feitos e com sua bagagem, nutrindo pouca disposição para serem
avaliados e criticados em suas idéias e ações. Gostam mesmo é de serem
admirados e aprovados sem restrições, sendo que alguns adoram impressionar...
(...) Muitos e
graves episódios de fascinação coletiva rondam a Seara Espírita em razão desse
lamentável quadro de personalismo e vaidade.
(...) basta
olhar os pavilhões deste hospital lotados de dirigentes que não souberam se
diminuir para que o Cristo crescesse. Ajudaram muitos a se renovarem, mas não
cuidaram tanto quanto careciam da mudança interior de si próprios.
(...) As almas
que cristalizarem o pensamento nos redutos do preconceito ou do dogmatismo
enfrentarão sofrida crise de impotência, amargando o vexame e o desânimo. É por
amor aos nossos líderes espíritas que aqui os trouxemos. Mais que nunca
precisarão sedimentar em seus atos a tolerância construtiva, visão futurista,
empatia com o próximo e desapego de suas realizações pessoais – quesitos
essenciais para formarem o clima do diálogo e do entendimento com alteridade,
as únicas vias de acesso ao paradigma do século XXI que estabelece a parceria
solidária e pacífica como alvo de todas as aspirações sociais e humanitárias.
Se rebelarem e fixarem na condição de apaixonados por suas obras,
experimentarão a falência e a angústia quando aqui aportarem. (...) Se os
avisamos agora é para que não se queixem depois.” (Idem pág.
188, 189 e 190)
Será que
conseguimos nos dar conta da seriedade dessas advertências?
Será que vamos
continuar indiferentes, ou vamos levantar a bandeira das mudanças necessárias,
começando pelas nossas próprias posturas ante a vida e o Espiritismo?
Atualização
de metodologias, comportamentos, práticas e conceitos
A uma nova
pergunta dona Maria Modesto responde:
(...) O
Espiritismo penetra seu terceiro ciclo de setenta anos no qual se concretizará
a maioridade das idéias espíritas. Nossos companheiros, se souberem adequar,
serão excelentes operários de um tempo novo. Uma geração nova regressa às
fileiras carnais da humanidade para arejar o panorama de todas as expressões
segmentarias do orbe, interligando-as e projetando-as a ampliados patamares de
utilidade. O movimento espírita não ficará fora desse contexto, sendo bafejado
por um processo de atualização de metodologias, comportamentos, práticas e
conceitos, o que ensejará uma cultura cujos traços serão o pluralismo e a
lógica. (Idem
pág. 189)
Nos últimos
anos, vêm-se observando inúmeros movimentos em várias partes da Terra, visando
à busca aos valores humanos, ao crescimento interior. Há a clara percepção de
que os modelos atuais não são bons porque levam ao sofrimento e à destruição.
Inúmeros livros têm sido e continuam a ser escritos pelos mais diversos
autores, dentro e fora do âmbito espírita, através da mediunidade ostensiva ou
pelas vias da inspiração ou “canalização”, como também é conhecida,
desenvolvendo e aprofundando esses temas, esclarecendo e ajudando milhões de
pessoas em suas dificuldades evolutivas a encontrarem meios mais adequados e
mais eficazes para fazerem medrar os valores da alma. Algumas ciências, como a
Psicologia, também vêm se ocupando com essas questões, procurando meios para
ajudar as pessoas em seu crescimento interno, na busca dos valores humanos,
reconhecendo que apenas pela vivência desses valores é possível alcançar-se o
equilíbrio e o bem-estar interior.
Vemos assim
como as informações de dona Maria Modesto e outros muitos Espíritos sobre essa
nova geração que regressa às fileiras carnais da humanidade para arejar o
panorama de todas as expressões segmentárias do orbe, vêm se concretizando.
Isto vem confirmar a imperiosa e urgente necessidade de o movimento espírita
começar a despertar para estas realidades e mobilizar-se para as necessárias
mudanças, tanto em algumas metodologias, quanto em alguns enfoques e conceitos,
visando a buscar novos caminhos para a sua própria reforma e crescimento, nos
rumos da vivência do amor, da humildade e da alteridade. Estes temas são
ampliados e aprofundados no já citado livro de nossa autoria A TRANSIÇÃO
está pedindo mudanças.
Para os
dirigentes espíritas e/ou companheiros que quiserem desenvolver atividades
visando ao crescimento interior de si mesmos ou dos grupos que freqüentam,
colocamos à disposição o livro de nossa autoria Crescimento Interior,
que contém um roteiro para trabalhos em grupo, como oficinas, e um manual
individual. Esse livro é vendido a baixo custo para que qualquer pessoa possa
adquiri-lo. Para os membros dos grupos que quiserem adotá-lo, é repassado a
preço de custo.
Quanto aos
centros espíritas, há muitas maneiras de procurarem desenvolver, naqueles que
circulam entre suas paredes, uma cultura de crescimento interior. Isto
pode ser feito através de reuniões específicas, oficinas, inserção desse tema
nas reuniões, distribuição de folhetos apropriados, colocação de cartazes,
como: “Pense nas pessoas que estão neste ambiente e envolva-as numa vibração de
afeto, confiança e alegria.” ou “Quer evoluir? Passe a desenvolver de forma
contínua um estado de espírito fraterno e jubiloso”.
Se a diretoria
de um centro se reúne visando a determinado fim, certamente encontrará os
melhores caminhos para alcançá-lo.
Se você, amigo leitor, sintoniza-se com as
idéias que aqui foram colocadas, junte-se a nós na tarefa de divulgá-las e para
trabalhar a fim de que sejam aplicadas na prática.
Esses
primeiros passos neste novo período do Espiritismo requerem dos espíritas
conscientes mais participação e mais dedicação à causa que abraçaram.
Para
finalizar, vamos transcrever um texto de Marcelo Henrique Pereira, Diretor de
Política e Metodologias de Comunicação da Associação Brasileira de Divulgadores
do Espiritismo (ABRADE), conforme veiculado na Home Page dessa instituição (www.abrade.com.br), que reflete importante
material para reflexão e incentivo à prática da fraternidade entre companheiros
de seara.
Próximos
e Distantes
Pense no trabalho
que você realiza na Instituição Espírita com a qual mantém laços de afinidade.
Recorde todos aqueles momentos em que, desinteressadamente, você deixou seus
afazeres particulares, para realizar algo em prol dos outros – e,
conseqüentemente, para si mesmo. Compute todas aquelas horas que você privou
seus familiares e amigos mais diletos da convivência com você, por causa desta
ou daquela atividade no Centro. Ainda assim, rememore quantas vezes você deixou
seu bairro, sua cidade, e até seu estado ou país, para realizar alguma
atividade espírita, a bem do ideal que abraçaste...
Pois bem,
foram vários os momentos de serviço, na messe do Senhor, não é mesmo?
Quanta alegria
experimentada, quanta gente nova que você conheceu, quantos “amigos” você
cativou, não é assim?
Tão
próximos... Você e os outros... Pareciam, até, uma família!
Agora, dedique
alguns minutos de sua atenção para vislumbrar o cenário que vamos reproduzir
aqui. Garantimos que ele é a mais pura expressão da verdade. A semelhança deste
relato com os fatos e acontecimentos da vida real não terá sido mera
coincidência.
A personagem
de nossa história é uma senhora idosa, 70 e poucos anos. Depois de uma vida
ativa, no serviço público, no intercâmbio familiar, onde criou seus filhos e
netos, e do trabalho de algumas décadas nas instituições espíritas da região,
em diversificadas atividades, adoeceu. Gravemente enferma, não pode mais se
dirigir ao centro, para continuar fazendo com carinho o que sempre fez, atender
àqueles a quem tanto consolou e amou. Dos amigos do centro, apenas uma vaga
lembrança, porque nunca recebeu uma visita, nem daqueles que lhe eram mais
próximos, com os quais nutria uma maior afinidade. Abandonada, até pelos entes
mais próximos, está triste, deprimida, desconsolada...
Onde estão nossas
tão decantadas fraternidade e solidariedade espíritas? Onde foram parar seus
“amigos”? Até que ponto nós que ombreamos lado a lado as atividades da seara
espírita prezamo-nos mutuamente, de modo que, entre nós, além do coleguismo do
convívio, sejam formados laços reais de amizade e companheirismo?
Ou será que
eles, os colegas de trabalho e atividade espírita não perceberam que aquela
senhora, de repente, não apareceu mais? Que ela possa estar doente ou
necessitada? Será que ela não estará precisando de alguma coisa? Ou,
transmutando a situação para nós, que estamos “no centro”, será que nunca
perguntamos onde os membros do nosso grupo moram, nem nunca fomos fazer-lhe uma
visita, só para saber onde eles moram? Ou, ademais, nunca os recebemos em nossa
casa, porque nos falta tempo, ou porque “não queremos misturar as coisas”?
Sentimo-nos
muito tristes...
Decepcionados
conosco mesmos...
E, ao vermos
tanta perda de tempo no movimento dos espíritas, para discutir “o sexo dos
anjos”, a “pureza doutrinária”, “o que é ou o que não é espiritismo”, se “é ou
não é religião”, se Cristo “foi isto ou aquilo”, se aquela casa, que realiza a
atividade “x”, “é ou não é genuinamente espírita”, que deixamos de lado a
“poesia” da mensagem espírita, que consola e esclarece, que levanta e acaricia,
que intui e liberta, fique presa aos condicionamentos e às exterioridades dos
rótulos, da presunção, da arrogância, da prepotência, da “seleção espiritual”
conforme nossos requisitos (pessoais) de conveniência e oportunidade.
Choramos... Ao
visitá-la, porque seu carinho para com o trabalho de imprensa espírita que
realizamos, e o seu receio de que ela estivesse atrasada no pagamento da
assinatura do periódico a levou a telefonar para nós, percebemos o quanto
necessitamos uns dos outros, e como somos duros e rudes com nossos
semelhantes...
Decepcionados
– conosco e com os outros – nos vimos naquela irmã, imaginando o que nos pode
acontecer daqui há algumas décadas... Será que também padeceremos do abandono,
da solidão, da falta de carinho? Será que também mendigaremos uma visita, um
atendimento, uma conversa, ou ficaremos, sós, à espera da morte? O que
aconteceu com aquele grupo grande, com muita alegria e conversa, que se reunia
semanalmente no centro? Com certeza, não sentiram a falta da velha senhora, ou
porque nos achamos melhores do que os outros, ou porque ela era mais um número
de nossas estatísticas, já tendo sido substituída por alguém mais jovem, mais
atuante, mais risonho...
Então, meu
amigo, minha amiga, o que você acha que lhe espera, daqui a alguns anos?
Tão próximos e
tão distantes... Eu, você e os demais “trabalhadores” espíritas se preocupam
tanto com o “caráter” do trabalho, com os “resultados”, com o “cumprimento de
obrigações e regulamentos”, que esquecemos de ser gente...
Que pena!
Mas, ainda é
tempo de mudar este quadro... Hoje, amanhã, na próxima vez que você voltar ao
centro. Conte aos seus “colegas” esta história, e proporcione um debate e uma
reflexão, no cenário da casa em que você trabalha... Mude paradigmas, empreste
mais “humanidade” às tarefas, transformando o convívio maquinal e obrigatório
em uma relação de sólida amizade e bem-querência...
Humanize sua
Instituição!
Amanhã, poderá
ser tarde, muito tarde...
***********************************************************************
RESUMO DA AGENDA MÍNIMA
para evoluir
É fácil observar o quanto, em nosso
esforço evolutivo, vimos desperdiçando forças em ações esporádicas e dispersas
que dificilmente conseguem levar a realizar a tão propalada reforma interior, desestimulando
o candidato à evolução.
Além disso, há a questão da
metodologia. Buscando nossa evolução espiritual, ou reforma interior,
geralmente trabalhamo-la na superfície, procurando controlar os efeitos, ou
seja, nossos pensamentos, palavras, sentimentos e ações, visando adequá-los aos
ensinamentos do Evangelho. Assim, cuidamos dos efeitos e não das causas. Daí,
as grandes dificuldades que encontramos, entravando nossos processos
evolutivos. Com isso, podemos permanecer por “n” encarnações apenas nas tentativas
de reforma e crescimento interior.
Portanto, é necessário ir à raiz, às
causas.
Foi dessas reflexões que surgiu a
idéia de uma agenda mínima para resumir todo o processo evolutivo em apenas
poucos pontos, e de ir à raiz, ao alicerce, ou seja, priorizar a ação evolutiva
a partir dos estados de espírito que são o fundamento de todos os nossos movimentos de vida.
Assim,
cuidando desse “clima interior”, estaremos facilitando sobremaneira a vivência
de atitudes mais condizentes com o conhecimento espiritual que já alcançamos e
com o nosso momento evolutivo.
Podemos
então resumir todo o processo evolutivo em apenas sete pontos, sendo quatro essenciais e três complementares.
Os
quatro pontos essências são estados de
espírito.
O primeiro e mais importante de todos é a afetividade. É uma expressão do amor e contempla grande número de ações e
atitudes dos ensinos do Mestre.
A
afetividade nos predispõe à mansidão, ao perdão, e a ver o outro com um olhar
mais fraterno, mais solidário.
A
presença de uma pessoa afetuosa tem o poder de transformar o ambiente onde
estagia, seja no lar, no local de trabalho, ou no centro espírita. Mas para
isso a afetividade precisa ser real, verdadeira, não simulada ou do tipo
cultivado apenas em certos momentos e situações.
Desenvolver
afetividade nos estados de espírito
é gerar transformação nas
profundezas do ser.
O segundo ponto é a alteridade. Pode-se dizer
que ela reflete uma leitura mais clara de uma realidade maior, nos informando
de que nunca somos os “donos da verdade”, porque esta pertence ao Criador, e
que sempre temos o que aprender, mesmo com aqueles que podemos considerar
inferiores a nós.
Resumidamente,
pode-se dizer que ela representa o respeito que devemos ter para com todos,
além da disposição para aceitar e aprender com os que são e pensam diferente de
nós. É também a construção da fraternidade apesar das divergências,
respeitando-as e procurando aprender com as diferentes opiniões. Mas não
significa deixar de discutir, debater, questionar. A discussão, o debate e o
questionamento são saudáveis quando se respeita o outro, a sua maneira de ser e
de pensar. É, sem dúvida, o veículo capaz de conduzir a humanidade para a tão
esperada nova era.
Um
estado de espírito alteritário nos ajuda a desenvolver humildade e tolerância
O
terceiro dos pontos essências é a humildade, ou seja, uma percepção clara da nossa real condição. Nem
para mais, nem para menos.
Se for
para mais, nos levará ao orgulho, porque pensar que somos mais evoluídos do que
nossa realidade, acarreta envaidecimento. Pela nossa pouca evolução, estamos
ainda muito propensos a cair nessa ilusão.
Se
forçarmos nossa percepção para menos, isto nos levará a uma situação irreal e à
diminuição da nossa auto-estima, o que é prejudicial para nossa vida e
evolução.
O quarto dos pontos essenciais é o contentamento.
É
importante, é fundamental desenvolver os valores que nos tornam pessoas
melhores, presenças benéficas. Mas quanto a nós? O que fica faltando para
alcançarmos a plenitude? Onde ela se encontra? Certamente está no coroamento
dos valores da alma, no contentamento, que é nossa vibração de vida.
Pense numa pessoa afetuosa,
alteritária, que já tenha adquirido os valores da humildade, mas triste,
desalentada, arrastando sua cruz vida afora. É como um pássaro de uma só asa.
Como levantar vôo para novas conquistas espirituais, se falta essa seiva de
vida, o contentamento?
Temos
então quatro pontos essenciais, que são estados
de espírito, para serem desenvolvidos continuamente, memorizando-os,
trazendo-os sempre à mente e cuidando de senti-los
vibrando na intimidade da alma.
Chegamos
agora aos pontos complementares, que
estão na mente e na vontade.
O
primeiro é o equilíbrio, um dos mais importantes valores do ser, que
possibilita maior número de acertos e evita muitas quedas. É irmão gêmeo da
sabedoria e deve estar sempre presente em todas as nossas movimentações de
vida.
Usando
de equilíbrio saberemos como agir com afetividade,
norteando os envolvimentos de forma a não transformá-los em algemas, ou em
dependência de qualquer natureza.
Na alteridade,
o equilíbrio é fundamental para orientar nossas reflexões, debates ou
discussões com serenidade, isenção de ânimo e maturidade, possibilitando gerar
as mais acertadas conclusões.
Na humildade
é o suporte necessário para não cairmos nos extremos, sempre prejudiciais.
No contentamento
evita exageros e falsas exibições.
Em todos
os atos e passos do nosso existir o equilíbrio é valor fundamental, porque nos
proporciona um alicerce necessário ao correto entendimento de tudo. Representa
a maturidade despontando em quem o possui.
O
segundo dos pontos complementares é o compromisso. Nos sentirmos
comprometidos com as atividades participativas e/ou benfeitoras assumidas,
sejam espíritas ou não; comprometidos com nossa própria evolução pessoal,
priorizando-a em todos os momentos e em quaisquer situações.
Mas para
que nossos propósitos evolutivos não fiquem só na teoria, é preciso que se
transformem em atitudes, o último
dos pontos complementares.
Assim,
com estes sete pontos na mente, bem memorizados, é só começar a trazê-los para
o cotidiano, procurando desenvolver continuamente estados de espírito
afetivos, alteritários, de humildade e de contentamento;
ter como diretriz o equilíbrio; comprometer-se
com a própria evolução e com as responsabilidades assumidas, e materializar
esses propósitos em atitudes.
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