quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Idolatria na visão Espírita - Luz e Espírito

Os espíritas não adotam imagens, mas entendem que idolatria não é simplesmente adorar imagens de pedra, madeira, gesso, ouro, etc., mas qualquer coisa material. Por exemplo: há sim, quem idolatre "santos", "imagens" com interesse em fazer pedidos, sem buscar seguir seus exemplos de vida e pedidos; mas, há também, quem diga não ter tempo e dinheiro para dispensar à caridade, mas dispensam tempos e dinheiro iguais ou maiores para idolatrar cantores, atores, jogos, festas, etc.; há quem idolatre time de futebol a ponto de reagir violentamente aos que torcem para outros times; há quem idolatre a religião chegando a causar brigas, desentendimentos, inimizades e até guerras contrariando os preceitos morais pregados por ela; há quem reaja a um assalto, com intenção de matar ou morrer, por idolatrar bens materiais; há quem comete adultério escondido do(a) cônjuge ou com a conivência dele(a), em trocas de casais, etc., alegando “apimentar o relacionamento” por idolatrar o sexo; há quem idolatre o dinheiro, o ouro, a fama, etc., de tal forma que, muitas vezes, procuram alcançar o objetivo de maneira ilícita, indígna, imoral, etc.; há quem idolatre pessoas (político, de posição social abastada, etc.), por interesse pessoal; há espírita que alega várias desculpas para faltar uma palestra em sua cidade de um orador desconhecido, mas anda quilômetros e quilômetros em excursão, pagam estadia em hotel, para assistir aquele orador conhecido ou aquele médium “que faz cura” ou coisas relacionadas a fenômenos; há médiuns aceitando a idolatria e impedindo assim, a comunicação com os amigos do bem, no plano espiritual; há espíritas que querem ser idolatrados porque idolatra a vaidade; há espíritas idolatrando cargos e esquecendo os encargos; há quem desrespeite seu corpo físico, contrariando a saúde física, por idolatrar bebida alcoólica, cigarro, drogas em geral, excesso de alimentos. Como vemos, há vários tipos de idolatria. Quando apontamos um idolatra por "imagens", não nos damos conta que também somos idolatras de outras coisas que atrapalham nossa evolução espiritual. 

Como disse Emmanuel: “É indispensável evitar a idolatria em todas as circunstâncias. Suas manifestações sempre representaram sérios perigos para a vida espiritual.”

Como disse Bezerra de Menezes: “O estudo da Doutrina faz adeptos conscientes para a Causa. Quem se aprofunda no conhecimento da Verdade solidifica a fé.”

terça-feira, 22 de novembro de 2011

ESPIRITISMO E IDOLATRIA


ESPIRITISMO E IDOLATRIA

Doutrina de cunho progressista, o Espiritismo não tem em seu arcabouço nenhum princípio que possa levar ao Obscurantismo e aos preconceitos. Por isso, abomina qualquer modalidade de culto externo ou de adoração de imagens, de esculturas.

E oportuno lembrar que o primeiro mandamento do Decálogo é taxativo na condenação do uso de imagens, de esculturas, como forma de adoração: Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. (Êxodo, 20:3-4)

A idolatria sempre exerceu fascinação sobre os povos demasiadamente apegados aos formalismos e propensos às formas exteriores do culto. As raças mais primitivas adotavam-na, porque não concebiam a idéia de adorar algo que não fosse tangível.
Queriam coisas que impressionassem os sentidos: objetos palpáveis, concretos, terra-a-terra, que pudessem ser vistos e tocados. Muitos povos dos tempos modernos ainda pensam dessa maneira.

O apóstolo Paulo de Tarso, (Atos dos Apóstolos, 17:16) um homem de mente arejada, ao visitar Atenas, o seu Espírito ficou comovido em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria.
Percorrendo os templos da cidade, ali constatou a existência de várias esculturas, homenageando os deuses do Paganismo. Entretanto, notou também que os atenienses, na suposição de que houvesse outros deuses por eles desconhecidos, erigiram um altar ao Deus Desconhecido.
Por isso, Paulo proclamou no meio do Areópago: Varões atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos. Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, Deus, que vós honrais, não o conhecendo é o que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, Senhor do Céu e da Terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa, pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e as coisas. (Atos, 17:22-25)

A História afirma que, no ano 726 a.D. o imperador do oriente, Leão III Isaurico, no décimo ano do seu reinado, assinou um decreto, abolindo o culto das imagens, declarando-o inadmissível segundo as Sagradas Escrituras. Foram chamados Iconoclastas os que compartilhavam de suas idéias.
Não se sabe ao certo se ele foi induzido pelo exemplo dos muçulmanos, como consequência de abusos supersticiosos, ou por qualquer outra razão. Esse decreto encontrou feroz resistência de todos, e, após a morte de Leão III, tentaram restaurar as estátuas nos altares. Quando da sua decretação, essa lei encontrou bastante adeptos sendo aplaudida por vários bispos.
No ano 730, foi lavrado novo decreto contra o uso de imagens, não só proibindo a sua veneração como até mandando destruí-las. Esse gesto teve também a condescendência do Chefe da Igreja do Oriente e também foi aplaudido por muitos bispos, no tempo do Imperador Constantino V Coprônímo.

O Concílio de Constantinopla, realizado em 754 a.D., declarou a veneração das imagens como "obra do demônio" e grande idolatria, pelo que tratou de destruí-las com mais rigor que anteriormente. Em todos os lugares foram as esculturas retiradas das Igrejas, as pinturas substituídas por paisagens, e quase todos se curvaram à decisão do Concílio.
A Igreja do Ocidente ofereceu resistências porém não foi muito bem-sucedida. Leão, o Armênio, no ano 815, renovou aquele ato, ordenando a destruição das imagens, uma vez que os decretos anteriores haviam sido revogados por alguns dos seus antecessores.

O apóstolo Paulo também combateu a idolatria entre os chamados gentios. Para isso, ele se dirigiu à cidade de Éfeso, juntamente com outros companheiros tentando explicar ao povo que não são deuses os que se fazem com as mãos, que eles não deveriam continuar prestando culto diante dos nichos da deusa Diana.

Entretanto, levantaram-se contra Paulo os ourives da cidade, tendo à frente Demétrio. Formaram uma espécie de motim dentro da cidade; durante duas horas o povo enfurecido gritou: Grande é a Diana dos Efésios. É desnecessário dizer que prevaleceu o fanatismo, e Paulo e seus companheiros tiveram que deixar, apressadamente, a cidade, dada a fúria desenfreada da população, que ameaçava linchá-los.

No O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, encontramos a seguinte explanação sobre a adoração exterior:
"Ela é útil, se não consistir num vão simulacro. É sempre proveitoso dar um bom exemplo, mas os que somente por afetação e amor-próprio o fazem, desmentindo com o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam." (Cap. II - Livro Terceiro, perg. 633-a)

Paulo A. Godoy

A Idolatria



Paulo Alves Godoy
“Não são deuses os que se fazem com as mãos” (Atos, 19:26)
O primeiro mandamento do Decálogo prescreve que não se deve fazes escultura alguma do está na terra, no céu ou no mar, debaixo das águas, e nem lhe prestar culto.
Moisés, quando desceu do Monte Sinai, portando as tábuas da lei, viu o seu povo adorar o bezerro de ouro; ficou enfurecido, quebrou as tábuas e ordenou que fossem mortos todos aqueles que adoravam ídolo.
 Não obstante, até mesmo algumas religiões do ramo cristão, que aceitam e adotam dos Dez Mandamentos, persistem na adoração de imagens, mergulhadas que estão, num sistema de franca idolatria.
A história registra que um imperador, chamado Leão III, aboliu a idolatria, no seio da Igreja. Ele e seus seguidores, então, chamados iconoclastas, encontram feroz resistência, tentando-se, após a sua morte, a restauração das estátuas, nos altares. Isaurico, no ano de 726, décimo ano do seu reinado, publicou um decreto contra o culto das imagens, declarando-o inadmissível, segundo as Sagradas Escrituras; não se sabe ao certo, se induzido pelo exemplo dos muçulmanos, ou como conseqüência de abusos supersticiosos, ou por qualquer outra razão. Essa lei foi aplaudida pelos bispos Constantino de Nacólia, na Frigia, Thomaz de Claudiópolis e Theodósio e Éfeso. No ano de 730, foi lavrado novo decreto, contra o uso de imagens, não só proibindo a sua veneração, como, até, mandando destruí-las todas. Esse ato teve a condescendência do chefe da igreja do Oriente, tendo sido aplaudida por muitos bispos, no tempo do imperador Constantino V Caprônio.
O Concílio de Constantinopla, realizado em 754, declarou a veneração das imagens, como “obra do demônio” e grande idolatria. Em todos os lugares, foram as esculturas retiradas das igrejas, as pinturas substituídas por paisagens, e quase todos se curvaram à vontade imperial. A igreja do Ocidente ofereceu resistências, porém, não foi muito bem sucedida. Leão, o armênio, no ano 815, renovou aquele ato, ordenando a destruição das imagens, uma vez que os decretos anteriores haviam sido revogados por alguns dos seus antecessores.
Os que apóiam o uso de imagens, afirmam que se trata, apenas de veneração, e que a adoração, somente, é prestada a Deus.
Não nos consta que os cristãos dos dois primeiros séculos adotassem o costume de adorar ou venerar imagens. Esse hábito foi introduzido após ter o Cristianismo sido oficializado pelo imperador Constantino, no ano 306, pois os pagãos, principalmente os membros da nobreza, não se sentiam bem em humildes casas, desprovidas das imagens dos antigos deuses. A singeleza das casas, onde se reuniam cristãos primitivos, contrastava com a suntuosidade dos templos pagãos, agravada pela ausência das imagens que alegravam as vistas. Procurou-se, então, um meio de agradar os novos conversos do Cristianismo, restaurando-se, nos altares, as figuras petrificadas, agora, com nova roupagem e novo nome.
Muita gente não consegue fazer uma prece a Deus se não estiver frente a uma imagem ou gravura. Para fixar o pensamento e fazer a adoração, precisam contemplar qualquer coisa tangível.
O uso de imagens deixou rastros profundos, até mesmo em muitos daqueles que mudaram de religião. Numa grande Casa Espírita de São Paulo, existe um grande busto de Allan Kardec, moldado em bronze. A casaca do Codificador, já, está bem gasta, em determinado ponto, de tanto os freqüentadores da Casa, ao adentrarem o salão principal da instituição, tocarem-na com os dedos, num gesto de pedir uma benção ou esperar uma graça.
A seu tempo, o apóstolo Paulo de Tarso insurgiu-se contra o uso de imagens, entre os gentios. Para tanto, ele dirigiu-se à cidade de Éfeso, juntamente com outros companheiros, tentando explicar ao povo que “não são deuses os que se fazem com as mãos”, e que não deveriam continuar a prestar homenagem à deusa Diana, através de nichos de prata, geralmente vendidos na cidade.
Entretanto, levantaram-se contra ele os ourives da cidade, inspirado por outro ourives, chamado Demétrio. Formaram, assim, uma espécie de motim, dentro da cidade e, durante duas horas, o povo gritou enfurecido: “Grande é a Diana dos Éfesios”. É desnecessário dizer que prevaleceu o fanatismo, e Paulo e seus companheiros tiveram que deixar, apressadamente, a cidade, dada a fúria fanática da multidão enfurecida.
O Espiritismo não adota o uso de imagens ou quaisquer outros objetos de adoração. Sendo uma doutrina que vem a fim de cumprir a sentença de Jesus: “Conheça a verdade e ela vos fará livres”, ano poderá, de forma alguma, consagrar essas esdrúxulas formas de adoração ou veneração, pois conforme sentenciou o Mestre à mulher samaritana: “Deus é Espírito e, em Espírito, deverá ser adorado pelos verdadeiros adoradores”.  (Unificação - nov-84/jan-85 - São Paulo-SP)
Tribuna Espírita - Setembro/Outubro de 2000

Ídolos



"Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos Ídolos." - (ATOs, capítulo 15, versículo 29.)
Os ambientes religiosos não perceberam ainda toda a extensão do conceito de idolatria.
Quando nos referimos a ídolos, tudo parece indicar exclusivamente as imagens materializadas nos altares de pedra. Essa é, porém, a face mais singela do problema.
Necessitam os homens exterminar, antes de tudo, outros ídolos mais perigosos, que lhes perturbam a visão e o sentimento.
Demora-se a alma, muitas vezes, em adoração mentirosa.
Refere-se o versículo às "coisas sacrificadas aos ídolos", e o homem está rodeado de coisas da vida. Movimentando-as, a criatura enriquece o patrimônio evolutivo. Ë necessário, no entanto, diferenciar as que se encontram consagradas a Deus das sacrificadas aos ídolos.
A ambição de alcançar os valores espirituais, de acordo com Jesus, chama-se virtude; o propósito de atingir vantagens transitórias no campo carnal, no plano da inquietação injusta, chama-se insensatez.
Os "primeiros lugares", que o Mestre nos recomendou evitemos, representam Ídolos igualmente. Não consagrar, portanto, as coisas da vida e da alma ao culto do imediatismo terrestre, é escapar de grosseira posição adorativa.
Quando te encontres, pois, preocupado com os insucessos e desgostos, no círculo individual, não olvides que o Cristo, aceitando a cruz, ensinou-nos o recurso de eliminar a idolatria mantida em nosso caminho por nós mesmos.
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Caminho, Verdade e Vida. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 28 edição. Capítulo 126. Brasília: FEB. 2009.

Idolatria


 04/04/2006

Francisco Aranda Gabilan 

“Não vos façais, pois, idólatras”
Paulo, I Coríntios, 10:7

No sentido mais geral, idolatria significa o ato de prestar culto divino a criaturas, mas se vulgarizou como a adoração aos ídolos. Ídolo, no sentido que aqui será abordado, é a estátua, a figura, a imagem que representa uma divindade e que é objeto de adoração.

No passado remoto, especialmente antes e ao tempo de Jesus, os povos, com exceção dos hebreus, eram politeístas e, em conseqüência, idólatras, pois que adoravam toda a sorte de divindades, elegendo um deus para cada circunstância, necessidade, ou desejo da vida: por exemplo, chuva, vento, fogo, riqueza, beleza, colheita, amor, sexo e dezenas ou centenas de outros.

Parece incrível que passados milênios - e mais especialmente depois da mensagem clara e precisa do Cristo da existência de um Criador, em tudo e por tudo conceituado como causa fundamental de todas as coisas, ou, como quer a ciência moderna, o princípio fundamental do Universo, o “agente estruturador” ou “agente atuante” inicial - ainda as criaturas precisam de símbolos e imagens materiais para expressar a “sua fé”. Colocamos entre aspas, porquanto fé não é crença mística em qualquer objeto, mas a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim, movimentada pela vontade de atingi-lo; e ainda: ter apoio na inteligência (alijando o misticismo) e ter apoio na compreensão das coisas e das causas (apoiada nos fatos e na lógica).

Ensina-nos a espiritualidade que a adoração de imagens e objetos, os cultos exteriores constituem-se em “venenoso processo de paralisia da alma” pois que, representa um perigo sutil através do qual “inúmeros trabalhadores têm resvalado para o despenhadeiro da inutilidade.”

Não se pense que os Espíritos comprometidos com a evolução e moralização dos seres estão apenas criticando as seitas e religiões que usam da idolatria com a intenção de manter viva a chama da fé ou a manutenção dos seus cultos. Não, os Espíritos chamam a atenção para o fato de que no próprio meio espírita cristão, apesar de erguida a bandeira da fé raciocinada, ainda são encontradas criaturas “tentando a substituição dos ídolos inertes pelos companheiros de carne e osso da experiência comum, quando chamados ao desempenho da responsabilidade mediúnica”. Vale dizer que, muitas vezes, “as homenagens inoportunas costumam perverter os médiuns dedicados e inexperientes, além de criarem certa atmosfera de incompreensão que impede a exteriorização espontânea dos verdadeiros amigos do bem, no plano espiritual.” “Criar ídolos humanos é pior que levantar estátuas destinadas à adoração. O mármore é impassível, mas o companheiro é nosso próximo de cuja condição ninguém deveria abusar.”

A Espiritualidade adiciona ainda que o culto das imagens nos altares de pedra é a face mais singela do problema. Existem ídolos mais perigosos e traiçoeiros que os homens necessitam exterminar e que lhes perturba a visão e o sentimento: o culto do imediatismo terrestre com o propósito de atingir vantagens transitórias no campo material, a inquietação constante e descabida, a excessiva preocupação com os insucessos e desgostos, que levam a criatura humana a buscar na Doutrina ou na mediunidade soluções mágicas. Isso é também uma forma corrosiva de idolatria.

A recomendação é que alijemos de nós a idolatria de qualquer natureza (sem converter essa luta em iconoclastia e violência, ou seja, ataques físicos a imagens e assaques a outras crenças e religiões), mas com respeito às convicções alheias, trabalhando na libertação da mente das pessoas pelo nosso exemplo de edificações.

Conservemos, pois, a luz da consolação, a bênção do concurso fraterno, a confiança em nossos Maiores e a certeza na proteção deles; contudo, não olvidemos o dever natural de seguir para o Alto, utilizando os próprios pés. Devemos, sim, combater os ídolos falsos que ameaçam às vezes o Espiritismo, mas lembre-se cada discípulo de Jesus dos amplos recursos da lei de cooperação, atirando-se ao esforço próprio com sincero devotamento à tarefa, lembrando-se todos de que “no apostolado do Mestre Divino, o amor e a fidelidade a Deus constituíram o tema central”.

Francisco Aranda Gabilan

F. A. Gabilan, Entre o Pecado e a Evolução, pg. 53,
Emmanuel, Pão Nosso, cap. 52
Emmanuel, O Espírito da Verdade, cap. 72
Idem, 2
Idem 2, cap. 150
Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, cap. 126
Idem
Idem, 2

Cisco



Texto publicado na Folha Espírita em junho de 2007 .
Richard Simonetti

A idolatria, a admiração exagerada por alguém, velha tendência humana, é um perigo para quem a cultiva.
Costuma neutralizar a razão, induzindo a exageros e desajustes variados.
Exemplo típico está no comportamento de determinados segmentos da população alemã em relação a Adolf Hitler (1889-1945). Seus simpatizantes viam nele o líder carismático, capaz de feitos heróicos, sem perceber os abismos em que ele estava precipitando a nação.
A todos contaminava com sua pretensão visionária de edificar um grandioso império ariano, que governaria o mundo por mil anos.
A idolatria é um perigo maior, para quem é objeto dela.
Tende a incensar sua vaidade, levando o indivíduo a posturas inadequadas e perturbadoras.
Não fosse o apoio das multidões que aplaudiam sua insanidade e, certamente, Hitler não teria produzido estragos tão graves, contabilizando perto de 40 milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, a maior tragédia produzida pelo homem em todos os tempos.
Os verdadeiros líderes, aqueles que realmente são importantes, os que fazem a diferença, rejeitam com veemência o rótulo de ídolos, não só por reconhecerem as próprias limitações, mas, também, por terem consciência dos problemas que a idolatria pode lhes acarretar.
Chico, merecidamente, era reconhecido, ainda em vida, como uma das figuras mais marcantes do século XX. Sua contribuição em favor da paz e do progresso humano foi inestimável.
Os livros que psicografou representam um desdobramento da Doutrina Espírita, complementando a Codificação e nos oferecendo uma gloriosa visão da vida espiritual.
O Espiritismo pode ser dividido em antes e depois de Chico.
Na série Nosso Lar, por ele psicografada, André Luiz nos oferece ampla e esclarecedora visão do mundo espiritual, e do inter-relacionamento entre os dois planos, como jamais se viu.
Essa série portentosa de livros, que recebeu nas décadas de 1940 e 50, seria suficiente para consagrá-lo como o que se convencionou chamar de “médium revelador”, por intermédio do qual desenvolve-se o conhecimento espírita.
Não obstante, furtando-se aos perigos de um envolvimento com a idolatria, Chico dizia, humildemente, quando  aclamavam seu nome:
– Sou cisco Xavier, apenas um cisco na ordem das coisas.
Numa entrevista, afirmou:
– Considero-me, na mediunidade, um animal em serviço. Eu sou um animal a serviço dos bons espíritos, e nunca fiz mistério disto. E todas as vezes em que me externei a respeito do assunto, nunca me vi, absolutamente, como uma pessoa privilegiada. Sou uma criatura de condição muito primitiva. Não sei como os espíritos me suportam. Cada vez mais eu sinto a minha desvalia, porque nada tenho a dar de mim. O problema da idolatria corre por conta daqueles que gostam dos mitos.
Importante, em relação ao assunto, prezado leitor, o fato de que a postura de Chico não era “pra inglês ver”, sinalizando humildade aparente.
Os que conviveram com ele são unânimes em afirmar sua absoluta simplicidade e despretensão, exercitando aquela grandeza legítima que é o reconhecimento da própria pequenez.
A postura de Chico foi um exemplo e, ao mesmo tempo, uma advertência quanto aos cuidados que devemos ter no exercício de atividades espíritas.
O primeiro recurso usado pelos espíritos obsessores, quando pretendem afastar o trabalhador do serviço, é incensar sua vaidade, alimentando a pretensão de que é uma luz que brilha na constelação espírita, com contribuição marcante em favor do movimento.
Se queremos realmente produzir na Seara Espírita, é bom imitar Chico, situando-nos como um cisco diante da Doutrina.
Se não o fizermos, é bem provável que tenhamos nossa visão turvada por outro cisco, extremamente perturbador, que, invariavelmente, compromete a ação de muitos companheiros – a vaidade.

ÍCONES


ÍCONES

"ENTRETANTO, ABANDONANDO DE TODO A IDOLATRIA,
OS JUDEUS DESPREZARAM A LEI MORAL, PARA SE AFER-
RAREM AO MAIS FÁCIL: A PRÁTICA DO CULTO EXTERIOR.
E.S.E. CAPÍTULO 18, ÍTEM 2
A palavra integral significa por inteiro, total. Quando, mencionamos o homem integral, estamos referindo ao ser na sua completude, a integração de todas as suas "partes" num todo.
O homem integral harmoniza os seus opostos e resgata a sua "identidade original", já que ao longo da caminhada evolutiva estruturou uma imagem "irreal" de Eu Divino no espelho da vida mental que nomeamos com. "falso eu", com a qual temos caminhado há milênios no trajeto da evolução.
A vida é dialética, tem aparentes contradições, porque consiste de opostos que são, em verdade, complementares. Basta observar: noite e dia, vida e morte, verão e inverno, razão e intuição, bem e mal, claro e escuro, masculino e feminino. Sem os opostos não existe a vida.
Aprendemos, no entanto, a estabelecer divisões, uma visão cartesiana de partir o indivisível, estabelecendo assim a luta contra o que se convencionou considerar como sendo mau, não aceitável, feio e inutilizável. Nasce então conflito, a perturbação, a cobrança.
Olhar "as duas faces da moeda" é uma grande sabedoria de vida. É uma atitude saudável a ser cultivada, com cuidado no processo de transformação, que é a grande razão de nossa peregrinação pela Terra.
Luz e sombra são opostos. No entanto, uma depende da outra, assim como o passo da perna direita depende do passo da perna esquerda. Luz e sombra, perfeição e imperfeição são faces de uma mesma estrutura da alma, razão pela qual será impróprio adotar o conceito de eliminação para os assuntos da vida interior. Nunca eliminamos uma "parte", a integramos.
Contudo, esse processo de integração gera um doloroso sentimento de perda, necessário ao progresso. Perde-se o velho para construir o novo. Na verdade efetuamos uma reconstrução marcada por etapas desafiantes. Perde-se a "velha identidade" e não se sabe como construir o que se deve ser agora", a "nova identidade".
O conhecimento espírita é uma mola propulsora de semelhante operação da vida mental. Ao adquirir a noção da imortalidade, a alma sensibiliza-se para novas escaladas. Decide pela transformação, mas observa de pronto que mudar não é tarefa simples, que se concretiza de hora para outra. Assim, enquanto a criatura não constrói o homem novo e singular, único e incomparável que todos deveremos erguer na intimidade, ocorre um natural processo de imitação que o leva a "fazer cópias" de conduta do que lhe parece ser ideal. São os "estereótipos espíritas" - referências que adotamos, espontaneamente, para avaliar o proceder perante a nova visão de vida.
Por um tempo esse será o caminho natural da maioria dos candidatos à renovação de si mesmos. Carecem de referências externas que funcionam como bóias indicadoras para sua elaboração interior dos conhecimentos novos. Um livro, um palestrante, um devotado seareiro da caridade ou mesmo um amigo espiritual poderão se tornar bússolas para o progresso pessoal, o que é muito natural.
Porém, semelhante identificação natural pode adoecer em razão de vários fatores dolorosos para a alma em reforma íntima, ensejando que essa relação educativa com os referenciais caminhe para matizes diversos. Um dos mais comuns desvios nesse tema é a idolatria.
Idolatria é o excessivo entusiasmo e admiração por uma pessoa com a qual partilhamos ou não a convivência.
São oradores, médiuns e trabalhadores que costumam destacar-se pelas virtudes ou pelas experiências, e que são tomados à conta de ícones, com os quais delineamos a noção pessoal de "limite máximo" ou "modelo" para os novos passos assumidos na caminhada espiritual.
Os ícones na história grega são as divindades que representam valores excelsos e santificados.
Sem considerar os naturais sentimentos de admiração e entusiasmo dirigidos a quem fez por merecê-los, quase sernpre nas causas dessa idolatria encontra-se o mecanismo defensivo da mente, pelo qual é projetado no outro aquilo que gostaríamos de ser.
Dois graves problemas, entre os muitos, decorrem dessa relação idólatra: as exageradas expectativas e a prisão aos estereótipos.
As expectativas transferidas ao ícone carreiam desejos e anseios que se tornam âncoras de segurança para os problemas individuais. Caso a criatura habitue-se ao conforto de "escorar-se" psicologicamente no outro e fugir do seu esforço auto-educativo, passará ao terreno das ilusões, sentindo-se e acreditando-se tão virtuosa ou capaz quanto ele. Ocorre então uma absorção da "identidade alheia" como se fosse sua ... É como "ser alguém" através dos valores do outro.
Quanto aos estereótipos, vamos verificar uma outra questão que tem trazido muitos desajustes: o hábito de dogmatismo, uma velha tendência humana de ouvir a palavra dos "homens santificados" pela hierarquia religiosa.
Pessoas que se tornam carismáticas pela sua natural forma de ser ou pelo valoroso desempenho doutrinário são comumente, colocadas como "astros" ou "missionários" de grande envergadura, fazendo, de seu proceder e de suas palavras, idéias conclusivas e definitivas sobre as mais diversas vivências da espiritualidade, ou sobre quaisquer problemáticas humanas, como se possuíssem a visão integral de tais questões.
Quaisquer dessas vivências, expectativas elevadas ou criação de modelos podem nos trazer muita decepção e revolta. Somos todos aprendizes, uns com mais, outros com menos experiência. Todos, no entanto, sem exceção, como aprendizes do progresso e gestores do bem. Podemos sempre aprender algo com alguém, desde que tenhamos visão e predisposição à alteridade. O que hoje entendemos como sendo excepcional em alguém, amanhã poderá não ser tão útil para nossa percepção mutável e ascensional.
Por mais bem sucedida a reencarnação na melhoria espiritual, isso será apenas o primeiro passo de uma longa jornada. Então porque glórias fictícias com ídolos de pés de barro?
Missionários e virtuosos? São muito raros na Terra.
Para conhecê-los é muito fácil, nenhum deles aceita uma relação de idolatria, enquanto verifica-se outro gênero de conduta com muitos que se julgam ou são julgados como tais.
Muita vez os "ídolos espíritas" que miramos não suportariam ter feridas as cordas dos interesses pessoais. Bastaria alguém cumprir o dever - ainda poucas vezes exercido - de questioná-los com fraternidade para se rebelarem. Acostumou-se tanto a essa convenção em nossos ambientes de cristianismo redivivo, que já não se indaga ou filosofa, apenas se crê. Especialmente se determinadas fontes consagradas, sejam homens, instituições ou mesmo desencarnados, expedem idéias ou teorias, não se pesquisa, não se analisa com a prudência que manda o bom senso, apenas crê-se.
Não existem debates e, o que é mais lamentável, muitos corações incensados pela reverência excessiva não fazem nada para dela afastarem os menos vividos, os quais terminam, em muitos casos, como pupilos mimados e protegidos que fazem escolas ...
Apesar da constatação desses malefícios, tudo isso faz parte da seqüência histórica de nossas vidas. Quando refletimos sobre a questão é no intuito de chamar a atenção de todos nós para os prejuízos de continuarmos cultivando semelhantes expressões de infantilidade emocional. Existe, de fato, uma velha tendência que nos acompanha, a qual podemos declinar como "hábito da canonização psíquica".
Muitos ídolos adoram as bajulações e burburinhos em torno de seu nome. São folgas que não deveríamos buscar para nossa vida!
Os ídolos deveriam se educar e educar os outros para assumirem a condição de condutores, aqueles que lideram promovendo, libertando, e não fazendo "coleção de admiradores" para alimentar seu personalismo.
Como bons espíritas, apenas começamos os serviços de transformar a auto-imagem de orgulho, profundamente cristalizada nos recessos da mente. Quando adornamo-nos com qualidades e virtudes que imaginamos possuir, perdemos a oportunidade de sermos nós mesmos, de eleger a autenticidade como nossa conduta, de construir o quanto antes a "nova identidade" que almejamos.,
Inspiremo-nos em nossas referências, todavia, não façamos deles ídolos. Ouçamo-los, tiremos o proveito de suas conquistas, os respeitemos e façamos tudo isso com equilíbrio, nem mais, nem menos.
Retifiquemos os nossos conceitos sobre lideranças no melhor proveito das oportunidades das sementeiras espíritas.
Líderes autênticos são dinamizadores incansáveis da criatividade e dos valores alheios. São estimuladores das singularidades humanas.
Por isso suas qualidades são empatia, confiança, capacidade de descobrir pendores.
Líderes que se integram na dinâmica de "agentes da obra do Pai" assumem a postura de serem livres, sem apego às suas vitórias ou realizações.
Sua alegria reside em ser útil e ver as obras sob sua tutela crescerem em satisfação coletiva.
Dirigir, à luz das claridades espíritas, é valorizar o distinto, o diferente, e não apenas os semelhantes, atendendo sempre ao bem geral. Isso se chama conduta de alteridade.
Expoentes sempre surgirão. O que importa é o que faremos deles ou com eles. Evitemos também a substituição que tem se tornado freqüente: não os deixemos para aferrarmos às práticas. A isso se referia Kardec quando disse: "Entretanto, abandonando de todo a Idolatria, os judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do culto exterior."
Espírito Ermance Dufaux

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Culpa, Arrependimento e reparação sob a Ótica Espírita


Culpa, Arrependimento e Reparação Sob a Ótica Espírita

Pergunta nº 1002: O que deve fazer aquele que, no último momento, na hora da morte, reconhece as suas faltas, mas não tem tempo para repará-las? É suficiente arrepender-se, nesse caso?
Resposta dos Espíritos — O arrependimento apressa a sua reabilitação, mas não o absolve. Não tem ele o futuro pela frente, que jamais se lhe fecha?
Texto retirado do ‘Livro dos Espíritos’ (Livro Quarto – Cap. 2 – Item VI)


Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes nomes do iluminismo, nasceu em Genebra, no ano de 1712. Não conheceu sua mãe, pois devido a complicações do parto, veio a falecer dias após seu nascimento. Quando completou dez anos de idade, seu pai envolveu-se em uma discussão com pessoa importante da cidade, e, com receio de represálias, fugiu, deixando o filho para ser educado por um tio. Segundo seus biógrafos, o fato de Rousseau não ter conhecido a mãe, marcou-o, profundamente.

Tornou-se, na vida adulta, compositor auto-didata, teórico político, filósofo e escritor. Contribuiu amplamente para as grandes reformas ocorridas na América e na Europa, no século XIX, com seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, sendo ainda um dos colaboradores da famosa Enciclopedie, de Diderot e D´Alembert. Escreveu vários livros, influenciando diversas culturas e gerações. Foi um daqueles homens que não passam despercebidos, pois possuía conhecimentos bastante avançados para sua época – visões que romperam com os paradigmas vigentes, trazendo transformações importantíssimas para o panorama do mundo ocidental.


Um de seus escritos, de estrondoso sucesso, chama-se ‘Emílio, ou Da Educação’. Nesta obra, Rousseau cria um personagem fictício, de nome Emilio e vai, no transcorrer de seus escritos, contando ao leitor sobre a forma como ele educa este personagem. O objetivo de Emílio é “formar um homem livre; e o verdadeiro amor pelas crianças…”.Hoje esta obra é vista não apenas como uma referência obrigatória para todos os educadores [pais, professores, etc], mas, acima de tudo, como uma lição de vida.

Entretanto, Rousseau, este mesmo homem, filósofo, escritor, teve seus cinco filhos. E os abandonou, a todos, em orfanatos.
No prefácio de sua obra, o tradutor assim comenta:

“Como levar a sério um livro sobre a educação escrito por um homem que abandonou os cinco filhos que teve com Thérese Levasseur? Esta questão prévia, repetida pelos jovens leitores de ontem e de hoje, deve ser colocada, não para ser ela própria levada a sério, mas para que nos desvencilhemos dela de uma vez por todas. Rousseau é daqueles que acham que não há covardia pior do que o abandono dos filhos que se teve o prazer de fazer. Escreveu Rousseau em sua obra Emilio: “Um pai, quando gera e sustenta filhos, só realiza com isso um terço de sua tarefa. Ele deve homens à sua espécie, deve à sociedade homens sociáveis, deve cidadãos ao Estado. Todo homem que pode pagar essa dívida tríplice e não paga é culpado, e talvez ainda mais culpado quando só paga pela metade. Quem não pode cumprir os deveres de pai não tem direito de tornar-se pai. Não há pobreza, trabalhos nem respeito humanos que os dispensem de sustentar seus filhos e de educá-los ele próprio.Leitores, podeis acreditar do que digo. Para quem quer que tenha entranhas e desdenhe tão santos deveres, prevejo que por muito tempo derramará por sua culpa lágrimas amargas e jamais se consolará disso”. (Emílio, Livro 1).

Foi justamente por sentir-se culpado que Rousseau escreveu Emilio (de 1757 a 1762). Não podemos pretender que o livro não tenha nada para nos ensinar porque seu autor não o colocou em prática. Para isso, seria necessário inverter a cronologia e proibir a Rousseau toda a oportunidade de um arrependimento sincero que busca a reparação. Afirmou o autor de Emílio: “Não escrevo para desculpar meus erros, mas para impedir meus leitores de os imitar”.

Jean-Jacques influenciou sobremaneira alguns pensadores, tais como Johann Pestalozzi, fundador da escola de Yverdun, na Suiça, mestre de Allan Kardec. Portanto, podemos dizer que Rousseau é o avô espiritual de Kardec nas questões da educação. Levando-se em conta de que o codificador da Doutrina Espírita [assim como Pestalozzi] era pedagogo, logo percebemos o quanto a obra Emílio foi importante para todos os três e tantos outros. E se Rousseau influenciou sobremaneira Kardec, nós outros, daqui deste lado do Planeta, 150 anos após Kardec, somos também influenciados por suas idéias fantásticas de educação através do amor e da liberdade.

Sabemos ainda, através dos escritos do final da vida de Jean-Jacques Rousseau, que ele tentou resgatar todos os seus filhos dos orfanatos, porém não teve sucesso. Portanto, de seu arrependimento e expiação vemos surgir a busca pela reparação, se não diretamente aos prejudicados, através de todos aqueles que beberem nas fontes de suas idéias renovadoras e, porque não dizer, maravilhosas.

O escritor Catulo da Paixão Cearense, em seu poema “A Dor e a Alegria” afirma que “a dor é como um relâmpago; no escuro assusta a gente, mas alumeia os caminhos.” Rousseau aprendeu o verdadeiro sentido desta frase, trezentos anos antes de ser pronunciada por Catulo.

Seguindo tal linha de pensamento, podemos afirmar que Rousseau não ficou estagnado no susto causado pela dor.Abriu os olhos, no momento em que ela clareava caminhos e soube seguí-los, com coragem. Ainda bem.

Uma outra história, mais antiga que a de Rousseau, mas que inspira nossos corações sobremaneira, fala sobre uma mulher nascida em uma época difícil, na cidade de Magdala. Chamava-se Maria. Contam-nos alguns evangelistas que carregava em seu psiquismo a presença de sete demônios, tendo sido curada por Jesus. Hoje, através da Doutrina Espírita, aprendemos que tais ‘demônios’ eram, na verdade, Espíritos ainda ignorantes, voltados temporariamente ao mal.

Afastaram-se de Maria sob a imposição Moral do Mestre, entretanto cabe-nos salientar que, se não voltaram a importuná-la, foi devido aos méritos que ela acumulou, através de sua reforma interior.

Humberto de Campos, no livro Boa Nova, conta-nos, de forma emocionante, a história do encontro entre Maria e Jesus. Ela, curvada pelo peso de sua culpa, carregando no íntimo muitas dores nascidas do remorso constante, abre seu coração atormentado. Jesus, o Grande Sábio, aponta novos caminhos: “Ame, Maria. Ame muito. Ame os filhos de outras mães... escolha a porta estreita...”.

Nada de acusações. Apenas um pedido: que amasse muito, sem nada esperar de volta.
Foi o que fez.

Após a crucificação de Jesus, decidiu seguir os discípulos na divulgação da Boa Nova. Entretanto, aqueles homens encharcados de preconceitos, negaram-lhe a companhia. Teve de ficar às margens do Tiberíades, em lágrimas, cheia de saudades e dor.

Foi quando viu chegarem na cidade diversos leprosos, em busca do Mestre. Não sabiam que Ele já não pertencia àquele mundo,queriam ouvir Sua voz, ouvir Seus ensinamentos e, quem sabe, conseguir a tão almejada cura.

Maria não hesitou. Buscou-os e, em todas as tardes passou a divulgar os ensinamentos que houvera aprendido com o amigo nazareno. Porém, em pouco tempo aquelas pessoas foram expulsas de Cafarnaum e ela, com o melhor sentimento de que dispunha, acompanhou-os para longe dali. Seguiu seus dias cuidando, diuturnamente, dos doentes, amparando-os, tentando minimizar suas dores, sua fome, sua tristeza.
Entretanto, depois de algum tempo percebeu manchas róseas em sua pele. Estava com hanseníase, também.

Sentindo que o final se abeirava, decidiu procurar pela mãe de Jesus, Maria, e por João - seus amigos diletos. Seguiu para Éfeso, mas não conseguiu adentrar a cidade, caindo pouco antes de sua entrada.

Logo após seu desencarne, viu-se novamente às margens do Mar da Galileia, encostada em uma grande árvore. Ao longe, aproxima-se Jesus, com os braços abertos, a dizer-lhe: “Maria, já passaste a porta estreita!...Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!”.

Duas histórias fantásticas, com pontos em comum: Rousseau e Maria, saíram do processo de remorso, arrependeram-se verdadeiramente e optaram pela reparação. Outro ponto que devemos destacar é que ambos, embora dentro de culturas essencialmente religiosas [ela era judia e ele protestante] e preconceituosas, conseguiram libertar-se das amarras teológicas. Ela porque bebeu nas fontes da Verdade, diretamente com Jesus. Recordemos que Ele afirmou “Conhecerás a Verdade e a Verdade vos libertará.” (João, 8:32). Foi o que ocorreu com Maria. Libertou-se do remorso e pode seguir em frente.
Ele [Rousseau] porque rompeu com as amarras dos dogmas. Mostrou-se em muitos momentos um protestante rebelado, desconfiado das interpretações eclesiásticas sobre os Evangelhos. Dizia sempre:"Quantos homens entre mim e Deus!", o que atraía a ira tanto de católicos como de protestantes.


A culpa no Ocidente – O Capitalismo e a Normose

Na atualidade, enfrentamos muitos dilemas quando analisamos a questão da culpa.
Cada vez mais tomamos consciência de como as teorias individualistas ocidentais estão equivocadas¹ no que se refere à realidade do ser. Tanto através da lente Espírita, como das ciências dita humanas, temos tido contato com outra realidade: a de que pertencemos ao todo, influenciando e sendo influenciados, num mar de experiências, onde tudo se modifica, continuamente, através das relações. Não é possível explicar o ser em separado do meio onde ele atua. Não podemos deixar de considerar o tempo histórico e a cultura onde está inserido, sob risco de cometermos erros crassos, subtraindo influências importantes e, pior, não reconhecendo sua real essência neste meio.

Com isso, já percebemos a urgência de um olhar mais holístico, vislumbrando o sujeito com todas as suas faces. O ser como sendo um sujeito bio-psico-sócio-espiritual, pois é o que somos, sendo que o Espírito, o ser imortal, criado simples e ignorante, com potencialidades de perfeição relativa e que vai, através de vidas sucessivas evoluindo, é sua essência, o seu verdadeiro eu, com o qual atua no mundo, através de sua porção biológica, com mecanismos psicológicos característicos, dentro de uma sociedade, em determinada cultura e em determinado tempo histórico.
Quando ampliamos este nosso olhar, vamos nos aproximando da realidade, e, com isso, podemos melhorar nosso entendimento, conseguindo, por conseqüência, refletir melhor sobre nossas ações e implicações destas em nossas vidas e no meio onde atuamos.
Na cultura judaico-cristã, o medo dos fiéis alimentou, por séculos, o poder de alguns, através do mecanismo da culpa. Neste contexto, já nascíamos culpados, afinal somos descendentes de um erro imperdoável: nossos ancestrais Adão e Eva que, num ato de muita insensatez, (pela visão religiosa tradicional) abdicaram do maior presente de Deus – o paraíso na Terra - trocando-o pelo fruto da árvore da sabedoria. Somos culpados por desejarmos algo saber. Sendo assim, a ignorância seria o melhor remédio, aceitando dogmas irrevogáveis e, lógico, inquestionáveis. Talvez aí pudéssemos fazer as pazes com Deus, por determinado tempo, desde que ainda contribuíssemos com algo, de preferência material, pela ‘Causa de Deus na Terra’.

Mas a nossa história com a culpa não pára por aí. Mulheres judias nascem impuras, afinal, menstruam e sequer podem orar como os homens, nos templos. Depois do ano 234 dC, quando criou-se a instituição católica, a culpa continuaria presente. Homens deveriam lutar nas ‘guerras santas’, trazendo ouro para a igreja e diminuindo o número de ‘infiéis’, através da espada. Se assim fizessem, poderiam dormir com a consciência tranqüila, pois estariam quites com Deus.
Hoje, a questão da culpa tornou-se ainda mais abrangente, de acordo com a ideologia vigente. No capitalismo, somos culpados se não juntamos capital. O fracasso consiste em não ser sucesso em seus negócios, nos estudos, na empresa, no consumo. Para as mulheres, mais que isso: fracassadas são as que não conseguem manter o padrão de beleza das modelos magérrimas das passarelas.

Jean-Yeves Leloup, o padre francês, autor do livro 'Normose, a Patologia da Normalidade', criou um conceito bastante interessante para definir o contexto atual. Chamou de “normose” tudo o que é aceito socialmente como sendo algo normal, mas que, porém, causa sofrimento, patologias e até mesmo a morte. As relações fluidas, o consumo exacerbado, a busca pelo padrão de beleza ideal, pelo sucesso, pelo poder, etc., faz com que boa parcela da população sofra, gerando sintomas de difícil solução. Somos culpados por não conseguirmos atingir a meta proposta, dentro deste padrão de normose atual. E, buscando encobrir a culpa, usamos máscaras sociais que nos fazem parecer. Parecemos não errar, parecemos ter, parecemos ser. Mas só parecemos. Todos erramos, nada possuímos [uma vez que tudo pertence a Deus e pode nos ser retirado a qualquer momento] e, neste caminho, sequer temos conhecimento de quem realmente somos.
Salientamos ainda que, se por um lado temos a questão da culpa como produto social, não é menos verdadeiro que temos tido contato, há mais de dois mil anos, com outras formas de pensamento que nos trazem reflexões sobre a situação do apego à matéria e o descaso com as questões do Espírito. Portanto, embora mergulhados numa ideologia marcante e opressora, não nos faltam opções filosóficas e religiosas neste contexto para que possamos analisar nosso modo de ser e agir no mundo e suas possíveis conseqüências.


O remorso como mecanismo de autopunição

Culpa é a consciência de um erro cometido através de um ato que provocou algum prejuízo [seja material ou moral] a si mesmo ou a outrem. A consciência do erro traz-nos sofrimento. E tal sentimento pode ser vivenciado de duas formas: saudável ou patologicamente.

Chamaremos de culpa saudável aquela que nos leva ao arrependimento sincero e que, embora revestido de dor, impulsiona o ser à reparação.

Na origem da palavra, arrependimento quer dizer mudança de atitude, ou seja, atitude contrária, ou oposta, àquela tomada anteriormente. Ela origina-se do grego - Metanóia (Meta=Mudança, Nóia=Mente) - Arrependimento quer dizer, portanto, mudança de mentalidade.

Temos, então, no processo saudável, primeiro o diagnóstico do erro. Sem este, impossível seguirmos adiante sem acumularmos mais débitos. Pessoas que se mantém com a consciência adormecida, ao acordarem resgatam dores maiores, acumuladas devido à cegueira espiritual em que se comprazem. Importante ressaltar que nenhum filho está às margens do Amor do Pai Celestial. Todos temos, em diversas oportunidades e em variados contextos, contato com as verdades do Mundo Maior. Preciso é que a boa vontade surja no cenário, sob risco de ficarmos derrapando na estrada evolutiva além do necessário, colhendo dores tardias. É preciso que exista o arrependimento sincero. Ou seja, a mudança de mentalidade.

Diagnosticamos o erro e não desejamos mais praticá-lo. Porém, não ficaremos apenas na luta pela não repetição do mal cometido, sentindo a dor da expiação [a dor sentida pela dor causada]. Iremos além: no terceiro [e imprescindível] passo, seguiremos em direção à reparação.

Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, no código penal da vida futura, afirma que "o arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação. (...) Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências".

Na culpa patológica temos, como resultado, apenas o remorso, num pensamento em circuito fechado, no qual o ser acredita [erroneamente] que, ao sentir a dor repetida está pagando pelo mal cometido, resgatando seus débitos. Triste ilusão, em que a pessoa que sofre mantem-se num monodeísmo, autoflagelando-se, sem conseguir libertar-se ou evoluir. Trata-se, aqui de um processo de congelamento evolutivo, uma trava psicológica que leva a sérias patologias da mente e do corpo se não percebidas e alteradas em pouco tempo.

No remorso o sujeito enclausura-se em sua dor, lamentando-se, acreditando não ser merecedor de nada bom, desistindo de lutar, de reparar para libertar-se. Não consegue perceber a função do erro e da dor na evolução de si próprio, estagnando em águas tormentosas, num continuo sofrer sem sentido. O remorso o faz sofrer, porém, não o liberta. Está acomodado na queixa e na lamentação. Mais amadurecido psicologicamente avançaria pelo caminho do auto-perdão e seguiria em direção à reparação.

Muitas vidas e a culpa inconsciente

Com o advento da Doutrina Espírita, adquirimos conhecimentos importantes, tais como o da reencarnação. Aprendemos, através dela, que vivemos vidas sucessivas, num continuum evolutivo, onde as experiências surgem como ferramentas preciosas, impulsionando o ser à melhoria constante. Neste processo, a dor pode ser comparada com o advento da febre no vaso orgânico, que assinala algum problema infeccioso que deverá ser diagnosticado para que possa ser tratado. Na alma, a dor tem o importante papel de nos alertar sobre algo moral que não vai bem.

Precisamos sair da postura persecutória em que freqüentemente nos alojamos, analisando a dor como uma inimiga. Muito ao contrário, ela deve ser vista como oportunidade de conhecimento, de entendimento de nós mesmos, para uma possível melhoria íntima real.

O que acontece é que, viciados neste ‘mal sofrer’, seguimos acumulando remorsos, distante ainda do objetivo maior, que é o de aprender com os erros, reparando-os e seguindo adiante, libertos.

Vamos acumulando, no psiquismo inconsciente, emoções relacionadas à culpa patológica, carregando, em vidas posteriores, problemas de difícil solução. Síndromes neuróticas podem estar intimamente ligadas a estas lembranças pretéritas, porém não acessíveis à consciência. Por exemplo: o medo terrível que algumas pessoas apresentam de estarem em posição de comando podem refletir erros do passado, quando precisaram lidar com a experiência do poder e faliram, devido a sua personalidade arrogante, abusiva ou intempestiva.

A Doutrina Espírita auxilia-nos sobremaneira na compreensão de todo esse processo, pois nos revela a anterioridade do Ser, onde muitas vezes está a gênese dos desequilíbrios do hoje.

Passamos a nos compreender como senhores de nossas ações e tendemos, portanto, à mudança, libertando-nos do remorso patológico, aprendendo a viver com mais responsabilidade.


E os que acabam de chegar ao Espiritismo?

Outro ponto que gostaríamos de citar é sobre os neófitos, os que chegam à Doutrina Espírita e começam a beber em suas fontes. Logo percebem a grandiosidade da Mensagem reveladora e em muitos casos, assustam-se e se esquivam de saber mais, amedrontados com a possibilidade de nunca conseguirem realizar seus ensinamentos.

Outros, que persistem um pouco mais, porém que ainda não compreenderam a Mensagem em toda a sua extensão, iniciam um processo autopunitivo complexo, sofrendo demasiadamente a dor oriunda de seu passado complicado.

Um exemplo: pessoas que fazem uso de drogas [mesmo as chamadas licitas], ao aprenderem o que ocorre com o corpo espiritual [perispírito], podem passar a sentir tremendas dificuldades intimas.

É preciso que se saiba que não importa o tamanho do problema ou do erro, mas nosso empenho sadio nas escolhas do hoje que redundarão num futuro diferente.

Não temos mais controle sobre o que já fizemos. Isso é passado. Mas podemos controlar o nosso próprio futuro e isso realmente depende de nós.

Os erros nos ajudam sobremaneira na compreensão sobre os novos caminhos que devem ser trilhados. São importantíssimos para nossa evolução. Não fará sentido para nós determinadas escolhas se não soubermos o porque decidi-las. A fé precisa ser raciocinada. Devemos saber por que precisamos mudar, como mudar e quando mudar.

E mesmo que não consigamos nos reformar em determinados aspectos, o que aprendemos é que precisamos tornar a tentar, tornar a tentar e tornar a tentar... setenta vezes sete vezes, se preciso for...


E se não tivermos a oportunidade de reparar o mal que fizemos com determinada pessoa, diretamente?

Busquemos não repetir o erro e amemos muito. Disse o apóstolo que “O amor cobre uma multidão de pecados”. (I Pedro, 4:8) É isso.

Recordemos que do erro de Rousseau e de Maria de Magdala, surgiram frutos maravilhosos. Embora sem conseguirem uma reparação direta com os prejudicados ainda naquela encarnação [no caso de Rousseau, os cinco filhos por ele abandonados], ambos optaram pelo exercício do amor desinteressado e com isso nos deixaram um belíssimo e importante legado que, se observado e levado a efeito, ajuda-nos em nossa caminhada, libertando-nos do remorso, impulsionando-nos ao acerto, ao bom caminho, conforme já nos indicava, há dois mil anos, Jesus, o Mestre por excelência.

E, mesmo que tenhamos de aguardar um tempo maior para conseguirmos oportunidade de reparação direta, não tenhamos dúvida de que, fortalecidos pelo amor em ação, conseguiremos ultrapassar barreiras íntimas, tornando-nos, por fim, benfeitores não apenas destes, mas de muitos outros que cruzarem nossos caminhos.



Por: Claudia Gelernter

claudiagelernter@uol.com.br

O exercício inteligente do livre-arbítrio


O exercício inteligente do livre-arbítrio

Vítor Ronaldo Costa
"843. Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar.
Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina."
(O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec)
O livre-arbítrio é uma lei divina, à qual todos, sem exceção, encontram-se subordinados. Em verdade, trata-se de um princípio universal que se bem utilizado torna-se importante alavanca do progresso individual, na medida em que pode permitir a vivência plena dos sentimentos mais enobrecidos mobilizados de acordo com a vontade e o senso de maturidade moral que cada um alcance.
O comportamento humano, em seus múltiplos aspectos, decorre do exercício pleno da liberdade de ação, contingência a ser respeitada por todos, uma vez que liberdade é apanágio dos seres inteligentes.
É preciso, contudo, bem ajuizar os procedimentos corriqueiros e a conseqüente repercussão do emprego da liberdade usufruída, visando, sobretudo, a não ultrapassar os limites daquilo que deve ser considerado prazeroso ao ego, mas que fere a sensibilidade alheia e compromete a felicidade e a harmonia do semelhante.
Os anseios evolutivos se alicerçam graças à observação responsável das Leis Morais da Vida, caso contrário nos defrontamos com atitudes consideradas antiéticas e geradoras de ações culposas prejudiciais à harmonia consciencial do infrator.
Uma estreita afinidade com o bem é a melhor maneira de se preservar a tranqüilidade de espírito e de se evitar situações conflitivas decorrentes de um inter-relacionamento pessoal inadequado.
Qualquer iniciativa prática aqui na Crosta gera, obrigatoriamente, repercussão benéfica ou não, na dependência do bem patrocinado ou do grau de prejuízo imposto a outrem. Isto nos permite inferir que o uso do livre-arbítrio encontra-se subordinado aos fatores reguladores do comportamento humano, com o objetivo de proteger a comunidade planetária dos excessos cometidos aleatoriamente pelos invigilantes.
O exercício individual do livre-arbítrio deve respeitar a chamada zona fronteiriça, além da qual se encontra o espaço que circunscreve a liberdade de consciência do próximo. A partir de então, é aconselhável existir o consentimento pessoal do outro, para que as idéias e ações executadas sejam devidamente aceitas e compartilhadas harmoniosamente, na ausência de prejuízos, mágoas e ressentimentos.
O uso inadequado do livre-arbítrio desencadeia, no faltoso, reações profundamente desarmônicas do tipo arrependimento e remorso, contingências responsáveis por sofrimentos prolongados, desde que o indivíduo não se proponha a reparar, assim que possível, o mal cometido.
Nem sempre nos damos conta dos prejuízos psicológicos decorrentes de atitudes incompatíveis com as regras da moral evangélica. O ato prejudicial voluntariamente praticado contra o próximo gera repercussões negativas que se fixam indelevelmente no psiquismo do infrator, muito embora as mentes cristalizadas no mal não admitam tal possibilidade.
Em qualquer circunstância, o bom senso evidencia que o cometimento do mal é uma atitude irracional, pois a ação culposa, com o passar do tempo, termina por gerar o arrependimento, e este, por sua vez, estrutura no inconsciente a desagradável e opressiva sensação de remorso.
Significativa parcela da Humanidade sofre os mais variados desequilíbrios em conseqüência de atitudes eticamente inadequadas praticadas nesta ou em vidas anteriores, em conseqüência do mau uso do livre arbítrio.
O remorso equivale a uma certa quantidade de energia desequilibrada a vibrar nos fulcros localizados na intimidade do corpo espiritual, constituindo-se naquilo que ordinariamente denominamos de morbo energético.
Eis aí a causa de inúmeros distúrbios psicopatológicos, que poderiam ser evitados se o homem levasse em conta a necessidade de melhor aproveitar o seu livre-arbítrio de uma forma sempre inteligente, ou seja, em bases condizentes com o Evangelho de Jesus.
Reformador – Junho de 1998

Arrependimento do homem encarnado


Arrependimento do homem encarnado:
        Depois que cometas um erro e tenhas consciência dele, começa a reabilitação. Nada de entregar-te ao desalento ou ao remorso. Da mesma forma como não deves insistir no propósito inferior, não te podes deixar consumir pelo arrependimento. Este tem somente a função de conscientizar-te do mal feito. Perdoa-te, encoraja-te e dá início à tarefa de reequilíbrio pessoal, diminuindo e reparando os prejuízos causados.
Joanna de Ângelis
 A conseqüência do arrependimento no estado corporal é fazer que, já na vida atual, o Espírito progrida, se tiver tempo de reparar suas faltas. Quando a consciência o exprobra e lhe mostra uma imperfeição, o homem pode sempre melhorar-se. 

        Não há homens que só têm o instinto do mal e são inacessíveis ao arrependimento. Já te disse que todo Espírito tem que progredir_incessantemente. Aquele que, nesta vida, só tem o instinto do mal, terá noutra o do bem e é para isso que renasce_muitas_vezes, pois preciso é que todos progridam e atinjam a meta. A diferença está somente em que uns gastam mais tempo do que outros, porque assim o querem. Aquele, que só tem o instinto do bem, já se purificou, visto que talvez tenha tido o do mal em anterior existência.

        O homem perverso, que não reconheceu suas faltas durante a vida, sempre as reconhece depois da morte e, então, mais sofre, porque sente em si todo o mal que praticou, ou de que foi voluntariamente causa. Contudo, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam em permanecer no mau caminho, não obstante os sofrimentos por que passam. Porém, cedo ou tarde, reconhecerão errada a senda que tomaram e o arrependimento virá. Para esclarecê-los trabalham os bons Espíritos e também vós podeis trabalhar.  

        O arrependimento  durante a vida concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.
        Se, diante disto, um criminoso dissesse que, cumprindo-lhe, em todo caso, expiar o seu passado, nenhuma necessidade tem de se arrepender, tornar-se mais longa e mais penosa a sua expiação, desde que ele se torne obstinado no mal.

        Já desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas, reparando-as.  Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou distribuindo_em_esmolas o que possuirdes, depois que morrerdes, quando de nada mais precisais.
        Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do que o suplício da carne suportado durante anos, com objetivo exclusivamente pessoal.  
  • Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem no seus interesses materiais. 
  • De que serve, para sua justificação, que restitua, depois de morrer, os bens mal adquiridos, quando se lhe tornaram inúteis e deles tirou todo o proveito?
  • De que lhe serve privar-se de alguns gozos fúteis, de algumas superfluidades, se permanece integral o dano que causou a outrem?
  • De que lhe serve, finalmente, humilhar-se diante de Deus, se, perante os homens, conserva o seu orgulho?
arrependimento para aquele que, em artigo de morte, reconhece suas faltas, quando já não tem tempo de as reparar lhe apressa a reabilitação, mas não o absolve.
Diante dele não se desdobra o futuro, que jamais se lhe tranca?

É indispensável ajuizar quanto à direção dos próprios passos, de modo a evitarmos o nevoeiro da perturbação e a dor do arrependimento.

[28a - página 119]  - André Luiz   
O Arrependimento
         Paz aos irmãos!
         Mazelas cercam o homem do mundo. Caminhando entre erros e desacertos involuntários, o espírito ainda carece de renovação constante, a título de se aprimorar no esmeril cálido das sucessivas existências.
         Mister é conhecer as razões de algumas falhas sucessivas, levando-o a uma marca no seu perispírito, que oscila entre...
  • a sutileza da pequena mácula
  • à deformidade mantida que atravessa séculos.
         Talvez a explicação mais convincente para a reincidência do erro seja a baixa auto-estima, a equivocada sensação da falta de capacidade em superar os próprios dilemas.
         Abrindo um parêntese na dinâmica do erro-reparação, encontramos o arrependimento. Podemos definir o arrependimento como instrumento valioso, único e necessário à rearquitetura do ser. Sim, pois só através do arrependimento é que podemos dar ciência da dimensão negativa dos nossos atos. E é também por meio dele que nos voltamos à Deus, reconhecendo a sua magnitude no que tange ao respeito às leis da vida. Mecânica maravilhosa que nos leva ao amadurecimento necessário para o soerguimento moral. Meio de preparo a saudável reparação de nossos atos menos felizes, ou das nossas omissões.
         O arrependimento é o primeiro passo na dinâmica da reparação de um erro. Mas ele não é tudo neste intrincado processo. Do arrependimento bem sentido e constatado, cabe ao ser se disponibilizar a Deus, movido de humildade, pronto a se dedicar ao preparo necessário à reparação do erro.
  • Há situações que requerem estudo, cursos sob monitoração preparada;
  • há outros que requisitam o exercício e o fortalecimento da fé, no intuito de fortalecermos a base espiritual nos tentames da vida.
         E quando todas as oportunidades foram dadas e o indivíduo permanece no erro, deverá expiar seu passado nas mais tórridas condições, inclusive com consciência parcial ou totalmente obnubilada, para que o sofrimento lhe seja eficaz e preparatório para as fases posteriores.
         Para aqueles que não se arrependem, muito há que se lamentar. São irmãos que cultivam o ranço, a galhardia, que se iludem com o vão poder obtido nos baixos campos vibratórios, cuja fraqueza espiritual é tão grande que a mudança de postura lhes parece algo fora da conquista individual. São seres que inconscientemente se creem fatalmente fracassados. Na intenção de olvidar este estado de angústia e inferioridade que se encontram, deixam que o lado negativo assumam a tutoria de suas mentes, apegando-se a este inútil poder que se comprazem. Infelizes irmãos que são condenados por si próprios a permanecer no ostracismo de suas parcas e penosas idéias.
         Reitero mais uma vez a grande importância do arrependimento, passo necessário a reparação de nossos erros. E com o passar do tempo, verificaremos o abreviamento do intervalo do tempo entre ele e a reparação, o que representará avanço espiritual.
         Toda a dinâmica da lei de ação e reação ou plantai e colhereis é esplendorosa. Não iremos nos delongar mais sobre isso.
         Encerro aqui os meus comentários.
         Grato pela oportunidade. Que Deus abençõe a todos.
Irmão Paulo (Espírito)
25/09/2008
Colaboração de Leonardo Machado Carreiro
leonardo.mcarreiro@gmail.com


   
Arrependimento do Espírito - Arrependimento após a morte:
É sempre boa a influência que os Espíritos bons exercem uns sobre os outros. Os Espíritos perversos, esses procuram desviar da senda do bem e do arrependimento os que lhes parecem suscetíveis de se deixarem levar e que são, muitas vezes, os que eles mesmos arrastaram ao mal durante a vida terrena.  

arrependimento se dá, principalmente, no estado espiritual. Mas, também pode ocorrer no estado corporal, quando bem compreendeis a diferença entre o bem e o mal.


A conseqüência do arrependimento no estado espiritual é desejar o arrependido uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas.  

Pode também acontecer que, depois de se haver arrependido, o Espírito se deixe arrastar de novo para o caminho do mal, por outros Espíritos ainda mais atrasados.


  • Vêem-se Espíritos, de notória inferioridade, acessíveis aos bons sentimentos e sensíveis às preces que por eles se fazem.
  • E outros Espíritos, que devêramos supor mais esclarecidos, revelam um endurecimento e um cinismo, dos quais coisa alguma consegue triunfar.
        A prece só tem efeito sobre o Espírito que se arrepende. Com relação aos que, impelidos pelo orgulho, se revoltam contra Deus e persistem nos seus desvarios, chegando mesmo a exagerá-los, como o fazem alguns desgraçados Espíritos, a prece nada pode e nada poderá, senão no dia em que um clarão de arrependimento se produza neles.
        Não se deve perder de vista que o Espírito não se transforma subitamenteapós_a_morte do corpo. Se viveu vida condenável, é porque era imperfeito. Ora, a morte não o torna imediatamente perfeito. Pode, pois, persistir em seus erros, em suas falsas opiniões, em seus preconceitos, até que se haja esclarecido pelo estudo, pela reflexão e pelo sofrimento.

Há Espíritos de arrependimento muito tardio; porém, pretender-se que nunca se melhorarão fora negar a lei do progresso e dizer que a criança não pode tornar-se homem.
SÃO LUÍS

   
     — Grande mensageira do bem, confesso aqui minhas faltas diante de todos e peço-te roteiro salvador. Enquanto encarnada, nunca fui punida pelos meus excessos no abuso dos sentidos. Possuí um lar que não honrei, um esposo que depressa esqueci e filhos que afastei, deliberadamente, de meu convívio, para gozar, à saciedade, os prazeres que a mocidade me oferecia. Meu transviamento moral não foi conhecido na comunidade em que vivi, mas a morte apodreceu a máscara que me ocultava aos alheios olhos e passei a experimentar horrível pavor de mim mesma. Que farei por retornar à paz? como traduzir o arrependimento que me enche a alma de infinita amargura?
         Matilde, a mensageira, fitou-a, compungidamente, e observou:
        — Milhares de seres, despojados_da_roupagem_fisiológicaestertoram em zona_próxima, sob o güante cruel das paixões a que se algemaram, invigilantes. Poderás encetar o reajustamento de tuas energias, dedicando-te, nos círculos próximos, ao levantamento dos sofredores de boa vontade.
        Com esquecimento de ti mesma, arrebatarás muitos Espíritos, cadaverizados no abuso, aos pântanos de dor em que se debatem. Plantarás na mente deles novos princípios e novas luzes, consolando-os e transformando-os, a caminho da harmonia divina, reconquistando, por tua vez, o direito de regresso_ao_campo_bendito_da_carne. Reconduzida, então, à abençoada escola terrestre, receberás, talvez, a prova terrível da beleza física, a fim de que o contacto com as tentações da própria natureza inferior te retempere o aço do caráter, se conseguires manter fidelidade suprema ao amor santificante. Esta é a lei, minha filha! Para que nos reergamos com segurança, depois da queda ao precipício, é imprescindível auxiliar quantos se projetaram nele, consolidando, ante as dores alheias, a noção da responsabilidade que nos deve presidir às ações porvindouras, de modo que a reencarnação não se converta em novo mergulho no egoísmo. O único recurso de fugirmos definitivamente ao mal é o apoio constante no Bem Infinito.
[96 - página 235] - André Luiz
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